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O segundo domingo do mês de maio abriga uma das datas comemorativas mais tradicionais do Brasil. Tanto por sua importância emocional quanto pelo forte apelo comercial que desencadeia, o Dia das Mães é uma das celebrações mais relevantes entre os brasileiros. O varejo, por exemplo, considera a comemoração como a segunda mais importante do ano para os negócios, perdendo apenas para o 25 de dezembro.
E não é só por aqui que a homenagem faz sucesso: em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, cerca de 20 países homenageiam também as mães, a grande parte deles no Leste Europeu e na Ásia; no dia 21 do mesmo mês, início do outono no hemisfério sul e da primavera no hemisfério norte, outros 20 países do Oriente Médio fazem a festa. Há, ainda, quem comemore em fevereiro, abril, agosto, outubro e dezembro.
ORIGENS
Poucos sabem, no entanto, como surgiu a ideia de dedicar um dia especial para as matriarcas. A mais antiga comemoração desse tipo que sem tem notícia é relacionada à mitologia. Na Grécia Antiga, considerada berço da civilização ocidental, a chegada da primavera era saudada em honra de Rhea, a mãe de todos os deuses. Em Roma, festival semelhante era dedicado a Cibele, também considerada mãe dos deuses. As cerimônias em sua homenagem duravam três dias, numa festa conhecida como Hilaria.
O próximo registro está no início do século XVI. Nessa época, a maioria dos jovens de baixa renda da Inglaterra trabalhava como serva para a população rica e, como seu emprego ficava muito longe de suas casas, viviam na casa de seus empregadores. No quarto domingo da Quaresma, eles passaram a ganhar folga e eram encorajados a ir para casa, passar o dia com suas mães. O benefício foi estendido aos operários após a Revolução Industrial. A data passou a ser chamada de Mothering Day e originou a festividade britânica, que ainda ocorre na mesmo dia.
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OFICIALIZAÇÃO
Apesar dos precedentes, foi nos Estado Unidos que a celebração ganhou impulso. As primeiras sugestões acerca da criação de datas para celebrar as mães surgiram da pastora e ativista Ann Marie Reeves Jarvis. Ela que organizou os Dias de Amizade Para as Mães, em 1865, para melhorar as condições dos feridos na Guerra de Secessão, que assolou os Estados Unidos no período. Mais cedo, em 1858, Jarvis havia fundado os Clubes do Dia de Trabalho das Mães, que tinha por objetivo melhorar as condições de saúde e sanitárias de famílias trabalhadoras, além de combater a mortalidade de suas crianças.
Em 1872, a escritora Júlia Ward Howe, a autora de O Hino de Batalha da República, canção patriótica que embalou o Norte na guerra civil, organizou um dia dedicado às mães que lutavam pela paz. O ato ocorreu em Boston, apenas sete anos após o fim do conflito que mais matou americanos na história (entre 750 mil e 970 mil pessoas) e deixou muitas mães sem seus filhos.
Quando AnnMarie Reeves Jarvis morreu, em 9 de maio de 1905, sua filha, Anna Jarvis, entrou em depressão. Preocupadas com tamanho sofrimento, algumas amigas tiveram a ideia de perpetuar a memória de sua mãe com um memorial. Anna quis que o ato fosse estendido a todas as mães, vivas ou mortas, com um dia em que as crianças se lembrassem de suas mães e as homenageassem. O objetivo era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
Anna e seus apoiadores lutaram por três anos seguidos: começaram a escrever aos ministros, jornalistas e políticos, buscando estabelecer o Dia das Mães em todo o país. Conseguiram oficializar a data na pequena Webster, onde viviam, e que a cidade de Grafton realizasse a celebração no segundo aniversário da morte de sua mãe. Depois, em 26 de abril de 1910, o governador de Virgínia Ocidental, William Glasscock, a incorporou ao calendário oficial de datas comemorativas do estado.
Em 8 de maio 1914, o Congresso aprovou a destinação do segundo domingo de maio para a festividade. Logo no dia seguinte, o presidente Woodrow Wilson proclamou que os edifícios públicos deveriam ser decorados com bandeiras. Assim, o Dia das Mães foi unificado e comemorado nacionalmente pela primeira vez em 9 de maio de 1914. Sob a influência dos EUA, em pouco tempo mais de 40 países adotaram a data.
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SIMBOLISMO E DESILUSÃO
O cravo, flor favorita da mãe de Anna Jarvis, tornou-se o símbolo das mães, após ter sido usado na homenagem de 1907, em Grafton, e em diversas outras nos anos posteriores. Os cravos brancos simbolizavam sentimentos como a pureza, doçura, fidelidade e eternidade do amor de mãe. Com o tempo, eles tornaram-se símbolo da mãe que já faleceu, enquanto os cravos vermelhos representam a mãe viva.
A popularidade do feriado fez com que a data se tornasse um dia lucrativo para os comerciantes, principalmente para os que vendiam cravos brancos, flor que simboliza a maternidade. Após passar praticamente toda a vida lutando para que as pessoas reconhecessem a importância das mães, utilizando o próprio dinheiro para levar a causa adiante, Jarvis e a irmã iniciaram um malsucedido movimento contra o feriado.
"Não criei o dia das mães para ter lucro", teria dito Anna, furiosa, a um repórter, em 1923. Sua nova batalha a levou a gastar praticamente todos os seus recursos. Ela criticava, ainda, a maneira como os filhos homenageavam as mães, trocando manifestações diretas de carinho por cartões pré-fabricados e outros presentes. Jarvis nunca se casou e não teve filhos. Faleceu em novembro de 1948 em West Chester, Pensilvânia.
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BRASIL
O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que a celebração fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica. O passar dos anos também trouxe sua intensa exploração comercial, mas o aspecto emocional ainda faz com que ela seja uma das homenagens favoritas dos brasileiros. J-J
Por: Allan Virissimo