Finalizando com as postagens em homenagem ao mês do Orgulho LGBTQ+, falaremos da Revolta de Stonewall que na última sexta-feira (28) comemorou-se 50 anos. Esse evento deu início a grandes movimentos ativistas de direitos LGBTQ+, assim como a tão conhecida Parada LGBTQ+.
Bares LGBT
Os anos 60 e décadas anteriores não eram tempos de boas-vindas para os americanos lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT). Com isso, os LGBTQ+ faziam uso de bares onde podiam socializar e se divertir sem causarem problemas ou algum tipo de violência. Porém, houve uma lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas para pessoas LGBTQ ou “suspeitas” de serem LGBTQ, sob o argumento de que os homossexuais faziam muita baderna. Muitos bares e clubes foram fechados devido a essa lei.
Graças aos esforços dos ativistas esses regulamentos foram revertidos em 1966, e os clientes LGBT agora podiam receber bebidas alcoólicas. Mas se envolver em comportamento gay em público (dar as mãos, beijar ou dançar com alguém do mesmo sexo) ainda era ilegal. O assédio policial aos bares continuou e muitos ainda operavam sem licenças de bebidas alcoólicas - em parte porque eram da Máfia da época.
Stonewall Inn
A Máfia viu lucro com o público gay, principalmente porque ele estava sendo evitado em outros bares. A partir daí, a família criminosa Genovese controlava a maioria dos bares gays de Greenwich Village. Em 1966, eles compraram o Stonewall Inn (um local que antes tinha um público hétero), reformaram-no a preço baixo e o reabriram no ano seguinte como um bar gay.
O Stonewall Inn foi registrado como um tipo de bar particular, que não exigia uma licença de licor, porque os clientes deviam trazer sua própria bebida. Os participantes do clube tinham que assinar seus nomes em um livro na entrada para manter a falsa exclusividade do clube. A família Genovese subornou a Sexta Delegacia de Polícia de Nova York para ignorar as atividades que ocorriam lá.
O estabelecimento rapidamente se tornou uma importante instituição em Greenwich Village. Era grande e relativamente barato para entrar. Acolheu drag queens, que recebeu uma amarga recepção em outros bares e clubes gays. Era um lar noturno para muitos fugitivos e jovens gays sem teto, que mendigavam ou furtavam em lojas para pagar a taxa de inscrição. E foi um dos poucos - se não o único - bar gay que permitiu dançar.
As invasões ainda eram um fato da vida, mas geralmente policiais corruptos avisaram os bares controlados pela Máfia antes que as batidas acontecessem, permitindo que os proprietários guardassem o álcool (vendido sem uma licença de licor) e escondessem outras atividades ilegais. Na verdade, o Departamento de Polícia de Nova York havia invadido o Stonewall Inn poucos dias antes do ataque que iniciou as revoltas.
A revolta
Quando a polícia invadiu o Stonewall Inn na manhã de 28 de junho, foi uma surpresa - o bar não foi avisado desta vez. Armados com um mandado, policiais entraram no clube, agrediram clientes e, ao encontrar álcool pirateado, prenderam 13 pessoas, incluindo funcionários e pessoas que violavam o estatuto estatal de vestuário adequado ao sexo feminino (policiais do sexo feminino levavam suspeitos de vestir-se com roupas do sexo oposto para verificar seu gênero).
Fartos do constante assédio policial e da discriminação social, clientes e moradores da vizinhança ficavam do lado de fora do bar, em vez de se dispersarem, tornando-se cada vez mais agitados conforme os eventos se desenrolavam e as pessoas eram agressivamente maltratadas. Até que um policial bateu na cabeça de uma lésbica enquanto a forçava a entrar na viatura. Ela gritou para os espectadores que agissem, incitando a multidão a começar a jogar moedas de um centavo, garrafas, pedregulhos e outros objetos na polícia.
Em poucos minutos, um tumulto total envolvendo centenas de pessoas começou. A polícia, alguns prisioneiros e um escritor da Village Voice ficaram presos no bar e a Máfia tentou incendiá-los. O corpo de bombeiros e um pelotão de choque acabaram conseguindo apagar as chamas, resgatar os que estavam dentro de Stonewall e dispersar a multidão. Mas os protestos, às vezes envolvendo milhares de pessoas, continuaram na área por mais cinco dias, aumentando em um ponto depois que o Village Voice publicou seu relato dos tumultos.
Após esses eventos, as revoltas deram mais forças a movimentos ativistas, ajudando no desenvolvimento de numerosas organizações de direitos gays, incluindo a Frente de Libertação Gay (FLG), Campanha de Direitos Humanos, GLAAD (anteriormente Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação) e PFLAG (anteriormente Pais, Famílias e Amigos de Lésbicas e Gays).
FLG e Ativistas
A Frente de Libertação Gay (FLG - Gay Liberation Front) surgiu em meados dos anos 1960 após a Rebelião de Stonewall como um grupo revolucionário de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, que busca a libertação sexual, visando papéis sexuais e definições de sua natureza, além de ser uma contra-resposta a estrutura do papel sexual e do núcleo familiar.
A FLG impulsionou mobilizações de massas que obrigaram o Estado e o Poder Legislativo a assegurar os direitos civis e garantir proteção jurídica a fim de por fim nas discriminações por parte de instituições públicas e privadas.
De modo polêmico e desafiador, a FLG foi uma das primeiras instituições homossexuais a usar o termo "gay" em um de seus panfletos, que dizia o seguinte: "Você Acha que os Homossexuais Estão se Revoltando? Aposte sua Doce Bunda que Estamos!".
A militância gay surgiu exatamente com a FLG e seu trabalho tornou-se evidente para Frank Kameny e Barbara Gittings. Assim, a FLG bebeu da fonte de manifestações raciais e de antiguerra, objetivando a reestruturação estadunidense.
Década de 1970
No verão de 1970 vários grupos foram criados para comemorar a Rebelião de Stonewall, por meio de paradas. Vários deles utilizavam a denominação FLV, já outros eram conhecidos pela Aliança de Ativistas Gays (AAG - Gay Activists' Alliance).
Com isso, houve um boom de surgimentos de grupos da comunidade LGBTQ+, como: Campanha Contra a Moral Perseguição (CAMP, inc) e Lavender Menence - com esse último movimento mobilizações lésbicas começavam a ganhar destaque.
Ativistas
A história conta com vários ativistas LGBTQ+. Destaco alguns deles:
Mark Segal
Mark Segal, um dos membros do FLG, promoveu os direitos dos homossexuais em vários locais, sendo um dos pioneiros do movimento gay. Deve-se à ele a criação de uma imprensa própria para a comunidade LGBTQ+, com os jornais The National Gay Press Association e National Gay Newspaper Guild e do prêmio Philadelphia Gay News - que comemorou seus 30 anos de existência.
O jornalista entendeu o poder da mídia, realizando várias coberturas de reportagem na temática. Em 1973, por exemplo, Segal conseguiu colocar o evento Walter Cronkite em mais de 60% dos lares americanos. Pela primeira vez muitos telespectadores viam e ouviam falar sobre a homossexualidade.
Seagal recentemente coordenou uma rede de publicações gays locais com o intuito de comemoração do mês da história gay que atingiu mais de meio milhão de pessoas.
Jornais gays
Vários ativistas encontraram na mídia impressa a saída para expor suas ideias e proteger os LGBTQ+. Foi assim que surgiram os jornais Gay - já que o principal The Village Voice, recusava-se a imprimir a palavra "gay" nas propagandas da FLG; o Out!; e o Gay Power. A aceitação desses periódicos foi positiva, subindo de um público de 20.000 à 25.000.
"Zap"
A AAG confrontou às autoridades com uma tática chamada Zap, em que abordavam um político desprevenido e o obrigavam a reconhecer os direitos LGBTQ+. Inúmeros deles foram "zapeados" por diversas vezes.
Os membros da AAG eram bem ativos, porém pacíficos. Entre suas ações estão o enfrentamento à FPT e o envio de cartas ao prefeito Lindsay.
O fim da FLV
A FLV teve praticamente seu fim em Nova York após a primeira Parada Gay de Stonewall em 1970, quando vários de seus integrantes saíram dela para formar novos grupos, como a AAG.
Poder Gay
Já o slogan Poder Gay (Gay Power) originou-se no fim de 1967 com o desafio ao movimento de orientação dos direitos dos homossexuais. Foi Craig Rodwell que defendeu esse slogan, assim como Gay is good (Gay é bom, em tradução literal).
"Havia pouca animosidade aberta e alguns espectadores aplaudiram quando uma menina alta e linda andou carregando um cartaz escrito 'Eu sou lésbica'."
–cobertura do The New York Times do Gay Liberation Day de 1970
O Liberation Day, em 28 de junho de 1970, marcou o primeiro aniversário da Rebelião de Stonewall. As primeiras marchas gays americanas foram em Los Angeles e Chicago, depois ocorreram outras em anos subsequentes em Boston, Dallas, Milwaukee, Londres, Paris, Berlim Ocidental e Estocolmo. A marcha de Nova York abrangeu 51 quarteirões, mas, de acordo com informações do The New York Times foram apenas 15.
Já em 1972, participaram dos protestos LGBTQ+ as cidades de Atlanta, Buffalo, Detroit, Washington, D.C., Miami, Minneapolis, Filadélfia e São Francisco.
Houve uma mudança importante após a Rebelião de Stonewall. As pessoas iam às ruas para reivindicar seus direitos, não tinham vergonha de serem quem são e os jornais não mais tratavam os homossexuais aquéns da sociedade. Frank Kameny, ativista gay da década de 1950, encabeçou movimentos em busca dos direitos LGBTQ+. Ele disse que a Rebelião de Stonewall foi marcante:
"Na época de Stonewall, tínhamos de 50 a 60 grupos homossexuais no país. Um ano depois, havia pelo menos 1.500. Dois anos mais tarde, na medida em que pudéssemos contar, eram 25.000."
Juntamente com o Orgulho LGBTQ+, estava a Libertação Gay, termo utilizado para descrever o movimento de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais do final da década de 1960 até meados da década de 1970 na América do Norte, Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia.
Esse termo também é conhecido por ser um contraponto vivido pela sociedade estadounidense da época, em que questões como gênero e família ainda eram vistos de forma tradicional, ou seja, casamentos heterossexuais e somente gêneros masculino e feminino.
De Dia da Libertação Gay, passou-se a chamar-se de Dia do Orgulho LGBTQ+, como conhecemos atualmente. Termos como "gay" e "sair do armário" ganharam notoriedade até os dias de hoje.
Conceito
De acordo com o Wikipedia, Orgulho LGBTQ+ é o conceito no qual lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e gays devem ter orgulho tanto da sua orientação sexual, como de sua identidade de gênero.
O movimento tem três vias princiais, são elas:
1- As pessoas devem ter ORGULHO da sua orientação sexual e identidade de gênero;
2- A diversidade é uma DÁDIVA; e
3- A orientação sexual e a identidade de gênero são INERENTES aos indivíduos.
Orgulho
A palavra ORGULHO não foi escolhida ao acaso, mas como contrária à VERGONHA - usada ao longo da história como fim de controle e opressão aos LGBTQ+. Orgulho faz menção ao indivíduo e à comunidade LGBTQ+ como um todo.
Símbolos
São símbolos do Orgulho LGBTQ+, entre outros: a bandeira do arco-íris, a borboleta, a letra grega lambda; o triângulo preto; mão púrpura; lábris, duplo Vênus; luas; triângulos bissexuais; e símbolo universal transgênero.
Bandeira do arco-íris: a principal bandeira do movimento, representando a diversidade. Existem outras bandeiras específicas (Em breve faremos um post sobre elas).
Borboleta: símbolo transgênero que significa metamorfose e transformação.
Lambda: é a décima primeira letra do alfabeto grego, que também vale ao número 30 grego. A letra foi escolhida pela AAG.
Triângulo preto: antes considerado um símbolo nazista - utilizado para marcar mulheres antissociais - foi reconfigurado para um símbolo lésbico na atualidade.
Mão púrpura: em 31 de outubro de 1969, os membros da FLG e da SIR (Society for Individual Rights) marcharam para protestar contra uma série de artigos de um jornal de São Francisco. Na ocasião, manifestantes jogaram baldes de tinta no edifício do jornal, escrevendo slogans e estampando mãos em vários locais de São Francisco.
Lábris: a ferramenta era utilizada pela deusa Deméter - Ártemis - deusa da Agricultura. Seus rituais envolviam atitudes lésbicas, o que acarretou em tornar o lábris um dos símbolos lésbicos mais conhecidos.
Duplo Vênus: símbolo do relacionamento entre duas mulheres.
Luas: nas cores rosa e azul em degradê, esse é um dos símbolos bissexuais.
Triângulos bissexuais: figuras geométricas em rosa e azul interligadas é outro símbolo da bissexualidade.
Símbolo universal trangênero: a figura, em degradê de rosa e azul, faz alusão à diversos gêneros.
Recentemente (13 de junho), a comunidade LGBTQ+ pode desfrutar de mais uma conquista, com a criminalização da LGBTfobia pelo Supremo Tribunal Federal (8 votos a favor e 3 contra), onde equipara-a ao crime de racismo. Tal lei é de vital importância para proteção dos LGBTQ+.
Percebemos que a Rebelião de Stonewall e a criminzalização da LGBTfobia foram muito importantes para a comunidade. São 50 anos de luta, mas ela precisa continuar, pois ainda o ódio e a falta de amor são muito presentes na sociedade. Sonhamos com um mundo mais justo e igualitário.
Essa foi a Semana do Orgulho LGBTQ+. Gostaram? Curtiram? Digam nos comentários. J-J
Por: Emerson Garcia e Thiago Nascimento