quinta-feira, 22 de junho de 2023

Quinta de série: Orgulho além da tela

Pode conter spoilers!

Na Quinta de série de hoje apresento a produção documental Orgulho além da tela, produzida e exibida pela Globoplay. Lançada no dia 11 de outubro de 2021, possui direção de Rodrigo Rocha, Antonia Prado e Rafael Dragaud; roteiro de Lalo Homrich e Isadora Wilkinson; e autoclassificação etária de 12 anos. A produção contou com 3 episódios, de em média 1 hora cada um. 

Por intermédio de imagens de arquivo e depoimentos dos talentos da Globo e do público, o documentário traça a cronologia da representação de personagens LGBTQIAPN+ nas novelas globais. Os episódios foram divididos de acordo com as décadas: 1970, 1980, 1990, 2000, 2010 e 2020. A série consegue fazer um retrospecto completo e detalhado de como a pauta LBTQIAPN+ evoluiu na sociedade e na forma de abordagem na ficção. 

É interessante porque é mostrado como as tramas da ficção impactaram em muitas histórias de vida real. Por isso, depoimentos de atores, autores e espectadores são fundamentais para relembrar cenas e personagens LGBTQIAPN+. Eles narram a importância dessa representação em suas trajetórias. O redator da série, Lalo Homrich, falou um pouco mais:

"Ao todo, foram 50 pessoas entrevistadas entre elenco da Globo e personagens da vida real que falam sobre a construção desses personagens e o reflexo deles na sociedade. São simbólicos e discutiram de forma mais aprofundada questões que envolvem orientação sexual e identidade de gênero, gerando um debate na sociedade".


O ponto de partida é com o primeiro personagem LGBTQIAPN+ da televisão, em 1970, interpretado por Ary Fontoura. A partir desse, outros ganham destaque ao longo das cinco décadas subsequentes. 

Entre os entrevistados da série documental estão os autores Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares, Walcyr Carrasco, Gilberto Braga, Manoel Carlos, Euclydes Marinho, Silvio de Abreu, Gloria Perez e Dennis Carvalho; além de especialistas, ativistas e formadores de opinião, como o influenciador digital Hugo Gloss e o jornalista Jorge Luiz Brasil.  

Nos três episódios é possível perceber três camadas diferenciadas. A primeira é uma enciclopédia dos personagens e a maneira que foram retratados, com cenas da época e um recorte cronológico. Na segunda, autores, diretores, atores e pessoas envolvidas com a obra falam do backstage das cenas, comentando sobre o fazer televisão e curiosidades de cada novela. E a terceira, são as pessoas LGBTQIAPN+ e seus familiares que mostram o impacto das novelas em suas vidas. 

Orgulho além da tela ainda possui momentos memoráveis entre pessoas comuns e os atores que interpretaram os personagens. É emocionante ver um homem trans conversando e abraçando Carol Duarte, a intérprete de Ivan em A força do querer; a troca de figurinhas e experiências entre uma lésbica e Alinne Moraes, intérprete de Clara em Mulheres apaixonadas; e o bate papo entre Antonio Fagundes e Matheus Solano, intérpretes de César e Félix; ou um homem gay em um momento tocante com Matheus Solano, o intérprete de Félix em Amor à vida





Houveram vários momentos auges na produção, como os bastidores da cena polêmica entre Nathalia Thimberg e Fernanda Montenegro em Babilônia - como estava previsto para a cena ser construída, como foi e os impactos que gerou - com depoimentos de Gilberto Braga, Denis Carvalho e da própria Fernanda Montenegro; as implicações de interpretar o primeiro personagem gay da televisão, com Ary Fontoura; a cena censurada do beijo gay entre Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Eron Cordeiro) no último capítulo de América; e por aí vai.



Episódios

O início do orgulho na TV compreende os primeiros 30 anos da representatividade LGBTQIAPN+ na TV, do instante em que aparece o primeiro personagem até o período em que a pauta avança na teledramaturgia nos anos 90. Há uma correlação com o período que o Brasil vivia: ditadura, epidemia do HIV e censura. Um resgate de como essas temáticas impactaram as produções. 

Apenas um beijo engloba o instante em que os personagens LGBTQIAPN+ passam a ter histórias mais aprofundadas nas telenovelas. Há beijos, famílias, tramas, seja o primeiro beijo entre duas mulheres em Mulheres apaoxinadas, o beijo que não foi dado em América, o beijo entre dois homens em Amor à vida, famílias homoafetivas sendo retratadas com naturalidade, entre outros. Essas pautas promovem discussões na frente e atrás das telas. 

A TV é pra todes traça uma linha do tempo com um retrospecto da evolução da representação de personagens transgênero nas novela e encerra com a importância para dramaturgia. Questões de gênero foram abordadas nesse episódio, menos sobre com quem você se relaciona e mais sobre quem você é. Tabus e preconceitos foram rompidos desde Tieta, quando a atriz Rogéria interpretou Ninete, até os dias de hoje, com Nany People interpretando Marcos Paulo, em O sétimo Guardião. Carol Duarte e Silvero Pereira, na pele de Ivan e Nonato em A força do querer e Glamour Garcia, com a Britney de A dona do pedaço


Representatividade em tela


O especial trabalha a questão de até que ponto a dramaturgia representa as pessoas, as retrata e as homenageia. É fundamental ouvir a opinião dos telespectadores sobre os inúmeros personagens na telinha. Até que ponto foram memoráveis, levantaram discussões ou quebraram tabus e preconceitos. 

O papel da TV aberta não é o de ser apenas um reflexo da sociedade, mas também quebrar barreiras, ousar e enfrentar preconceitos, mesmo que isso implique em cancelamentos, boicotes, perda de audiência e/ou faturamento. 

A impressão do público sobre os inúmeros personagens LGBTQIAPN+ apresentados é de suma importância. O telespectador pode abraçar os personagens, se sentirem ou não representados por eles. É exatamente isso que a série também retrata: aceitação ou rejeição de tramas e novelas. 


Crítica

É realizada uma verdadeira viagem no tempo da história da representatividade LGBTQIAPN+ na telinha da Globo. É um verdadeiro acervo documental com muita história, representatividade, quebra de tabus, polêmicas e outras coisas. 

Os depoimentos são riquíssimos, seja de autores, produtores, atores e até mesmo do público. Há depoimentos surpreendentes, como o de Silvio de Abreu que diz que "foi obrigado a abortar o assunto [pauta LGBTQIAPN+]" em Torre de Babel; de Aguinaldo Silva, que diz que os seus personagens "pareciam ter um problema". A atriz Fernanda Montenegro também revelou sua indignação, ao dizer que "não se esperava que isso virasse um horror", sobre sua personagem lésbica em Babilônia

De 2020 para os tempos atuais, também houve alguns avanços, mas também retrocessos visíveis, como no caso da censura de Aruanas e Vai na fé. O fato é que o orgulho ainda está presente na emissora, por mais que alguns queiram boicotá-lo a todo custo. Recomendo que assista Orgulho além da tela. É um verdadeiro banho de história documental da representatividade LGBTQIAPN+ na tela da Globo! J-J



Por: Emerson Garcia

5 comentários :

  1. Parece uma excelente sugestão, com mistura de juventude e veterania na representação

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  2. Interessante. Acho importante este tipo de trabalho para a quebra dos preconceitos e da hipocrisia sobre o assunto.

    Beijo

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  3. Que legal!!!
    Não fazia ideia dessa série.

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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  4. Oie, que interessante. Não conhecia e vou gostar de conferir.

    Bjs

    Imersão Literária

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