Resenha 'Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização'

Néstor García Canclini em Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da  globalização trabalha conceitos da sociedade atual capitalista, a partir da análise de como as pessoas se identificam. Ao mesmo tempo elas são consumidores – elas vão ao teatro, assistem filmes, ouvem músicas; e cidadãos pertencentes a um determinado grupo social. O consumo, de acordo com Néstor, parte do individual, das escolhas e gostos de cada um; para as escolhas de um grupo, onde se forma conglomerados de consumo. O autor associa o consumista como um ser racional que tem ideia de seus atos, onde ele se insere na sociedade da cidadania.

Quando uma sociedade complexa possui os mesmos gostos, são conferidos elementos identitários desembocados em elementos culturais, próprios desse grupo. Desse modo, o autor foca-se em mostrar o modo de vida na América Latina, especialmente no México, país em que Néstor nasceu. Há uma reflexão bastante interessante, onde o autor mostra que não há uma identidade pura, levando a uma outra conceituação: a transculturalização.

Hábitos de uma sociedade são gerados a partir da confluência de outras nações. O autor diz que o cinema hollywoodiano influenciou outros cinemas, mostrando uma predileção deste, com relação ao outros, embora a produção latinoamericana seja razoável. Atualmente, a transculturalização é presente na sociedade brasileira. Modas americanas viram febres, assim como modos de falar, se vestir, se portar. Brasileiro consome músicas americanas, filmes em formatos americanos, literaturas americanas...

Isso gera um conflito entre o que é nacional e o que é global. Muitos não dão importância ao que é nacional, vivendo modos de vida que não condizem qual a realidade identitária de sua nação. A colocação do autor é preciosa quanto ao popular e ao vindo de fora. Para ele, é necessário valorizar o popular, uma vez que o processo de globalização e capitalismo promove tanto a exclusão como a inclusão. A polêmica se encontra, justamente, em definir o que faz determinada cultura ser “culta” e outra não, sendo inaceitável pelos demais. Na verdade é necessário valorizar a cultura de cada país, não utilizando o argumento fundamentalista de “a minha cultura é melhor que a sua”.

Desse modo, o conceito de multiculturalismo é fundamental para sanar os embates de culturas, pois é ele que permite compreender o que diferencia uma região da outra. A partir do multiculturalismo é possível criar políticas que atendam cada cultura uniformemente. A necessidade de criação de museus, locais patrimoniais, onde se preserva a história e a identidade de cada povo, faz parte dos requisitos para o exercício multicultural. Néston realiza um alerta dizendo que não adianta politizar a produção artística e literária somente dentro do país, criando leis e órgãos. Para o multiculturalismo ser eficaz é necessário que essas produções circulem a nível mundial.

Consumidores e Cidadãos é um livro para verificar essas nuances políticas e ideológicas dos produtos de comunicação na América Latina. É interessante porque o autor analisa diversos países, inclusive o Brasil, refletindo como a política cultural se dissemina, a partir de negociações culturais. J-J

Por: Emerson Garcia para a disciplina Política e Legislação em Comunicação da UCB