No meu tempo

 

Somos ensinados a fazer diversas atividades ao mesmo tempo  e no menor período possível. Quanto mais atividades realizarmos, mais útil e eficiente a sociedade nos verá. E que eles sejam realizadas em um curto espaço de tempo. Precisamos consumir filmes, séries, álbuns, porque estão em alta; precisamos fazer aquele curso, porque ele nos dará dinheiro; precisamos ter tais atribuições de forma urgente, porque o mercado requer isso de nós. Enfim, a sociedade nos impõe e determina que sejamos consumistas imediatistas, experts em diversas áreas e que façamos cursos rapidamente. O imediatismo nos consome de todas as formas. Mas, e se, eu tiver meu próprio time, forma de lidar com a vida e realizar atividades? Isso seria levado em consideração? 

Era daqueles que precisava assistir inúmeras séries ao mesmo tempo; ver os filmes porque estavam na moda e todo mundo falava deles; e que teria que fazer um curso superior o mais urgente possível para entrar no mercado de trabalho. Toda essa cobrança de fazer atividades rapidamente, me fez entrar em parafuso, até que descobri que posso fazer as coisas e ser algo no meu tempo. De inúmeras séries que assistia, fui reduzindo até chegar em um número que cabe em uma palma da mão; os filmes, que me sentia na obrigação de assistí-los, resolvi ver somente os que tenho interesse ou quando, eventualmente, ter a oportunidade; o curso, que estava sendo pressionado a terminar, somente o concluí, de fato, dois anos depois de ter que trancá-lo.

Fazer as coisas no meu tempo me deixa mais leve e seguro de mim mesmo. Eu, mais do que ninguém, conheço os meus limites, dificuldades e problemas. Eu sei o que requer de mim maior ou menor esforço. Eu também sei a velocidade e o time que posso fazer determinada atividade, sem me sentir pressionado. Eu sei, por exemplo, que tenho que concluir várias temporadas de séries para começar a próxima, mas farei isso no meu tempo, quando senti que a chave virou dentro de mim. Então, a Grey da 18ª temporada terá que aguardar o meu ritmo de terminar a 17ª (danem-se os spoilers que irei receber no meio do caminho). Eu também sei que para atingir os meus sonhos profissionais tenho que estudar mais um pouco, mas farei isso em apenas um futuro próximo. E eu sei que para dirigir, tenho que tirar a carteira de motorista e comprar um carro, por isso, farei cada etapa do processo no meu tempo, sem adiantamento ou agindo por pressa ou impulso. 

Fazer as coisas no meu tempo também me permite que eu as faça com maestria, qualidade, dedicação e foco, e isso é maravilhoso. Eu quero concluir aquela série, e aproveitar cada plot ou história, devagar, no meu tempo. Não quero ser um maratonista de série, de forma alguma. Talvez, por esse motivo, estou a pouco mais de um mês assistindo Hello Stranger - uma websérie do Youtube - que possui apenas 8 episódios de por volta 20 minutos cada (Vou para o quinto episódio só Deus sabe quando). Além disso, esperar na fila da vacina da COVID-19, sem furar a posição de ninguém ou dar um jeitinho e tomar antes, indo até mesmo para outros estados, me permitiu ser vacinado no tempo certo e com uma vacina de qualidade. Tudo em minha vida tenho pretensão de fazer e concluir bem, por mais que demore muito tempo ou que as pessoas me apressem para terminar logo. Já diz o ditado que "A pressa é inimiga da perfeição". 

Não digo que você deva ser preguiçoso, muito menos frenético, mas sim que pode fazer as coisas no seu tempo. Cada pessoa tem um ritmo diferente e você deve conhecê-lo e respeitá-lo. Enfim, se respeitar. Deve ter em mente que progresso é progresso, não importando a velocidade, e que você não deve se comparar com ninguém. Tem lugar na linha de chegada, seja para o coelho ou para a tartaruga. Por isso, vai no seu ritmo, um passo de cada vez. Não se desespere. Saiba que o tempo e a velocidade são singulares de pessoa para pessoa. Caminhe com calma que tudo se ajeita no final.

Você não deve se cobrar, não deve ser um carrasco de si mesmo e não deve se culpar. Somos seres humanos únicos e individuais. Cada um tem o seu tempo, disposição, pontos fracos e fortes. Por isso não corra para agradar ou para fazer parte de rodinhas de conversas e discussões. Não seja alguém que assiste milhões de filmes e séries e não abstrai nada disso. Ou aquele usuário do TV Show Time que assiste milhões de coisas somente para marcar no score que tem tantos e tantos meses ou anos assistindo produções. 

Não faça nada por fazer: seja ver uma série, assistir um filme, cursar uma faculdade... O que quer que seja! Se assim o fizer não terá a dimensão do tempo gasto realizando aquilo ou o propósito e o porquê daquilo. Ao caminhar devagar, em diversos aspectos de sua vida, você perceberá que não está ficando para trás, mas fazendo as coisas no seu tempo e ritmo. O tempo nem sempre é dinheiro, ele pode ser seu amigo. O problema não é caminhar devagar, o problema é não caminhar. J-J

Por: Emerson Garcia