sexta-feira, 30 de junho de 2023
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Poliamor: entenda o termo
Você sabe o que é poliamor? E poliafetividade? E relacionamento aberto e fechado? No post de hoje da Pride Week você vai conhecer todo esse universo!
Poliamor é uma palavra que vem do grego πολύ (poli) e do latim (amor), significando muitos ou vários amores. Ou seja, a prática ou desejo de possuir mais de um relacionamento, seja sexual ou romântico, ao mesmo tempo com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos. O prefixo poli é poly em inglês (polyromantic, polysexual, polyalterous). É comum reduzir o nome da identidade para ply, em relação a orientação em geral. Na língua portuguesa, algumas pessoas usam pli para falar da orientação, diferenciando de outros usos da palavra poli.
Poliamor também é sinônimo para relacionamento não monogâmico com três características marcantes: não exclusividade romântica ou sexual a dois; consensualidade; e equidade das partes.
Só pode ser considerado poliamor se o relacionamento for entre três ou mais pessoas. Esse é um assunto polêmico e inaceitável pela maioria das sociedades ocidentais. Qualquer tipo de relacionamento poligâmico é condenável. As pessoas não concordam ou não acreditam que o poliamor traga bons frutos para um relacionamento estável e duradouro.
Esse movimento surgiu na década de 1980 nos EUA, com a primeira comunidade poliamorosa, e de uns anos para cá tem se tornado recorrente. Os adeptos podem viver juntos ou conviver a maior parte do tempo. Também há um casal central, formado por duas pessoas, em que elas mantém relações secundárias separadas e com consentimento uma da outra. É preciso destacar que homens e mulheres podem se relacionar com mais pessoas, sem diferenciação de gênero ou orientação sexual.
A palavra, em si, já foi inventada diversas vezes, a maior parte como adjetivo. Uma breve história da orientação sexual foi publicada em português. Em 2014, foi reconhecida oficialmente em vários dicionários online de português de Portugal. O neologismo poliamor foi utilizado pela primeira vez por Morning Glory Zell-Ravenheart em seu ensaio Um buquê de amantes, publicado em maio de 1990.
A poliafetividade, portanto, é apenas um desejo de viver dessa forma, usufruindo da liberdade que se tem para tal. Vamos ao post de hoje!
Poliamor e suas formas
As relações poliamorosas podem ser de curto ou longo prazo, íntimas ou casuais, sexuais ou não-sexuais, com grande variedade de formatos e entrelaçamentos. A poliafetividade possui um verdadeiro arco-íris de possibilidades. A diversidade é incrível!
Há várias formas do poliamor ser manifesto, de acordo com as preferências dos interessados e acordos. Sim, necessariamente o consentimento e confiança mútua de todas as partes deve ser levado em consideração para praticar o poliamor e suas modalidades. Confira os conceitos:
Relacionamento em grupo: a relação é horizontal e entre três ou mais pessoas, que se relacionam afetiva e sexualmente entre si, sem hierarquia entre as partes. Ele pode ser aberto ou fechado (polifidelidade). Os envolvidos se consideram parte de uma "mesma família".
- aberto: os envolvidos se relacionam - romântica ou sexualmente - dentro de acordos pré-estabelecidos com pessoas de fora do "grupo nuclear". Relação aberta e poliamor não são sinônimos. Relacionamento aberto tem a ver com não-exclusividade sexual no relacionamento; enquanto poliamor, a extensão desta não-exclusividade para o romantismo, por criar laços emocionais exteriores à relação primordial com certa estabilidade. Também é conhecido como amor livre.
- fechado: envolve múltiplas relações românticas com contato sexual e afetivo somente entre parceiros do relacionamento. Os poliamoristas fechados são fiéis aos seus parceiros e consideram a fidelidade maior que a liberdade. Há ética e transparência entre o casal poliamoroso.
Relacionamento mono-poli: caracteriza-se quando um dos parceiros é monogâmico, mas aceita que o seu parceiro mantenha relacionamentos poligâmicos. O que se chama de mono/poli é quando um dos parceiros decide não se relacionar com terceiros, mas o outro, sim, contudo isso não é fixo. Por isso, há os chamados Acordos geométricos.
- Acordos geométricos: são descritos conforme o número de pessoas envolvidas e pelas suas ligações. Exemplos incluem "trios" e "quadras", assim como as geometrias "V" e "N". Há também o "Triângulo" (equidade na relação) e o "T" (casal com estreita relação entre si e uma mais tênue com o terceiro), entre outros tipos de geometrias.
Relacionamento paralelos: são também conhecido como rede de relacionamentos interconectadas, são relacionamentos que existem de forma paralela. Ou seja A se relaciona com B e C mas, B e C não se relacionam entre si e podem manter de forma independente outros relacionamentos românticos ou sexuais. Pode ser de dois tipos:
- com hierarquia: há relações primárias e secundárias.
- sem hierarquia: não há diferença entre uma relação e outra, mas sim um esforço consciente para se tratar todas as relações da forma mais igualitária possível.
OBSERVAÇÃO: Pessoas podem se considerar poliamoristas mesmo sem estar em nenhum relacionamento, desde que se identifiquem com as possibilidades de relações simultâneas com consentimento e equidade entre as partes.
Poliamor Vs. Panafetividade
Esses conceitos podem ser parecidos, mas são diferentes. O poliamor é mais do que um relacionamento amoroso e sexual. Não está, necessariamente, relacionado com a orientação sexual. Já a panafetividade é um tipo de orientação sexual, em que o indivíduo se sente atraído sexual e/ou emocionalmente com pessoas de qualquer sexo ou identidade de gênero. Ele pode se sentir atraído pelo mesmo sexo, pelo sexo oposto, por transgêneros, cisgêneros, etc. Não há barreiras para pessoas pansexuais.
Símbolos
Coração entrelaçado
É o signo internacional do poliamor. O coração é composto com o símbolo matemático do infinito (∞). Esse símbolo tem muitos modelos: vários corações e a utilização das cores do sexo e diversidade.
Bandeira
É composta por três linhas horizontais nas cores: azul (honestidade), vermelha (amor ou paixão) e preta (solidariedade). No centro da faixa vermelha o símbolo pode ser variável: a letra grega Pi (π) - inicial de "poli" em grego, o coração entrelaçado com o infinito e o infinito (∞).
π e ∞
Esses dois símbolos também representam o movimento e podem vir contidos na bandeira poliamorosa. Há até mesmo o π estilizado com as cores preta, vermelha e azul. Assim, há algumas variações de bandeiras com a aplicação dos símbolos de forma isolada.
Em terras brasileiras é comum misturar os símbolos do poliamor com a bandeira do Brasil. Assim, foi criada a própria bandeira do poliamor no Brasil.
Parrot
É comum utilizar o papagaio ou arara como símbolos também, por que nos Estados Unidos o nome "polly" é o nome comum dado à ave. A arara passou a representar os poliamoristas. Há muitas variações desse símbolo.
E o ciúme?
O poliamoroso não está livre desse sentimento. Para lidar com ele, o poliamoroso não pode ser possessivo, além de desenvolver sua autoestima para amenizá-lo. A prática do poliamor pode vir, ou não, bloquear o ciúme possessivo, pois ele é consequência do medo de ser substituído por outro e ser abandonado. Isso não ocorre no relacionamento poliamoroso. Isso é chamado de compersão, termo relacionado à felicidade de se saber que quem você ama é amado por mais alguém. A compersão também é uma forma de empatia refinada em que se compartilha a felicidade da pessoa amada, sustentando-se no amor incondicional e desinteressado. Esse termo surgiu com a comunidade poliamorosa.
Preconceitos e dificuldades
Não é fácil se assumir poliamorista. As dificuldades podem vir da família, amigos, religião e trabalho. O espaço de respeito com as pessoas poliamorosas precisa ser construído, pois ainda há muito preconceito. Certamente, as pessoas te farão comentários e perguntas, porque é um modo de vida ainda desconhecido.
Os poliamorosos podem ser chamados de promíscuos, imorais, pecaminosos, psicopatologistas, viciados em sexo, descompromissados, fáceis e irresponsáveis. A pessoa que se considera e se assume dessa forma, deve ser corajosa, pois a rejeição virá na certa. Elas são rejeitadas no emprego, na religião e podem ter seus direitos como a custódia de filhos comprometidos. Seus amigos podem se afastar por sentirem-se ameaçados por serem abertas e autoconfiantes. O poliamoroso também pode ser considerado uma má influência na família.
É por isso que é primordial um acompanhamento psicológico. Se autoconhecer e procurar ajuda médica na dimensão da sexualidade é fundamental para entender seus desejos e motivações, se autodesenvolvendo e se realizando em sua vida pessoal. É a psicologia que facilita esse encontro consigo mesmo. As respostas sobre essas dúvidas não são rápidas e não estão prontas, mas com ajuda profissional você encontra apoio.
Se é o seu desejo tornar-se poliamorista, não se importe com a opinião dos outros. Dê satisfação para aqueles que são realmente importantes em sua vida. Se alguém te perguntar sobre, e for de forma educada e não-invasiva, responda pois pode ser apenas curiosidade. Se for deboche ou comentário maldoso, ignore, pois não vale a pena se chatear.
Rede de apoio
Os praticantes ou simpatizantes do poliamor ainda sofrem preconceito e pressão mononormativa para se adequarem à norma de comportamento. Como forma de se ajudar mutuamente ou conhecerem pessoas com modo de vida semelhante, eles criam redes locais ou virtuais de suporte, discussão ou intervenção social. Os poliativistas intervém na sociedade para criar uma imagem positiva e merecedora de respeito junto à sociedade como um todo. De certa forma, a ajuda e suporte emocional é uma forma de intervenção social.
Reconhecimento pela Justiça
As pessoas poliamorosas buscam serem reconhecidas juridicamente no Brasil. A união poliafetiva, assim como a união homoafetiva sempre fizeram parte da sociedade. No Brasil o conceito de família sempre foi baseado na monogamia. A legislação brasileira reconhece a união estável entre homem e mulher (art. 226 da Constituição Federal e art. 1.723 do Código Civil) e a união homoafetiva (Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013 do Conselho Nacional de Justiça). A união poliafetiva não possui previsão legal, mas os tribunais tem discutido a regularização desse relacionamento. A relação, vista como "casar com (a) amante" ganha forças no direito brasileiro e, assim, um novo tipo de sociedade é formado. O que está em julgamento na justiça é a união de três ou mais pessoas que admitem relações afetivas paralelas.
A ausência de legislação, a questão moral, a falta de informação e o preconceito criam um entrave para o reconhecimento desta relação. O cristianismo ainda impera no Brasil, mesmo que não fira a Constituição Federal e o Código Civil. Mesmo assim, há vários casos de casais poliamorosos no Brasil que estão registrados em cartório. Atualmente a discussão está no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que vai decidir sobre a legalidade ou não do registro em cartório desta união.
Mitos sobre o poliamor
Os mitos sobre a poliafetividade flutuam entre mito e realidade. Alguns estudiosos afirmam que a monogamia não é uma coisa natural, apenas uma norma cultural. Será que o poliamor é um mito, ou não?! Nesse tópico apresento 7 mitos.
1- Os monógamos praticam o poliamor
Há quem acredite que quem pratica o poliamor mantém um casal principal e aproveita as relações fora desse casal. Mentira! Esse fato é verdadeiro apenas em 30% das relações entre três ou mais pessoas.
2- O ser humano é monogâmico por natureza
Mito. De acordo com estudiosos, a natureza humana não é monogâmica. Cientistas entendem que o ser humano vai contra as leis da biologia, sendo dotado para ser polígamo mas manter um vínculo social exclusivo entre homem e mulher, mesmo que não seja a inclinação evolutiva.
3- O poliamor é praticado apenas por pessoas insatisfeitas
Buscar um segundo ou terceiro parceiro não tem a ver com insatisfação com um primeiro parceiro.
4- Pessoas que praticam poliamor têm problemas psicológicos
Uma relação poligâmica não precisa ser mais ou menos disfuncional que a monogâmica. Testes psicológicos padrão foram realizados para sustentar essa tese. Pessoas poliamorosas costumam ser mais criativas e menos conformistas. Elas são estimuladas com a complexidade, inventividade, não convencionalidade e caos, mas não demonstram problemas psicológicos.
5- O poliamor prejudica as crianças
Muitos acreditam que esse tipo de relacionamento prejudica o crescimento das crianças. Em relacionamentos poliamorosos os adultos podem ter mais ajuda para cuidar das crianças, e elas tem uma pessoa mais velha com que compartilha brincadeiras e preocupações.
6- O poliamor é praticado por pessoas confusas
Na verdade, os poliamorosos não estão confusos e não tem medo de compromisso. Elas sabem muito bem o que querem e como desejam.
7- O poliamor esconde um perfil promíscuo
Uma vida ativa em termos sexuais, com duas ou mais pessoas, não tem nada de negativo.
Poliamor pelo mundo e Brasil
O movimento está mais presente nos Estados Unidos, seguido por Alemanha e Reino Unido. No Brasil, já existe jurisprudência que reconhece relações poliamorosas.
Têm-se feito coberturas do movimento poliamor em si, assim como dos episódios que estão ligados à ele. No Brasil, existem grupos de poliamor como é o caso da Pratique Poliamor do Rio de Janeiro, fundada em 2011.
O poliamor é para você?
Antes de começar um relacionamento poliamoroso, descubra se você se identifica com esse relacionamento, respondendo as seguintes perguntas:
Conclusão
O amor pode ser manifestado de inúmeras formas. O poliamor também. As novas formas de amar moldam novas formas de relacionamentos e organizações familiares que impactam na sociedade e leva à relações mais inclusivas. O amor entre pessoas é algo admirável. Esse é um termo novo, que ainda precisa ser melhor estudado. J-J