Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) causou estridência na última semana. O motivo? O resultado por amostragem das respostas de 3.180 entrevistados evidenciou o atraso na mentalidade de grande parte da população brasileira em relação a temas como igualdade de gêneros, homossexualidade e - principalmente - violência contra a mulher .
Afirmações como "Toda mulher sonha em se casar" (78,7% concordam ao menos parcialmente); "O homem deve ser a cabeça do lar" (63,8%); "Uma mulher só sente realizada quando tem filhos" (59,5%); e "Tem mulher que é para casar, tem mulher que é para cama" (54,6%) foram amplamente apoiadas.
A respeito do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar dos avanços recentes no tema, ainda foram constatados posicionamentos como: 59,2% dos entrevistados se incomodam ao ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando na boca e 46,2% não consideram possível o amor de dois homens ser tão bonito quanto o de um casal heterossexual.
Indo além, 51,7% simplesmente desejam que o casamento homossexual seja proibido, ecoando o pensamento dos 40,5% contra que casais homoafetivos tenham os mesmos direitos dos demais.
ABUSOS
Os números já representam o tamanho do preconceito e da discriminação contra mulheres e homossexuais no país. Porém, a situação torna-se ainda mais sombria quando são analisadas situações de violência relacionadas a aspectos comportamentais e sexuais das mulheres.
Absurdos 65,1% dos participantes declararam concordar que mulheres com roupas que mostram o corpo devem ser atacadas. Outros 58,5% acham que haveria menos estupros se as mulheres soubessem se comportar.
Questionamentos que visam desqualificar os resultados da pesquisa, como os direcionados à competência do Ipea para abordar assuntos além dos econômicos ou às palavras e frases usadas nos questionamentos, apenas tentam tapar o sol com a peneira e desviar o foco do resultado.
A verdade é que a culpabilização da vítima, misoginia e tolerância com a violência - muitas vezes sexual contra a mulher - permanece impregnada na nossa cultura machista e patriarcal. Em conjunto, é claro, com o preconceito e a discriminação ao público LGBT.
REAÇÕES
A indignação após a divulgação desses dados na imprensa levou a respostas de diversos segmentos da sociedade. Enquanto setores conservadores tentaram arranhar a credibilidade do trabalho, mulheres de todo país se mobilizaram para fazer com que suas vozes fossem ouvidas.
A partir da iniciativa da jornalista Nana Queiroz no Facebook, foi criada a campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada, que se espalhou rapidamente pelas redes sociais. Ela consiste em que mulheres posem total ou parcialmente nuas com mensagens que ninguém merece sofrer violência e abuso sexual.
Nana Queiroz, a jornalista que lançou a campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada na internet (Fonte: Facebook)
Outras imagens também ganharam repercussão na rede, como uma criativa campanha da ONG sul-africana POWA (People Opposing Women Abuse) em que um anúncio de revista tem duas páginas retratando o corpo feminino levemente coladas. Quando o leitor puxa-as, uma pra cada lado, fazendo um pouco de força e rasgando-as, surge a mensagem: "Se você tem que forçar, é estupro".
Professor da UFF compartilha criativa campanha sul-africana contra violência sexual
(Fonte: perfil de Guilherme Nery Atem no Facebook)
(Fonte: perfil de Guilherme Nery Atem no Facebook)
Veja mais imagens auto explicativas:
Think Olga
Sociedade Racionalista
Tailor
Uma outra opinião
Todo esse contexto de cultura retrógrada na sociedade; resistência ao reconhecimento dos direitos de minorias e grupos sociais historicamente oprimidos; perpetuação da violência e etc., apenas comprova que precisamos avançar muito na busca por uma sociedade mais justa e solidária. E que ela não vai chegar enquanto formos omissos, tolerantes, passivos ou inativos diante dessa realidade hostil e inaceitável. J-J
Por: Allan Virissimo