sexta-feira, 30 de junho de 2023

Série de pregações do 'No pride' gera polêmicas


Durante o mês de junho a Lagoinha Orlando Church (IBL) realizou uma série de pregações e cultos especiais chamada No Pride, algo como "Orgulho, não" ou "Não orgulho". A ideia foi a de fazer um mês temático, direcionado para evangélicos (crentes) e pessoas que acreditam na Bíblia Sagrada. A série temática não foi direcionada para a comunidade LGBTQIAPN+, por mais que os comentários tenham sido sobre ela

Durante as pregações, a Bíblia Sagrada foi utilizada para a exposição de princípios cristãos, bíblicos e divinos. Os pregadores propuseram aos cristãos meditarem sobre várias passagens bíblicas sobre a cultura LGBTQIAPN+, que influencia a vida das pessoas crentes em Jesus.






A programação ocorreu durante todos os domingos dos meses de junho. 6 pregações temáticas foram feitas e exibidas no canal oficial da igreja no Youtube. Entre elas, estão: Trocando verdades por mentiras: os perigos da rejeição de DeusDiga não. No pride contou com artes que remetiam à comunidade LGBTQIAPN+, como degradês em arco-íris, globos tridimensionais nas cores das bandeiras das minorias. O palco das pregações foi todo ilustrado com essas logos nos telões, que constratavam com o ambiente preto e escuro. 








A série de pregações ocorreu em território americano, em Orlando (EUA), onde a liberdade de expressão é bem maior que no Brasil. Os pregadores de lá possuem total de liberdade de emitirem suas opiniões, sem sofrerem consequências. A liberdade de expressão não é a mesma em todos os países e no mundo. Se eles quiseram falar desse assunto e escolheram o mês de junho, ninguém tem a capacidade de julgá-los por isso. "Ah, mas eles aproveitaram o mês do Orgulho LGBTQIAPN+ para terem audiência e engajamento" e "Com tantos assuntos a serem abordados pela igreja, a bandeira LGBTQIAPN+ virou pauta?" são argumentos que não cabem aqui. Os pastores tiveram liberdade de falarem aquilo que eles acreditam, e ponto final! 

A crença na fé e princípios são coisas que ninguém pode retirar de você. Para os evangélicos, a Bíblia ainda é o firme fundamento para seguir e Jesus e ser salvo. Eles acreditam nisso, assim como é admissível que cada um acredite no que se identifica, no que quer acreditar, no que quer se apegar. Na primeira pregação deixou-se claro: "Se você não crer na Bíblia, essa palavra não é pra você!" e "estava se falando para crente"

Hoje em dia, é admirável quem expõe sua opinião, assume suas identidades e não tem vergonha de dizer o que se pensa e de ser quem se é. Levantar bandeiras e gritar para os quatro ventos que não concorda "com isso ou aquilo" ainda pode ser visto com maus olhos por muitos. Não é atacar, mas expor sua opinião e muitos tem medo de fazer isso. Preferem ficar calados, se abster, de ser "politicamente correto". Assim como a comunidade LGBTQIAPN+ tem o direito de expor seus ideais e de desfilar durante a Parada, outros também tem o direito de expor suas opiniões, mesmo que sejam contrárias às suas. Respeito se aplica para todos e a liberdade de expressão e opinião também. 







Assisti a primeira pregação da série e, em nenhum momento, o que foi falado configurou em homofobia, em minha opinião. A mensagem é recheada de empatia, amor e respeito. O ódio, ao qual o pregador se refere, é o que a Bíblia também condena: ódio pelo pecado, não pelo pecador. O pregador não diz que vai espancar e maltratar as pessoas LGBTQIAPN+, pelo contrário. Veja um trecho: 

"O cristão ama, abraça, cuida até o último fôlego de vida, mas não vamos aceitar vida de pecado. Temos que amar, temos que ter empatia, mas não significa que porque a pessoa é adúltera eu vou adulterar com ela. Eu preciso odiar o pecado, a impureza sexual. Eu preciso ter ódio, ódio daquilo que Deus não criou de forma natural, eu preciso ter nojo , eu preciso romper na minha vida, não deixar que isso entre na minha casa, na mente dos meus filhos, das minhas crianças, do meu casamento. Eu não posso tratar com naturalidade aquilo que Deus repugna."


Ele ressalta que a empatia tem que ter limites. E ele decide e opta por não ter essa prática de vida. Afinal, não é obrigado a seguir o estilo de vida de ninguém. Opta para que essa prática não faça parte de sua família, de seu casamento e de sua vida. Foi uma decisão dele, ninguém o obrigou a isso. Não se deve colocar "goela à baixo" ideais, ideologias e modos de vida. Cada um faz o que bem entende. 

Com a No pride os pastores falaram e apontaram o modo de vida bíblico, o caminho da santidade, levantaram a bandeira que é Jesus. Pregações feitas por cristãos que acreditam na Bíblia, direcionadas para crentes que seguem princípios divinos e bíblicos. Não foi indireta para pessoas LGBTQIAPN+, nem nada disso. 






O que pude ver com a série é que não foi pregado contra a diversidade em nenhum momento. O que pregou-se foi sobre princípios bíblicos, com mensagens direcionadas não para o público LGBTQIAPN+, mas para o público cristão. 

As pregações demonstram que a igreja é um lugar para quem gostaria viver princípios bíblicos. Mas isso não quer dizer que pessoas LGBTQIAPN+ devem ser rejeitadas e odiadas por isso. Deus ama todas as pessoas, independente de quem elas sejam. J-J





Por: Emerson Garcia

Poliamor: entenda o termo

Você sabe o que é poliamor? E poliafetividade? E relacionamento aberto e fechado? No post de hoje da Pride Week você vai conhecer todo esse universo! 

Poliamor é uma palavra que vem do grego πολύ (poli) e do latim (amor), significando muitos ou vários amores. Ou seja, a prática ou desejo de possuir mais de um relacionamento, seja sexual ou romântico, ao mesmo tempo com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos. O prefixo poli é poly em inglês (polyromantic, polysexual, polyalterous). É comum reduzir o nome da identidade para ply, em relação a orientação em geral. Na língua portuguesa, algumas pessoas usam pli para falar da orientação, diferenciando de outros usos da palavra poli

Poliamor também é sinônimo para relacionamento não monogâmico com três características marcantes: não exclusividade romântica ou sexual a dois; consensualidade; e equidade das partes.

Só pode ser considerado poliamor se o relacionamento for entre três ou mais pessoas. Esse é um assunto polêmico e inaceitável pela maioria das sociedades ocidentais. Qualquer tipo de relacionamento poligâmico é condenável. As pessoas não concordam ou não acreditam que o poliamor traga bons frutos para um relacionamento estável e duradouro.

  

Esse movimento surgiu na década de 1980 nos EUA, com a primeira comunidade poliamorosa, e de uns anos para cá tem se tornado recorrente. Os adeptos podem viver juntos ou conviver a maior parte do tempo. Também há um casal central, formado por duas pessoas, em que elas mantém relações secundárias separadas e com consentimento uma da outra. É preciso destacar que homens e mulheres podem se relacionar com mais pessoas, sem diferenciação de gênero ou orientação sexual. 

A palavra, em si, já foi inventada diversas vezes, a maior parte como adjetivo. Uma breve história da orientação sexual foi publicada em português. Em 2014, foi reconhecida oficialmente em vários dicionários online de português de Portugal. O neologismo poliamor foi utilizado pela primeira vez por Morning Glory Zell-Ravenheart em seu ensaio Um buquê de amantes, publicado em maio de 1990. 

A poliafetividade, portanto, é apenas um desejo de viver dessa forma, usufruindo da liberdade que se tem para tal. Vamos ao post de hoje!


Poliamor e suas formas


As relações poliamorosas podem ser de curto ou longo prazo, íntimas ou casuais, sexuais ou não-sexuais, com grande variedade de formatos e entrelaçamentos. A poliafetividade possui um verdadeiro arco-íris de possibilidades. A diversidade é incrível!

Há várias formas do poliamor ser manifesto, de acordo com as preferências dos interessados e acordos. Sim, necessariamente o consentimento e confiança mútua de todas as partes deve ser levado em consideração para praticar o poliamor e suas modalidades. Confira os conceitos:

Relacionamento em grupo: a relação é horizontal e entre três ou mais pessoas, que se relacionam afetiva e sexualmente entre si, sem hierarquia entre as partes. Ele pode ser aberto ou fechado (polifidelidade). Os envolvidos se consideram parte de uma "mesma família".

- aberto: os envolvidos se relacionam - romântica ou sexualmente - dentro de acordos pré-estabelecidos com pessoas de fora do "grupo nuclear". Relação aberta e poliamor não são sinônimos. Relacionamento aberto tem a ver com não-exclusividade sexual no relacionamento; enquanto poliamor, a extensão desta não-exclusividade para o romantismo, por criar laços emocionais exteriores à relação primordial com certa estabilidade. Também é conhecido como amor livre. 

- fechado: envolve múltiplas relações românticas com contato sexual e afetivo somente entre parceiros do relacionamento. Os poliamoristas fechados são fiéis aos seus parceiros e consideram a fidelidade maior que a liberdade. Há ética e transparência entre o casal poliamoroso. 


Relacionamento mono-poli: caracteriza-se quando um dos parceiros é monogâmico, mas aceita que o seu parceiro mantenha relacionamentos poligâmicos. O que se chama de mono/poli é quando um dos parceiros decide não se relacionar com terceiros, mas o outro, sim, contudo isso não é fixo. Por isso, há os chamados Acordos geométricos.

- Acordos geométricos: são descritos conforme o número de pessoas envolvidas e pelas suas ligações. Exemplos incluem "trios" e "quadras", assim como as geometrias "V" e "N". Há também o "Triângulo" (equidade na relação) e o "T" (casal com estreita relação entre si e uma mais tênue com o terceiro), entre outros tipos de geometrias. 


Relacionamento paralelos: são também conhecido como rede de relacionamentos interconectadas, são relacionamentos que existem de forma paralela. Ou seja A se relaciona com B e C mas, B e C não se relacionam entre si e podem manter de forma independente outros relacionamentos românticos ou sexuais. Pode ser de dois tipos:

- com hierarquia: há relações primárias e secundárias.

- sem hierarquia: não há diferença entre uma relação e outra, mas sim um esforço consciente para se tratar todas as relações da forma mais igualitária possível. 


OBSERVAÇÃO: Pessoas podem se considerar poliamoristas mesmo sem estar em nenhum relacionamento, desde que se identifiquem com as possibilidades de relações simultâneas com consentimento e equidade entre as partes. 


Poliamor Vs. Panafetividade

Esses conceitos podem ser parecidos, mas são diferentes. O poliamor é mais do que um relacionamento amoroso e sexual. Não está, necessariamente, relacionado com a orientação sexual. Já a panafetividade é um tipo de orientação sexual, em que o indivíduo se sente atraído sexual e/ou emocionalmente com pessoas de qualquer sexo ou identidade de gênero. Ele pode se sentir atraído pelo mesmo sexo, pelo sexo oposto, por transgêneros, cisgêneros, etc. Não há barreiras para pessoas pansexuais. 


Símbolos 

Coração entrelaçado

É o signo internacional do poliamor. O coração é composto com o símbolo matemático do infinito (∞). Esse símbolo tem muitos modelos: vários corações e a utilização das cores do sexo e diversidade. 


Bandeira


É composta por três linhas horizontais nas cores: azul (honestidade), vermelha (amor ou paixão) e preta (solidariedade). No centro da faixa vermelha o símbolo pode ser variável: a letra grega Pi (π) - inicial de "poli" em grego, o coração entrelaçado com o infinito e o infinito (∞)



π e 


Esses dois símbolos também representam o movimento e podem vir contidos na bandeira poliamorosa. Há até mesmo o π estilizado com as cores preta, vermelha e azul. Assim, há algumas variações de bandeiras com a aplicação dos símbolos de forma isolada. 

Em terras brasileiras é comum misturar os símbolos do poliamor com a bandeira do Brasil. Assim, foi criada a própria bandeira do poliamor no Brasil. 


Parrot


É comum utilizar o papagaio ou arara como símbolos também, por que nos Estados Unidos o nome "polly" é o nome comum dado à ave. A arara passou a representar os poliamoristas. Há muitas variações desse símbolo. 


E o ciúme?


O poliamoroso não está livre desse sentimento. Para lidar com ele, o poliamoroso não pode ser possessivo, além de desenvolver sua autoestima para amenizá-lo. A prática do poliamor pode vir, ou não, bloquear o ciúme possessivo, pois ele é consequência do medo de ser substituído por outro e ser abandonado. Isso não ocorre no relacionamento poliamoroso. Isso é chamado de compersão, termo relacionado à felicidade de se saber que quem você ama é amado por mais alguém. A compersão também é uma forma de empatia refinada em que se compartilha a felicidade da pessoa amada, sustentando-se no amor incondicional e desinteressado. Esse termo surgiu com a comunidade poliamorosa. 


Preconceitos e dificuldades

Não é fácil se assumir poliamorista. As dificuldades podem vir da família, amigos, religião e trabalho. O espaço de respeito com as pessoas poliamorosas precisa ser construído, pois ainda há muito preconceito. Certamente, as pessoas te farão comentários e perguntas, porque é um modo de vida ainda desconhecido. 

Os poliamorosos podem ser chamados de promíscuos, imorais, pecaminosos, psicopatologistas, viciados em sexo, descompromissados, fáceis e irresponsáveis. A pessoa que se considera e se assume dessa forma, deve ser corajosa, pois a rejeição virá na certa. Elas são rejeitadas no emprego, na religião e podem ter seus direitos como a custódia de filhos comprometidos. Seus amigos podem se afastar por sentirem-se ameaçados por serem abertas e autoconfiantes. O poliamoroso também pode ser considerado uma má influência na família.  

É por isso que é primordial um acompanhamento psicológico. Se autoconhecer e procurar ajuda médica na dimensão da sexualidade é fundamental para entender seus desejos e motivações, se autodesenvolvendo e se realizando em sua vida pessoal. É a psicologia que facilita esse encontro consigo mesmo. As respostas sobre essas dúvidas não são rápidas e não estão prontas, mas com ajuda profissional você encontra apoio. 

Se é o seu desejo tornar-se poliamorista, não se importe com a opinião dos outros. Dê satisfação para aqueles que são realmente importantes em sua vida. Se alguém te perguntar sobre, e for de forma educada e não-invasiva, responda pois pode ser apenas curiosidade. Se for deboche ou comentário maldoso, ignore, pois não vale a pena se chatear. 


Rede de apoio


Os praticantes ou simpatizantes do poliamor ainda sofrem preconceito e pressão mononormativa para se adequarem à norma de comportamento. Como forma de se ajudar mutuamente ou conhecerem pessoas com modo de vida semelhante, eles criam redes locais ou virtuais de suporte, discussão ou intervenção social. Os poliativistas intervém na sociedade para criar uma imagem positiva e merecedora de respeito junto à sociedade como um todo. De certa forma, a ajuda e suporte emocional é uma forma de intervenção social. 


Reconhecimento pela Justiça



As pessoas poliamorosas buscam serem reconhecidas juridicamente no Brasil. A união poliafetiva, assim como a união homoafetiva sempre fizeram parte da sociedade. No Brasil o conceito de família sempre foi baseado na monogamia. A legislação brasileira reconhece a união estável entre homem e mulher (art. 226 da Constituição Federal e art. 1.723 do Código Civil) e a união homoafetiva (Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013 do Conselho Nacional de Justiça). A união poliafetiva não possui previsão legal, mas os tribunais tem discutido a regularização desse relacionamento. A relação, vista como "casar com (a) amante" ganha forças no direito brasileiro e, assim, um novo tipo de sociedade é formado. O que está em julgamento na justiça é a união de três ou mais pessoas que admitem relações afetivas paralelas. 

A ausência de legislação, a questão moral, a falta de informação e o preconceito criam um entrave para o reconhecimento desta relação. O cristianismo ainda impera no Brasil, mesmo que não fira a Constituição Federal e o Código Civil. Mesmo assim, há vários casos de casais poliamorosos no Brasil que estão registrados em cartório. Atualmente a discussão está no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que vai decidir sobre a legalidade ou não do registro em cartório desta união. 


Mitos sobre o poliamor


Os mitos sobre a poliafetividade flutuam entre mito e realidade. Alguns estudiosos afirmam que a monogamia não é uma coisa natural, apenas uma norma cultural. Será que o poliamor é um mito, ou não?! Nesse tópico apresento 7 mitos

1- Os monógamos praticam o poliamor

Há quem acredite que quem pratica o poliamor mantém um casal principal e aproveita as relações fora desse casal. Mentira! Esse fato é verdadeiro apenas em 30% das relações entre três ou mais pessoas. 


2- O ser humano é monogâmico por natureza

Mito. De acordo com estudiosos, a natureza humana não é monogâmica. Cientistas entendem que o ser humano vai contra as leis da biologia, sendo dotado para ser polígamo mas manter um vínculo social exclusivo entre homem e mulher, mesmo que não seja a inclinação evolutiva. 


3- O poliamor é praticado apenas por pessoas insatisfeitas

Buscar um segundo ou terceiro parceiro não tem a ver com insatisfação com um primeiro parceiro. 


4- Pessoas que praticam poliamor têm problemas psicológicos

Uma relação poligâmica não precisa ser mais ou menos disfuncional que a monogâmica. Testes psicológicos padrão foram realizados para sustentar essa tese. Pessoas poliamorosas costumam ser mais criativas e menos conformistas. Elas são estimuladas com a complexidade, inventividade, não convencionalidade e caos, mas não demonstram problemas psicológicos.  


5- O poliamor prejudica as crianças

Muitos acreditam que esse tipo de relacionamento prejudica o crescimento das crianças. Em relacionamentos poliamorosos os adultos podem ter mais ajuda para cuidar das crianças, e elas tem uma pessoa mais velha com que compartilha brincadeiras e preocupações.  


6- O poliamor é praticado por pessoas confusas

Na verdade, os poliamorosos não estão confusos e não tem medo de compromisso. Elas sabem muito bem o que querem e como desejam. 


7- O poliamor esconde um perfil promíscuo

Uma vida ativa em termos sexuais, com duas ou mais pessoas, não tem nada de negativo. 


Poliamor pelo mundo e Brasil

O movimento está mais presente nos Estados Unidos, seguido por Alemanha e Reino Unido. No Brasil, já existe jurisprudência que reconhece relações poliamorosas. 

Têm-se feito coberturas do movimento poliamor em si, assim como dos episódios que estão ligados à ele. No Brasil, existem grupos de poliamor como é o caso da Pratique Poliamor do Rio de Janeiro, fundada em 2011. 


O poliamor é para você?

Antes de começar um relacionamento poliamoroso, descubra se você se identifica com esse relacionamento, respondendo as seguintes perguntas:

- Você é uma pessoa ciumenta?
- Você e seu atual par desejam igualmente viver uma relação poligâmica?
- Qual é a motivação sua e de seu parceiro para entrar num relacionamento poliamoroso?
- Os seus planos para o futuro são compatíveis com esse tipo de relacionamento?
- Está preparado para negociar as regras do relacionamento?


Conclusão

O amor pode ser manifestado de inúmeras formas. O poliamor também. As novas formas de amar moldam novas formas de relacionamentos e organizações familiares que impactam na sociedade e leva à relações mais inclusivas. O amor entre pessoas é algo admirável. Esse é um termo novo, que ainda precisa ser melhor estudado. J-J



Por: Emerson Garcia

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Assexualidade: categorias e subdivisões; tabus e preconceitos; mitos; e dúvidas


No ano passado, durante a Pride Week 2022, o colaborador Arthur Claro fez um post sobre a assexualidade bem legal e completo sobre conceitos, símbolos, bandeira e como descobrir se é uma pessoa assexual. 

O post de hoje é uma continuação do anterior. Nele focarei sobre as categorias e subdivisões; mitos; tabus e preconceitos; e dúvidas da assexualidade. A assexualidade, como aprendemos anteriormente, é uma orientação sexual que pode se manifestar de várias formas. É como se a assexualidade tivesse um leque diverso de subdivisões e espectros.

Só pra recapitular, a assexualidade é quando não há atração ou desejo sexual por qualquer gênero. Ela também pode ser conceituada quando há pouco atração ou apenas quando há vínculo emocional. Esse conceito retirei do Orgulho em movimento do Uber.

É um erro acreditar que pessoas assexuais não possuem a sexualidade. Elas possuem sim, pois não se limita à atração sexual, englobando muito mais coisas. Ela pode ser definitiva, compreender um curto espaço de tempo, ser fluida, entre outros.

Feita essa recapitulação, vamos ao post de hoje.


Categorias e subdivisões da assexualidade



A assexualidade é variável. Ela pode se referir à pessoas com desejo ou atração sexual baixa ou ausente, comportamentos sexuais baixos ou ausentes, parcerias não sexuais exclusivamente românticas ou combinação de desejos e comportamentos sexuais ausentes.  

A AVEN (Asexuality Visibility and Education Network, Rede de Visibilidade e Educação sobre Assexualidade, em português) criou algumas divisões da assexualidade para que o conceito seja de fácil entendimento. A divisão tradicional é a seguinte: assexualidade romântica e arromântica. No primeiro caso, a pessoa pode se apaixonar; no segundo, é o ser assexual que não possui interesse em relações românticas ou não sente amor romântico.

Os assexuais românticos se dividem em: heterorromânticos, homorromânticos, birromânticos e panrromânticos. O sufixo -romântico é utilizado ao ínves do -sexual para não gerar confusão com as subclassificações da assexualidade com as orientações sexuais tradicionais. Confira:

arromântico: falta de atração romântica por qualquer pessoa;
birromântico: por analogia ao biafetivo;
heterorromântico: por analogia ao heteroafetivo;
homorromântico: por analogia ao homoafetivo; e
panromântico: por analogia ao panafetivo.

A identificação também pode compreender a área cinza do gráfico da assexualidade. Como o cinza-romântico, demirromântico, demissexual ou semissexual. Estes estão no meio termo e não se consideram nem românticos nem arromânticos. Ou seja, estão entre a assexualidade e a atração sexual. Eles sentem atração sexual de forma esporádica ou somente quando formam fortes laços afetivos ou românticos com outras pessoas. Ou seja, tem que ter aquela conexão emocional razoavelmente estável ou que tenha sido criada amplamente.  



Agora, vou falar um pouco sobre as subdivisões que já foram apresentadas no post.


Românticos

O assexual romântico tem interesse em se relacionar romanticamente com a outra. O personagem Caíque, de Travessia, era um assexual romântico que se relacionava romanticamente com Leonor, mas quando ela queria ultrapassar o limite para o sexo, havia certa repulsa. As pessoas assexuais românticas são carinhosas, se envolvem emocionalmente com a outra, mas não há atração nem prática sexual. 


Não-românticos ou arromânticos

O assexual não-romântico ou arromântico não possui interesse ou disposição de possuir um relacionamento amoroso e está em paz com essa decisão.


Área cinza


Na área cinza da assexulidade estão as pessoas que praticam sexo. Nessa área há outras subdivisões baseadas nas características de cada um. Nesse setor, há os demissexuais, os sapiossexuais (Indivíduos que se sentem atraídos sexualmente por pessoas muito inteligentes. Bela Gil recentemente se classificou dessa forma) e os grayssexuais, os Gray-A (Indivíduos que transam em situações específicas). A demissexualidade e a sapiosexualidade são duas subclassificações mais conhecidas quando falamos de assexualidade de forma mais literal. Quando utilizamos esses termos, nos referimos à assexualidade estrita e/ou plena, isto é, a pura falta total de desejo sexual. 

Essas classificações e subdivisões da assexualidade ainda estão sendo discutidas, pois tem se percebido que nem todos os assexuais se identificam com elas. É importante que o assunto seja estudado cada vez mais, com o intuito do didatismo, informação e autoconhecimento de cada pessoa assexual. 

Outras palavras e frases da comunidade assexual

Muitos outros termos podem ser utilizados para a assexualidade. É isso que você irá ver agora. Confira!

Friend-focused: relacionamentos não-românticos supervalorizados;
Squishes: paixões não-românticas;
Zucchinis: relacionamentos queer-platônicos;
Alossexual: termo para indivíduos do lado oposto da sexualidade;
Assexual estrito: pessoa que não sente atração sexual em nenhum momento;
Frayssexual: pessoa que sente atração sexual apenas quando não há um vínculo afetivo criado;
Cupiossexual: pessoa que não sente atração sexual por outros, mas desejo e vontade de ter uma vida sexual ativa; e
Assexual fluido: pessoa que ora se sente demissexual, ora grayssexual. Ou seja, alguém cujos desejos sexuais flutuam ocasionalmente. 


Atração ≠ Desejo



Atração e desejo são duas coisas totalmente diferentes e é preciso conceituá-las. Há a atração sexual que envolve apenas o ato sexual - a vontade de sexo somente pelo sexo; há o desejo sexual/libido que é a vontade de estimulação sexual, não necessariamente de sexo, como vontade de gozar ou sentir prazer; há a atração romântica, que é ficar apaixonado ("caído de amor") por alguém ou alguéns; e a atração estética, achar alguém bonito e apreciar essa beleza. Ter esses conceitos definidos é de suma importância para se entender a assexualidade. 


Tabus e preconceitos



Há muitos tabus e preconceitos instaurados com as pessoas assexuais, isso se deve, sobretudo ao desconhecimento dos conceitos sobre a assexualidade. Pessoas assexuais, ao longo da história, lutaram para serem compreendidas, reconhecidas e possuírem sua visibilidade.  

Pessoas interpretam de forma equivocada o termo, além dele não ser tão conhecido e pouco discutido. Há uma descrença sobre a pessoa ser assexual e comentários, como: "será que você é assexual mesmo?" e "te ignoro porque desconheço esse termo!", são bem frequentes.
 
Há muito preconceito, julgamentos equivocados e confusão. Cada vez mais, as vozes assexuadas gostariam de ser ouvidas e compreendidas. É por isso que indivíduos, ativistas e grupos contam suas histórias para um público mais amplo e desfilam em paradas LGBTQIAPN+ pelo mundo. 

Entre os equívocos estão: acreditar que a assexualidade é a mesma coisa que celibato, e não é; ou que é uma escolha, na verdade é uma orientação; que só é assexual se nunca sentiu atração sexual ou praticou sexo (Na verdade é um espectro, como vimos); que é sinônimo de arromantismo, mas vimos que não. 

Tem se tornado comum fóruns, bate papos e o Dia e Semana da Visibilidade Assexual para retirar a assexualidade das sombras e colocar luz no termo. Assim, é até mais fácil para que pessoas possam declarar sua orientação. 


Mitos



Após os tabus e preconceitos, os mitos sobre a assexualidade são levantados. Nesse tópico apresento 10 mitos sobre a assexualidade:

Mito 1: Assexualidade não existe

Tanto existe que é uma orientação sexual, conceituada e reconhecida pelas pessoas. Também há categorias, subdivisões e variações, como apresentei. 


Mito 2: Assexuais são pessoas frias e incapazes de construir relações afetivas

Assexuais podem, sim, construir relações afetivas, sejam românticas ou não.


Mito 3: Assexualidade é uma forma de celibato ou abstinência

Esses conceitos são bem diferentes entre si. Assexualidade é uma orientação sexual, enquanto o celibato e abstinência são comportamentos. A pessoa assexual não sente, ou sente pouca atração sexual e pode ou não, praticar sexo. A celibatária não pratica sexo por algum motivo, nem sempre porque escolheu isso; e a que pratica a abstinência ela decidiu se abster-se do sexo. Os conceitos se sobrepõem, mas não se confundem. Uma pessoa assexual pode ser celibatária ou abstinente, sem que isso fique confuso. 


Mito 4: Assexuais não enfrentam preconceitos, opressão e discriminação

Nós já vimos nesse post que enfrentam, sim. Pesquisas mostram as precariedades e vulnerabilidades associadas com a visibilização e não reconhecimento das experiências assexuais. Isso leva a taxas de suicídio e tentativa, retraimento social e problemas interpessoais. 


Mito 5: Assexualidade é resultado de doença, trauma ou influxo hormonal

Assexualidade não é doença. Os assexuais não possuem traumas e/ou alteração dos níveis hormonais. Não é depressão, nem nada disso. A baixa atração/desejo sexual não tem nada corporal, neurológico ou hormonal. 


Mito 6: A assexualidade é uma criação moderna da internet

Ela foi conhecida mais pela AVEN, comunidade assexual virtual, fundada em 2001, mas há registros de ativistas e discussões anteriores. Um dos registros mais antigos é do Manifesto Assexual, escrito por Lisa Orlando, publicado em 1972 pelo New York Radical Feminists (NYRF). 


Mito 7: Assexuais não praticam sexo e não sentem desejo sexual

Sim, eles podem praticar, como vimos de acordo com as categorias e subdivisões. A prática de sexo pode ser para satisfazer parcerias, satisfação pessoal ou para ter filhos. Ou seja, muitos assexuais podem encontrar no sexo um atividade de prazer ou uma ponte de conexão com suas parcerias.  


Mitos 8: Pessoas assexuais são assexuadas 

O termo assexuado pode ser confundido com o assexual. Ambos podem ser usados para se referir à mesma coisa, mas são diferentes. Assexuado é a pessoa que não possui órgão sexual ou a reprodução ocorre sem intervenção de dois sexos, de acordo com a biologia. Já assexual é a que tem a assexualidade como sua orientação sexual. Chamar uma pessoa assexual de "assexuada" é um tanto preconceituoso e pejorativo. 


Mitos 9: Não é possível amar sem sexo

Um dos grandes mitos levantados é que as pessoas assexuais não são interessadas em relações amorosas. Se é possível fazer sexo sem amor, porque não é possível o contrário - amor sem sexo? Esse é até um questionamento que Caíque faz para Leonor. Pessoas assexuais podem, sim, manter relacionamentos amorosos!


Mitos 10: Assexuais se relacionam apenas com outros assexuais

O relacionamento romântico pode ocorrer entre qualquer pessoa romântica, pois se trata de emoção e conexão. Assexuais se apaixonam e mantém relacionamentos com pessoas de qualquer orientação sexual. O personagem Caíque, por exemplo, se conectou emocionalmente com Leonor e já estava mantendo um relacionamento de namoro com ela, apesar dela não entender isso. 


Dúvidas


Melhor que morrer com a dúvida e ficar "a ver navios", é sanar todas as dúvidas. Por isso, nesse tópico, vou sanar algumas sobre a assexualidade.

Se eu não sinto atração sexual, necessariamente sou assexual?

Não. A falta de atração sexual ocorre por vários motivos, e a assexualidade é apenas um deles. Algumas pessoas não se sentem atraídas por homens ou mulheres por conta de traumas, problemas hormonais ou transtornos psicológicos. Aqueles que não se sentem confortáveis e bem por conta da falta de interesse sexual devem procurar ajuda médica.


Eu não sinto atração sexual, mas já me apaixonei. Significa que não sou assexual?
   
Parte dos assexuais afirma já ter se apaixonado. O sentimento de amor e a atração sexual não estão necessariamente associados. 


Se eu já fiz sexo, então não posso ser assexual, correto?

Errado. As pessoas praticam sexo por diversos motivos, que não necessariamente estejam ligados à libido própria. Pode ter a ver com satisfação do parceiro, manutenção de relacionamento ou para entender como a sexualidade se manifesta. Esses são aluns dos motivos que levam os assexuais a se relacionarem sexualmente com outras pessoas.


Todo assexual é gay?
 
Não, embora existam alguns assexuais que também dizem serem gays, ou seja, homorromânticos. 


O que eu faço para ser assexual ou para me tornar assexual?

Nada. A assexualidade não se constitui por algo que se faça. Pode-se ser assexual praticando ou não sexo, beijando ou não beijando, amando ou não amando. É algo mais subjetivo que só diz respeito ao próprio assexual. Não há método.


Sempre tive atração sexual, mas, de repente, deixei de senti-la. Virei assexual?

Depende. A sexualidade humana é fluida e pode ser modificada no decorrer dos anos. Contudo, é preciso estar em alerta pois a falta de interesse sexual pode ser um sintoma patológico. Por isso, é importante acompanhamento médico, nesse caso. 


Sexo, para mim, é sinônimo de pecado, sujeira, doença e imundice. Acredito que todos que fazem sexo merecem morrer ou ir para o inferno. Sou, então, assexual?

É preciso ter cuidado com nossos julgamentos e ideias. O sexo não é sujo e não é uma doença. Se você acredita ser assexual por ter esse tipo de preconceito, é melhor rever seus conceitos. Talvez seja interessante procurar tratamento psicológico. 


Me identifico com todas as características da assexualidade, mas pratico a masturbação. Sou assexual mesmo assim?

Talvez. A masturbação pode ter vários significados, não estando ligados, necessariamente, à fantasia da prática sexual. Para muitos assexuais, a masturbação é uma necessidade fisiológica, e que a praticam sem pensar em nada. Mas isso varia de pessoa para pessoa. 


Queria ser assexual para não sofrer mais. É possível?

A ideia de que assexual não sofre é uma ilusão. Os assexuais possuem suas próprias angústias e problemas. Mudar sua orientação sexual não é a solução para os seus problemas. 


Ser assexual é tão triste quanto parece ser?

Mito. A orientação sexual é apenas um dos elementos que compõem os seres humanos e a felicidade não se associa somente à ela. Essa ideia de que sexo é importante e essencial é apenas uma supervalorização da prática, mas praticar não é pré-requisito para alcançar a felicidade.  


A assexualidade é uma fórmula?

Não. É uma questão bem ampla e complexa para se limitar à definições. Por isso, pesquisa, reflita e compartilhe!


Conclusão



A palavra assexual é nova, sendo incorporada ao dicionário apenas em 2021. As categorias e subdivisões, então, é algo recente e ainda tem se estudado muito sobre o assunto. A assexualidade é uma orientação sexual e está contida naquele 'Azinho' da sigla. 

Escolher ser assexual não é fácil, já que a sociedade é extremamente sexualizada. Essa orientação ainda gera muito tabu e preconceito. Mas é algo totalmente normal e a orientação merece ser respeitada. Ainda hoje em dia, essa orientação é conhecida como "orientação invisível"

A empatia, compreensão e respeito é fundamental em qualquer orientação. Ainda mais se você entrar em um relacionamento assim. É preciso conhecer e respeitar os limites do parceiro. Que bom que foi criada a Semana da Consciência Assexual para que a assexualidade seja melhor compreendida. 

É preciso, antes de tudo, entender que a assexualidade: não é doença; há mais mulheres que homens assexuais; não é questão de baixa libido; as pessoas assexuais podem ter um relacionamento normal; assexuais também transam; e assexuais se consideram parte da comunidade LGBTQIAPN+. 

Você pode saber mais do assunto no site Assexualidade, clicando aqui





Por: Emerson Garcia
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