segunda-feira, 7 de março de 2022

Sobre o primeiro clipe gospel LGBTQIAP+ do Brasil: Com vocês, 'Meu lugar é Seu amor' do Preto no Branco!

Abordar a temática LGBTQIAP+ no meio gospel musical é um verdadeiro tabu na atualidade. Que grupo, banda ou cantor evangélico tem a coragem de falar tão abertamente sobre o tema, dedicando uma música que seja a cara da comunidade, que traduza suas lutas, preconceitos e discriminações? Que retrate o grupo de dentro para fora?! Essa dificuldade não deveria existir, pois falar de amor à essas pessoas é um mandamento do próprio Deus. Falar de amor os músicos gospel até falam, mas não especificamente à essa comunidade. Contudo, existe um único grupo, em meio a tantos, que dedicou uma música inteira para falar disso. Falo do Preto no Branco e da canção e clipe Meu lugar é Seu amor.

Lançado no dia 4 de março de 2020, o clipe já possui 2.109.349 visualizações e 29 mil curtidas. Ele retrata a história real de um homem gay que se veste de drag queen durante as noites e sofre preconceito nas ruas e família. Ele possui um encontro com Deus e recebe Seu verdadeiro amor. Logo no início, o vídeo apresenta depoimentos de pessoas LGBTQIAP+ que falam dos seus sofrimentos e histórias. Alex Passos, fundador do grupo, falou mais do trabalho:

“Essa canção fala sobre o amor de Deus a todas as pessoas, indistintamente, independentemente de suas orientações de gênero.”


Geralmente (Não acontece sempre, mas de forma geral), as religiões somente abraçam a heteronormatividade por ela ser bíblica e aceitável por Deus. Mas acontece que Deus não faz acepções de gênero. Você pode ser gay, lésbica, transexual, não-binário, travesti, drag queen, panssexual ou assexual que Ele te ama da mesma forma. Somente o amor divino tem esse poder de aceitação incondicional. Diria que nenhuma pessoa possui esse poder.

O clipe transborda amor a todo momento. A drag queen, protagonista do vídeo, não encontrou o amor em nenhum ser humano, mas apenas em Deus, que a abraçou e a beijou no rosto (Figurativamente falando). E é justamente o tabu de "Será que as pessoas LGBTQIAP+ podem buscar a Deus e ser amadas por Ele?" que o clipe fez questão de quebrar. Muitas vezes, por conta da falta de informação, as pessoas acreditam que essa comunidade não é digna de buscar a Deus. Como se Ele não as amasse como seres humanos. 


E o que o Preto no Branco queria com esse clipe? Lacrar? Abraçar a comunidade LGBTQIAP+? Ficar bem na fita com a comunidade? Gerar lucros? Fazer uma jogada de marketing? Todas essas hipóteses estão descartadas, embora elas fossem plausíveis, uma vez que não há trabalho desse tipo no mercado (Não que eu tenha visto). Os objetivos principais para o lançamento de Meu lugar é Seu amor foram e são: protestar contra a falta de amor à comunidade LGBTQIAP+ e explodir qualquer tabu por meio do som e da arte musical. 

Falar e cantar sobre o amor, que Deus ama o pecador e tudo mais é fácil. Mas falar sobre a falta de amor com relação aos gays, por exemplo, aí que se encontra a dificuldade. Até o dia 4 de março de 2020 nenhum outro artista gospel havia feito isso, talvez pelo medo de represálias ou da incompreensão. Preto no branco chegou aí para protestar contra a falta desse sentimento tão nobre, não para ficar na mídia, nem nada disso. 

E há um preço a ser pago por essa postura: a banda mais perdeu do que ganhou. A Preto no branco perdeu contratos, agendas, com certeza muitos likes, patrocínios, admiração, fãs e apoios. Dar voz à comunidade LGBTQIAP+ no meio evangélico não é algo comum, muito menos algo confortável a ser feito. Mas a realidade é que Jesus Cristo não morreu apenas por heterossexuais, mas por todas as demais pessoas. 

A banda proporcionou a oportunidade do meio evangélico cantar mais do que aleluia. Que tal viver o amor?! Principalmente o amor ao próximo?! Você adora e ama à Deus, também, a partir da sua demonstração de amor ao próximo. Isso é até mesmo bíblico. Se você diz amar a Deus, mas não ama o seu irmão, você está errando feio. A atitude do Preto no branco é o pontapé inicial para que outros artistas no meio gospel levem a palavra divina para todos, sem excluir. Pessoas que queiram cantar mais do que aleluia. 

Agora, assista ao clipe e depois volto com outras considerações.


Clipe

Meu lugar é Seu amor quer impactar o espectador, mas de forma leve, pacífica, dócil e delicada. Isso pode ser verificado na escolha de filtros, luzes e fotografia do vídeo. Além disso, pelo uso de muito colorido e até mesmo um tom artístico, por meio de uma companhia de balé da Escola Ide Núcleo de Dança e Movimento. O grupo quer transmitir a mensagem e com nada mais, nada menos, do que o próprio amor. Esse sentimento que pode ser manifestado e percebido em toda a duração dessa história audiovisual. 

As luzes e sombras foram usados em abundância no clipe. Cada frame e tomada é um desbunde visual, trazendo a luz. Talvez a luz do amor de Deus. A construção dos ambientes e sets está divina. Algo de primeira linha mesmo. 


O balé vem para trazer mais beleza e delicadeza à essa história tão triste e dolorida. À cada movimento corporal, de mãos, braços e pernas, pude ver o amor de Deus. Sim! Deus também se manifesta por meio da dança! Fred Veiga realizou um trabalho belíssimo com a criação dessa coreografia que tem muito a dizer a cada um de nós. Duplas de dançarinos dançam em perfeita sincronia demonstrando a manifestação do verdadeiro amor. É tudo sincronizado e belo de se ver. 


O cantor interage muito bem com a dança, não querendo que sua voz transpareça mais do que o grupo de dançarinos. Tudo está na dose certa e correta, resultando em um belo trabalho. 


Mas é claro que esse desbunde visual não se compara com a força da história principal e central do clipe. Produzido por Alex Passos, com fotografia de Marko Costa e edição e finalização de Daniel Maurício, o clipe retrata a verdadeira história de uma pessoa LGBTQIAP+ (Mais precisamente de uma drag queen) que sofre preconceito desde criança, até o momento que encontra uma palavra de conforto e acolhimento por meio de uma cristã que lhe demonstra amor. Quem interpreta o personagem é o ator Guilherme Baptista, que é bissexual. 

O clipe é muito realístico por mostrar depoimentos e cenas corriqueiras, como passeios, conversas e abraços, com membros da comunidade LGBTQIAP+. Também mostra uma drag queen se maquiando, a medida em que lê a Bíblia Sagrada. O intuito do vídeo é mostrar que essas pessoas sofrem preconceito, violência, rejeição e discriminação; mas também mostrar que elas são seres humanas. 


A discriminação vem das ruas e da própria casa, e o clipe retrata isso com muita clareza. E aí o clipe trabalha a problemática: se não recebo o amor dos meus próprios familiares, de quem iria receber? Vem o choro, a depressão, a angústia... Muitas vezes vem a vontade de desistir da vida e até mesmo de morrer. 

A personagem sofre muito durante o clipe, chegando a ficar quase sem saída, mas o clipe mostra que ainda existem pessoas amorosas, dispostas a amar sem barreiras, limites e preconceitos. A personagem drag queen tem um encontro, literalmente, com o Amor de Deus, manifestado por meio de uma cristã. De onde a drag queen jamais imaginaria, o amor veio e a abraçou! 


Talvez a drag queen tivesse chegado à conclusão que não era amada (Devido às inúmeras situações contrárias). Talvez ela acreditasse que seu lugar deveria ser o da rejeição, da dor, da perseguição literalmente no chão, sem a oportunidade de se levantar, olhar para cima ou seguir em frente. Talvez ela tivesse certeza que não deveria mais viver muito menos existir, mas ela descobriu um lugar... AQUELE lugar! AQUELE lugar aonde não existe julgamento, tristeza, dor, mas de descanso e paz. Ela pôde cantar "Meu lugar é o Teu amor Meu lugar é o Teu amor Meu lugar é o Teu amor". E de que lugar eu falo? Dos braços de descanso de Deus!  

Esses versos foram escritos por Clóvis Pinho e Estevão Queiroga e traduzem o amor de Deus com clareza e beleza necessárias. A letra fala de dor, sim, mas fala do amor divino incondicional e de sua necessidade de Deus nos proteger. No caso da comunidade LBTQIAP+, Deus quer consolá-la e abraçá-la, protegendo-a de toda violência, LGBTQfobia e julgamento.

Ao retratar essa história em vídeo, a banda recebeu diversas mensagens e depoimentos sobre discriminação e preconceito sofridos. As histórias enviadas mostram que o trabalho da banda tem valido a pena. É uma forma de encorajar pessoas que sofrem esse tipo de preconceito a desabafarem e procurarem ajuda. Assim, Meu lugar é Seu amor também tem esse cunho social e cidadão. A banda decidiu ser a voz de muita gente que não a tem, pois ela está silenciada, sufocada. Há até mesmo gotas de sangue nos lábios daqueles que queriam desabafar. 

O propósito do clipe é mostrar essa realidade e produzir impacto. As pessoas LGBTQIAP+ não são invisíveis, elas existem, e devemos dar atenção à elas, pois talvez elas possam ser bem próximas de nós em um futuro não tão distante. O clipe responde, com muita clareza, a forma que a sociedade deve agir com as pessoas LGBTQIAP+. É um alerta, um despertamento e uma forma de se reconhecer (Ou não) nas cenas representadas. Assim, o clipe apresenta certa representatividade social. 


Que a Igreja evangélica seja esse lugar de amor!


Quando penso em Igreja, penso em um ambiente em que há diversidade de raça, cor, orientação sexual, tribo e língua, e isso porque o próprio Deus não faz acepção de pessoas, já que sua graça e sabedoria são multiformes. No momento em que vejo preconceito, segregação e exclusão no meio da Igreja me dá uma tristeza profunda. Não deveria ser essa a sua essência!

O reverendo Ed René Kivitz falou em uma ministração que a Igreja do Senhor é uma grande fraternidade, uma família plural, a comunhão de toda gente. E ela é bela e diversa, porque não há separação de raça ou cor, sendo a expressão de maior beleza. Ele afirma que não deveria existir racismo na Igreja, já que ela é a comunidade de toda raça, tribo, língua e nação. "É a Igreja a mesa onde cabe todo mundo! Onde é a comunão e a a partilha, a generosidade e a solidariedade. Ela é a Igreja onde não existe machismo, feminismo, heteropatia, homofobia, misoginia, porque na igreja não tem macho nem fêmea", Kivitz diz com muita veemência e certeza. Ela é o ambiente onde Jesus e Seu amor deveriam reinar.

Contudo, o que temos visto é uma Igreja muito diferente da que Ed René Kivitz enalteceu e vislumbrou: uma Igreja que faz separação, cria grupos, contendas, dissemina o ódio e o preconceito. Não, não é essa a essência da Igreja! A Igreja não deve separar e agir com preconceito com a comunidade LGBTQIAP+, por exemplo; tampouco julgar as pessoas e dizer que elas estão em pecado. Mas ela deve acolhê-las, amá-las e mostrar a elas o Deus do amor. Sim! A Igreja pode ser esse lugar de amor também! "A gente não está aqui para condenar, mas sim para dizer que Deus ama e recebe todo mundo", explica o líder do grupo, Alex Passos.  

O clipe, com certeza, gerou muita polêmica, burburinho e controvérsias, mas ele foi necessário e o início para um mundo mais justo pelo menos no meio evangélico. Essa história foi impactante e ela continuará com seus desdobramentos, tanto que ao final do clipe tem a frase "Continua..." . O grupo não quis levantar nenhuma bandeira LGBTQIAP+, outrossim, a bandeira em favor a toda e qualquer minoria. A bandeira do amor e da igualdade. Tampouco quis gerar polêmica, apenas alertar e quebrar tabus. Que mais do que cantar o amor, possamos vivê-lo em sua essência e amplitude. J-J


Por: Emerson Garcia

6 comentários :

  1. meu Deus que lindo e ao mesmo tempo chocante né?
    como existem pessoas cruéis
    mas é isso mesmo, Deus não escolhe a quem vai amar, Ele ama a todos incondicionalmente

    beijo
    A mina de fé

    ResponderExcluir
  2. Não conhecia a música e fiquei impressionada com o clipe. Muito bom
    beijos
    https://www.dearlytay.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Deus ama todos e cada um com o mesmo amor misericordioso de Pai, mas esse amor não valida as acções não conformes à sua lei e doutrina.
    Todos temos inclinações nem sempre para o melhor, sofremos tentações, que devemos saber moderar e procurar combater em nós, em qualquer um de nós.

    ResponderExcluir
  4. Que clipe impressionante

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

    ResponderExcluir
  5. Eu gostei demais do post e concordo com você.
    As pessoas são preconceituosas, Deus não!
    Deus ama a todos incondicionalmente!
    Parabéns pelo post e por abordar este tema!

    Boa semana!

    ResponderExcluir
  6. Oi
    bonita a música e o clipe, com pequenos passos as coisas podem ir mudando.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

    ResponderExcluir

Obrigado por mostrar seu dom. Volte sempre ;)

Nos siga nas redes sociais: Fanpage e Instagram

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 

Template por Kandis Design