sexta-feira, 16 de junho de 2017

'A cabana' não te ensina a fazer o sinal da cruz, mas sobre a vida com um tom poético

(Pode conter spoilers!)





Após 10 anos de seu lançamento como livro, A cabana ganhou um filme que estreou nos cinemas em abril. Creio que a versão para as telonas tentou ser fiel ao roteiro de William P. Young. O filme, do inglês Stuart Hazeldine, é uma releitura da obra e não pretende ir além disso, nem criar firulas ou discussões mais profundas. 

Li diversas críticas que analisaram somente a peça cinematográfica, o que em minha opinião é totalmente errado, já que trata-se de uma produção baseada em um livro. A tridimensionalidade que imaginei ao lê-lo está no filme. Hazeldine captou a mensagem e transportou o livro para imagens, sons, fotografias. Deus (Octavia Spencer) não destoou da obra: uma mulher negra, gorda e sorridente. O protagonista, Mackenzie Phillips (Sam Worthington, de Avatar) trouxe a dor e a incompreensão do personagem - imaginava Mack exatamente daquela forma. A cabana, a cena da cachoeira e o reencontro de Mack com seu pai foi exatamente como descrito por William P. Young. Entre muitos outros pontos.

Mesmo com essa tentativa de fidelidade à obra, o filme tem alguns problemas, e isso se formos analisá-lo apenas como cinema. Creio que a atuação do Espírito Santo deixou a desejar, embora a caracterização psicológica e física estivessem bem congruentes. A atriz Sumire Matsubara não me convenceu, foi seca e sem graça. Tanto é, que achei as cenas dela entediantes. 





Outro ponto negativo é que as coisas demoram pra acontecer. Na tentativa de ser fiel ao livro, o filme acaba por ser cansativo e repetitivo em algumas partes. Creio que a duração de 2 horas e 17 minutos não foi bem aproveitada, por trazer algumas cenas desnecessárias e suprimir outras importantes. Dá pra perceber que o relacionamento entre o Espírito Santo e Mack foi bem menos explorado, que entre Jesus e Mack, por conta disso.

Os cortes e edições de cenas foram prejudicados também. Creio que era importante um cuidado nessa parte, justamente por se tratar de uma adaptação cinematográfica. Cortes bruscos, como os que foram utilizados, podem não resolver bem. Estes dão a sensação que falta algo e que não houve uma conexão entre as cenas.

De maneira geral, gostei da atuação de Sam Worthington como Mack, embora ela foi convincente em umas partes, e não tanto em outras. Se por um lado senti o drama do personagem, por outro fiquei entediado com suas expressões em várias cenas, me perguntando se aquela era a expressão de alguém que estava com raiva e de quem precisava perdoar.   

Destaco, por último, a abordagem rasa de alguns personagens. O filme prefere focar em Mack e a Trindade Divina e nisso, alguns personagens importantes para a trama são deixados de lado. Confesso que gostaria de conhecer melhor a personalidade de Missy e seus gostos; mais do sofrimento e culpa de Kate; do casal Nan e Mack; e da amizade de Dalton e Mack. Não dá pra conhecer eles em sua profundidade, muito menos Missy, que no livro é apresentada com detalhes.  




O enredo foi bem produzido e cumpriu seu propósito até no clímax e no desfecho, embora o processo de aprendizado e de reconstrução de relacionamentos estivessem mais claros no livro. A versão cinematográfica propõe que Mack precisa reconstruir o relacionamento com a Trindade e apresenta o motivo de ter se quebrado, por meio de flashbacks e fatos que aconteceram em sua vida, principalmente após algo que acontece com sua filha mais nova. Por meio de flashbacks e cenas no presente, conhecemos Mack, sua personalidade e acompanhamos seu crescimento. Algum tempo passa e Mack recebe um misterioso convite por meio de uma carta.  

Essa parte foi bem trabalhada, mas quando Mackenzie o aceita e lida com a personificação da Trindade Santa - uma mulher negra que representa Deus, um carpinteiro barbudo que se identifica como Jesus e uma oriental jardineira, o Espírito Santo em pessoa - creio que houve pequenos prejuízos na história. Houve uma preocupação maior em apresentá-la, do que mostrar como Mackenzie se transforma a partir do relacionamento com cada uma das personificações. A parte das lições foi suprimida, já que em cada capítulo do livro, Mack aprende algo que o ajuda em sua transformação do ser. Creio que isso foi atropelado, para se chegar ao desfecho mais rápido. Não deveria ser assim.

De maneira geral, o filme A cabana realmente é bem poético, como disse Samara Andressa na sua crítica. Talvez, por esse motivo, o longa prezou por alguns aspectos em detrimento de outros, como: a paleta solar utilizada nas cenas, os filtros mais claros e intensos, paisagens belas e efeitos de encher os olhos. Aliás, como não ficar deslumbrado com o jardim da cabana, principalmente em uma das cenas finais? Ou quando Mack e Jesus caminham sobre as águas? Ou na química e troca de olhares entre Mack e Deus? (Inclusive Octavia Spencer estava incrível no papel! Trouxe toda a doçura e bom humor do personagem) Ou na composição do céu estrelado? Ou na visualização da Trindade Santa sobre as pessoas que já morreram? (Foi bonito ver as cores, sons e efeitos da cena, como se fosse uma aurora boreal) Todos essas cenas me sensibilizaram e trouxeram uma carga dramática, que já tinha lido no livro. Foi ótimo reviver isso.




É claro que existem haters que desaprovaram o longa, isso porque alegam que o filme é doutrinário, por disseminar a cultura cristã. Eles dizem que A cabana pretende mais evangelizar, do que discutir temas e trazer reflexões na telona. Não vejo dessa forma por dois motivos em especial. 

Primeiro, porque se trata de um produto da indústria cultural, que com certeza busca lucros, logo após a disseminação de cinemas-parábolas como Nosso Lar, Quarto de Guerra (já criticado aqui) e Deus não está morto (tema de um post). Será que os haters já se perguntaram porque lançar um filme desse gênero somente em 2017, e não em 2009, por exemplo, quando o livro já fazia sucesso? 

Segundo, trata-se de uma adaptação literária, onde o objetivo foi roteirizar para os cinemas as páginas escritas. Ou seja, doutrinário não é o filme, mas pode ser o livro, mas garanto que este é mais humano que religioso, isso porque abandona clichês da Igreja Católica e Evangélica, por exemplo. Enfim, o livro trata do Demiurgo como um poder maior, que independe de religião; e de razões para acreditar em algo sobrenatural por meio da fé, que garanto que não tem nada a ver com crença religiosa.

A cabana não quer desfiar um rosário ou te ensinar a fazer o sinal da cruz. O filme te ensina sobre a vida, resgatar relacionamentos, perdoar e domar a vingança que geralmente estão dentro da gente.

Concluo dizendo que o filme é bom, mas com algumas limitações que já foram expostas. O vejo como uma adaptação cinematográfica que procurou ser fiel ao livro e não se preocupou em criar novas discussões ou disseminar religião em ninguém (Pode ter disseminado a fé!). Ao meu ver, deveria ser analisado sem preconceitos, principalmente por seu tom poético, fotografia e drama. J-J






Por: Emerson Garcia

9 comentários :

  1. Também achei esse filme bem poético. Muito lindo mesmo !
    Achei que ia chorar mas me controlei ahaha .
    Beijos,
    #fiquerosa

    Fique Rosa | Meu Canal YT

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  2. Ainda não assisti esse filme, mas estou com muita vontade. Bjs

    www.mayaravieira.com.br

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  3. Emerson
    Eu lí o livro há muito tempo atrás e achei muito chato kkk Não gostaria de assistir ao filme, apesar do "mote" dele ser incrível, não me cativou nem me sugeriu curiosidade.
    Beijos e um bom final de semana!
    Blog DMulheresInstagramFanpage

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    Respostas
    1. Sério? Que gosto diferente esse o seu. Que pena que não gostou do livro.

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  4. Oi, tudo bem??
    Quero ver o filme pois li o livro há muitooo tempo atrás e vi que muitas pessoas estão comentando... Que pena que tem esses defeitos como edição, ser cansativo, algumas atuações, etc... Tudo tem seu lado bom e ruim né? Essas adaptações ultimamente estão deixando a desejar :(
    Adorei sua resenha!
    Beijos
    www.somosvisiveiseinfinitos.com.br
    Vídeo novo: https://www.youtube.com/watch?v=VjheAEeAg8U&feature=youtu.be

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