Quinta de série #serieteners2 #5: 40m²

Pode conter spoilers!

O JOVEM JORNALISTA está de volta em definitivo! Retorno hoje com o #serieteners2 - coronavírus em pauta, com a série documental 40m² da Globoplay e do Instituto Criar. A série documentário reúne duzentos curtas-metragens agrupados em 4 episódios temáticos. Produzida, editada e lançada durante a maior pandemia de todos os tempos em 2020, foi dirigida por Tatiana Lohmann e roteirizada por Jéssica Queiroz e Samya Carvalho.

40m² faz um retrato da vida durante a pandemia do novo coronavírus a partir da ótica de quem mora nos bairros mais pobres da Grande São Paulo, ou seja, dos pobres confinados em apenas 40m² - média da metragem dos lares dos diretores e diretoras, daí o nome da série. De que forma o isolamento social afetou a vida deles? É isso que o documentário tem o intuito de mostrar.

As roteiristas Tatiana Lohmann, Jéssica Queiroz e Samya Carvalho compilaram e analisaram 71 filmes de ficção, 62 documentários (51 de gênero híbrido, experimental ou videoarte), 9 animações e 6 videoclipes. Tal tarefa foi árdua, de acordo com Tatiana:

“Costurar curtas absolutamente diversos entre si, em termos de escolhas estéticas, de gênero cinematográfico, de textura, de apuro técnico, de narrativa e linguagem foi o maior desafio. Mas, ao mesmo tempo, foi a riqueza desse projeto: abrir espaço para que essa multiplicidade criativa toda se apresente, com seus contrastes e pontos em comum.”

No final, os episódios ficaram orgânicos entre si e divididos por temas. 

Esse projeto surgiu a partir do Curta em Casa, em parceria do Instituto Criar com o Projeto Paradiso e Spcine com o intuito de apoio à 200 diretores de curtas que moram na periferia paulista. Os diretores selecionados no programa receberam R$ 3 mil. O Instituto Criar trabalha há 17 anos na profissionalização de jovens em situação de vunerabilidade social nas áreas técnicas do TV e do cinema. 

Temas e episódios

Diversos temas são explorados, como saúde mental em meio à pandemia, o medo das pessoas em sair de casa para o trabalho, assim como o complicado acesso ao auxílio emergencial governamental. A série ainda assinala o racismo, transexualidade, violência doméstica e policial, pobreza e evasão escolar. Em último lugar, a produção aborda sobre a esperança que ainda deve existir nesses tempos e no futuro pós-covid-19, a partir da ótica das crianças, da espiritualidade e do amor.

Cada episódio tem cerca de 30 minutos. Os episódios são os seguintes: Vidas negras importam. Pra quem?; Em casa dentro de mim; Falta de ar; e Olhando pela janela. 

Vidas negras importam. Pra quem? discute questões raciais, transexualidade, violência policial e desigualdade social. 

Em casa dentro de mim questiona como ficar em uma casa com menos de 40m² e mais de 4 pessoas e apresenta histórias de crise, amor, violência doméstica e estratégias de sobrevivência de quem necessita trabalhar. 

Falta de ar retrata a saúde mental, ansiedade, pânico, suicídio e outros problemas relativos durante o confinamento. 

E Olhando além da janela fala sobre o futuro pós pandemia, de esperança, espiritualidade e leveza. 

Crítica

Esse é um retrato pessoal e íntimo dessa comunidade muitas vezes negligenciada pelo governo e Estado. Muitas vezes, ela não é vista e reconhecida. O documentário mostra que essas pessoas possuem sonhos, projetos, anseios e medos e também necessita ser ouvida e vista. 40m² é a oportunidade para que pessoas da periferia - na sua maioria negras - falem sobre o que estão sentindo ou pensando, principalmente durante a pandemia. 

Os últimos episódios são mais interessantes que os primeiros. A criatividade, inovação e o uso de apenas uma câmera em 40m² chama a atenção dos telespectadores. Você percebe que os curtas estão interligados tematicamente. O trabalho audiovisual e de fotografia é incrível e percebemos que há muita gente talentosa que era totalmente desconhecida por nós.

40m² trata de temas sensíveis, pesados e reflexivos. Apresenta cenas de nudez, violência, drogas e sexo, além de tratar sem filtros dessa temática que parou todo o mundo - o coronavírus - aliado à realidade de muitas pessoas e comunidades. Por isso, a série incomoda e faz refletir. A recomendo. J-J

Por: Emerson Garcia