*Texto de Teorias da Comunicação em que se analisa teorias e produto.
O filme Vestida para casar (27 Dresses, 2008) é uma comédia romântica que procura traçar o perfil da mulher que sonha em se casar, tendo como foco a representação do casamento. O presente texto, portanto, confrontará o produto com duas teorias. A primeira são as Representações sociais que elaboram comportamentos e comunicação entre indivíduo. A segunda é a Cultura da Mídia que, de forma conectiva às Representações Sociais, procura compreender figuras, conceitos e imagens veiculadas na mídia. Essa teoria virá para auxiliar a primeira, visto que a Cultura da Mídia corrobora com as Representações Sociais, no sentido do grupo ou indivíduo estar sempre sobre o controle de uma ideologia dominante, que é imposta por meio de representações.
No filme, o casamento é representado como algo bom e importante. A protagonista Jane (Katherine Heigl) é uma típica mulher que sonha em se casar algum dia. Tanto é que no filme observa-se a paixão dela por casamentos. Foi madrinha de 27 matrimônios, sempre gostou de artigos sobre o tema e sempre ajudou suas amigas-noivas na preparação da festa.
Vários símbolos podem ser citados com relação ao casamento, e que remetem a ele, como o buquê, os vestidos de madrinha e o vestido de casamento da mãe. No caso do buquê há todo um mito de felicidade e realização amorosa. Existe uma magia nos casamentos para ver quem vai pegar o buquê. No filme esse conceito está bastante presente quando Jane e outras mulheres se aglomeram em busca de sua felicidade.
Os vestidos de madrinha significam transferência de felicidade. Na maior parte do filme Jane se preocupa primeiramente com a felicidade dos outros e depois com a sua. Ela é capaz de abrir mão da sua felicidade para ajudar suas amigas. “Se para apoiá-las (as noivas), como damas de honra, eu tiver que andar na neve de uma montanha nos Alpes ou ajudá-las a chocar uns pintinhos então eu faço”.
Já com relação ao vestido de casamento da mãe observa-se o desejo de felicidade hereditária. Se a mãe, ao usar o vestido, foi feliz, é certo que a filha também será. Isso demonstra uma distorção no objeto representado, ou seja, acentua-se a característica positiva do casamento em detrimento dos percalços que este pode vir a passar.
De forma análoga, o filme evoca uma característica da Cultura da Mídia. Trata-se dos produtos midiáticos que procuram sempre acentuar, excluir e silenciar ideologias. No filme, a protagonista é apaixonada por matrimônio, independentemente de qualquer coisa. Ela é uma moça que adora as histórias de amor, os pedidos malucos e o noivado. E mesmo, que passe por uma decepção amorosa, nunca se curva perante seu desejo: o de ser a noiva que subirá ao altar.
“Um dia, só Deus sabe o dia, será o meu dia e essas pessoas estarão lá”. Quando Jane diz isso ela vê o seu sonho se concretizando. É como se o propósito de vida, que ela fala desde o início, já tivesse sido concluído. Ela deixaria de ser a “dama de honra perpétua” e passaria a ser a “noiva do altar”.
É possível analisar o filme a partir do estudo cultural crítico que indica o modo como a cultura fornece material e recursos para a construção de identidades. Percebe-se que o desejo da protagonista ajuda na criação de identidades de muitas mulheres. Assim como Jane, há muitas moças que sonham em se casar, que sonham com uma festa de casamento mágica, que almejam seus príncipes encantados e pretendem ser felizes por toda eternidade.
A Cultura da mídia diz que a narrativa dos produtos midiáticos consegue seduzir o espectador. Jane influencia as mulheres quando diz: “Sabe quando a música começa e a noiva faz a grande entrada e todo mundo se vira para olhar? Eu olho para o noivo, porque o rosto dele diz tudo, sabe? O amor puro. É disso que eu gosto”. Elas passam a se identificar com a protagonista e sonham em ver os rostos de seus noivos felizes e amorosos. A ideologia desse filme, e de tantos outros, busca satisfazer os desejos dos espectadores, fazendo com que eles se comportem de acordo com aqueles valores.
O filme possui representações tradicionais acerca do casamento, passando por vários símbolos, como o ícone de amor eterno, verdadeiro, remetendo a outros, como a felicidade, o lar e a maternidade. O que se percebe é que o produto não se enquadra no perfil de mulher feminista, independente e despreocupada com o casamento. Ele vem na contramão dessa análise.
Ao final do filme, Jane consegue realizar seu desejo, ao qual ela chama de “propósito de vida”. Encontra seu príncipe encantado e se casa, abdicando de todos os 27 vestidos de madrinha que significavam felicidade transferida. Agora, ela busca sua própria felicidade. O conceito de happy end é presente no produto, ao ideologizar que a heroína apaixonada sempre se casa, sempre encontra seu príncipe encantado, demonstrando uma relação-fantasia para o público.
Conclui-se que todas as cenas do filme são dotadas de paleomssíbolos, ou seja, de imagens carregadas de drama e emoção que influenciam diretamente no comportamento das pessoas, criando modelos de ação, moda e estilo.
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Neste texto utilizaram-se métodos de interpretação de mitos e símbolos que trazem à tona significados ocultos, latentes e sublimares. Portanto, a analogia entre as Representações Sociais e a Cultura da Mídia foi possível visto que, de acordo com Denise Jodelet, “as representações circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens midiáticas”. (JJ)
Por: Emerson Garcia