Entre Frames #28 #universoFelipeSassi: Terremoto - Lia Clark feat. Gloria Groove

Hoje encerro o #universoFelipeSassi no blog. Passou rápido, não é mesmo?! Terremoto de Lia Clark em parceria com a Gloria Groove coroa essa sequência de clipes que se iniciou com Bumbum no ar. Tudo leva a crer que esse seja o fim da sequência, mas fãs aguardam ansiosos por um clipe que envolva Lia Clark, Wanessa Camargo, Gloria Groove e IZA. Terremoto, lançado em 9 de outubro de 2019, possui quase 5 milhões de visualizações, 169 mil curtidas e 5,8 mil descurtidas. O clipe foi dirigido e roteirizado por Felipe Sassi, com coreografia de Camila Muniz e edição de Felipe Sassi.

Terremoto mostra Lia Clark, Gloria Groove, Wanessa Camargo e IZA foragidas e procuradas pela polícia. Lia Clark é líder de um cartel na favela de São Pauloe se vê em apuros quando a polícia a encontra. Ela pede ajuda à IZA e Gloria Groove, até que o imprevisto acontece. 

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O clipe tem muita cor, ação e coreografia. Assista-o:

Agora, vamos às minhas considerações.


O jornal

Um jornal lido por Lia Clark logo no início retoma os clipes do #universoFelipeSassi (0:04). A notícia "Sistema de TV é hackeado" refere-se à YoYo; "Terremotos abalam o Brasil" ao clipe em questão; uma imagem com as fotos das quatro cantoras está na parte de Procuradas; e "Livro censurado pelo governo" foi uma menção honrosa à tentativa de censura da Bienal do Livro de 2019 do Rio de Janeiro, por serem livros LGBTQ+.

Essa atualidade e contemporaneidade da última notícia comentada, já é percebida desde Bumbum no ar quando foram apresentados recortes de jornais de falas e notícias de um mundo bastante conhecido.

Apesar de ser uma estória ficcional, Terremoto - como os demais clipes mencionados durante todas essas semanas - tem muito da realidade brasileira e discussões acaloradas sobre temas polêmicos, tais como: combate à ideia de família tradicional (YoYo), lgbtqfobia (Bumbum no ar); opressão e repressão ao diferente (Coisa Boa); machismo e homofobia (LOKO!). As discussões não são sutis, mas escancaradas e latentes. 

Com o final de Terremoto, Felipe noucateia todas as questões supracitadas e apresenta um mundo baseado na valorização do ser humano em sua essência, na aceitação das mais diferentes orientações sexuais e na distribuição gratuita do amor e respeito (Mais detalhes à frente). 

A dona do cartel

No clipe Lia é dona de um cartel, mas não de qualquer um. Lia comanda uma equipe que tem como missão a disseminação do amor e do respeito, principalmente com homofóbicos e machistas de plantão. 

Fato disso, é que caixas de papelão tem um símbolo de coração com anéis rosa e verde (O mesmo símbolo da tv hackeada em YoYo), assim como o dinheiro utilizado, o chamado Pink Money, na cor rosa e com o símbolo de coração (0:06). Em comentário no Twitter, o fabuloso Felipe Sassi explicou que esse é um símbolo de amor e resistência, como se fosse um planeta de amor e resistência. Enfim, o símbolo de todo esse esquema e desse clã envolvendo nossas protagonistas e seus parceiros. 

Dentro de cada caixa de papelão foram encaixotadas "mamadeiras de piroca" que foram, acredito eu, remetidas para machistas e homofóbicos de plantão (0:14). Talvez você se pergunte se isso não seria um insulto, ao invés da disseminação do amor e do respeito. Digo que não. Foi uma brincadeira com fundo de verdade.

Haja referência

Para variar, Terremoto é cheio de easter eggs e referências, a começar pelas notícias do jornal, como podemos ver. Após Lia ler o jornal, tem uma cena que ela conversa por Whatsapp com nada mais, nada menos, que Wanessa Camargo e ela pergunta se deu tudo certo no plano da amiga (0:26). Que plano é esse? O executado em LOKO!, como você viu na semana retrasada. Wanessa fala que "o plano está bombando" e manda vários emojis dos elementos do seu clipe, são eles: cobra, vampira, carne, homem e diabo.

Após os trabalhos acontecerem de vento em popa no cartel, Lia é encontrada por policiais. Ela então liga para Iza para salvá-la, ela diz o seguinte: "Oh, garota! Tu achou mermo que a GG ia te deixar na mão?! Calma, calma, doida. Que ela tá chegando" (1:31). Em menos de dois minutos, portanto, Felipe Sassi faz referência às quatro cantoras - as nossas vingadoras do pop.

Lia fica nervosa e foge pela favela, em um take emocionante de ação e aventura. Coisa de cinema mesmo. Ela então se depara com os policiais (1:50) e com sua amiga Gloria Groove com nada menos que um pé de cabra (1:53) (Seria o mesmo usado por ela em Coisa Boa e YoYo?). Lia é algemada pelos policiais e GG logo brada seu jargão "Gloria Groove" (Leia cantando). 

Ela está acompanhada com sua trupe, com o intuito de salvar Lia. Fazem parte desse grupo nada mais, nada menos que o carcereiro de Coisa Boa e a atriz Amanda Hayar, que participou de Bumbum no ar e YoYo. Em um comentário no Twitter Felipe disse que o carcereiro talvez tenha facilitado a fuga do presídio também (Tudo é possível). Já a atriz Amanda Hayar é quem exige a soltura de Lia com um rolo de massa ("SOLTA ELA!") (2:00).

Terremoto!

Os policiais olham para a trupe desconsertados (1:58). Gloria, então, começa seu rap (1:59). Os canas se desconcentram quando a trupe e GG começam a se remexer e requebrar os corpos (Mais detalhes à frente). É então que Lia aproveita a oportunidade e lambe sensualmente o molho de chaves de um dos policiais (2:09), puxando-o com sua boca (2:12) e se desprendendo das algemas (2:15). Gloria Groove começa a tremer a bunda (2:18) e os policiais ficam hipnotizados (2:19), até que acontece um terremoto (2:27). 

Vejo o terremoto como algo inesperado e que abala as estruturas, sejam elas sociais, de pensamentos ou opiniões. O terremoto tem a característica de mudar as coisas de lugar, e é o que acontece no clipe. Nele, tudo que era certo e correto cai por terra, dando vazão a novas perspectivas, um novo modo de vida.

Após o terremoto!

Logo que o desastre natural passa, Lia Clark e os dançarinos estão em uma rua da favela à noite (2:35). Livres, elas dançam e congratulam, pois ambas venceram. Elas não venceram apenas uma prisão, não. Elas venceram um sistema preconceituoso, demagógico inteiro. E isso é muito bom. 

Estética

O clipe possui cerca de três estéticas diferentes, que por sinal se casam com os tópicos falados até aqui. No primeiro ato, que vai de 0:00 à 1:18, a paleta de cores predominante compreende as cores vermelho e rosa. E explico o por quê. Lia Clark e os dançarinos "ornam" com a cor vermelha, uma vez que todos tem algum traje nessa cor. Até mesmo as caixas com o símbolo da tv hackeada combinaram com toda estética pois ele é na cor vermelha. Há muito pink money voando pelas intermediações do cartel e pozinhos rosas das "mamadeiras de pirocas".

Já no segundo ato, que vai de 1:18 a 2:34, a cor predominante é a rosa choque. Ela pode ser percebida na parede do barraco, peruca e na roupa de Lia. Essa paleta de cores combina também com o pink money. 

No ato final, 2:35 a 3:15, a cor predominante é a vermelha, pois Lia e Gloria vestem um look nessa tonalidade (Mais detalhes no próximo tópico).

Looks

Lia usa durante o clipe incríveis quatro looks, enquanto Gloria dois. Aquela usa uma roupa vermelha e cabelo liso vermelho, uma com detalhes brancos prateados e tranças com detalhes verdes, uma preta com detalhes rosa choque e um biquini vermelho com fogos e tranças; já essa usa um maiô estampado com correntes e peruca com tranças gigantes e uma roupa vermelha com peruca cacheada amarela. 

Assimetria, centralismo e profundidade

Logo no início do clipe (0:18) é possível perceber Lia Clark e os dançarinos em uma rua da favela de forma assimétrica, pois eles não estão centralizados na tela, mas alocados à direita. 

No frame seguinte (0:19) porém já há uma mudança na estética da câmera, pois Lia e os garotos aparecem centralizados. Havendo simetria entre os elementos. 

Por último, quero falar da profundidade que o Felipe Sassi proporcionou no clipe, como no momento do cartel em que há profundidade na cena e nos elementos e Lia aparece em último plano, de forma sutil (0:16). 

Câmera torta e câmera se aproxima

Um recurso que Felipe utilizou em LOKO! e que gosto muito é repetido em Terremoto. Trata-se da câmera torta por duas vezes (0:46 e 1:15) a câmera é inclinada para a direita, o que trouxe um tom mais artístico ao clipe. 

Falando em tom artístico, o recurso da aproximação de câmera - percebidos em Brisa - também foi utilizado aqui (0:40). 

Coreografia

A coreografia, como não poderia deixar de ser, é dançante e contagiante. Há muitas "remexidas de cadeira" na parte "Treme, treme, treme é o terremoto". Na parte instrumental também não economizaram na coreografia (0:58 - 1:15). A coreografia valoriza bastante as rabas das drags queens. 

Detalhes

O clipe é cheio de detalhes que não passaram desapercebidos por mim, são eles:

- Foco no colar da Lia: logo no início do clipe a câmera foca em um colar de ouro de Lia, com seu nome (0:29);

- Tenha modos, Lia: mesmo com apliques nas unhas, Lia dá dedos para a câmera, o que demonstra uma transgressão ao sistema (0:33);

- CD's piratas: também no início do clipe aparecem cd's piratas (Seria um incentivo à pirataria?) escritos "Lia Clark - Live in Rio" (0:34); 

- Bate no bumbum: uma mulher "bate" na raba de Lia ao mesmo tempo que notas de pink money voam por toda a cena (0:51); 

- Sons: o clipe é cheio de gestos que emitem, ou não sons. Por exemplo, Lia faz sinais com a mão no mesmo momento em que há sinais sonoros no clipe (0:56) e GG estala os dedos perto do final do clipe (2:45). Por fim, o clipe é finalizado com um som de laser (3:15); e 

- Carimbada: mulher carimba uma caixa com o símbolo do coração (1:17). 

Seria esse o fim do #universoFelipeSassi?

Tudo leva a crer que Terremoto tenha sido o desfecho dessa estória traçada por Felipe Sassi, mas tomara que não seja e que tenha um clipe final com as quatro cantoras cantando e encenando. Esse clipe seria Rebola, de IZA com feat. de Gloria Groove e Carlinhos Brown (?) mas não tenho a confirmação disso. Rebola seria um encontro de GG com IZA. Enfim, os fãs esperam por esse desfecho feito pelas mãos talentosas de Felipe Sassi. Aguardar pra ver.

Obs. 1: Se esse #universoFelipeSassi não tiver continuidade, aguardo outro - um popverso divertido, cinematográfico e cheio de easter eggs e referências. 

Obs. 2: Não posso deixar de mencionar que o #universoFelipeSassi só foi possível por conta do trabalho do produtor Russel, responsável por todas as músicas e também da direção fabulosa de Felipe Sassi. 

Letra

A letra é chiclete e tem a palavra "treme, treme" repetida à exaustão. Comentarei alguns trechos a seguir:

"Hoje tem zuera, vam'bora

Tô pouco me fu-woo-woo

Pra hora

Vamo' quebra tudo agora

Segura o copo, é o terremoto"

O trecho fala que o frevo vai acontecer e que a Lia está pouco se fu&%#@! com o horário. Ou seja, não há uma preocupação com a hora.

"Nós pode não ser meteoro

Mas cê pode pá

A maloqueira e a caiçara

Viram popstar

Um terremoto forte

Sacudindo a pista

Magnitude 10 na Escala Richter"

O trecho faz uma comparação com os desastres naturais. Ao final do trecho, fala que o terremoto de tremer a bunda tem uma magnitude imensa na Escala Richter. Quem sobrevive ao balançar de rabas de Lia Clark e Gloria Groove?!

Um tsunami, pode se afogar na minha

Me destacando mais do que o Tufão, Carminha

Tu pode me chamar de furacão Katrina

O tipo de garota que arrasta e empina

As frases fazem referência aos personagens de Avenida Brasil, além de criar rimas aos finais de cada frase. 

Música

A música tem uma pegada meio de favela e vários barulhinhos. Ela lembra bastante Coisa Boa, devido a batida frenética que não para por um segundo. 

Interligar videoclipes

A prática de videoclipes com histórias muito elaboradas, arcos narrativos e continuações, nunca foi muito usual aqui no Brasil, mas Sassi está popularizando essa prática, permitindo que o público se empolgue e prestigie os lançamentos de videoclipes dos artistas brasileiros. A produção desses videoclipes contribuíram para o surgimento de uma nova forma de se pensar ao produzir este conteúdos no país. O que é louvável. 

Essa foi a análise de Terremoto. Com ele, encerramos essa sequência de seis clipes do #universoFelipeSassi. Seguimos com a programação normal. J-J

Por: Emerson Garcia