sexta-feira, 26 de junho de 2020

Designação de crianças transgêneros



As crianças transgêneros existem, por mais que o assunto possa parecer polêmico. Em determinado momento da vida, elas se percebem de um gênero diferente do que recebeu desde seu nascimento. Daí a necessidade dessa criança ter o acompanhamento familiar e médico desde cedo, de forma que ela tenha suporte para a mudança do nome social e no processo de transição.

De acordo com o psiquiatra do Nationwide Children's Hospital em Ohio, nos Estados Unidos, Scott Leibowitz, a criança, por volta dos 2 anos de idade, já tem conhecimento do que existe o feminino e o masculino e algumas percebem que seu comportamento não condiz com o que o corpo indica. De acordo com o psiquiatra por volta dos 6 ou 7 anos a desconformidade entre o sexo biológico (aparência física) e identidade de gênero (o que a pessoa vê que é) fica mais evidente. 

As crianças transgêneros passam pelo que é chamado de disforia de gênero, um "desconforto ou sofrimento causado por uma discrepância entre a identidade de gênero de uma pessoa e seu sexo atribuído no nascimento". Essa discrepância deve ser acompanhada por profissionais médicos, além de ter um apoio da família. O que é chamado de atendimento multidisciplinar, que envolve psiquiatras, psicólogos e a família.

O processo de designação de crianças transgêneros não é tarefa fácil, pois há tabus, preconceitos, desconhecimentos, entre outros fatores, mas ele deve acontecer. Já o processo de redesignação sexual (mudança cirúrgica do sexo biológico) acontece mais tarde. De acordo com artigos, a mudança cirúrgica só pode ocorrer aos 21 anos, enquanto a reposição hormonal aos 16 anos. 

O post de hoje, portanto, é focado nas crianças transgêneros até os 15 anos. Falarei de sexualidade e gênerodescoberta e aceitação; como lidar com crianças transgêneros?; acompanhamento profissional e familiar; polêmicas e preconceitos; políticajustiça e direitos. Os tópicos serão desenvolvidos baseados em artigos e matérias de casos reais. 


Sexualidade e gênero






























A transexualidade tem a ver com a identidade de gênero. Existem três tipos de identidade de gênero: cisgênero, fluido e transgênero, e nenhum deles tem a ver com orientação sexual. Como representado na imagem acima produzida pelo G1 a identidade de gênero está ligado à mente/cérebro. Assim, a transexualidade é a pessoa que não se identifica com o gênero atribuído. Ou seja, um homem com a genitália masculina (pênis) que pensa e tem a mentalidade feminina; ou uma mulher com a genitália feminina (vagina) que pensa e tem a mentalidade masculina. 

De acordo com pesquisa divulgada no G1 as crianças transgêneros se sentem tão meninas ou meninos que as cisgêneros. Isso porque as cisgêneros se reconhecem com o seu gênero. O mesmo ocorre com as transgêneros, elas se reconhecem com o seu gênero, apesar do seu gênero biológico. 

Foi observado nessa pesquisa os brinquedos que as crianças preferiam, quem eram seus principais companheiros de brincadeira e se suas roupas eram mais femininas ou masculinas. Os estudiosos perceberam uma forte consistência entre as crianças. Foi constatado que as crianças transgêneros mostram preferências de identidade e tipo de gênero consistentes, assim como as crianças cisgêneros. 


Descoberta e aceitação




Os padrões de comportamento masculino e feminino são percebidos pela criança desde seus primeiros anos de vida. Ela percebe como a mãe e o pai se comportam e entende o que é homem e mulher e o que se espera de ambos. Pode acontecer da criança se identificar com o gênero oposto ao que nasceu. Um forte indício quando isso ocorre é a atração pelas coisas culturalmente associadas a ele. Mas isso não quer dizer que a criança será transexual. Por exemplo, uma menina que gosta de brincar com carrinhos e não se interessa por bonecas, não tem disforia de gênero. A psicóloga especialista em questões de sexualidade e gênero disse o seguinte:


“O ser humano é muito complexo. A criança pode se interessar por coisas ditas do outro sexo e isso não é ruim e nem quer dizer que ela é trans. Há graus de masculinidade ou feminilidade e isso tudo deve ser explicado desde cedo, para que ela não se sinta mal por ser diferente.”

A descoberta da criança pode acontecer por conta da insistência dela de dizer que não é menino ou menina e seus interesses sobre o assunto. É necessário portanto que os pais percebam os comportamentos de seus filhos, prestando toda atenção possível. A criança deve autoaceitar e ter a aceitação das pessoas que a rodeiam.

Um documento da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) destacou indícios aos quais os pais e pediatras podem estar atentos, como o desejo da criança em se vestir com trajes do sexo oposto e o sofrimento dela em relação ao sexo biológico, que pode agravar conforme seu crescimento. O documento ainda salienta que se o pequeno não se sentir à vontade no próprio corpo, fica mais claro no período em que a sua identidade já está formada. A criança, se não estiver designada ao seu gênero correto, pode apresentar ansiedade, insônia ou depressão.  

Por isso é importanto esse apoio à criança transgênero, para que lá na frente - aos 16 anos - ela possa optar pela terapia hormonal, e aos 18 anos pela redesignação de gênero, com a cirurgia da mudança do sexo biológico. 

Uma reportagem publicada pelo Correio Braziliense conta a história de Maria Eduarda, de 13 anos. Nascida como João Victor, a mãe percebeu que a filha chorava ao usar roupas masculinas e não gostava do próprio nome e que ela se aproximava mais de tudo relacionando ao universo feminino. Certo dia, quando Duda tinha entre 9 e 10 anos, viu uma personagem trans em uma novela e disse "Eu acho que é isso que eu sou mamãe". Depois disso, a família passou a compreender a filha, se informar e iniciar o precesso para que ele fosse aceita pela sociedade. 

Em reportagem também publicada no Correio Braziliense intitulada O que pais precisam saber sobre transexualidade? a psicóloga Ingrid Quintão disse que é importante que os pais escutem seus filhos e percebam seus comportamentos (com grifos):


"O que chama a atenção para a transgeneridade é o sofrimento da criança com o gênero de nascimento. Muitas traduzem o sofrimento em tentativas de automutilações, se escondem para não aparecerem em público caracterizados de acordo com o gênero de nascimento, crescem odiando o corpo. Logo, existem indícios que vão se confirmando ao longo do tempo, que, quando são compreendidos pelos adultos, trazem menos desconforto para as crianças."



Como lidar com crianças transgêneros?








Ter uma criança transgênero pode causar estranhamento em um primeiro momento, mas não é um bicho de sete cabeças. Como falei, é necessário que haja um apoio e observação da família em como a criança age; como ela se sente em brincar com determinado brinquedo e não com outro; que sentimentos existem ao ser chamada pelo seu nome entre outros. Isso tem que ser feito de forma tranquila.

Os pais devem observar os comportamentos do pequeno e não tentar corrigí-los ou impor outro tipo de comportamento, pois isso será prejudicial à ele. O ideal é se esquivar de estereótipos e pensamentos, como: "Mas você é menino, tem que se vestir dessa forma";  ou "Você é menina, não pode brincar de carrinho". É ideal deixar a criança livre e à vontade, da forma que ela se sente. Os pais e familiares agindo dessa forma, evitarão problemas no futuro.

Após essa observação é necessário um acompanhamento psiquiátrico e psicológico com a criança. Recomenda-se que ela faça sessões periódicas com esses profissionais, pois eles podem ajudá-la da forma correta. Quando ela chegar na puberdade, tendo certeza de sua decisão pode, ou não, optar pela hormonização, até que se tenha certeza de qual caminho seguir, se a criança passará pelo processo de redesignação ou não. 


Acompanhamento profissional e processo de transição

O acompanhamento psiquiátrico e psicológico deve ser constante e sempre com o consentimento dos pais. É necessário conversa e entendimento profissional do que a criança passa. Para o psicólogo Alexandre é preciso acompanhar a criança, mas sem ser invasivo:


“É importante acompanhar e estimular que a criança revele o que se passa dentro dela, mas não podemos ir na frente da criança e definir se ela é cis, trans, homo ou heterossexual.”


Com o decorrer das consultas, os pais da criança podem optar por injeções que bloqueiam os hormônios durante a puberdade, até ela atingir a idade adulta (21 anos) e optar pela cirurgia de mudança de sexo.

Os atendimentos são baseados em projetos de pesquisas e oferecem um leque de especialidades, que variam de psiquiatria, psicologia, endocrinologia, pediatria generalista, fonoaudiologia, enfermagem e serviço social.  

Entre as vantagens do processo de transição iniciado na pré-adolescência, está o fato de que o bloqueio hormonal pode ser revertido e não causar danos ao desenvolvimento da criança. 

Quando a criança é designada para seu gênero correto - quando necessário - ela tem mais segurança, maturidade, melhoria em sua saúde mental e autoaceitação. A criança acaba descobrindo que não é errado ser transexual.  

O processo de transição só ganha corpo após o acompanhamento profissional contínuo. Ele deve ser realizado com cuidado. Ele envolve a mudança de pronome e nome da criança, de roupas, corte de cabelo, entre outros. 


Aparência

A primeira mudança em uma criança trans, depois da aceitação dos pais e de acompanhamento médico, é em sua aparência. Meninas trans passam a deixar seus cabelos longos e usar roupas femininas e se comportar com o gênero que se identifica. 

O termo que se usa para isso é passabilidade, ou seja, "passar-se por". A respeito da transexualidade, a criança trans "passa por" o gênero que se identifica e, mais que isso, ela se aparenta e é o gênero que se identifica. Esse termo pode gerar polêmica, pois muitos acreditam que a criança trans quer "passar por" cisgênero, quando na verdade ela quer ser reconhecida apenas como criança trans, apesar de suas dificuldades e preconceitos que isso pode oferecer. 


Polêmicas e preconceitos

A polêmica principal a respeito das crianças trans é advinda dos críticos à ideologia de gênero, pois eles acreditam que se a criança nasceu homem é homem e se nasceu mulher é mulher, não existindo meios termos. Contudo, não podemos fechar nossos olhos e dizer que as crianças trans não existem, pois elas existem.

O primeiro preconceito que uma criança trans passa é em sua família, quando muitos pais acreditam que a ela é homossexual - gay ou lésbica, sem ter o conhecimento profundo de que trata-se de transexualidade. 

O segundo é na escola e na sociedade, quando muitas dessas crianças sofrem bullying por serem como são. É necessário, portanto, um trabalho nas escolas, para que essas crianças se sintam aceitas e pertencentes ao grupo. A explicação da transexualidade deve ser clara, pois é melhor explicar do que esconder a verdade. Tem que explicar de forma doce, lúdica e clara.

De forma geral, as crianças trans são aceitas em casa. Há um conforto e apoio muito forte. Muitos compreendem que uma menina trans nasceu menina, mas no corpo de menino. Essa explicação deve ser levada para os outros espaços também.  


Religião

A religião deve ter um papel fundamental na aceitação da criança trans, afinal Deus a fez da forma que é, sem defeitos. Além do mais, Deus é amor e aceita as pessoas do jeito que são. 

Contudo, não é bem assim que as coisas funcionam. Atualmente a religião é o principal argumento daqueles que não aceitam coisas como orientação sexual diferente de hétero e identidade de gênero diferente daquela atribuída ao indivíduo ao nascer.

Com isso, faz-se necessário alguma lei, argumento ou resolução que a criança, a partir de uma certa idade, não dependa da autorização dos pais para assumir a sua identidade, assim como protegê-las de possíveis represálias por parte dos pais conservadores.


Política, justiça e direitos




No âmbito político é necessário que haja leis e um amparo às crianças transgêneros. Hoje em dia já existem leis que autorizam a mudança do nome social de crianças transgêneros em registros, certificados de batismos e até mesmo na chamada da escola. Ter seu nome mudado e documentos alterados é uma grande vitória para a criança trans. 

No entanto, ainda é necessário que isso continue a avançar, protegendo esses indivíduos de situações que possam ser um agravo a saúde, como por exemplo, ter lidar com o preconceito dos pais e da sociedade principalmente, que pode ser tão impactante ao psicológico da pessoa que pode levá-la a cometer suicídio. 

Ainda, também é necessário que as pessoas trans sejam amparadas de outras formas, vistas que a sociedade enxerga com maus olhos essa parcela da população, o que faz com que elas sejam marginalizadas.Com isso, o avanço, embora seja grande, ainda precisa ir  além, garantindo oportunidades de qualidades de vida para as crianças trans.


Conclusão

A criança trans deve ter seus direitos resguardados e deve ser protegida pela família e pela sociedade. É necessário que haja um acompanhamento psicológico e psiquiátrico, até que ela possa tomar decisões mais acertadas. 

Esse foi o post de hoje! Até amanhã. J-J



Por: Emerson Garcia
Ilustração: Milena A. Soares

8 comentários :

  1. Um assunto muito delicado de discutir. Gostei muito de ler este texto. Muito mesmo...
    .
    Um dia feliz
    Cumprimentos poéticos

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  2. Como sempre tratando assuntos delicados com muito carinho.

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

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    Respostas
    1. É verdade, Juliana. Tomei o máximo de cuidado para falar desses e de outros temas.

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  3. Um assunto muito interessante e delicado.
    Gostei de ler o texto.
    Bjs

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  4. Adorei a postagem e achei super informativa. Muitas coisas não sabia.

    https://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  5. Amei a forma como abordou o assunto. Não deve ser nada fácil para essas crianças qdo as pessoas que + deviam apoia-las, ou seja, os pais, não as aceitam.

    Beijos/Kisses.

    Anete Oliveira
    Blog Coisitas e Coisinhas
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    Respostas
    1. Grato, Anete. Tentei ser o mais sensível e verdadeiro possível.

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  6. Olá, Emerson.
    Excelente postagem. Esse é um assunto que ainda assusta e as vezes o preconceito vem até disso, de não saber lidar com a situação.

    Prefácio

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