Depois de um longo recesso estamos de volta com o quadro Entre Frames aqui no JOVEM JORNALISTA. Hoje analiso o clipe Lalá, de Karol Conka, por sugestão de uma leitora do blog. Lalá possui quase 8 milhões e 500 mil visualizações, 340 mil curtidas e 21 mil descurtidas. O clipe foi produzido pela Paranoid, dirigido por Vera Egito e Camila Cornelsen, com direção de arte de Gabriela Vanzetta e fotografia de Camila Cornelsen.
O clipe é um ode à prática de sexo oral feminino. Karol o realizou com o intuito de informar a população da necessidade da prática e da técnica do sexo oral na mulher. Derrubando todos os tabus, realizando analogias e criando um produto sem filtros e/ou restrições, a cantora choca não por conta do tema retratado, mas por apresentá-lo de forma verdadeira e intensa. Assista-o:
Vamos a análise do clipe por partes agora.
Show de cor
Assim como o clipe Xanalá, Lalá possui uma paleta de cores - em sua maior parte - em rosa. Seus tons principais, portanto, são rosa, rosa choque, rosa bebê e lilás. A artista foi sagaz na escolha das cores pois os lábios vaginais e o clítoris possuem essas colorações.
O clipe tem uma predominância de rosa, como em um frame em que há vários tons de rosa e colagens da cantora e flores (1:15). Aparecem flores, brincos de unicórnio e cabelo em rosa, rosa choque e rosa bebê. A cor também é predominante na língua da cantora, um tanto rosa e com lantejoulas rosa choque (1:14).
Com isso, o clipe é plural, pois retrata as cores dos lábios vaginais e clítoris tanto de mulheres brancas, como de morenas.
Contraste
Há contrastes interessantes entre rosa choque e preto (0:30-0:31).
Analogias à vaginas
O clipe é riquíssimo por fazer várias analogias à vagina e seu formato. E qual é o formato do órgão sexual feminino? Como se fosse um lábio na vertical. Com isso, vários objetos o representam sem precisar, de fato, ter uma vagina real (Como aconteceu no clipe Eu escolhi você, de Clarice Falcão, em que aparecem vaginas, nádegas e pênis sem filtros).
Várias coisas do cotidiano tem o formato de vagina e aparecem no clipe, como flores, mamão e laranja. Resolvi falar sobre cada uma delas agora:
flores: as flores tem pétalas e uma cavidade. Podemos fazer uma analogia com a vagina: as pétalas são suas cavidades e superfícies - lábios. Além disso, das flores saem perfumes e néctares, assim como da vagina exalam perfumes misturados com o cheiro da pele e do orgasmo. É comum cheirarmos as flores. O mesmo pode ser feito com a vagina. A cantora chega a simular abrir uma vagina, representada por uma flor com várias camadas (1:40-1:41).
mamão: a própria forma do mamão é de uma vagina. Assim como o órgão feminino possui cavidades, o mamão também. Ao manipular a fruta é possível que o dedo atravesse sua superfície e deixe uma espécie de líquido laranja nas mãos.
laranja: a fruta tem cavidades e superfícies. Normalmente se chupa a fruta, assim como o órgão sexual feminino.
Qual é o sinal?
O sinal e os gestos com as mãos para representar uma vagina é universal e amplarmente conhecido. Há vários gestos sexuais que representam o órgão. Karol chega a fazer o sinal da vagina (0:52 e 2:04) por duas vezes.
Vagina protegida
A vagina é tratada como um objeto de grande valor, porém frágil. Isso é demonstrado quando a cantora segura a pélvis em sinal de proteção (0:21).
A chegada de Karol
O clipe inicia com uma introdução lenta e gradual. A cantora chega de mansinho no vídeo, mas causando. Ela veste um casaco colorido e possui o tradicional cabelo rosa (0:00 - 0:13). O cabelo rosa combina bastante com a paleta do clipe já falada.
O sexo oral
O principal assunto do clipe é o sexo oral feminino. E ele aparece de forma clara e educativa. Só não capta a mensagem e não aprende quem não quer!
Logo nos frames iniciais Karol coloca a língua nos lábios superiores, simulando sexo oral (0:14). Ela faz isso com sensualidade e delicadeza, ao mesmo tempo. Ou seja, sem ser vulgar.
A língua é um dos recursos mais utilizados no clipe. É por meio dela que a cantora faz sexo oral em uma flor amarela (0:19-0:20); e um homem lambe um copo de leite (0:24). A língua é um órgão pequeno mas cheio de terminações nervosas que promovem prazer nos órgãos sexuais. Sabendo utilizá-la pode satisfazer uma mulher.
Semiexplicitamente, há simulações de sexo oral feminino (1:30-1:35), quando há vários homens ajoelhados em frente à uma mulher. Em certo momento, ela chega a demonstrar prazer com sua mão e o homem, por sua vez, se diverte com a situação (1:06).
Mas não só de sexo oral feminino o clipe é feito, em 1:37 há uma simulação de sexo oral masculino, o que varia um pouco o assunto do vídeo.
O prazer em forma de orgasmo
Durante ou após o sexo oral, se ele for bem feito, tem que ter o momento de prazer e satisfação, e o clipe também retrata isso. O primeiro frame do clipe é de uma flor que escorrega um caldo (0:00). E o que seria esse caldo?! O gozo feminino, o verdadeiro néctar dos deuses. Ele também aparece em outros momentos, quando homens aparecem com as bocas lambuzadas com mel e leite (2:41).
Satisfazer uma mulher não é tarefa fácil. Primeiro, por que muitos homens sequer se atrevem a fazer sexo oral em suas parceiras (Mas claro que aceitam que façam neles). Segundo, por que muitos não sabem como fazê-lo. E terceiro, por que muitos não sabem como satisfazer uma mulher e levá-la ao orgasmo. Se analisarmos direitinho, é sobre essas três questões que Karol trata na letra e clipe.
Deixar "prostada e com a cara de satisfação", é o que a maioria das mulheres desejam. O frame de Karol aos 2:34 retrata exatamente isso. Até o momento em que ela chega ao seu orgasmo (2:42) e o limpa com sua boca (2:46).
Quando uma mulher não é satisfeita por seus parceiros, ela mesma pode satisfazer-se. Esse momento é retratado quando uma mulher simula uma "siririca" (0:53-0:54) - masturbação feminina. Isso demonstra o empoderamento e a autosuficiência femininos. Quem disse que para ter prazer é preciso do outro?! Karol Conká sempre pregou o feminismo, e não seria diferente nesse clipe, apesar que o foco seja o sexo oral feminino.
O aspecto visual
Lalá pode ter uma história simples, mas o visual e a edição merecem especial atenção. O modo como os frames são feitos é mágico, e deve-se às várias transições, montagens, sobreposições e efeitos. Há sobreposições de retângulos e quadrados (0:19), montagens (2:30-2:40) e até mesmo uma flor rosa faz a transição para o próximo ambiente.
A tela também é divida em três imagens, como a de Karol no meio e dois homens que cheiram flores à direita e à esquerda (0:23), e quando é dividida em três imagens horizontais (0:28).
É um trabalho de técnica e edição mesmo, com boas horas no Movie Maker, por exemplo, para colocar homens de diferentes estilos em montagens e com a Karol atrás (2:13); homens com línguas de gatos e outros.
Ambiente bucólico
O clipe conta também com ambientações bucólicas, com flores e em tons mais amenos (1:42). Tais ambientes trazem certo conforto e delicadeza ao clipe, apesar do tema "forte". Há também frames com o ambiente à meia luz, trazendo mais sensualidade à produção.
Karol é conhecida por suas letras empoderadas e que dão verdadeiros tapas em nossas caras. Lalá não poderia ser diferente. Destaco algumas das frases ditas, bem como em que circunstâncias e agregadas com que imagens.
- "Mal sabe a diferença de um clitóris para um ovário": será que os homens sabem distinguir o que é um clitóris e um ovário?! Fica a pergunta no ar. No clipe Karol faz analogias para ajudar os desentendidos de plantão. O clitóris é representado por um mamão e o ovário por duas flores (0:38).
- "Dedilham ao contrário": Karol critica os homens que não sabem masturbar uma mulher corretamente, e muito menos diferenciar lábios maiores e menores. Nesse trecho aparece uma mão masculina mexendo na cavidade de uma fruta (0:40). Será que ele dedilhou corretamente?!
- "Enquanto eu queimo uma sativa": nessa frase Karol fuma uma maconha (Canabis SATIVA) de fumaça rosa (1:12-1:13). No Brasil a droga, apesar de ser terapêutica, ainda não foi liberada para uso recreativo, mas sabe-se que seus usuários se sentem leves e descontraídos ao utilizarem.
- "Curvem-se, encostem o lábio na flor": aqui não precisa de explicação, pois no início do texto falei da metáfora da flor (2:13). O que posso acrescentar é que Karol endeusa a vagina, de modo a falar para os homens se curvarem à ela. Esse "se curvar" também refere-se à posição que os homens ficam ao fazerem sexo oral nas mulheres.
- "Habilidade na lambida": Karol "se anima" quando vê que um homem tem essa habilidade. Nessa parte aparece a montagem de um homem com a boca de um gato lambendo (2:22).
Xanalá vs. Lalá
Ambos os clipes falam da vagina, mas com algumas diferenças. Enquanto Xanalá fala de todas as funções e ferramentas da vagina, Lalá se atém a refletir somente sobre o sexo oral. Que tal relembrar o clipe de Xanalá agora e perceber essas diferenças?!
Uma equipe 100% feminina
No clipe Karol fez questão de trabalhar com uma equipe só de mulheres. Confira a ficha técnica completa:
Direção: Vera Egito e Camila Cornelsen
Direção de arte: Gabriela Vanzetta
Direção de fotografia: Camila Cornelsen
1 AC: Marcela Paschoal
2 AC: Giovanna Giordano
Logger: Milena Seta
Stylist: Anna Boogie
Make up / hair: Liege Wisniewski
Produção Executiva: Fernanda Geraldini
Direção de Produção: Camila Justino
Assistente de produção: Sofia Aquino
Coordenação de finalização: Camila Doimo
Montagem: Sabrina Wilkins
Correção de cor: Samantha do Amaral (DOT)
Composição de imagem: Vanessa Aki
Tipografia: Cyla Costa
Intervenção artística: Lud Lower - My Boy Toys
O resultado
O resultado é um clipe sensual, sem ser vulgar, ao mesmo tempo que é doce, divertido, informativo e criativo.
Letra
Como já adiantado, a letra é forte e crítica. Além dos trechos já mencionados, destaco outros, com os devidos comentários.
"Ele disse por aí que era o tal
Pega geral e apavora
Seduzi pra conferir
E percebi que era da boca pra fora"
Muitos homens se gabam sobre suas habilidades sexuais, mas as mulheres estão aí para falar a verdade.
"Pouco importa pra ele se você também tá satisfeita"
Karol critica os homens que pensam só no seu prazer próprio e não satisfazem as mulheres. Muitos homens só querem gozar, pronto e acabou, mas sem se importar com as parceiras.
"O que me anima é a habilidade na lambida
Malícia, muita saliva enquanto eu queimo uma sativa"
A cantora faz rimas entre LAMBIDA, SALIVA e SATIVA, explicando o que seria um sexo oral feminino maravilhoso.
"Isso daqui não tá de enfeite"
Ela explica que a vagina e seus órgãos não são apenas um "pedaço de carne", mas que cada detalhezinho tem uma função, culminando no prazer feminino.
"Curvem-se, encostem os lábios na flor
Quebra esse tabu, isso não é nenhum favor"
A cantora implora que se quebre esse tabu que mulher não pode ser satisfeita sexualmente, nem ter um orgasmo.
Música
A música tem um ritmo envolvente e demonstra sensualidade.
Esse foi o Entre Frames de hoje. Gostaram?! J-J
Por: Emerson Garcia
Não conheço a música em questão. Boas observações feitas acerca do clipe.
ResponderExcluirCores do Vício
Ótima análise do clipe musical. Como sempre arrebentando em sua maneira única de enxergar o que poucos conseguem. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Po, que bacana essa puta analise, gostei. Agora que estou com um blog de música, também quero pedir hahaha
ResponderExcluirhttps://ordomeafavour.blogspot.com/?m=1
Sempre de olho em todos os pormenores JJ!!
ResponderExcluirxoxo
marisasclosetblog.com
Oi amigo, e aí tudo bem contigo?
ResponderExcluirDepois de um tempo ausente, tô de volta!
E quero te ver novamente por lá. Até!
Obs: Estou em um novo endereço, mundoalternativo! ;)
Oi Emerson, tudo bem?
ResponderExcluirNão curto o estilo musical, mas curti o fato dela ter abordado um tema que pra muitos é tabu.
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas