sábado, 19 de setembro de 2020

Temas sociais em 'O Rico e Lázaro'



Exibida entre 13 de março e 20 de novembro de 2017 e reprisada entre 13 de agosto de 2019  e 13 de abril de 2020, a novela O Rico e Lázaro da RecordTV tratou de vários temas sociais recorrentes não somente naquela época como nos dias atuais. 

Já é corriqueiro novelas retratarem temas sociais, mas não é comum ocorrer em novelas bíblicas. Paula Richard fez isso com a trama do triângulo amoroso Zac, Asher e Joana de uma forma inovadora. É certo que a resolução dos temas sociais algumas vezes foram superficiais, mas o que valeu foi a tentativa da autora.

Os temas sociais que a novela abordou foram os seguintes: estupro; compulsão alimentar; insônia e sonambolismo; e drogas e alcoolismo. A partir de agora falo de cada um desses temas, como foram abordados e se suas resoluções foram satisfatórias ou não. 


Estupro



Um tema fortíssimo que a autora ousou em explanar em sua produção. Na época que a novela é retratada, a mulher não tinha muita voz (Hoje em dia é assim, embora em proporções menores). A forma como o tema foi tratado levou em conta os problemas psicológicos que são gerados na mulher estuprada, que podem durar a vida inteira; os prejuízos, sejam morais ou físicos; e a dificuldade que a mulher tinha de se casar depois de ser estuprada. 

Logo no início da trama o telespectador teve que lidar com a violência sexual de um sacerdote idoso, Fassur, contra uma pobre menina, Naomi. O sacerdote usou dos seus privilégios para estuprá-la. Isso gerou em Naomi problemas psicológicos e de relacionamento seríssimos. Naomi era retraída e não entendia o porquê de ser assim, até que lembrou-se do fato que tanto a machucou. Ela, então, procurou ajuda, expondo suas dores, que iam até a alma, e denunciando o abusador. Foi algo dolorido, mas ela conseguiu. A forma como a autora trabalhou isso foi de uma delicadeza tremenda, dando voz a quem passa esse tipo de situação e mostrando que mulher alguma tem culpa do mal que os outros venham fazer. Somente quando Naomi criou coragem para denunciar o violentador é que ela foi curada tanto física como emocionalmente.

Outro episódio importante foi quando a personagem Dana foi estuprada por um dono de escravos. Dana estava prestes a casar-se com Levi, quando o estuprador a violentou. Ela, então, sentiu-se extremamente machucada e triste. Quando ela contou do fato para o seu noivo, ele não aceitou mais casar-se com ela, a abandonando. Uma mulher estuprada naquela época era vista como impura, usada e não poderia mais se casar. A personagem sofreu com isso, até que Absalom, que sempre a amou, descobriu que ela foi estuprada, mas mesmo assim queria casar-se com ela. Mais uma vez Paula Richard tratou o tema com carinho, mostrando o quão doloroso é quando uma mulher é estuprada e que ela sempre é a vítima.

A causa de Dana foi levada até o rei da Babilônia e o dono de escravos foi julgado. Dana expôs seu caso ao rei Nabonido, mas não adiantou muita coisa porque faltavam provas contra o abusador. Pense como a moral dela já estava e como ficou depois disso. A cena demonstra que a falta de credibilidade dada às mulheres estupradas não é um problema de hoje, mas de muito antes. Contudo, o príncipe Belsazar estava presente e resolver julgar a causa com as próprias mãos, cravando uma espada no dono de escravos. 

Por último, falo das tentativas de estupro que a protagonista Joana sofreu também por conta do sacerdote Fassur. Por pouco ela não foi estuprada por ele, que a julgava como uma "semente do mal". Mas o que quero falar aqui é que existem muitos estupradores que posam de santos, mas que só fazem o mal, e que se não forem denunciados, eles continuarão fazendo isso. A ação de muitos estupradores é recorrente, até que - graças a Deus - eles são presos e severamente punidos. 


Compulsão alimentar



Paula Richard ousou e inseriu na novela uma trama de compulsão alimentar e bulimia. Até então, não vi nenhuma novela que fosse bíblica fazer isso. Raquel e Mesaque tinham um problema de alimentação, de comer tudo o que viam pela frente e depois se arrependiam disso. 

Raquel sempre sofria com a compulsão alimentar, satisfazendo seus desejos e comendo vários alimentos gostosos, mas depois reclamando de seu peso. Mesaque, por sua vez, tinha a mesma doença de Raquel. Ambos se ajudaram e se viram livres desse mal. Mesaque ajudou Raquel a controlar sua compulsão alimentar e vice-e-versa. 

Raquel descobriu que o trauma de sair de Jerusalém e viver na Babilônia fez com que ela desenvolvesse essa compulsão. Paula Richard soube trabalhar essa questão bem, mostrando que a compulsão alimentar é uma doença, mas que possui cura.   


Insônia e sonambulismo



Durante vários capítulos, nos perguntamos: Por que a costureira real Dalila ficava com medo e confusa quando eram mostrados vestidos que ela supostamente havia costurado? Tudo levava a crer que era ela quem fazia as costuras, mas ela dizia que não. Em outras noites, Dalila costurava peças e cantarolava. Certa noite, também, Nabucodonosor dormia até que Dalila entrou em seu quarto confusa, e quando acordou não se lembrava que havia feito isso. Então, ela foi à julgamento, e Sadraque, que era apaixonado por ela, disse haver uma explicação para os lapsos de memória, e que iria provar isso. Dalila, então, foi presa e Sadraque ficou de tocaia. 

Em certa oportunidade, Sadraque estava em frente à cela de Dalila e ouviu barulhos vindo de lá, até que ele entrou na cela e viu a costureira costurando peças "dormindo acordada". O que Dalila tinha era insônia e sonambulismo. Ela fazia coisas que não  se lembrava. Naquela época já existia doenças de distúrbios do sono e a autora teve um cuidado para retratá-las.

Quando Sadraque entrou na cela, ele recitou textos bíblicos, até que Dalila adormeceu e teve uma noite tranquila. Desde essa ocasião, ela não teve mais insônia e sonambulismo. É claro que para os dias atuais, além de Dalila ter essa ajuda espiritual seria importante ela ter um tratamento. Mas só da autora tratar do tema já é válido.

Dalila tinha insônia e sonambulismo devido ao mesmo trauma de Raquel, ou seja, de ser retirada de sua região para uma terra desconhecida. A questão do trauma desencadear doenças do sono posso confirmar, pois passei por traumas na infância que, até certo tempo, atrapalharam meu sono. Hoje em dia existem muitas pessoas que precisam de remédios para dormir, pois possuem o sono perturbado.   


Drogas e alcoolismo



A dependência drogadícia e alcoólica também foi tratada na novela por meio das personagens Samu-Ramat, Darise e Shag-Shag. Samu-Ramat e Darise usavam uma droga chamada "Flor da Alegria" e Shag-Shag era viciada na cerveja babilônica.

Paula Richard mostrou os efeitos das drogas e do álcool no ser humano. Quando as personagens os usavam, elas ficavam fora de si, em outra dimensão e totalmente perturbadas da mente. Samu-Ramat tinha delírios de sua vida passada, enquanto Darise sofria de abstinência quando não cheirava uma "Flor da Alegria", sendo até mesmo chantageada por Samu-Ramat, ora oferecendo à ela a droga, ora negando à ela. Já Shag-Shag fazia coisas sob o efeito da cerveja que em sã consciência não faria.

Infelizmente Samu-Ramat e Darise não foram libertas do uso de drogas, ao contrário de Shag-Shag que - graças a Deus - parou de beber exacerbadamente. Esses dois destinos podem acontecer em quem usa drogas e álcool e Paula Richard fez questão de frisar.


Conclusão

Esses foram os temas sociais que foram, em sua maior parte, bem tratados na trama. Que possamos entender que esses temas não são somente obra de ficção, mas fazem parte da realidade de muitas pessoas. O Rico e Lázaro fez alertas das temáticas, ensinando e educando as pessoas sobre elas. Novela também é cultura e aprendizado. J-J


Por: Emerson Garcia 

8 comentários :

  1. Olá!
    Eu sou tão desligada da TV que nem sabia da existência da novela, acredita? rs
    Eu fico mais na Netflix mesmo.
    beijo
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  2. Interessante, acho legal que esses autores estejam desenvolvendo esses temas, em novelas voltadas especialmente para o público evangélico (mas não só para ele, claro)
    Abraço

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  3. Ótima análise. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  4. Eu não sou de ver novelas, prefiro séries e filmes. Mas é bom saber que temas assim são retratados na tv brasileira. Espero que sejam tratados com responsabilidade e não apenas a exibição de casos, como mero entretenimento e nada mais.
    Bjks!
    Mundinho da Hanna
    Pinterest | Instagram | Skoob

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  5. A televisão pode sempre fazer a pedagogia do bem!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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  6. Oi Emerson, tudo bem?
    Não curto muito novelas mas foi uma boa análise dos temas.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  7. Não acompanhei a novela Emerson, mas acho super importante abordar essas questões sociais. Um abraço!

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  8. Oi Emerson parabéns pela análise, mais as novelas "Bíblicas" da Record geralmente não tem nem 10% de Bíblia. A novela Jezabel cometeu um erro terrível em conceder a um "profeta" de Deus um nome Assírio ou Babilônico, a um Profeta do Reino do Norte Israel, Baltazar na Cultura Judaica seria impossível um profeta de Deus receber esse nome que exalta outra divindade. Falta de conhecimento Bíblico e histórico. Assim como o Rico e Lázaro tem muitas distorções teológicas. Mais sua explanação é nota 10 e principalmente pelos temas abordados, mais temos que fazer uma boa exegese, da época e cultura que a Bíblia (O texto em que a novela se baseia) foi escrita, quase 2600 anos.

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