Pode conter spoilers!
Bem vindos a mais um Serieteners - séries da quarentena aqui no Quinta de série do JOVEM JORNALISTA! Na edição de hoje falo de Social Distance ou traduzindo Distanciamento Social. Produzida pela Netflix, a série foi criada Hilary Weisman Graham e Jenji Kohan (Orange is the new black); com produção executiva de Jenji Kohan, Tara Hermann, Hilary Weisman Graham e Blake McComick; e produção de Alex Orr e Ashley Glazier. A série contou com atores conhecidos e outros nem tanto, como Danielle Brooks (Taystee de Orange is the new black), Peter Scanavino (Law & Order: SVU), Asante Blackk (Olhos que condenam e This is us), Oscar Nuñez (The Office) e Mike Colter (Evil, Luke Cage e The Good Wife). Social Distance foi uma série antológica de 8 episódios de cerca de 22 minutos cada. Os episódios foram lançados no dia 15 de outubro de 2020.
A série mistura drama e comédia dramática sobre a vivência de pessoas comuns durante a quarentena e isolamento social por conta do covid-19. Por meio de situações cotidianas, as pessoas procuram conexão com outras, já que não podem sair de casa. Assim, Social Distance aborda a convivência entre famílias, amigos, colegas de trabalho e casais, mostrando o poder do espírito e convivência humanos em meio à incertezas e o isolamento. A série explora, ainda, as tecnologias amplamente utilizadas durante a pandemia do coronavírus, como Zoom, Babá eletrônica, formatura online e até mesmo o Gindr.
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As situações retratadas na série são as mais cotidianas possíveis, como a videoconferência em família atrapalhada por aquele parente que não entende nada de tecnologia, conexão entre jovens amigas, utilização da videoconferência e redes sociais por um rapaz deprimido e o uso de tecnologias, como a Babá eletrônica, para vigiar a filha enquanto se trabalhava.
Social Distance não foca no vírus e nas consequências na saúde das pessoas, mas no isolamento social, como as pessoas tiveram que lidar com ele e se adaptarem. Hilary Graham, a criadora da série, disse que a intenção foi a de mostrar as consequências do distanciamento na vida das pessoas.
Dispositivo agregado à narrativa
Social Distance foi totalmente gravada na casa dos atores, com as orientações técnicas dos produtores e do diretor Diego Velasco de forma remota e com as ferramentas online usuais que entraram na rotina não só dos personagens como na nossa. A série ficou conhecida como a primeira produção da Netflix a ser criada remotamente, desde o início da crise do novo coronavírus.
Objetos como microfones, luzes, figurinos, cenográfios e todo equipamento utilizado foram entregues nas casas dos atores. Antes de tudo, porém, eles tiveram que aprender a manuseá-los. Por aulas virtuais, eles foram orientados pelos profissionais de cada área. Assim, a presença de inúmeras telas contribuíram para adicioná-las à narrativa da série. As telas e os dispositivos foram o foco da série, assim como salas de videoconferência, celulares, câmeras, de segurança e plataformas de videogame.
Mesmo que a série tenha sido gravada dentro de casa, a qualidade da narrativa, de imagem e de som foram um primor.
Os criadores da série viram um grande desafio à frente de criar uma história inovadora, mas que protegesse todos os envolvidos. Em uma postagem no Twitter, eles disseram o seguinte:
“Estamos a desafiar-nos no sentido de fazer algo novo, criar e produzir virtualmente para que o nosso elenco e equipe possam continuar seguros e saudáveis."
História dos episódios
Como falado anteriormente a série conta com 8 episódios com histórias independentes. Abaixo falo de cada um deles.
1- Delete all future events
Conta a estória de um homem solitário e alcóolatra que faz de tudo para sair do tédio, inclusive criar uma planta para ser a sua namorada. Seguimos o drama do protagonista do episódio e sentimos sua dor, afinal quem não passou por um momento de solidão? O episódio ainda discute sobre o uso das redes sociais.
2- A celebration of the human life cycle
Um funeral online tinha tudo para ser prático, mas não nesse casp. Durante a videoconferência fúnebre ocorrem as situações mais inóspitas entre os familiares, além da dificuldade de alguns para lidar com as tecnologias. Apesar de ser dramático, o episódio tem muitos momentos bem humorados e cômicos e uma revelação avassaladora. Ele foi um sopro de alívio em meio a tantas histórias pesadas da série. O timing cômico dos participantes do episódio foi interessante.
3- And we could all together/ Go out on the ocean
Uma enfermeira cuida de uma mãe idosa enquanto ajuda sua filha que está sozinha em casa por meio da tecnologia. O episódio retrata como muitos pais lidam com o fechamento de escolas para criarem e educarem seus filhos em casa. O capítulo tem cenas inesquecíveis e reflexivas.
4- Zero feet away
O único episódio LGBTQ+ da série apresenta um casal gay que lida com o isolamento social, enquanto um dos parceiros tem a ideia de apimentar o relacionamento com um ménage a trois. O outro parceiro aceita a ideia, mesmo à contragosto, e eles escolhem o homem pelo Grindr. Só que eles não fazem uma boa escolha por uma série de motivos, até que expulsam o cara minutos após eles começarem a transar.
5- You gotta ding-dong fling-flong the whole narrative
Um dos episódios mais tristes de toda a série, por mostrar a realidade do covid-19 na relação de uma família. Por conta da doença, a mãe precisa ficar isolada em um quarto, enquanto o marido tenta cuidar do filho, fazendo de tudo para que ele não mantenha contato com sua esposa. Apesar do teor pesado, o episódio é fofo, criativo e emocionante ao trazer a imaginação fértil da criança e animações interessantes.
6- Humane animal trap
Um casal de médicos recém-aposentados lidam com as diferenças no relacionamento, mesmo após tantos anos juntos. A mulher deseja voltar para a linha de frente na luta contra o coronavírus, mas o homem não. O episódio aborda tanto o confronto com nossos familiares e com nós mesmos durante o isolamento.
7- everything is v depressing rn
O episódio é focado nos jovens durante o isolamento e conta a estória de uma jovem que tem uma queda por um menino de sua equipe. Ela é tímida e pede conselhos a uma de suas amigas. No decorrer do capítulo o rapaz a nota e eles mantém um relacionamento virtual. Mas nem tudo são flores, pois no final ela descobre um segredo terrível ao ver algumas das postagens do garoto nas redes sociais.
8- Pomp and circumstance
A série foi finalizada de forma grandiosa, com o episódio que mostra o embate entre um jovem negro e seu chefe negro nos preparativos de uma formatura online. O jovem fica chocado quando seu chefe se recusa a dar-lhe a tarde de folga para que ele possa ir a um protesto Black lives matter após a morte de George Floyd. Ambos possuem um choque de ideias e muitos argumentos trocados. Um dos melhores episódios da série!
Direção e fotografia
A série é quase totalmente passada em uma tela de celular, notebook ou com imagens capturadas por câmeras de segurança, algo parecido com o que acontece nos filmes Amizade Desfeita e Buscando... A ideia foi trazer verdade a uma produção sobre isolamento e distanciamento social.
Pelos dispositivos empregados, a fotografia se resume a ângulos inovadores que funcionam muito bem nos primeiros capítulos, mas que essa repetição se torna cansativa aos olhos no decorrer.
Cenografia e fugurinos
Eles são explorados de uma forma para trazer personalidade aos personagens e ambientes onde as ações ocorrem (casas, quartos ou jardins), mas sem que eles se sobressaiam na narrativa, que é o mais importante na série.
Percebemos o lado "otaku" da protagonista do sétimo episódio, enquanto no quarto o que predomina é a organização quase surreal de um personagem obsessivo com limpeza. O vazio nos espaços também é presente, como se fizesse menção ao vazio existencial vividos por muitos neste período.
Social Distance, além de debater temas relevantes do isolamento social, ainda aproveitou para realizar críticas sociais importantes, como a abordagem do movimento que ficou conhecido no mundo inteiro com a morte de George Floyd, assassinado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos. Sua morte iniciou uma série de manifestações contra a brutalidade policial com pessoas negras.
O Black lives matter está presente no final do episódio 7 e em todo o episódio 8.
Recepção
A série teve uma aprovação de 55% no Rotten Tomatoes, com uma clasificação média de 6,75/10.
Crítica
Apesar da série apresentar estórias, elas poderiam ser muito bem histórias, por conta do teor realístico e da ideia dela se propor como uma réplica da vida real. Tudo na série é muito verdadeiro, crível e convincente. Dessa vez a arte imitou muito bem a vida real.
A série mostra o desafio de adaptação das pessoas no início de tudo, quando não sabíamos do que o vírus se tratava e quanto tempo ficaríamos confinados. Era tudo novo, não tínhamos o costume de utilizar tecnologias de videoconferência com frequência, mas fomos obrigados a entender como funcionava uma live, Zoom e Google Meet. Tivemos que nos aliar a essas ferramentas e plataformas de forma forçada.
Social distance não possui uma produção extremamente elaborada, mas sim com cenários simples e caseiros e personagens como qualquer um de nós. Talvez esses sejam os maiores acertos da produção: nos identificamos com ela e agimos com empatia a cada estória. Com a série rimos, nos emocionamos, sentimos a dor dos personagens e vibramos com cada um deles.
O interessante da produção é o fechamento de cada episódio com incertezas, assim como vem sendo a realidade. As estórias não foram concluídas ao final, mas elas continuaram após as câmeras serem desligadas. Elas apenas refletem que não sabemos como será a realidade daqui a um tempo, quando esse vírus acabará, quando o isolamento terá fim, quando deixaremos de usar máscaras e álcool em gel. Tudo é incerto.
Recomendo a série para aqueles que não tem problemas de serem confrontados sobre o isolamento social, já que a realidade já é dura demais para ser vivida. Social Distance possui episódios interessantes e importantes (Alguns mais que outros). Fique agora com o trailer. Até semana que vem com Pandêmicos, a última produção do Serieteners - séries da quarentena (Tudo leva a crer que farei a parte dois com uma nova leva de séries). J-J