A febre do rosa

O live-action da Barbie - a boneca mais famosa do mundo - estreou à menos de duas semanas, no dia 20 de julho nos ecrãs mundiais e já é um verdadeiro fenômeno de bilheteria, marketing e publicidade. Ele já ultrapassou US$ 700 milhões na bilheteria mundial, sendo R$ 36,7 milhões no Brasil (quase o triplo do arrecado por Oppenheimer). No Brasil, mantém liderança isolada pela segunda semana seguida, sendo a quarta maior bilheteria em todo o mundo. O que é chamado como Barbiecore (Febre do rosa) tem dominado os ambientes, propagandas, shoppings, figurinos, looks e até mesmo produtos nas cores rosa e pink e em outras nuances. É um fenômeno que vai além de comprar o ingresso e assistir ao filme da boneca.

Semana passada (25 de julho) fui ao shopping com a família e fiquei abismado com a onda cor-de-rosa por todo o ambiente. Crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos  e pessoas de ambos os sexos vestiam looks na cor: homens com bermudas e camisas rosa bebê, adolescentes com vestidos e camisas em rosa choque e mulheres com casaquinhos e saias em tons róseos. Nunca vi tantas pessoas com essa cor antes andando por aí! E, acredito, que nem todas estavam indo ou tinham saído de uma sessão de Barbie. Pelos corredores do shopping, haviam pedestais em acrílico com itens na tonalidade: bolsas, acessórios, sapatos, saltos e casacos! Em praticamente todas as vitrines das lojas haviam manequins com roupas, acessórios e sapatos... rosas! Até mesmo sessões específicas e exclusivas de Barbiecore!

O que percebi é um marketing e uma campanha massiva de itens em rosa. Todo mundo quer andar "roseado" agora e o comércio percebeu isso! Somente no mês de estreia do longa, produtos nessa cor venderam 39% a mais no comércio, com relação ao ano passado. Empreendedores chegaram a vender mais de 120 mil produtos no tom. A tendência Barbiecore tem lançado produtos e acessórios como brincos, tiaras, bolsas; e vestuários como vestidos, jaquetas, saias. Os empreendedores perceberam essa tendência e embarcaram nessa onda a partir de um fenômeno cultural, refletido nas redes sociais, com o crescimento da estética cor de rosa. A cor pink também se popularizou, com um aumento de 96% (46% ano passado) nas vendas, totalizando mais de 69 mil (17 mil ano passado) produtos vendidos. 

A tendência Barbiecore se inspira na boneca mais famosa do mundo e no seu estilo característico. Desde sua origem, em 1959, a boneca cativa o coração de milhares de pessoas, perpassando por gerações, mas com o lançamento do filme isso ficou muito mais latente. Essa tendência relaciona a estética com inúmeros tons de rosa e elementos marcantes, como saltos, roupas e acessórios. Ela pôde ser vista na década de 2000, com a moda dopamina (moda que provoca a sensação de felicidade e prazer) e o figurino de várias personagens de filmes, como de Legalmente Loira, com Reese Witherspoon, e High School Musical, com a Sharpay Evans. Já no início de 2023, em janeiro, esse movimento fashion pôde ser percebido numa coleção de moda em parceria com a Mattel, marca fabricante da Barbie. Em março, a coleção all-pink (toda rosa) foi a queridinha dos fashionistas da estação outono-inverno 2022-2023, durante a Semana de Moda de Paris. A cor também pôde ser percebida nos tapetes vermelhos, durante o Oscar e o Met Gala. O marketing do filme foi iniciado com outdoors cor-de-rosa somente com a data de lançamento espalhados por todo o mundo. Depois, o mundo foi tomado por nuvens cor-de-rosa que invadiram nossos celulares, casas e qualquer outra coisa. A inauguração da Barbie DreamHouse em Malibu que podia ser alugada pela no Airbnb foi um sucesso. Porém, o boom mesmo da Barbiecore foi quando as imagens dos bastidores do live-action foram divulgadas. Percebe-se que é uma forma de se expressar, tanto para mulheres como para homens. As pessoas que vestem a tonalidade podem se sentir mais alegres, felizes, confiantes e nostálgicas. Uma verdadeira onda de felicidade em tempos pós-pandêmicos. 

O engajamento da cor rosa é impressionante. Não percebi isso nem na época da campanha Outubro Rosa - campanha de prevenção do câncer de mama. Isso me fez questionar se vestir rosa não está relacionado mais à modinha, tendência, seguir um fluxo, do que à um gosto pessoal. Me pergunto se todo mundo no universo, realmente, gosta de rosa. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma roupa na tonalidade e ainda não gastei meu "rico dinheirinho" para estar na moda Barbiecore. Minha mãe, por sua vez, antes mesmo dessa febre rosa - em que o céu quase deixa de ser azul para ser rosa ou pink - já gostava da tonalidade e possuía roupas, acessórios e calçados nesses tons, como casaquinhos, blusinhas e calçados. Eu não ter uma roupa rosa não significa que não goste da cor, mas também não sou obrigado a comprar uma roupa na tonalidade porque todo mundo está comprando ou usando. Minha mãe ter vários itens rosas, não significa que ela deixou seu gosto pessoal para seguir uma "modinha" e que ela é adepta ao Barbiecore. O que tenho percebido, contudo, é que com essa tendência há uma supressão de estilo, personalidade, autonomia e subjetividade. Pessoas que não gostam da cor, estão sendo obrigadas a suprimirem seus estilos para aderir à moda, comprando itens na tonalidade. É como se um rockeiro, que sempre gostou de roupas pretas, saísse por aí parecendo um boto-cor-de-rosa! 

A Barbiecore tornou-se muito mais que uma tendência, mas algo comercial, de lucro para as empresas. Devido ao sucesso de Barbie, a Mattel quer capitalizar e gerar lucro com filmes baseados em outros produtos da marca. Com Transformers e Uma aventura lego, passou-se a enxergar um potencial para mais produções deste gênero. Com Barbie, a resposta foi a que ninguém nunca tinha visto antes! A Mattel já tem planos para outras 45 adaptações de filmes baseados em outros produtos da marca. Os carrinhos da Hot Wheels, bonecos como do He-Man e da Polly Pocket servirão de conteúdo para filmes, séries e até mesmo peças de teatro. Espera-se que o filme dispara as vendas das bonecas para um valor estimado em U$S 14 milhões até 2027, segundo o Euromonitor. Até mesmo uma banda sonora faz parte do filme e interpreta várias faixas de artistas famosos. 

A febre do rosa é real e é apenas o começo. E o que se tem percebido é que a tendência Barbiecore tem gerado lucros para as empresas. Empresas de móveis, decoração, vestuário, acessórios e fast foods se despertaram para essa febre, criando produtos temáticos. Nada escapa da moda e tudo pode ser adaptado para ela. Em qualquer segmento, seja qual for, o que está em alta é investir na cor da Barbie. É só pegar carona no rabo do cometa e alavancar suas vendas. Por outro lado, não deixe seu estilo e gosto pessoal ser dominado por essa febre. J-J

Por: Emerson Garcia