A nova novela das 9 da Globo estreou a duas semanas e já causou alardes nos grupos evangélicos e tradicionais da sociedade. Assuntos como ambição, ganância e valores imorais são temas do folhetim, além do casal de lésbicas da terceira idade. Uns dizem que é uma "afronta aos valores da família", outros, que "a novela traz muita imoralidade". Nos 10 capítulos de exibição, Babilônia registrou menos que 30 pontos de audiência, ficando abaixo de uma novela das 7. Além disso, tem perdido para a novela bíblica da Record, Os dez mandamentos. A produção tem sofrido vários boicotes. Eles são válidos?
Estamos em um país democrático, onde a liberdade de expressão é aceita (Só estou escrevendo esse texto por causa disso). Eu posso emitir a minha opinião, concordar ou discordar sobre o que é televisionado. Sou um cidadão livre. Embora sendo livre, tenho que respeitar o direito do outro de sê-lo também. A Globo pode televisionar o que ela quiser, e eu posso optar por assistir ou não. Muitos tem dito que a novela "afronta aos valores da família". Verdade, mas o poder do controle remoto está com você. Boicotar uma novela pelo Whatsapp é permitido, desde que não interfira na decisão do outro e imponha-se uma opinião.
Ora, somos seres pensantes, inteligíveis e com capacidade de tomar decisões. Você pode achar que a novela irá destruir a sua família, ou não. Aliás, muitos tem dito que ela "irá destruir as suas famílias". Que instituição é essa, tão falha, frágil e sem estrutura que uma novela pode colocar fim?! Mas aí, cabe a cada família tomar os seus rumos. O autor, Gilberto Braga, disse que o boicote é "oportunista e ditatorial". Ora, Giberto, onde esse boicote é ditatorial? Seria porque ele está sendo feito por meio de mobilizações virtuais? Não acredito que seja ditatorial, uma vez que, você, está tendo a liberdade de escrever sua trama como quiser. Mas aí quando os outros não aceitam opiniões, isso é ditadura? Não. Até porque ninguém colocou uma arma na cabeça de vocês para dizer como devem, ou não, escrever. E também não é ditatorial ao ponto de uma pessoa interferir a outra de assistir ou não. Ao meu ver, mobilizações podem ser acatadas, ou não.
Eu, por exemplo, não acatei a mobilização do Whatsapp, por considerá-la "tardia". A campanha apareceu uma semana após a novela ter estreado. Já tinha tomado a decisão de não acompanhá-la desde o primeiro episódio. Não cheguei a importunar meus amigos nem compartilhei com meus grupos a mensagem. Sabia da minha posição, mas não queria impor nada a ninguém.
Além do boicote de desligar/mudar de canal e do Whatsapp, o pastor e político Marcos Feliciano quer promover um à patrocinadora oficial da novela, Natura. Segundo ele, a novela sobrevive por causa de patrocínio e se desse um boicote a marca seria o fim devastador da novela, mesmo a Natura sendo prestigiada pelo público evangélico.
Como falei, todo boicote é válido, mas creio que esse que o pastor Marcos Feliciano propôs foi um pouco longe demais. Diria que beira ao fanatismo. Parece-me que ele quer aniquilar a novela a qualquer preço. Ele não aceitar a novela, é uma coisa, mas boicotar seu patrocínio é demais. Uma marca não "é cúmplice" de algo que patrocina. Ela tem seus valores, suas missões e perspectivas próprias, que diferem, ou não do produto patrocinado.
Ele fará esse boicote à Natura baseado em um outro, onde ativistas homossexuais alardearam uma empresa cristã americana, a Chick-fil-A, por trazer frases "anti-gays" em suas embalagens. A frase dizia "ajude-nos a lutar pelos valores familiares tradicionais e como frango". Opinião da empresa, tudo bem. Os ativistas gays serem contra, está tudo certo também. Mas me parece que a atitude do pastor é vingativa, e sendo assim, não terá fim proveitoso. Isso me soa como um "acerto de contas", por isso que falo que esse boicote está indo longe demais.
Babilônia poderá cair, sim (E aqui não é uma referência bíblica rsrs), mas sou a favor de boicotes leais. Esse da Natura não é nada leal, ao meu ver. Mas se ela não cair, não seria bom ver evangélicos revoltados por aí, até porque não se é obrigado a assistir nada que se é apresentado. Vamos deixar a Globo televisionar o que ela quiser. Colocar senhoras se beijando, uma mulher indo para a cama com pelo menos quatro em um capítulo e personagens podres, ambiciosos e amorais. Deixe-a com sua liberdade artística, e que possamos ficar com nossa liberdade de expressão também, porque isso ainda não foi proibido no Brasil. J-J
Por: Emerson Garcia