terça-feira, 15 de maio de 2018

Ter suas convicções religiosas e acreditar nelas não é ser intolerante; O caso do vídeo polêmico do pe. Fábio de Melo



Semana passada (10) o padre e cantor Fábio de Melo desculpou-se após um vídeo em que durante um sermão na Igreja Católica faz declarações ditas preconceituosas e intolerantes contra as religiões de matrizes africanas. Disponibilizado em sua fanpage com o título Acreditar na autoridade que Deus nos deu e com a descrição "Não tenha medo de macumbas, você tem o poder de fazer milagres", o vídeo foi considerado por alguns como ofensivo. O representante de Movimentos contra a Intolerância Religiosa o babalaô Ivanir dos Santos entrou com uma notificação extrajudicial contra o padre para a retirada da declaração da internet. 

Mesmo com a notificação, o vídeo ainda está no ar com mais de 3,8 milhões de visualizações, 124 mil compartilhamentos, 55 mil curtidas, 8,3 mil "Amei" e 617 "Grr". As curtidas e as reações positivas demonstram que a grande maioria dos espectadores do vídeo concordam com as declarações do padre pop. Por outro lado, houveram aqueles que falaram que o padre foi intolerante e desrespeitoso, o que resultou no pedido de retratação do líder religioso mais tarde.

Em um mundo livre, falar de suas convicções religiosas e no que você crê ou deixa de crer, pode soar como intolerância religiosa. Uma pessoa não pode manifestar seu ponto de vista, sob a acusação infundada de ser intolerante. A pessoa que se "sente" desrespeitada acaba por calar as convicções da outra. No final, aquele que sentiu-se desrepeitado, acaba sendo intolerante com o outro também

Esse post tem os seguintes objetivos: mostrar que o vídeo do Fábio de Melo não foi intolerante; salientar que convicções religiosas não tem nada a ver com intolerância; que canais e fanpages escarnecem os cristãos (e até mesmo adeptos de religiões africanas) e ninguém liga; e explicar que o respeito e a tolerância devem ser vias de mão dupla




O vídeo polêmico


No sermão, o padre Fábio de Melo constrói seus argumentos a partir da fala de Jesus Cristo na bíblia onde ele dá autoridade para seus discípulos expulsarem demônios e realizarem milagres como ele fez e muito maiores. Desse modo, ele fala da proteção divina que os seguidores de Cristo possuem contra mau olhados, invejas, magia negra, macumba etc. Ele expressa convicções cristãs a partir do que está escrito no livro sagrado. Ele não escarnece ou desrespeita as outras religiões, mesmo que use uma linguagem lúdica e divertida. Assista:






Há um contexto e pensamento que precisa ser melhor compreendido a partir do vídeo polêmico do padre. Fábio de Melo não critica as religiões de matrizes africanas, muito menos seus rituais, ele apenas expressa sua fé - a partir de promessas bíblicas - que nenhum mal atinge quem está na cobertura de Deus. Não sejamos ingênuos, mas existem pessoas religiosas que desejam o mal da outra, e não importa se ela é macumbeira, candomblecista, evangélica, católica, testemunha de Jeová ou adventista do Sétimo Dia. O fato é que há aqueles que usam a religião para o mal.

Em nenhum momento, Fábio de Melo declarou guerra aos macumbeiros ou incitou que a comunidade católica destruísse terreiros de macumba e/ou jogasse pedras nestas pessoas, como vemos muitos religiosos fazerem (Prefiro não citar os casos e fatos). Pelo contrário, ele falou dos cristãos católicos frente às investiduras malignas.

Mesmo com um tom irônico e piadista, ele conseguiu passar sua mensagem, a ponto de ser aplaudido por uma multidão quando disse a seguinte frase:

"Se você achar que uma galinha preta na porta da sua casa, com um litro de cachaça e uma farofa de banana tem o poder de trazer destruição na sua casa, na sua vida, você não conhece a força do Cristo ressuscitado".



Para finalizar esse tópico, existe uma ampla diferença entre quem é macumbeiro e quem "faz macumba" com o intuito de destruir a outra pessoa. Reflitam. 



Explicações




Por meio de seu Twitter, o padre Fábio de Melo esclareceu o conteúdo do vídeo para aqueles que não entenderam o contexto e significados de suas colocações e/ou se sentiram ofendidos. No texto, ele fala de "convicções cristãs" e de que "a tolerância religiosa não é abrir mão de crenças, mas de promover um convívio pacífico". Leia o post completo abaixo (com grifos):

"Sempre manifestei publicamente o meu respeito a todas as religiões. O candomblé fez parte da minha origem. Nunca quis ofender ou desmerecer quem quer que seja. Apenas expressei, durante uma celebração cristã, convicções cristãs. Peço perdão aos que se sentiram ofendidos.

Eu não sou proprietário da verdade. Eu estou em busca dela. Quero o esclarecimento espiritual que me coloque ao lado de todos. Diferentes e iguais a mim. Somos irmãos e não me sinto melhor que ninguém. Se fui infeliz na forma como expressei o meu não crer, perdoem-me.

Já fiz um contato com o babalorixá Ivanir dos Santos. Ele foi extremamente gentil comigo. Nosso desejo é esclarecer que tolerância religiosa não significa abrir mão do que cremos ou não cremos, mas conviver harmoniosamente, colaborando na construção de um mundo melhor.


O mundo já está dividido demais para que criemos outras divisões a partir de nós."



Convicções religiosas Vs. Intolerância







Cada religião que conhecemos possui sua convicção e isso deve ser respeitado. testemunhas de Jeová não doam nem admitem transfusão de sangue: ISSO DEVE SER RESPEITADO; espíritas acreditam na reencarnação: ISSO DEVE SER RESPEITADO; católicos possuem e acreditam em santos: ISSO DEVE SER RESPEITADO; evangélicos não acreditam: ISSO DEVE SER RESPEITADO; adventistas do Sétimo Dia guardam o sábado: ISSO DEVE SER RESPEITADO; macumbeiros e candomblecistas fazem despachos, oferendas e sacrifícios: ISSO DEVE SER RESPEITADO; católicos e evangélicos não acreditam no poder da macumba sob aqueles que estão debaixo da proteção de Deus: ISSO DEVE SER RESPEITADO.

O fato do Fábio de Melo não acreditar em macumbas e/ou mau olhado não significa que  desrespeita as religiões de matrizes africanas. Mas, sim, que suas convicções religiosas não condizem com as de outrem. Entendem? É o que ele fala na seguinte frase (com grifos):


"Com todo respeito à quem acredita nisso, mas isso não é uma compreensão cristã, porque estamos debaixo dos raios misericordiosos desse Senhor que nos livrou de todo o mal". 


Em miúdos, o que Fábio de Melo disse é que banho de arruda, despacho com "galinha preta, cachaça e farofa de banana" e sacrifícios de animais e humanos não fazem parte da realidade cristã. Desse modo, cada religião possui sua fé, seus elementos, suas crenças e convicções, como bem disse Frei Betto recentemente:


"Tanto a galinha da macumba quanto o pão da eucaristia são objetos de fé de quem acredita no caráter sagrado da oferenda. O vinho da missa e a cachaça do despacho dependem da crença dos fiéis."


Ser tolerante com a religião do outro não é tarefa fácil. Você pode acreditar que somente suas convicções religiosas são as corretas e verdadeiras, menosprezando às dos outros. Ao contrário do que possa parecer, o que Fábio de Melo destacou foram as convicções cristãs, mas sem dizer que quem faz macumba está errado, sem criticar os rituais de religiões de matrizes africanas e sem ser intolerante

Como você pode afirmar isso, Emerson? A partir das próprias falas do padre pop, como: "Com todo RESPEITO a quem faz a macumba" e "Com todo RESPEITO à quem acredita nisso". Ele não disse: "Quem faz macumba vai para o inferno" ou "Quem é da macumba está errado. Só a religião católica é a certa". Se o assim o fizesse, aí sim, em minha opinião, seria intolerante



ATEA, Porta dos Fundos e Tá no Ar: A lei vale - realmente - para todos?



Diante da polêmica com as declarações do líder religioso católico, me pergunto se a lei de tolerância e respeito vale para todos ou ela é específica e restringente. Fanpages como da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), canais como Porta dos Fundos e programas de TV como Tá no ar! A TV na TV publicam conteúdos que desrespeitam as religiões, sejam elas quais forem (Mas principalmente religiões cristãs) e tem a aceitação e apoio do público de massa. Veja bem: não disse que não há processos movidos contra essas organizações, mas que as piadas, brincadeiras e chacotas contra as religiões são aplaudidas, curtidas e admiradas

VAMOS AOS NÚMEROS: o Porta dos Fundos possui mais de 14 milhões e 300 mil seguidores; a ATEA mais de 735 mil e 600 curtidas e o Tá no ar! teve uma média de audiência na última temporada de 14,32 (Isso para o horário em que o programa é exibido é maravilhoso!). A hipocrisia, portante, surge: por que criticar a fala do padre, se você é um apoiador e um fã desses programas conteúdos?

Memes, imagens e vídeos como esses abaixo fazem enorme sucesso entre o público:


































O respeito à fé e às convicções religiosas dos outros devem ser colocados em prática por todos - não importa o credo, a religião, a cor, a classe social. Se a liberdade de expressão é dada ao Porta dos Fundos, por que não ao padre Fábio de Melo? Por que o babalaô notifica o padre pop, mas não o Tá no Ar!, por exemplo, por conta da Galinha Preta Pintadinha? É um caso a se pensar.

O Léo, do Na Igreja, manifestou sua opinião sobre no Instagram:





Transcrevo o que ele disse:


"O padre Fábio de Melo foi notificado por intolerância religiosa por esse sermão aí.

O Padre Favo de Mel não pode falar DURANTE UMA MISSA que macumba não pega, mas a ATEA - Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos e o Porta dos Fundos podem escarnecer dos cristãos publicamente sem JAMAIS serem punidos. Deus tá vendo.

O que vocês acham dessa barbaridade com quem tem pensamento cristão?

CURTE SE VC CONCORDA COM O QUE O PADRE FAVO DE MEL DISSE"



Para lá; para cá








Concluimos o seguinte:

- O respeito e a tolerância devem ser uma via de mão dupla;

- Do mesmo jeito que se respeita as convicções religiosas do outro, este outro deve fazer o mesmo;

- Em momento algum o padre pop desrespeitou a religião de origem africana, para o babalaô não concordar com sua opinião e pedir que o vídeo fosse apagado;

- Confundir convicções religiosas com intolerância é uma atitude de quem não entende os contextos das situações;

- A lei de respeito e tolerância religiosa deve servir para todos, não importa que posição ocupe;

- Relativizar discursos, rir e entreter-se com piadas de cunho religioso, é o mesmo que ser intolerante; e

- Acreditar que somente a sua religião é a correta e a certa é ser intolerante e desrespeitoso. J-J


Por: Emerson Garcia

12 comentários :

  1. Ahhhh é algo que dá pano pra manga mas que de fato nem precisaria, eu tenho uma preguiça dessa sociedade porque as vezes é força de expressão, é piada sem nenhuma carga subjetiva atrás e mesmo assim o povo faz um circo não achei nada ofensivo achei mais força de expressão do padre em pregar sobre a temática que estava dirigindo aos fieis, eu por exemplo fui criada numa casa católica no interior de Minas com pais devotos de Nossa Senhora da Aparecida, sempre escutei a expressão minerês Nosasenhora hahaha e sempre falo mesmo não sendo católica e mesmo não acreditando em Santo mas falo porque virou meio que uma ""giria" as vezes só acontece e ponto final. Gostei da reflexão. Abraços JJ.

    http://www.cherryacessorioseafins.com.br

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    Respostas
    1. Exato, Simone! As pessoas precisam interpretar melhor os contextos, frases e textos. Foi uma força de expressão utilizada pelo pe. para um público de fiéis católicos, e nada mais.

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  2. Oi! Eu acho que não precisava todo esse buzz em torno da fala do padre. Bom, concordo na parte de respeitar todas as religiões. Um abraço! :D

    Blog: O Planeta Alternativo

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  3. Aff, as pessoas também se afligem ou se machucam por tudo! Concordo com o padre ao ele dizer, que não é uma galinha preta que vai te trazer o mal, é você acreditar que isso vai te fazer mal...
    Isso dá muito pano pra manga e discussões sobre o tema tão polêmico, mas vamos pensar na paz mundial, não no que pode fazer uma galinha preta numa encruzilhada ahahaha
    Boa semana. Beijos,
    Blog DMulheresInstagram

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  4. Olá Emerson! Tudo bem?
    Apesar de que respeitar todas as religiões é um fato, esse é um tema que eu prefiro não discutir kkk
    Obrigada por comentar lá no meu blog.
    Volte sempre!

    ~ miiistoquente

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  5. Acho que religião cada um tem respeitar a do outro.
    o mundo ta precisando mais é de paz.

    um abraço.
    https://blogdaadilene.blogspot.com.br/

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  6. Oi Jovem
    Muito bom post. Para a próxima semana vou falar num assunto q aborda alguns aspectos do que falaste aqui. Eu sou católica e respeito todas as outras religiões Deus é amor e amor por todos independentemente da raça cor ou religião mas vejo algum fundamentalismo nas outras religiões e isso é mau.
    Xoxo from Portugal

    marisasclosetblog.com

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    Respostas
    1. Irei ler e acompanhar esse seu post, Marisa. Verdade, existem pessoas que são bem fundamentalistas. Não diria nem que é a religião.
      Xoxo

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