Quem já se perdeu no caminho para um lugar? Quem já pegou ônibus errado? Quem já teve que andar mais do que devia para chegar ao destino? Tudo isso aconteceu comigo recentemente em duas situações diferentes. Enganou-se quem pensou que os fatos acabaram com o meu dia. Pelo contrário, consegui contornar os incidentes, por meio de otimismo e resiliência.
Para quem não sabe, eu resido em Brasília. Não! Minto! Eu moro há alguns quilômetros do centro do país, mas não deixa de ser dentro do Distrito Federal. A capital do Brasil compreende a região central, as asas (Asa Sul e Asa Norte) e os Lagos (Lago Sul e Lago Norte). Tudo que foge disso, sinto informar, não é Brasília, mas regiões satélites. Toda estrutura do centro do país foi bem organizada, mas eu me perdi por duas vezes, mesmo tendo noções de localizações e a estrutura mental na minha cabeça. Por exemplo, quando se fala em Asa Norte, se fala de uma região que compreende várias outras subestruturas: W3 Norte, Eixo Norte, L2 Norte e Lago Norte. Assim mesmo! Nessa ordem de sequência.
Pronto. Situei vocês um pouco no que é Brasília. A cidade planejada que eu não planejei me perder.
A primeira situação que aconteceu comigo foi no final do ano passado, quando estava na Rodoviária do Plano Piloto (Região Central de Brasília) e precisava chegar até a Unieuro do Setor de Embaixadas Sul (Região Sul de Brasília). Embarquei em um ônibus cujo percurso compreendia L2 Sul-W3 Sul, e depois retornava para a rodoviária. Logo que entrei no ônibus perguntei para a cobradora:
- Passa na Unieuro do Setor de Embaixadas?
- Eu não sei te informar. Eu nunca fiz essa linha, ela respondeu.
Ixi! Já vi que ia dar tudo errado. Uma cobradora que não sabia de nada; eu perdido; e ainda, sobretudo, chovia.
Passei a roleta preocupado e já sabendo que ia dar ruim. Mesmo assim, criei estratégias para isso não acontecer de fato. A primeira delas, foi conectar rapidamente meu celular ao Wi-Fi da rodoviária (Sim! Eu também fiquei espantado com internet de graça em um local público. Nunca pensei!) antes que o itinerante saísse da região do sinal de internet - que foi entre 5 e 7 min. "Pronto. Conectei o Wi-Fi. Agora deixa eu correr pra acessar o Google Maps, inserir o endereço da Unieuro e entender o percurso que o ônibus fará", pensei. Foi aí que eu acessei esse mapa e tirei print:
Rodoviária: bolinha cinza na ponta azul superior.
Unieuro (meu destino): bolinha vermelha com o ícone de localização na ponta azul inferior.
"Ih, cara! O ônibus não passa lá, mas fica próximo. Ele faz o caminho oposto ao meu destino, mas acho que dá pra contornar isso", conversei com meus botões. E dava pra contornar, só que eu não prestei atenção no detalhe que faltava: a parada que teria que descer. Era a última da L2 Sul, antes do ônibus dobrar para entrar na W3 Sul (via que está acima da linha azul). "Socorro! Meu Deus do céu! Para onde estou indo?! O ônibus está a léguas do lugar que teria que descer! Só eu mesmo". O caos estava instaurado.
E agora? Descer do itinerante na W3 Sul e pegar outro ônibus? Ir embora? Sentar e chorar? O que fazer? "Permanecer no lugar que está, seu bobo. Afinal, você ainda tem tempo de sobra até chegar ao seu destino. Finja que nada aconteceu. E se alguém (motorista ou cobradora) perguntar o que você está fazendo ainda aí? Ué, diz que se perdeu, seu idiota", esse sou eu conversando comigo mesmo viu, gente?
Eu dentro do ônibus como se nada tivesse acontecido:
O ônibus chegou na rodoviária, fiquei calado, mas com aquela sensação de Dejá-vu (ou seja, eu já vi isso e vou ser burro de novo).
- Pra onde você vai?, a cobradora ou a má informada pergunta pra mim.
- Estou indo para a Unieuro, do Setor de Embaixadas Sul, mas estou perdido, respondo.
A cobradora não disse nada, mas fez essa cara:
Ela queria rir de mim, mas não podia. Imagina o que o motorista estava pensando então?!
E lá vamos nós de novo! Mesmo percurso. Mesmo ônibus. Mesmas dúvidas. Mesma cobradora. Mesmo motorista.
Além da tática do print do mapa, precisava de outra, pra não me perder pela segunda vez. Foi aí que tive a brilhante ideia (por que eu não tive da primeira vez?) de falar pra cobradora:
- Na última parada da L2 Sul você pode dizer pra mim?
Ela respondeu:
- Posso sim. Você (motorista) pode parar pra ele na última parada?
O Motorista respondeu:
- Ok.
Seria tão mais simples fazer essa pergunta da primeira vez, né? Evitaria muita coisa. Mas consegui contornar o meu desgaste com otimismo e bom humor. Desci na última parada da L2 Sul, com confiança e esperança que no final do meu percurso avistaria a Unieuro. E foi o que aconteceu: cheguei antes do horário lá.
A segunda situação foi no domingo passado, quando precisava estar no Iesb da L2 Norte. Novo desafio. Nova região de Brasília. E a possibilidade de me perder de novo. E foi o que aconteceu!
Um dia antes, recebi uma mensagem que dizia a localização exata do Iesb. No sms dizia mais ou menos assim:
"Fica localizado na Asa Norte, L2 Norte, quadra 609 Norte".
Lembra lá em cima que eu falei que Brasília é toda certinha e bem organizada?! Pois é. De fato é assim, e a mensagem estava certinha. Confusa e desorganizada é minha cabeça. Ao embarcar na minha cidade peguei W3 Norte, achando que o ônibus passava no local. Claro que não passava né?! O ônibus que eu teria que pegar era L2 Norte.
- Esse ônibus não passa na 609 Norte, o cobrador respondeu quando perguntei se passava.
- Então eu tenho que pegar um pra L2 Norte né?
- Sim.
- E onde eu posso pegar o L2 Norte?
- Em qualquer parada do W3 Norte.
Lá estava eu perdido de novo. Sem saber o que fazer.
Sou daqueles que planeja tudo. Horário, dinheiro de passagem, que horas eu tenho que sair de casa, se vai chover, se vai fazer frio. Nesse dia eu tinha planejado - embora não parecesse por causa do meu vacilo - tudo isso, sobretudo, quanto de dinheiro teria que gastar na ida e na volta. Se eu pegasse outro ônibus, iria pra casa andando. O dinheiro estava contado.
Foi aí, que durante aquele trajeto da W3 Norte, coloquei minha cabeça pra pensar: "Brasília é toda planejada e organizada. As Asas Norte e Sul, por exemplo são opostas, mas elas se completam. Tudo que tem de um lado, tem do outro. A Asa Sul corresponde a Asa Norte. A L2 Sul, por sua vez, corresponde a L2 Norte. E até mesmo os Lagos Sul e Norte são correspondentes". Resumindo: "Eu só me perco nesse lugar se eu quiser".
"Já que tudo é correspondente, se eu preciso estar na 609 Norte, devo descer na parada correspondente a isso: 109, 209, 309, 409, 509...". E eu me surpreendi comigo mesmo com esse pensamento, já que sou péssimo em matemática e com raciocínio lógico.
- Só eu que entendo de arquitetura, urbanismo e localização?
- Sim! Só você!
O nerd
O Oscar Niemeyer
O ganhador do prêmio Nobel
O pioneiro de Brasília
O diferentão.
E foi assim que eu desci na 509 Norte, rumo a uma aventura louca, alucinante e improvável até a 609 Norte.
Eu sou aquele bonequinho do Whatsapp, que desceu na W3 Norte, passou pelo Eixão Norte, rumo a L2 Norte, sem saber se encontraria, ou não, o Iesb.
Eu não tinha a noção certa de quantos quilômetros teria que andar, e nem o que eu iria encontrar entre a 509 Norte e a 609 Norte, mas fui com fé, com espírito aventureiro, parecendo que eu era o Rock Balboa #sqn, até que eu me deparei com isso:
Era domingo, e o Eixão Norte fica fechado para atividades físicas, como corrida, caminhada e ciclismo. Não me lembrava disso, e lá vai o "super atleta" atravessar a multidão de esportistas:
Desculpem a ilustração tosca. Mas o que vale é a intenção kkkk
Depois de andar por 15 min (até que da W3 Norte para a L2 Norte não é tão longe) e passar por todas as variações de noves que se possa imaginar (109, 409, 209...), de atravessar pistas e se aventurar no meio de carros, de passar por debaixo de blocos e superquadras, com prédios, árvores, e tudo que você puder pensar, eis que chego até a L2 Norte, e olho para a minha direita, quando vejo mais a frente uma miragem: uma parede vermelha, da cor que costuma ser os prédios do Iesb. Cheguei!
Essas foram as aventuras na cidade planejada que eu não planejei me perder, mas me perdi. Contudo, aprendi com esses episódios que tudo que acontece na vida da gente é para melhorar. Que possamos enfrentar os incidentes com otimismo, resiliência, fé e esperança. J-J
Por: Emerson Garcia