Fluidez de gênero e não-binariedade são novas palavras dos léxicos de gêneros bem comuns nos dias atuais. Os termos tem se popularizado e um dos motivos é que celebridades e artistas tem se definido como gênero fluido e não-binário recentemente.
Antes de tudo, é preciso definir a não-binariedade ou identidade não-binária como um termo guarda-chuva que engloba diversas identidades diferentes dentro de si, inclusive o gênero fluido. Este é um subtermo de um termo maior, a não-binariedade. Esta tem a ver com a inconformidade de gênero, ou seja, o indivíduo não se identifica nem no gênero masculino nem no feminino, podendo transitar nesses dois gêneros. Já o gênero fluido é uma manifestação de como a não-binariedade pode se comportar.
Segundo um glossário elaborado pela GLAAD, a pessoa não-binária não se vê nem como mulher e nem como homem. Ela pode ser os dois, estar em um lugar entre o feminino e o masculino ou completamente distante desses conceitos. A pessoa não-binária também faz parte da comunidade LGBTQIA+ e sofre preconceitos, incompreensões e hesitações por estar fora da normalidade de gênero e dos padrões sociais.
Os não-binários se identificam como identidades peculiares. O agênero não tem qualquer gênero; o andrógino é uma mescla de mulher e homem; o neutrois, não é nem feminino nem masculino, mas possui características de ambos; o bigênero tem uma identidade de gênero dupla; o poligênero tem uma identidade de gênero múltipla; o intergênero possui uma variação de gêneros, ficando entre os dois; o demigênero possui uma identidade de gênero parcial; o trigênero, identidade de gênero tripla; o pangênero, todos os gêneros acessíveis dentro de sua vivência; e o gênero fluido, também foco desse post, é quando a pessoa muda e transita facilmente nos dois gêneros.
A identidade de gênero causa polêmicas na atualidade, até porque ela não tem a ver com gênero biológico ou sexualidade. A identidade de gênero diz respeito sobre como o indivíduo se percebe na sociedade, independente de seu órgão sexual ou gênero biológico. Já a sexualidade diz respeito ao gênero binário que o indivíduo nasceu biologicamente falando, ou seja, masculino, femino e intersexual (Sim! Tem pessoas que nascem com os dois sexos, os hermafroditas, e não podemos fechar os olhos para essa questão!).
O post de hoje tem o intuito de discutir algumas questões relacionadas à não-binariedade e fluidez de gênero, sempre com a intenção de desmitificar os termos, quebrar tabus e toda tentativa de preconceito. Tratarei dos seguintes tópicos: mudanças de pessoas não-binárias e de gênero fluido; símbolos e bandeiras da não-binariedade e do gênero fluido; linguagem não-binária; como é se perceber como uma pessoa não-binária?; preconceito e aceitação aos não-binários; como saber se você é uma pessoa não-binária e/ou de gênero fluido?; e não-binários e gêneros fluidos famosos.
Mudanças de pessoas não-binárias e de gênero fluido
Esses indivíduos passam por transformações de tempos em tempos, sejam graduais ou súbitas; constantes ou inconstantes; diárias, semanais, mensais, semestrais, anuais, bianuais, em intervalos de tempo aleatórios; entre gêneros definidos e/ou indefinidos; entre certos gêneros, e/ou entre gêneros diferentes a cada mudança; para ou de qualquer quantidade de gêneros; influenciadas, ou não; entre outros.
Relatos de pessoas gêneros-fluidos (genderfluid) já existem desde os anos 1990. As expressões gender fluid e gender-fluid são citadas em livros de 1999. Essas mudanças e fluidez de gênero são relativamente recentes. Entre os exemplos de fluidez de gênero estão: crossdressers, drag queens ou drag kings.
A fluidez de gênero é variável, sendo que ela pode ocorrer em períodos curtos ou longos. Além disso, uma pessoa não-binária ou com fluidez de gênero pode se identicar com mais de um gênero ao mesmo tempo. O gráfico abaixo explicou essas mudanças em um gráfico bem visível e lúdico. Acompanhe:
A modelo Rain Dove criou um ensaio de moda em que vestia roupas tanto masculinas como femininas, mostrando essa fluidez temporária. Acompanhe algumas fotos:
Símbolos e bandeiras da não-binariedade e gênero fluido
O símbolo acima representa o gênero não-binário, sendo uma contraposição aos símbolos de masculino e feminino. O ícone apresenta um asterisco (*). Este é o símbolo principal da não-binariedade, mas cada subdivisão do gênero não-binário tem um símbolo distinto. Na imagem abaixo você pode conhecê-los:
Na próxima ilustração você pode conhecer alguns símbolos de cada gênero não-binário e seus nomes:
A bandeira do gênero não-binário foi criada em 2014 por Kye Rowan. Ela possui quatro faixas horizontais nas cores amarelo, branco, roxo e preto. A cor amarela signfica a pessoa que não se identifica com nenhum dos dois gêneros, sendo um tom neutro. O branco representa a pessoa que é de muitos gêneros. O tom roxo, a fluidez e multiplicidade das experiências de gênero. Por último, a cor preta refere-se a pessoa que pode ser agênero ou sem gênero.
Assim como há vários símbolos para cada gênero não-binário e suas ramificações, também existem uma bandeira para cada gênero não-binário, como você pode ver na imagem disponibilizada pelo Wikipedia abaixo:
Destaco a bandeira do gênero-fluido, que também é assunto desse post. Ela possui cinco cores, são elas: rosa, branco, roxo, preto e azul. O rosa representa a feminilidade; o branco, ausência de gênero; o roxo, combinação de masculinidade e feminilidade; preto, todos os gêneros; e azul, masculinidade.
A bandeira do gênero-fluido foi criada em 2012, por JJ Poole. Ele a descreve como sendo uma bandeira de flutuação e flexibilidade do gênero em pessoas gênero-fluido.
Linguagem não-binária
Como se referir a uma pessoa não-binária ou gênero fluido? De que modo incluir esses indivíduos, sem que se sintam discriminados? Antes de qualquer coisa, é necessário perguntar para a pessoa não-binária ou de gênero fluido qual é o pronome que ela se identifica (O próprio Instagram aderiu essa atualização recentemente, permitindo que os usuários coloquem nos seus perfis como gostam de ser chamados). É preciso, portanto, saber por qual pronome ela gosta de ser tratada. Eis alguns pronomes de tratamentos: ele, ela, ile, elu, elus e eles. Na dúvida, utilize a linguagem neutra, que já foi discutida por Arnaldo Woosters no post Pronomes neutros: que a grande polêmica comece! aqui no JOVEM JORNALISTA.
É preciso lembrar que a base nas relações e diálogos é o respeito. Na dúvida, pergunte, pois você pode agir de forma desrespeitosa com o indivíduo se usar um pronome que não reflita a identidade de gênero dele, de acordo com a fundação norte-americana National Center for Transgender Equality.
Como é se perceber como uma pessoa não-binária?
É necessário se autoconhecer e se aceitar. E, mais que isso, se observar e perceber que não há uma identificação nem com o gênero feminino nem como o masculino. As mudanças e fluidez também são fundamentais nesse processo de percepção. Por isso é importante compartilhar dúvidas, percepções e desabafos com alguém que se confie.
Preconceito e aceitação aos não-binários
A sociedade sempre foi acostumada a ler símbolos e comportamentos de forma binária. Contudo, nos tempos atuais, ela tem que se reinventar e perceber que novos termos sobre a identidade de gênero estão surgindo.
Uma pessoa não-binária e com fluidez de gênero deve ser aceita primeiramente por si própria, como falado no tópico anterior, e depois pela família, amigos e sociedade. A aceitação desta última ainda precisa evoluir cada vez mais (A vitória do nome social em documentos e na lápide foi a primeira de muitas que ainda podem vir).
A pessoa não-binária e com fluidez de gênero deve compreender que somente ela pode dizer quem é ou não é, como se identifica e como se percebe. Não é a família, amigos, colegas de trabalho que possuem essa função. E se ela vier a sofrer preconceitos e discriminação é só lembrar-se de quem ela é.
Como saber se você é uma pessoa não-binária e/ou de gênero fluido?
Ter ciência a que gênero pertence pode depender de como você se sente, algo que adiantei no tópico anterior. O site Psicologia online criou um teste para saber se o indivíduo é não-binário ou possui fluidez de gênero. Basta se identificar com uma ou mais características descritas abaixo:
- não-identificação com nenhum dos gêneros;
- identidade de gênero instável;
- identificação com elementos de ambos os gêneros;
- utilização indistinta dos pronomes de gênero ou pronomes de gênero neutro; e
- look não atribuído a nenhum gênero ou varia entre os dois.
Não-binários e gêneros fluidos famosos
A revelação da identidade de gênero de artistas de forma inesperada recentemente ampliou as discussões a respeito da comunidade LGBTQIA+. A aceitação e expressão em rede nacional dessas figuras públicas deu voz e coragem às pessoas que até então estavam reclusas.
A partir de agora, falarei de algumas pessoas que assumiram a não-binariedade e a fluidez de gênero recentemente.
Miley Cyrus
Se assumiu como pessoa trans não-binária por não se encaixar em um padrão de "feminino ou masculino". O gênero das pessoas que conhece não importa muito, sendo definida outrora como pansexual.
Demi Lovato
Esse ano a pessoa artista norte-americana descobriu-se como pessoa não-binária e quer ser tratada pelos pronomes they/them (eles/deles). Em um podcast, elu - como seria chamade no Brasil - está representade na fluidez de gênero.
Bárbara Paes
Recentemente também, a atriz (já que ainda quer ser tratada no feminino) descobriu-se como uma mulher e homem não-binário. Em entrevista, ela disse que é "muitos, muitas" e que quando jovem precisou desempenhar papeis sociais femininos e masculinos. Por isso, ela se considera "metade menino, metade menina".
Ruby Rose
A atriz - que foi a papel-título da primeira temporada de Batwoman - se identifica com o gênero fluido por transitar nos dois gêneros facilmente. Ruby falou que utiliza os pronomes ela/dela e que não quer mudar isso.
Ezra Miller
Em 2018 descobriu-se como alguém do gênero-fluido. Além de não se identificar como o gênero feminino e masculino, Ezra também não se identifica como ser humano.
Linn da Quebrada
Atriz, cantora, compositora, travesti e ativista social brasileira, ela se define como terrorista de gênero.
Tico Santa Cruz
Também nesse ano cantor descobriu-se como gênero fluido. Ele disse que sua sexualidade é fluida e livre e que não se identifica somente como homem, muito menos apenas como mulher. Sua declaração gerou muitas críticas e ataques ao cantor.
Conclui-se que
A não-binariedade e a fluidez de gêneros existem e elas são tão comuns e saudáveis como qualquer outra identidade de gênero. É preciso amar e respeitar essas pessoas, pois somente elas sabem o que sentem e o que se passa em suas cabeças. J-J
gosto muito de ler seus textos sobre o tema, são muito bem explicados e eu aprendo muito, parabéns
ResponderExcluirbeijo
A mina de fé
Gostei, aprendi mais um pouco
ResponderExcluirA sua conclusão diz tudo, acima de tudo, respeito.
ResponderExcluirExcelente abordagem do tema! Acima de tudo... respeito, por qualquer forma diferente de se pensar e sentir o mundo... e nos compreendermos melhor a nós mesmos... e aos outros!
ResponderExcluirUm grande abraço
Ana