quarta-feira, 19 de abril de 2023

Resenha 'Sujeito, o lado oculto do receptor'

O livro é uma coletânea dos assuntos que foram abordados em um seminário na USP sobre o novo olhar lançado sobre a recepção na comunicação. Os dois primeiros ensaios são primordialmente teóricos apontando as novas tendências e os estudos que originaram a pesquisa sobre a recepção, os demais textos são análises de produto do ponto de vista desse novo enfoque, alguns, contudo, fazem um apanhado do que já foi discutido e apresentam novamente questões teóricas. 

O primeiro texto é de Mauro Wilton de Sousa, organizador do livro. Ele faz uma introdução sobre o tema, explicita esse novo lugar na comunicação e fala da saída de uma era em que o receptor era tratado como tábua rasa, para passar a considerá-lo como sujeito, parte do processo comunicacional. Segundo Sousa, os estudos de comunicação já haviam esgotado os temas quando passou-se a olhar o processo sob um outro ângulo. O estudo de comunicação, até então, ou subjugava o receptor ou o preconizava como vítima do sistema. Os estudos de recepção, por sua vez, vão mostrar que o espectador não é alguém manipulável, a mercê da mídia e sem conhecimentos anteriores, nem é alguém que aceita tudo e precisa ser defendido da influência dos meios de comunicação.

Em relação aos estudos de recepção, a América Latina é pioneira. Os comunicadores passaram a ver os receptores não como tábua rasa do processo comunicativo, mas como parte integrante de um sistema. A partir desses estudos buscou-se abandonar posições moralistas que viam o receptor como vítima dos meios de comunicação, e passou-se a estudá-lo enquanto sujeito da comunicação, alguém atuante, parte do processo. O texto, uma transcrição da exposição oral de Jesús Martin-Barbero, fala amplamente da fragmentação da leitura, da forma como o homem se utiliza dos meios para compor as informações. Ainda segundo o autor, existem alguns pontos de apoio da leitura (entenda-se interpretação) que vão construir o que o leitor depreende do texto. O receptor não é mais tratado como tábua rasa, mas, da mesma forma, ele não é soberano no processo comunicativo. Existe uma relação de igualdade em que emissor e receptor são integrantes.

No terceiro texto apresentado, Silvia Helena Simões Borelli fala dos gêneros e da facilidade que estes trazem tanto para a produção quanto para a recepção. Para a autora, os gêneros funcionam como possíveis indutores de “pré-leitura”, eles resgatam a memória e o leitor, a partir de conhecimentos que já possui, é encaminhado para a compreensão do texto. Ainda segundo Borelli os gêneros são dinâmicos e muito variados, além disso, sua transposição para as mídias comunicacionais a partir da literatura, constroem elas mesmas uma nova estratégia de comunicabilidade.

No texto A telenovela ao vivo, Marta Maria Klagsbrunn fala do desenvolvimento da televisão enquanto tecnologia e como novo aporte de estudos da recepção. Como a tevê era um meio novo tudo que era produzido estava muito ligado ao interesse de quem iria consumir tais produtos. Na década de 1960 a tevê passava por um processo de consolidação da programação e, como a tecnologia disponível ainda não estava totalmente desenvolvida, o papel da recepção era o de construtor da linguagem da televisão.

Partindo dessa análise, no quarto texto, Antônio Manuel Teixeira Mendes, tece uma análise sobre o comportamento do receptor, tanto diante da programação quanto dos comerciais inter programação. Na pesquisa de Mendes são verificados os níveis de atenção do espectador diante da programação partindo de qualificações por gênero, faixa etária e classe social, além das tecnologias disponíveis para o público. Para Mendes, a pesquisa não aponta grandes divergências na audiência, contudo apresenta diferenças em relação ao tempo de exposição diante da tevê e a penetração de cada gênero de programa conforme o público estudado. Faz parte da pesquisa também o alcance da publicidade inserida durante o intervalo comercial. Da mesma forma, sem grandes distinções foi apontada uma leve tendência a maior lembrança dos comerciais que estavam no meio da programação do que daqueles entre um programa e outro.

No texto seguinte, Ondina Fachel Leal faz uma análise da audiência a partir do estudo de novelas. Segundo ela, esse produto é aberto aos estudos de recepção por que a mesma mensagem é decodificada por grupos diferentes, “negociação do significado”. Em seu estudo Leal busca uma investigação mais ampla para não incorrer no erro de fazer uma análise de receptores, mas da recepção. Para ela o que deve ser buscado no estudo da recepção não é a memória, a rememoração do que foi repassado, mas ao que essa memória se refere.

Roseli Stier Azambuja fala em seu texto da audiência infantil de produtos desenvolvidos para o público adulto, além disso, a autora fala da recepção da criança e da necessidade de que o conteúdo tenha características de verdade para que ela o aceite. Em A decodificação do discurso adulto da TV pelo público infantil, a autora analisa como as crianças assimilam o meio televisivo de modo a criar identidades. Nesse âmbito identifica-se a TV como uma substituta da realidade, condutora do mundo exterior e interior. Há uma reflexão sobre como a TV produz mensagens para as crianças de acordo com seus gostos pessoais.

No texto seguinte, analisa-se a novela Pantanal com relação a outros produtos midiáticos da época. A autora elucida o sucesso da novela em detrimento da repaginação que os outros canais fizeram para atrair o público. Algumas questões estão engendradas na linguagem e na programação. Nesse ponto Anna Maria Balogh aponta que os produtos não possuem uma fórmula de sucesso e que, a construção de produtos diferenciados se dá apenas pela busca por audiência e não pela tentativa de reengenharia dos produtos oferecidos.

Em Pesquisa de recepção e cultura regional afirma-se que o receptor é o sujeito do processo e da pesquisa. Existem duas importantes vertentes que influenciam os estudos de recepção segundo a autora. A primeira diz respeito à concepção de ideologia da teoria marxista, e a segunda sobre os efeitos da teoria condutista. A cultura e a identidade influenciam os indivíduos em seus comportamentos, sentimentos e atitudes. A identidade cultural desempenha papel fundamental entre sujeito, indivíduo e sociedade; ela diferencia o ser que apenas está diante da oferta e aquele que atua no produto que recebe da mídia.

No texto seguinte, Maria Rita Kehl, diz que desde que a TV foi inventada ela produz efeitos no espectador. Há uma relação imaginária entre recepção de informação e produção de resposta que segue a ordem de realização de desejos.

Em Violência, ficção e realidade, constata-se que a imprensa é fonte indispensável de investigação que trata das percepções sociais. Muitas vezes, a imprensa é um retrato do social, mas também há uma dramatização de construção de realidades que não correspondem aos dados oficiais, por exemplo. Sérgio Adorno fala que realmente houve um aumento da violência, mas o que é exposto na mídia desconsidera que a população cresceu juntamente com o aumento da violência.

O campo de recepção vem para criticar o modelo mecânico que tem como base os modelos alienantes, e dizer que se deve levar em consideração os efeitos das mensagens. Por esse âmbito, estudou-se a recepção a partir de uma perspectiva antropológica que diz que o receptor é uma construção social que funciona a partir de um contrato de leitura, o emissor parte de conhecimentos que ele espera que a recepção tenha para decodificar suas mensagens. Neste, o receptor interage com outros sujeitos, saberes e imaginários.

O conjunto de textos é concluído a partir de uma observação que diz que sem a cultura não se entende a sociedade atual. Renato Ortiz fala da modernidade e de suas conseqüências para a vida no âmbito geral, das mudanças e alterações que retiraram o indivíduo do campo de espectador passivo para o de receptor atuante. J-J


**Resenha produzida para a disciplina Jornalismo e Convergência Digital da faculdade de Jornalismo na UCB. Escrita por eu, Gessica Fernanda e Jéssica Rodrigues. 

13 comentários :

  1. Parece ser um livro muito profundo e teórico. Ótima dica!

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  2. Interessante publicação.Obrigado .Grande abraço

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  3. Que interessante, gostei demais da sua resenha

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

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  4. Parece ser muito interessante de se ler, né? Abraço!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  5. Interessante, confesso que nunca tinha ouvido falar desse livro, mas os textos parecem ser muito positivos para nosso crescimento profissional e pessoal.

    www.vivendosentimentos.com.br

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  6. parece ser muito entresante bravo bjs saude

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  7. E o receptor vai sendo moldado e manipulado sem dar conta...

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  8. Uma boa dica de livro. A imprensa tem um papel muito importante na sociedade e agora depois das Fake News causando estragos,mais ainda! 😘

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  9. O comentário anônimo é meu! 😃

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  10. Parece um livro muito interessante.
    Bjus.

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  11. Já li alguns livros de comunicação, apesar de não ser a minha área, e achei esse bem interessante!

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  12. Oi
    não conhecia o livro e parece ser uma leitura interessante para quem curte esse tipo de livro.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

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