Separação da sigla LGB: LGB Vs. TQ+; não há aliados; e os LGB's só querem respeito e direitos

No início desse mês (05) uma polêmica se instaurou nas redes sociais. O perfil LGB no Twitter fez um post em que apoiava a separação de lésbicas, gays e bissexuais das demais letras da sigla: TQ+ (Trans e Queers e mais). O bilionário e dono do Twitter, Elon Musk, disse concordar com essa separação. A polêmica, portanto, veio de duas vias: na ideia da separação da sigla LGBTQ+ e na opinião de Elon Musk.

A mensagem do LGB e o tweet de Elon Musk podem ser lidos logo abaixo:

A mensagem do LGB dizia o seguinte: "LGBs nem querem mais o mês do orgulho. Nós só queremos nos separar do TQ+". Elon Musk respondeu: "Concordo Totalmente". 

Nas redes sociais percebe-se um aumento nos últimos dois anos de perfis voltados à LGB's e postagens de críticas, de grupos que pedem a cisão do movimento. O fato é que parte de lésbicas, gays e bissexuais não vê alinhamento claro com as pautas defendidas por trans, queers e outras letras, além de se sentirem ameaçados e atacados por estes segmentos.  

No post de hoje tensiono as questões que permeiam uma possível separação da sigla LGB.

LGB Vs. TQ+

Que pontos há em comum entre os LGBTQ+? E entre os LGB's? E entre TQ+? Entre os LGBTQ+ é porque trata-se de minorias que buscam seus direitos. Essas orientações sexuais não seguem o padrão e a heteronormatividade. Agora, há diferenças entre os LGB's e os TQ+ como está descrito na imagem acima. 

Quando falamos de gays, lésbicas e bissexuais falamos de sexo biológico, ou seja, mulheres e homens cis (normal) que estão satisfeitos com seu sexo biológico e não querem mudá-lo, mas que se identificam sexualmente com o mesmo sexo, ou seja, mulheres cis que gostam de mulheres cis (lésbicas), homens cis que gostam de homens cis (gays) e mulheres/homens cis que gostam de homens e mulheres cis (bissexuais). 

A ciência, anatomia e materialidade estão ligados aos LGB's. Isso quer dizer o que?! Que lésbicas, gays e bissexuais estão satisfeitos com seu corpo e com seu sexo de nascimento, embora sua orientação sexual seja homoafetiva. 

Os pronomes que LGB's também gostariam de ser tratados é de acordo com a língua portuguesa e suas flexões padrões e tradicionais. Lésbicas gostam de ser chamadas de ela; e gays, por sua vez, ele. Nada além disso. Eles não são adeptos da linguagem/pronome neutro ou não-binário.

"Mulher" no universo LGB significa "fêmea humana adulta" e "Mulher cis" "fêmea humana adulta normal". Crianças são apenas crianças. 

Quando falamos de trans, queers e mais (intersexuais, pansexuais, não-binários etc) falamos não de sexo biológico, mas de identidade de gênero. Ou seja, a pessoa nasce com o sexo biológico, mas o que a determina é sua identidade sexual e como ela se enxerga. Assim, ela pode ter nascido com o sexo biológico masculino e se identificar com o sexo feminino, assim como muitas outras configurações de gênero. A ciência, biologia e anatomia não tem muito valor aqui, já o que vale é o sentimento e fantasia.

Até mesmo a linguagem é inventada e ressignificada, fantasiosa. Os pronomes e a linguagem neutra são usados para identificar pessoas trans, queers e mais. Flexões como elu, delu, todes, amigues, entre outras, são empregadas. A linguagem é flexível. Posso ter nascido com o sexo biológico masculino e me considerar (e ser) uma mulher trans e meu pronome de tratamento ser ela e adotar tudo no feminino. Ou posso ser uma pessoa que nasceu com o sexo biológico feminino e me considerar não-binário e usar a linguagem não-binária (elu, delu, amigue...). Tudo é possível.

A identidade de gênero é uma crença, algo não tão tangível e palpável. Basta eu acreditar, que "a magia acontece". Pouco importa o sexo biológico, o que importa é a identidade de gênero e como me vejo. A expressão "mulher" é apenas um sentimento, não tem nada a ver com sexo biológico. É um conceito, apenas. 

As diferenças entre LGB's e TQ+ são bem pontuadas. Se existe uma parcela de pessoas LGB's que gostariam de se desgarrar das bolhas trans e queers por crer que as pautas defendidas pelas esferas são distintas, por quê barrar isso?! 

As pautas LGB's e TQ+ são distintas, no que tange aos direitos, relacionamentos, demandas, linguagens, pensamentos, filosofias e crenças, como bem falei anteriormente. Pessoas LGB's não querem passar por redesignação sexual e cirurgias corporais e hormonais, enquanto TQ+ muitas vezes sim. LGB's não fazem uso de terapia hormonal e bloqueadores de puberdade, TQ+, sim, e até mesmo em menores de idade. LGB's se relacionam amorosa e afetivamente de modo bem tradicional e sem firulas, enquanto TQ+ de formas inovadoras e bem "fora da caixinha". Por exemplo, homens gays cis se relacionam apenas com homens gays também cis, enquanto pessoas trans, intersexuais, não-binários e pans as possibilidades de relacionamentos são amplas. Uma pessoa pan pode se relacionar com héteros, gays, trans, não-binários, queers, intersexuais e por aí vai... 

Por que então, colocar ambas as esferas num mesmo balaio?! Desse modo, entendo a separação da sigla LGB da TQ+. 

A polêmica opinião de Elon Musk

A crítica à Elon Musk também se deve por ele não fazer parte de nenhuma das siglas do movimento, mas isso é o que menos importa. Ele poderia se considerar uma pessoa trans, não-binário, lésbica, mais alinhada ao masculino e estava tudo certo. A magia acontecia! Não precisava ele mudar nenhum fio de cabelo, bastando ele dizer que é e pronto! Porque o que importa é ele se sentir, não ser, entende?! Basta ele se identificar com qualquer uma das intermináveis letrinhas depois da letra "B". E qualquer um pode opinar sobre qualquer coisa ou assunto e apoiar ou boicotar qualquer movimento ou pauta. 

Não há aliados

A tensão entre LGB e TQ+ aumentou nos últimos anos, mais da parte dos TQ+ para LGB's, do que o inverso. Trans e queens vivem xingando gays e falando que eles nunca fizeram nada pelos seus direitos. O fato é que foram os gays que começaram essa luta - mais precisamente homoafetivos e travestis - em 1969. Graças à conhecida Revolta de Stonewall que os LGBTQIAPN+ conquistaram seus direitos, inclusive os das pessoas transexuais. 

Há muita briga entre os TQ+ e os LGB's, mas quando essa segunda esfera tem o desejo de se separar, eles ficam num verdadeiro frenesi. As pessoas trans, queens e mais deveriam ser as primeiras a concordar com a separação, já que seus direitos primordiais e principais já foram alcançados em 1969 e a separação só viria a ajudar e facilitar que as pautas de ambas as esferas fossem melhor delimitadas, reconfiguradas e trabalhadas atualmente. A classe LGB delimitaria e lutaria por direitos ainda mais específicos, enquanto os TQ+ por outros direitos bem delimitados. A questão é que talvez  a esfera TQ+ esteja insegura e se pergunte: como vamos seguir se nos separarmos dos LGB's?!  

Isso daria, ao mesmo tempo, independência e responsabilidade para duas esferas. Lésbicas, gays e bissexuais não tem nada a ver e não querem ser comparados com transexuais, queers e mais. 

Existem LGB's que falam que os TQ+ não são seus aliados e querem, urgentemente, solicitar a separação do seu movimento e seus espaços de luta. Como falei, as pessoas LGB's não são adeptadas da ideologia de gênero e querem abolir isso dos seus movimentos, enquanto TQ+ invadem esses espaços e colocam essa pauta "goela à baixo". Há um perigo instaurado em movimentos LGB's representado pela onda trans e queer. Esses indivíduos roubam o espaço das mulheres nos esportes; invadem espaços exclusivos para gays e mulheres; são mal intencionados e se aproveitam da facilidade para entrar na sigla para se validar; e inserem crianças em shows eróticos de drag queens!  

O lado mais nefasto da pauta trans e queer respinga sobre as pessoas LGB's, como se elas fossem culpadas dos shows de horrores que acontece. E que horror falo? De crianças na Parada Gay, por exemplo, e redesignações sexuais infantis.

É comum pessoas Trans e queers acusarem gays, lésbicas e bissexuais de transfobia por estes últimos não quererem se relacionar com aqueles. Mas também pode haver certo preconceito, por exemplo, por uma mulher trans querer se relacionar apenas com homens héteros cis e mulheres cis. Cada qual com seu gosto, identidade de gênero e orientação sexual. Homens gays cis, por exemplo, gostam de se relacionar com homens gays cis, e isso está tudo certo!

O fato é que muitos acreditam que o movimento LGB não pode ser um "guarda-chuva" para performáticos de gênero. Não! Pessoas LGB's não gostam, não amam todas as letrinhas da sigla e nem é obrigada à isso! Na verdade, LGB's amam e se relacionam amorosa e sexualmente com aqueles e aquelas que são iguais ao seu sexo, e isso está tudo certo. Eloisa Samy discorreu sobre tudo que falei em uma tread no Twitter: 

Os LGB's só querem respeito e direitos

A separação da sigla é o grito de socorro de LGB's, pois há muita coisa ruim e nefasta que tem respingado sobre esse seguimento. Identidade é algo muito sério e os LGB's tem tido suas identidades deturpadas e manchadas.  

O que os LGB's querem?! Respeito e os mesmos direitos civis que o restante da sociedade. Eles querem se separar da bolha TQ+ para continuar a avançar rumo ao respeito e à conquista dos seus direitos. Pelo mundo, ainda há cerca de 60 países em que a homoafetividade é criminalizada. Na Rússia, o cerco de criminalização aumentou... Por isso, é importante que haja essa separação para que se caminhe para a frente. Que não haja um retrocesso. J-J

Por: Emerson Garcia