terça-feira, 27 de junho de 2023

Desenhos retratando a pauta LGBTQIAPN+ 2 (1990 - 2000)

No post de hoje dou continuidade à Desenhos retratando a pauta LGTQIAP+, que iniciei na Pride Week 2022. Desde que o personagem Mickey Mouse assobiou pela primeira vez segurando um leme de um barco que a comunidade LGBTQIAPN+ é retratada, ora de forma tímida, ora escancarada. 

Seguindo a cronologia que apresentei no ano passado, hoje falarei de desenhos da década dos anos 1990, que foram contextualizados com a introdução da TV à cabo no Brasil e mundo. Com a TV à cabo os desenhos animados ficaram mais autorais, se distanciando de padrões e normas que eram impostos nos anos 1980. Mas, não pense você que as coisas ficaram mais fáceis. Os criadores enfrentaram obstáculos para expor seus personagens e ideias LGBTQIAPN+. Foi até mesmo aberta uma "cultura do medo" desses criadores, pois apesar dos desenhos irem ao ar, eram sempre vistos de forma ruim. 

Em 1991 foi criado o canal televisivo Nickelodeon, com conteúdos exclusivamente infantis. Logo na primeira leva, estreou Ren & Stimpy, extremamente vanguardista, violento, ácido, perverso, irônico, engraçado e com representatividade LGBTQIAPN+. O desenho era protagonizado por Ren, um chihuahua; e Stimpy, um gato. Eles moravam juntos. O relacionamento deles era variável... Poderiam ser melhores amigos, pai e filho ou até mesmo casados. Era tudo muito subentedido, até que o autor afirmou em uma revista em 1997 que nesses episódios os personagens eram um casal gay. 



Haviam cena de afetos e carinhos entre os dois, até que foi criado um spin-off do desenho para adultos em 2016, com uma cena memorável em que o ato de serrar um toco de madeira foi uma metáfora para o ato sexual. A cena foi bem explícita, até para o ano do spin-off. 


Ren e Stimpy são considerados os primeiros homoafetivos de uma animação, embora esse termo fosse inaceitável em desenhos. Mas nos anos 1990 também houveram outros personagens que eram considerados homo ou biafetivos, mas que no desenho as coisas eram subentendidas. Cito a personagem de desenhos e quadrinhos Harley Quinn, em 1993, a mais influente da DC. Namorada de Joker, é uma brilhante psicóloga que acaba se apaixonando por ele. O relacionamento dos dois é abusivo e violento, onde ela só servia para satisfazer os desejos de Joker. Em 18 de janeiro de 1993, uma nova faceta da personagem é apresentada, com o relacionamento dela com Ivy.  


Após ser expulsa de casa por Joker, ela fica amiga de Poison Ivy e passa a morar com ela e ser sua parceira de crime. Joker percebe a falta de Harley para fazer atividades domésticas e vai atrapalhar esse relacionamento das duas, que termina numa batalha entre Poison Ivy e Joker. Há muitas mensagens subliminares românticas sobre relacionamentos tóxicos e saudáveis. 


A produção possui vários discursos sobre empoderamento feminino e lésbico. Quando Harley foi para os quadrinhos, o relacionamento com Poison Ivy ficou mais claro e latente. Elas eram mais que amigas. Elas possuíam um relacionamento não-monogâmico bem romântico.



Em 1994, a gárgula Lexington do desenho The Gargoyles era gay, mas não havia nada de explícito no personagem que confirmasse isso. O criador apenas jogou essas informações e ficou por isso mesmo. 



No desenho Hey Arnold, o personagem Mr. Simmons era um professor sensível, otimista e inseguro e gay. Apareceu até mesmo seu namorado na série. 


Em um episódio, a série traz a cena de um jantar do dia de ação de graças em que a mãe de Simmons não aceita sua condição.


A partir dos anos 1990 as animações adultas cresceram exponencialmente. Em sua maioria, elas possuíam um personagem recorrente gay, que reforça isso em todo episódio que surgir. Em Mission Hill havia um casal homoafetivo. Em South Park, Mr. Garrisson. No King of the hill, revelou-se que o pai de Dale era gay. Em Family Goy, Jasper, o primo gay de Brian. Em Moral Orel tinha Stephanie Ruby. 







Piadas de gay são permitidas em animações adultas. É algo aceitável e normal, mesmo em desenhos sem um coadjuvante gay como The Critic, Duckman ou Dilbert


Há um bloqueio de personagens LGBTQIAPN+ na indústria cultural infantil e, por isso, a animação adulta é a seara farta para personagens desse tipo e conteúdos adultos. Por isso é admissível incluir gays em um núcleo familiar. Não há nenhum crime nisso. 

Há muitas políticas de classificação indicativa com relação à pauta LGBTQIAPN+, mas quando a animação é vinda de fora e há uma pessoa dessa classe, as partes onde existe a homoafetividade são simplesmente banidas. Se for anime, o Brasil não transmite de forma alguma, pelo menos nos anos 1990 quando não se comprava os animes diretamente do Japão, mas de outro país ocidental.  


Posso citar Sailor Urano e Sailor Netuno, lésbicas assumidas, que viraram apenas boas amigas ou primas. Em Sakura Card Captors aconteceu o mesmo: a paixão de Tomoyo por Sakura foi modificada, assim como o relacionamento de Touya e Yukito. 


Mesmo com a censura do relacionamento de Tomoyo, eles ainda mantiveram o enredo de Shaoran ser apaixonado pelo Yukito. Na verdade, eles não eram apaixonados, dizia respeito ao poder mágico dos dois. 

No Canadá é aceitável a inserção de personagens gays em desenhos animados. Braceface tinha um e a série Total Drama fazia piadas de héteros querendo reafirmar sua orientação, após ter sido questionada. O desenho 6Teen possui dois episódios em que um personagem gay traz adrenalina para a vida amoroso dos personagens. 


O desenho era praticamente 6 amigos no shopping arrumando empregos e se relacionando amorosamente. Exibido no Cartoon Network, passava às 22h30 no Brasil, antes do Adult Swim começar de fato. Em um capítulo uma das personagens se apaixona por um rapaz que descobre ser gay. Em outro, uma das meninas fica muito próxima de uma lésbica e se pergunta se ela não teria segundas intenções nessa amizade. Esses episódios não foram exibidos nem nos EUA nem no Brasil. Mas no Brasil isso se deve pela série somente ter exibido a primeira temporada. 


Falando em episódios não exibidos, o desenho A vaca e o frango possui um em que um grupo de motoqueiras convence Vaca a entrar em sua gangue de motoqueiras. Esse grupo entra nas casas e começam a mascar o tapete delas. Na língua inglesa, "mascar tapete" é uma gíria para fazer sexo oral em uma mulher. 


Enquanto isso, no Japão as animações se desenvolviam de forma distinta, já que o público não era infantil e os romances LGBTQIAPN+ eram naturalizados como os heteroafetivos. 

Em 1998 era lançado As meninas super poderosas pela Cartoon Network. A personagem Ele era um clássico. Era uma figura de diabo vestido de forma feminina, com vestido, maquiagem, batom e salto alto, que carregava um patinho de plástico. 



Entre o final dos anos 1990 e início dos 2000 os desenhos começavam a tocar em conflitos mais profundos e construir arcos dramáticos mais sólidos. Mesmo com essa abertura, ainda havia muito disfarces sobre a pauta LGBTQIAPN+. A partir dos anos 2000, desenhos foram criados e serviços de streaming surgiam. Esse é o assunto para o próximo post dessa sequência, que vai ao ar, provavelmente, no ano que vem. J-J





Por: Emerson Garcia

8 comentários :

  1. Super publicação deste assunto atual e nem sempre tratado com respeito

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  2. Que bacana, muitos fatos curiosos e interessante nesse post, adorei.

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

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  3. Ena, recordo-me de alguns desses desenhos!
    Que saudades

    Bom dia

    Cláudia - eutambemtenhoumblog

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  4. Um tema cada vez mais tratado e visto! Não lmbrava desses desenhos! abração, chica

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  5. Mais uma linda e didática publicação. Elogio
    *
    Quarta feira com Saúde, Paz e Amor.
    */*
    Ilusões e Poesia
    */*

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  6. Oie, não lembrava da maioria, mas gostei de relembrar!!

    Bjs

    Imersão Literária

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