A praga de esperanças começou a aparecer há alguns meses, em pequenas quantidades, mas foi na semana passada que houve uma invasão delas. Quase sempre em pares, de cor verde (fêmea) e marrom claro (macho), seu ciclo de vida é curtíssimo, e já não se vêem tantas como antes
Eles estavam por toda parte. Em paredes, voando, em cima de grades. Os bichinhos chamaram a atenção de estudantes, funcionários e especialistas da Universidade Católica de Brasília (UCB). Uns tinham admiração, outros, ojeriza e medo dos bichos. “Que bicho é esse?”, muitos perguntavam. Opiniões diversas. Alguns achavam que o inseto era “gafanhoto”, outros, que era “louva-a-deus”, e mais uma porção de pessoas achavam que eram “esperanças”.
Segundo Jesine Falcão, zoóloga da UCB, “cada um desses nomes populares são designados a um conjunto de espécies que possuem características similares”. Tanto o gafanhoto como a esperança são classificados em uma mesma ordem, a Orthoptera (insetos de asas retas, em português). Ambos possuem pernas desenvolvidas para saltar, e ambos, também, são herbívoros – por isso, um perigo para a agricultura.
De acordo com Jesine, existe uma diferença crucial entre um e outro, e é isso que fará com que o mistério seja desvendado: as antenas. Não fosse por elas, o “mistério” não se resolveria, já que é difícil definir cada inseto. “Esperanças possuem antenas mais longas”, explica a zoóloga. Enquanto as esperanças possuem as antenas mais longas do que o corpo, o gafanhoto possui as antenas mais curtas. Então, Jesine consegue desvendar o mistério: eram esperanças!
A praga da UCB – Não é a primeira vez que pragas de insetos aparecem na UCB. Gessica Daniel, estudante de jornalismo da UCB, disse que desde que ela entrou na universidade havia praga de besouro e baratas. “Agora esses insetos”.
Esse episódio nos lembra uma situação bíblica: “As pragas do Egito”. A história, no Êxodo, fala de dez pragas que assolaram o Egito porque o faraó não permitiu que os judeus, sob liderança de Moisés, abandonassem o Egito. A oitava praga fala de gafanhotos: “E subiram os gafanhotos por toda a terra do Egito e pousaram sobre todo o seu território; eram mui numerosos [...]” (Ex. 10.14). No caso da UCB, trata-se de praga de esperança!
A zoóloga Jesine aproveitou a praga para fazer uma pesquisa no laboratório de zoologia. “Em uma das noites, contei mais de 60 só no percurso que fiz até o laboratório de zoologia. Aproveitei para coletar exemplares para serem utilizados na disciplina”.
Cogitações – A praga de esperanças começou a aparecer há alguns meses, em pequenas quantidades, mas foi na semana passada que houve uma grande invasão delas. Não dá para definir com precisão por que os insetos apareceram, mas existem hipóteses.
Pode ser que esses insetos estejam em período de acasalamento. Para a zoóloga Jesine, “estes insetos podem ter ciclos anuais, como o observado com as cigarras e os besouros, o que justifica a grande quantidade observada na última semana”. No processo de copulação, o macho atrai a fêmea por meio sonoro. Quando esta aparece o macho fica em cima dela. Todas as esperanças são adultas e apareceram na mesma época. Por isso, a invasão de esperanças em um período tão curto.
Para o biólogo Paulo César Motta, essa invasão de esperanças pode ter causas diversas. “Pode ser um desequilíbrio, pode ser por causa de desmatamento. Pode ser ausência de predadores naturais no ambiente urbano”.
Cogita-se também que esses insetos apareceram em ampla quantidade na Católica por causa da luz. “Durante a noite eles voam em direção a luz e vão parar nos prédios da universidade. Nessa mesma época é possível observar esses insetos voando ao redor dos postes no estacionamento”, explica Jesine.
Foi observado que as esperanças estavam sempre em pares, representados pela cor verde (fêmea) e marrom claro (macho).
Adeus, esperança! – Na semana atual observa-se que as esperanças estão em declínio. Já não se vêem tantas como antes. É que o ciclo de vida dos insetos é curtíssimo (cerca de dois ou três meses). A esperança, o bichinho, irá acabar, e com ele, também, o medo de muitas pessoas. Se há uma esperança que vai ficar, é a de contar essa história para nossos amigos. J-J
*Matéria para a Oficina de Produção de Notícias, na qual eu fiz parte no ano de 2010.
Por Emerson Garcia