Caros leitores, essa é uma matéria dividida em três partes a respeito da minissérie 'Decadência', de autoria de Dias Gomes, baseada no livro homônimo e adaptada pelo autor. Essa é a terceira e última. Boa leitura!
PREÂMBULO: ANTES DE COMEÇAR EU CONFESSO QUE tive que mostrar antecipadamente via mensagem, quem venceria a segunda edição do MasterChef Brasil em nome do jornalismo e da verdade. Revelar isso, por mais que possa doer, era minha obrigação porque já sabia disso. A matéria do Emerson está aqui falando sobre esse e outros episódios do assunto. VOLTEMOS...
Antes de ler, veja a primeira e a segunda parte desta série de postagens. Você ficará por dentro dos arredores que tem a ver com a minissérie.
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da minissérie | Memória Globo.
O que me chamou atenção em Decadência é o confronto da realidade: a exposição de que até em uma atividade religiosa pode ter pessoas boas (Jovildo – Milton Gonçalves) e ruins (Mariel – Edson Celulari). A obra de Dias Gomes – famoso com suas obras como O Bem-Amado, Saramandaia, O Pagador de Promessas (esta última adaptada para o cinema, indicada ao Oscar e vencedora da Palma de Ouro em Cannes) – é impactante, enfrentadora e até cínica.
Lembremos, para quem nasceu depois, que a orientação política de Dias Gomes influenciou mais do que os critérios de teledramaturgia. Lembro-me, através de jornais e revistas, de que a minissérie foi feita de propósito para provocar raiva aos protestantes.
Destaques principais
Adriana
Esteves, Betty Gofman e Maria Padilha | divulgação.
A cenógrafa Cláudia Alencar foi responsável por cuidar do envelhecimento gradativo dos móveis e da mansão dos Tavares Branco. A cena do incêndio – o símbolo da decadência da família carioca – teve a ajuda da computação gráfica. A minissérie foi vendida para Angola, Bolívia, Bulgária, Canadá, Colômbia, Equador, Eslovênia, Nicarágua, Panamá, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Decadência foi exibida em comemoração aos 30 anos da Rede Globo, mas foi marcada pela guerra entre a emissora e a Igreja Universal do Reino de Deus. A batalha não durou muito tempo.
Fizeram parte da minissérie: Adriana Esteves (Carla), Edson Celulari, Isadora Ribeiro (creditada como “Sueli”, mas chamada de “Luzia” na minissérie), Raul Gazolla (Victor), Virgínia Novick (Vilma). Grandes revelações do momento. Adriana ganhou concurso no programa Domingão do Faustão e ganhou uma vaga de atriz. Isadora foi destaque na vinheta de abertura do Fantástico.
A vida de Rubens Correia em livro |
ImprensaOficial.
Decadência foi o último trabalho de Rubens Correia (Tavares Branco) – morto em 1996 – em decorrência de complicações causadas pelos vírus da AIDS. Até hoje não se sabe o que levou a morte do ator. O que mais se fala foi que ele teve um infarto.
Personagem destaque: PJ – o menos ajuizado da família
PJ em orgia junto com seu amigo político | TV
Globo/SIC.
Depois de fazer personagens humorísticos, Luís Fernando Guimarães encarnou Pedro Jorge Tavares Branco (ou PJ) em Decadência. A meu ver, foi o que se destacou fazendo o cínico e o menos ajuizado dos Tavares Branco. Metido com drogas, lobismo e corrupção, pai negligente que pouco se importa com o rebelde Vicente (Leonardo Biagoni/ João Felipe). Fala palavrão como se fizesse parte de seu vocabulário normal. Veja perfil de PJ:
Acordão Globo-Record: tudo acaba em pizza
Os dois então diretores da Rede Globo – José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – e da Rede Record – Eduardo Lafon – fizeram um acordo de parar com os respectivos ataques e ofensas. Afinal de contas, as duas emissoras tocaram um o calcanhar de Aquiles do outro. A TV Globo tinha as denúncias e a minissérie, A TV Record tinha o documentário Beyond Citizen Kane (Muito Além do Cidadão Kane), onde mostra algumas verdades inconvenientes da emissora de Roberto Marinho. Termina a eletrônica “guerra santa”.
Coincidência ou perseguição?
Fac-símile de Veja. Pag. 123, ano 28, nº 38 | Veja/Editora Abril.
Em matéria da revista Veja em 20 de setembro de 1995, foi relatado que Mariel (Edson Celulari) disse 14 frases semelhantes as ditas por Edir Macedo Bezerra, em entrevista a citada publicação cinco anos atrás. Quem descobriu isso foi o sociólogo Alexandre Brasil Fonseca, que desde 1990 estudava a Igreja Universal.
A Folha de S. Paulo repercutiu o assunto aqui. Dias Gomes alegou que tudo não passou de mera coincidência e que teve como base chavões usados. Você pode comparar o que foi dito no livro de Dias Gomes, a entrevista na Veja e a minissérie de 1995:
LIVRO:
Mariel – O dinheiro é uma necessidade do homem. Na Bíblia, ele aparece como uma ferramenta, com a mesma função que o serrote tem para o carpinteiro e a enxada para o lavrador. Sem dinheiro, é impossível viver. O próprio Jesus tinha o seu tesoureiro, Judas Iscariote.
Delegado – Mas foi por dinheiro que Judas traiu Jesus.
Mariel – É que o dinheiro tanto pode ser usado para o bem como para mal.
Delegado – Mas Jesus era pobre.
Mariel – Esse é um tremendo equívoco. Jesus nunca foi pobre. Ele disse: 'Sou o senhor dos senhores, o rei dos reis. E um rei nunca é pobre'.
ENTREVISTA:
[Edir] Macedo: O dinheiro é uma necessidade do homem. Na Bíblia, ele aparece como uma ferramenta. Com a mesma função que o serrote tem para o carpinteiro e a enxada para o lavrador. Sem o dinheiro é impossível viver. O próprio Jesus tinha o seu tesoureiro, Judas Iscariotes. Achar que o dinheiro é um mal não faz sentido.
Veja: Mas Jesus era pobre.
[Edir] Macedo: Esse é um tremendo engano. Jesus nunca foi pobre. Ele disse: 'Eu sou o senhor dos senhores, o rei dos reis'. Um rei nunca é pobre, ao menos que esteja destronado. Sendo rei dos reis, Jesus era rico (...)
MINISSÉRIE (veja a partir de 13m21):
Efeitos especiais: personagens interagindo com a realidade
Atores
interagindo em vídeo | TV Globo/SIC.
Na minissérie, foram usados efeitos especiais para que as personagens interagissem com as imagens da vida real. A mesma técnica usada no filme Forrest Gump, de 1994.
A participação de você
E aí, assistiu a minissérie? Pois bem, vamos ver a participação de você, caro leitor e internauta.
Thami Sgalbiero | 9 de setembro de 2015 | 17:02
Acho que essas polêmicas dessa época aí não chegam perto das polêmicas de hoje, que é um homem beijar outro homem ou uma mulher beijar outra mulher né? Porque parece ser super normal botar fogo em uma casa e matar o próprio pai, mas esses beijos gays chamam mais atenção pra polêmica. Infelizmente isso é só mais uma prova de como a sociedade é meio ignorante. Gostei do post!
PEDRO RESPONDE – Cada época tem o seu escândalo e ficar no lugar daqueles que viram essa minissérie é fundamental para entender o porquê dela ter sido tão polêmica.
La Joie de Vivre! | 9 de setembro de 2015 | 18:59
Gostei muito do post! acho que, de certo modo, essa "Decadência" continua atual... se bem que, atualmente, há polémicas bem piores!
PEDRO RESPONDE – Obrigado. É por isso que trouxe essa minissérie para discussão. Ela tem seu grau de relevância por todos os motivos citados.
Vestindo Ideias | 9 de setembro de 2015 | 19:33
Nossa, nunca pensei que um sutiã jogado na bíblia ia causa também haha Achei a trama forte sim, mas tá faltando algo assim sabe? Tirando Verdades Secretas que tá sendo um tapa na cara e tá todo mundo amando, acho que falta. Gostei, nem conhecia para ser sincera haha
PEDRO RESPONDE – E causou muito. Nenhum religioso quer ver seus símbolos e crenças vilipendiados desse jeito. Se está faltando algo na trama, respondo perguntando: você viu a minissérie em vídeo? Obrigado.
Juliana Bittar | 16 de setembro de 2015 | 09:45
Oi Pedro, oi Emerson....
Nossa quanta informação! Para começar a informação de que eu estou velha! hauhauah 20 anos de minissérie e eu lembro dela! E de toda a polêmica!
Não tenho dúvida que a minissérie é atual, a única coisa é que hoje vivemos uma fase de "politicamente corretos" que por um lado é uma falsidade, mas por outro não precisaremos mais ver pastor chutando santos na tv! Eu fui evangélica a minha vida toda, fazia parte de uma igreja descente, lembro que quando o Papa faleceu, nossa igreja fez uma oração por ele e pelos católicos que acabavam de perder o maior líder, mas sei que minha igreja era minoria. A grande maioria quer saber de dinheiro a qlqr custo mesmo. A minissérie, novelas, filmes, música e mídia em geral tinha muito essa questão de colocar a tona uma questão que estamos vivendo, e a verdade é que os problemas são os mesmos, vivemos um museu de grandes novidades, não é? Nossa vou parar por aqui, pq já estou filosofando demais! Vou assistir esse "Afundação" que eu não conhecia!
PEDRO RESPONDE – Seu depoimento foi enriquecedor, Juliana. Obrigado.
Marta M. | 16 de setembro de 2015 | 09:56
Hello from Spain: point well taken. Interesting misissérie. I did not know. Keep in touch
PEDRO RESPONDE – Marta, a televisão brasileira tem um poder incalculável sobre o brasileiro. Não sei se é assim na Espanha, mas a TV é a “casta sacerdotal” do Brasil. Obrigado.
Samara Ferreira | 16 de setembro de 2015 A 19:12
Essas brigas religiosas sempre dão o que falar. A igreja e a televisão nunca irão concordar.
PEDRO RESPONDE – É questão de habilidade para falar de qualquer coisa. Tem que ter senso de responsabilidade e equilibrismo. Obrigado.
Espero que tenham gostado dessa sequência de posts sobre a minissérie Decadência. Agora, vamos refletir sobre o post? J-J
Por: Pedro Blanche