Ao assistir o documentário percebi, claramente, uma briga instaurada por meio de um cabo de guerra invisível, onde de um lado estava autoridades governamentais, e do outro a imprensa. O jornalismo e a ciência tiveram o imenso desafio de lutar contra o negacionismo de governantes. Além desse obstáculo, o objetivo era o de ajudar as pessoas a se cuidarem contra o inimigo invisível do coronavírus e das fakes news. A ideia era a de proteger a população em todos os aspectos.
A produção teve como intuito principal o retrato da rotina dos veículos brasileiros de comunicação durante a pandemia. Para isso, optou-se não por registrar inúmeras entrevistas, e sim, realizar uma produção de imersão, gravando de forma diária o que jornalistas dos mais variados veículos do país vivenciaram.
Esses comunicadores ficavam em um cercadinho (Daí o título da produção) próximo ao Palácio da Alvorada e também ao lado de outro onde ficavam os apoiadores do presidente. Esses jornalistas buscavam notícias e informações sobre o governo e suas atitudes em relação à pandemia. Muitas das vezes, eram achincalhados tanto pelo mandatário atual do Brasil quanto por seus apoiadores.
Cercados realizou uma cobertura realística de cemitérios, hospitais abarrotados, do cercadinho do Palácio da Alvorada, além de ter exibido reuniões de pautas dos principais veículos de imprensa do país. O documentário foi gravado em cinco cidades, são elas: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Manaus e Fortaleza. Cercados é a segunda produção documental de jornalismo da Globo para a Globoplay. A primeira foi Marielle - o documentário, lançada em março. O diretor Caio Cavechini falou mais da obra:
"Foi um desafio imenso acompanhar os desdobramentos simultaneamente em cinco cidades, com equipes atuando para oferecer um olhar particular sobre a atividade jornalística no meio desse turbilhão."
Significado do nome do documentário
Cercados tem um leque de significados. Fisicamente diz respeito ao local onde os profissionais da imprensa fazem a cobertura diária do Palácio da Alvorada. É um cercadinho mesmo, onde a imprensa fica apertadinha diante dos apoiadores do presidente da República.
Metaforicamente é um lugar simbólico que envolve a luta da imprensa contra quem insiste em negar a atual pandemia.
Pelos bastidores
O documentário mostra os bastidores de redações de jornais que são considerados inimigos pelo Palácio do Planalto e pelo presidente do país. Você verá de perto como funciona uma reunião de pauta, as decisões do que vai ou não para o ar ou para os jornais impressos. Há um clima de desespero e apreensão nessas redações, porque os jornalistas devem noticiar a verdade, embora o governo diga o contrário. Nesses bastidores os comunicadores são mostrados como seres humanos, que sofrem, ficam apreensivos e tristes. A cena de um único jornalista na redação de um famoso jornal em videochamada com outros colegas cortou o meu coração!
O especial inicia apresentando os bastidores do Jornal Nacional, o programa jornalístico (ainda) da maior rede de televisão do Brasil, com William Bonner e sua equipe de produção e reportagem, em meio ao caos da condução governamental brasileira em meio a epidemia de COVID-19. Os jornalistas não tinham um norte sequer de como o povo deveria se comportar frente à doença.
Ao mostrar esses bastidores você percebe certo ar forte, incisivo, informativo e crítico do jornalismo brasileiro, que teve que tomar posição e enfrentar de frente o governo e suas ideias absurdas. Por meio de reportagens, notícias e coberturas jornalísticas, esses comunicadores desmascaram o governo e seu posicionamento com relação à pandemia do coronavírus.
Filmagem, produção e edição
As filmagens duraram cerca de três meses, totalizando um total de 400 horas de reportagens que foram condensadas em um material de duas horas. Para a realização da obra foram entrevistadas 63 pessoas. As filmagens englobam, como já falado, cemitérios, hospitais cheios, redações de jornais esvaziadas, manifestações nas ruas e diversas histórias.
O documentário dirigido por Cavechini acompanha o dia a dia de jornalistas, fotógrafos, âncoras e editores que cobrem os desdobramentos do coronavírus no Brasil, exibindo a tristeza e luta dos parentes que perderam pessoas para essa doença. E, vou mais além: também mostrando a tristeza e o esgotamento dos profissionais de comunicação!
Cercados tem um lado humanizado por apresentar depoimentos dos infectados e desabafos de profissionais da saúde. Além disso, se posiciona do lado oposto de governantes, demonstrando certa coragem e esforço de informar a população com notícias verdadeiras.
O Jornal Nacional ganha mais destaque no documentário, mas isso não quer dizer que os outros jornais não sejam mencionados. A árdua cobertura da Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, CNN, TV Cultura, Band news, agências de notícias e veículos segmentados ou independentes também foi mostrada.
O trabalho de produção desse documentário é de um esforço hercúleo, com um resultado final satisfatório. A estética é simples e a edição tem o intuito de chocar e mostrar, sem rodeios, o tom desesperador que muitos jornalistas tem trabalhado nesses meses, perdurando até os dias atuais.
O documentário mostra a reação da mídia a cada aumento da escalada das mortes (de 10 mil, 50 mil até 100 mil), bem como anúncios de que o coronavírus é uma "gripezinha", a recomendação da cloroquina como tratamento preventivo, a crise no ministério da saúde e no da justiça. O jornalismo não para, mesmo com a piora da doença e o ensandecimento total do presidente da República. Os veículos de imprensa buscaram incessantemente dados concretos contra fake news comprovadas. Desse modo, os fatos narrados no documentário fizeram um contraponto ao negacionismo oficial das mortes, do perigo, da ciência e da tragédia.
Enfim, o documentário apresenta um registro histórico inestimável do presente e revelador futuro do Brasil.
Indicações e prêmios
O documentário recebeu algumas indicações, como do Emmy Internacional como Melhor documentário e do Hot Docs Film Festival de Toronto no Canadá - considerado o maior festival de documentários da América do Norte.
Os desabafos de jornalistas
O documentário apresenta depoimentos e desabafos chocantes e emocionantes dos profissionais da comunicação. Separei alguns deles:
"Meu pai morreu de Covid. Você fica numa espécie de trincheira vendo que informações falsas são divulgadas por pessoas que deveriam ser confiáveis. Com uma checagem, você pode salvar vidas" - jornalista Roney Domingos do G1.
“Na saída do palácio, os jornalistas ficam confinados em um lugar do lado dos apoiadores dele. Então ele vai, ataca e isso incentiva as pessoas que estão lá a fazerem a mesma coisa com os jornalistas, que estão lá só trabalhando” - diz um jornalista
"Um fotógrafo do jornal o Estado de S.Paulo e mais dois profissionais foram agredidos com chutes e murros" - jornalista Délis Ortiz
“Me derrubaram da escada, eu caí, tomei alguns chutes, tomei uma cotovelada” - afirma um jornalista
“Você pode ter sua própria opinião, mas não seus próprios fatos” - jornalista Sérgio D'Ávila
“Em momentos de crise, a gente está em alerta" - jornalista e âncora do Jornal Nacional Renata Vasconcellos
“Acho que as pessoas me viam ali meio como parte da equipe, e acho que me ajudou também a captar o que eu precisava. É imagem que a gente mostrou, cada clique que os fotógrafos deram, eu acho que eles têm a mesma importância, sabe? Por mais que fosse difícil para as pessoas ouvirem essas notícias, nosso trabalho era fundamental” - diretor de fotografia do documentário, João Rocha
“É um documentário urgente. Então ele precisava também ser compartilhado porque o que a gente viveu foi muito intenso. Eu espero que esse documentário, em primeiro lugar, consiga sensibilizar as pessoa para a gravidade da pandemia, do que a ciência produziu, do que os jornalistas trouxeram também de realidade e que a gente pudesse pelo menos começar a conversar, apesar das nossas diferenças: é muito grave que a gente está vivendo” - diretor do documentário, Caio Cavechini
“Muito triste ver um túmulo identificado com um copo descartável” - diz um fotógrafo
Crítica
Com certeza é um documentário que te impacta de inúmeras formas. Além disso, você conhece de perto como funciona uma redação de jornal, sendo uma verdadeira aula de jornalismo impresso, digital ou televisivo.
Cercados te choca, te faz lembrar o quão decepcionante é viver num país onde a ciência é desmerecida e os profissionais, sejam da saúde ou da imprensa, são descredibilizados em meio ao caos pandêmico.
O documentário traz cenas importantes de bastidores, como quando foi vazado o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020 ou quando a transmissão do JN sofreu uma pane ao vivo. Além disso, mostra o acompanhamento incessante na frente dos hospitais.
O objetivo da produção não é mostrar jornalistas cheios de glamour, mas reais. Afinal, por trás das gravações, microfones, notebooks, papeis e canetas, há pessoas que se empenham em relatar fatos, questionar posições e mostrar o que não pode ficar escondido. Além disso, por trás desses aparatos jornalísticos conhecemos seres humanos que sofrem, desabam e também não sabem como se comportar diante dessa crise sem precedentes.
Enfim, parece ficção, mas o documentário traz dados e informações bem documentadas e verdadeiras. É um produto que merece ser visto com atenção. Fique agora com o trailer:
E assim encerramos a segunda edição do Serieteners! Foram 10 séries, 10 semanas de produção e 5 meses de duração desse especial. Vocês viram séries variadas, de diferentes gêneros: documentário, docuséries, séries de humor, série de curtas e programa jornalístico. Viram também uma diversidade de produtos da Globo, Youtube, Globoplay, Netflix e Amazon Prime Video.
Foi um prazer ter pensado nessas produções para você que me lê! Foi uma verdadeira maratona assistir cada série, antes que ela fosse ao ar em um post do blog! Daí pode surgir a dúvida: Acabou o #Serieteners de vez?! Já posso responder para o leitor que NÃO! #Serieteners retornará para uma terceira edição, que irá ao ar em 2022! Aguarde para ver! Já estou me preparando para isso! Enquanto isso, o Quinta de série continua com outras séries. Não deixe de acompanhar. J-J
Por: Emerson Garcia
Oi, Emerson, bom dia!
ResponderExcluirO que me admira, nesses tempos surreais, é que haja ainda pessoas (no caso, jornalistas) tentando preservar a realidade, contra as inverdades das fake news. Eu tenciono assistir-ler- tomar conhecimento do máximo que se documentou - digamos, oficialmente - sobre o evento da Pandemia.
Beijo
Com todo o respeito pela opinião de cada um, mas neste caso discordo totalmente do que li.
ResponderExcluirAbraços
Uns concordarão. Outros nem tanto. Um tema para profunda reflexão e, quiçá, enorme discussão.
ResponderExcluir.
Saudações poéticas.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Uma gfrande produção, sobre um enorme crime contra a humanidade cometido por um maníaco contra um país inteiro.
ResponderExcluirOnbrigado pela análise aprofundada
Um grande ufa! É um grande e doloroso trabalho dos jornalista. Mas,ainda surgem dúvidas de onque realmente é verdade e o que éentira, não consigo gostar dos jornais, pelo menos não depois que fiquei mais velha, eu amava os jornais na minha adolescência,hoje não assisto.
ResponderExcluirGrande abraço Emerson
Olá, Emerson.
ResponderExcluirAqui no Brasil além de enfrentarmos o vírus ainda tivemos que lutar contra o negacionismo do presidente e seus seguidores. Talvez eu assista essa série quando isso tudo tiver passado.
Prefácio
oi
ResponderExcluirparecer ser bom, não sou muito de assistir documentários, mas é importante esse porque além das informações da TV é possível ver outras situações e a crise do país;
https://momentocrivelli.blogspot.com/
Ainda não vi esse documentário Emerson, mas deve ser bem interessante.
ResponderExcluirBig Beijos,
Lulu on the sky
Emerson,
ResponderExcluirVou reler a publicação e conferir
o documentário.
Fiquei interessada.
Bjins
CatiahoAlc.
Oi Emerson querido, bom dia!
ResponderExcluirParabéns, parabéns e muitos parabéns pelo post. O documentário eu ainda não assisti, mas com certeza vou assistir.
Aproveito p/já desejar um FDS muito abençoado p/vocês.
Bjssss amigo