Você não precisa ser negro para lutar contra o racismo

 

Como é para alguém de pele clara, se descobrir branco? Quando cai a ficha dessa pessoa que ela é automaticamente privilegiada pela sociedade? E qual é a melhor forma que esse indivíduo deve usar esse privilégio?

Basta entender uma coisa: o Brasil é um pais racista, e não é fácil ser negro por aqui. E você, pessoa branca, NÃO PRECISA SER NEGRO PARA LUTAR CONTRA O RACISMO!

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Antes de começarmos a debater sobre este tema, vale recapitular rapidinho o início da escravidão aqui no Brasil.

A escravidão deu-se início no século XVI em Salvador, onde o primeiro navio negreiro embarcou aproximadamente em 1535. Desde essa época a comercialização de pretos era totalmente natural. As primeiras pessoas a serem escravizadas antes mesmo de africanos serem capturados, foram os indígenas (Posteriormente viria a ser os negros vindos da Angola, Moçambique, e regiões como o Reino do Daomé, trazidos a força ao Brasil). 

Infelizmente esse período durou tempo suficiente para marcar a ferro quente a história e a vida de qualquer pessoa que nasça negra nesse mundo, carregando consigo uma herança de cultura, de valores e também de sofrimento. Foram 353 anos de escravidão, 353 anos de tortura, mortes, humilhações, estupros aos quais dava-se origens a crianças mestiças de pele mais clara, mais ainda sim negras.

Entenda: foram 353 anos de sofrimento, que só teve "fim" quando a "bondosa" princesa Izabel assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Nós sabemos muito bem que não foi tão fácil assim. Não se enganem com a bondade da princesa e nem com a ilusão de uma Lei. O pior já tinha passado, mas a verdadeira luta apenas começava. 

A ilusão que muitas pessoas tem sobre a libertação dos escravos é cômica. Elas acham que os negros tiveram diretos e inserção social, mas não, não foi bem assim. Após a abolição da escravatura, muitos negros se viram na necessidade de continuar a trabalhar para os seus supostos senhores, pois não houve nenhum tipo de reparação, tampouco oportunidades. Os negros que tinham para onde ir eram constantemente caçados, tinham suas casas queimadas, não podiam de forma alguma estar no mesmo espaço que brancos e eram constantemente agredidos, torturados e mortos. Não havia direitos para eles. Os negros ainda não eram vistos como seres humanos, mesmo que tivessem legalmente o direito de serem tratados com respeito e integridade.

E com essa nítida diferença, graças a separação de determinados grupos sociais, que teve início a segregação racial, os negros foram obrigados a se abrigaram em espaços de extrema miséria para tentar fugir da supremacia branca, e consequentemente não morrerem. Isso ficou conhecido por muito tempo como Apartheid que era basicamente a separação entre negros e brancos. As vilas e morros foram os lugares para onde esses indivíduos fugiram. Eles construíram casas e tiveram uma vida naquele ambiente, que por muita das vezes era precário. Assim, foi dado origem às "favelas" de hoje, que na sua grande maioria ainda é habitada por negros.

Porém uma coisa gostaria de deixar claro, se existe ambientes onde, na maioria das vezes é frequentado somente por pessoas brancas, e lugares de extrema pobreza que na grande maioria, é habitado somente por pessoas Negras, sinto muito, mas ainda existe Apartheid! Falar sobre racismo é falar sobre a história. O racismo é algo estrutural. 

Existem várias figuras importantíssimas que lutaram a favor da comunidade negra, seja em seus seguimentos, falas, atitudes. Suas personalidades foram essenciais para a luta dos direitos raciais afrodescendentes. Rosa Parks, Martin Luther King Jr., Shirley Chisholm, Huey Newton, Elaine Brown e Aretha Franklin são algumas das grandes personalidades que lutam e às vezes até morreram pela causa. Se puder, tire um pouco de seu tempo para conhecer um pouco mais sobre essas pessoas e suas histórias de superação e suas vidas brilhantes.

No Brasil também temos grandes personalidades precursoras no movimento dos direitos negros e que fizeram grande diferença para a comunidade afrodescendente. Entre esses nomes estão Dandara Dos Palmares, esposa de Zumbi dos Palmares, que embora tivesse seus questionamentos discutíveis foi uma grande ativista das causas raciais. Temos também Xica da Silva considerada pela historia a Rainha da Diamantina que causou muita polêmica por ser a mulher mais rica daquela região e ser uma mulher negra. Antonieta de Barros, André Rebouças, Sueli Carneiro e Abdias Nascimento também foram figuras que mudaram a história da luta e dos direitos das pessoas negras naquele período, e que perduram até hoje.

A luta dessas personalidades foram muito importantes para os direitos das pessoas negras atualmente. Falar que indivíduos negros hoje em dia não tem direito, comparado ao passado, é um pouco hipocrisia. Porém o racismo existe, e é o que mais fere, visto que os direitos dos mesmos, são constantementes ameaçados. O Brasil na sua maioria é composto por pessoas negras, sendo elas 56,10% das pessoas que se declaram negros e pardos. Há uma superioridade nos números, no entanto, ainda não se reflete na sociedade brasileira. Negros não são a maioria a ocupar cargos grandes em empresas, não são a maioria a ter espaço nas faculdades e universidades públicas. É engraçado não é mesmo?! Em um país onde negros são a maioria acabam - devido a desvalorização e a discriminação - se tornando a minoria entre todos.

Opera Mundi

Porém há um lugar onde a comunidade negra é maioria, você quer saber qual é?! Então se prepare... O Brasil aprofundou o racismo no índice de assassinatos contra pessoas negras, visto que a taxa de homicídios cresceu 11,5% de 2008 a 2018; enquanto a de pessoas brancas caiu 12%. Negros são, portanto a grande maioria a ser assassinada. Ao todo soma-se 75,9% de assassinatos em uma década.

É complicado. Negros são maioria em alguma coisa, só que é tão cruel, e tão desesperador saber que essas pessoas só estão morrendo por que são negras. São pessoas que vivem na margem da sociedade, em periferias, em lugares de alta miséria, e que são constantemente discriminadas e marginalizadas. Ao longo dos tempos, a maneira que usam para praticar esses tipo de crime ficou bem mais silenciosa. Não é mais como antigamente, onde movimentos neonazistas e auto proclamados moralistas, o que na verdade devido a intenção acabam sendo vistos como fascistas, como a Klu Klus Kan movimento abertamente racista. 

O racismo funciona dentro de uma estrutura cultural. Entenda! Existem vários tipos de racismo: Racismo Individual que é basicamente termos de atitudes estereotipadas; Racismo Comunitarista que utiliza do termo raça para se referir a algo não cultural e como instrumento de discriminação; Racismo Ecológico que usa por meio de supressão do ambiente em que se dá sua existência; Racismo Recreativo que consiste em termos pejorativos mascarados em tons de brincadeira e diversão. Ou seja racismo é algo estrutural. E o que podemos fazer para mudar essa situação?

Primeiramente você, homem ou mulher de pele branca, use de seu privilégio para acrescentar nessa luta. Não se prenda em apenas hashtags #BlackLiveMatters. Faça a diferença você mesmo; inclua a diversidade no seu meio; fale sobre isso, denuncie quaisquer atos de discriminação e racismo; não seja conivente a este crime (quem não fala, consente, ou seja é racista também); e se torne um aliado da luta contra o racismo e suas vertentes.

E você pessoa negra, continue resistindo, use da sua voz pra mudar a situação, não se prenda apenas à indignação. Seja a evolução, lute pra que a voz da maioria seja escutada. Você não estará sozinho nessa luta. J-J

#DiadaConsciênciaNegra

Por: Arnaldo Woosters, especialmente para o JOVEM JORNALISTA