O racismo, preconceito e, principalmente, a falta de respeito ainda são visíveis na sociedade brasileira e brasiliense. Dois episódios recentes me levaram à esta reflexão. O primeiro, quando modelos foram comparadas à escravas em um desfile aqui no Distrito Federal; o segundo, quando uma chamada de jornal online reforçou o estereótipo 'negão' em uma matéria.
Não adianta negar. Não adianta fechar os olhos. Essas questões ainda estão bastante presentes em nossa sociedade. Muitos ainda não tem a noção que o racismo é crime, mata e machuca.
Nesse post quero discutir os dois episódios apresentados no primeiro parágrafo, além de refletir sobre educação e respeito, pois estes cabem em todo lugar.
Modelos são comparadas à escravas
Em um concurso da TOP Cufa DF 2018 no JK Shopping (Distrito Federal) no último dia 13 modelos negras foram comparadas à escravas por um grupo de jovens ofensores no Whatsapp.
Achei esse fato de uma sordidez imensa. As jovens foram motivo de chacota e riso. Pouco se ligou para sua beleza e seus outros atributos. O que foi levado em consideração foi (E apenas!) a cor de suas peles. Quando somos reduzidos à cor de pele temos um sério problema, pois há uma objetificação e estigmatização, além de reforços de estereótipos, preconceito e racismo.
Um dos jovens chega a brincar com o nome do desfile e o chama de "Black Moda Week". Me pergunto qual o problema de um evento somente com negras? Quer dizer que se fosse com brancas de olhos azuis não haveria problema? É nessas horas que percebo como a supremacia branca ainda é visível na sociedade brasileira e brasiliense.
Uma supremacia que não mede o que se fala, que faz brincadeira com tudo e que trata o próximo apenas como objeto. Entre as brincadeiras está à de uma foto com escravos enfileirados com bacias na cabeça e uma imagem preta.
Que bom que esses jovens responderão por esse crime. De acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) eles serão ouvidos em depoimento por praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em função de raça ou cor.
Veja como foi a reação de um policial ao receber os prints acima (E outros também!), com grifos:
"À noite, recebi esses prints do grupo de uma das modelos. Tomei um susto”.
Susto é pouco. O que senti ao ver esses prints foi ojeriza e daí para cima.
Nota de repúdio
O próprio evento se manifestou sobre o episódio. Leia:
Destaco os seguintes trechos (com grifos):
"A organização preocupa-se ainda com o crescimento de casos de racismo relatados em todo o nosso país. Uma das características do concurso é o recorte territorial, no qual apenas mulheres da periferia podem concorrer, as ofensas em questão foram direcionadas às candidatas negras que participavam da seleção. Todas as medidas cabíveis para a punição dos responsáveis junto a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual, ou Contra Pessoa com Deficiência – DECRIN, já foram tomadas."
"É importante lembrar que racismo, no Brasil, é crime inafiançável previsto na lei, com pena de até três anos."
Achei a postura da organização sensata e correta.
Ator é estigmatizado por sua cor
No dia 30 de junho, uma matéria publicada pela Notícias da TV apresentava o ator Dan Ferreira apenas como um 'negão'. Atores da novela Segundo Sol e internautas se manifestaram contra a notícia e a classificaram como racista e estereotipada. O ator publicou um texto em seu Instagram:
Destaco os seguintes trechos (com grifos):
"Ei! Notícias da TV, Eu não sou seu negro! Precisamos falar sobre objetificação de corpos negros."
"É muito difícil ver essa parcela da impressa do nosso país que, ainda se permite escrever e publicar esse tipo de manchete, que reproduz e reforça estigmas preconceituosos, reduzindo e hiper sexualizando os nossos corpos com uma escrita viciada em troca de cliques."
O intérprete de Acácio toca em pontos importantes: como a objetificação do corpo negro e a hiper sexualização. Uma pessoa negra não pode ser reduzida apenas à cor de sua pele ou ao seu corpo. Não levou-se em consideração o talento do rapaz e sua atuação. Apenas que ele era um 'negão'.
Polêmicas
Claro que as polêmicas sobre esse fato surgiram. O autor da matéria, Daniel Castro, disse que é a própria Globo quem cria estereótipos e estigmas. Segundo ele, ninguém chegou a refletir que o racismo pode vir do próprio roteiro de João Emanuel Carneiro. Até mesmo o ator Emílio Dantas entrou na discussão. Veja os prints abaixo:
Ressalto os seguintes pontos:
1- Negros no núcleo central
Realmente concordo com o Daniel quando ele fala da falta de negros no núcleo central de Segundo Sol, como falei no texto Chip do embranquecimento: quando a mídia busca atores brancos ou negros tendo em vista o sucesso, mas isto não pode ser um subterfúgio para reafirmar estereótipos em uma matéria.
2- Polêmica ou racismo?
Concordo com o ator Emílio Dantas quando ele diz que o que há de verdade no episódio é racismo, ao contrário do jornalista que disse que "não há polêmica". O racismo sempre será racismo aqui ou em qualquer parte do planeta Terra.
3- Objetificação
Daniel fala da objetificação de negros que ficam de cueca em rede nacional. Sim, de fato há essa objetificação, mas o jornalista mesclou a vida pessoal com a profissional do ator. Um personagem jamais pode ser confudido com um ator. Já vi casos de pessoas que xingaram ou agrediram (verbal ou fisicamente) atores por conta de seus papéis na TV. Deve-se ter o máximo de cuidado com isso.
4- Papel de negão
Daniel falou certo: 'é um papel', e não uma verdade de vida ou a realidade. O intérprete de Acácio levou as dores porque foi tratado apenas como um mero objeto com uma cor, quando na verdade o jornalista deveria deixar claro que tratava-se de seu personagem.
5- A culpa é do roteiro?
A culpa pode ser do roteiro, do autor, da mídia. Existem vários culpados para estereotipar e coisificar as pessoas na tela, mas isso não pode ser a justificativa para reafirmar esses estereótipos de forma alguma.
Respeito cabe em todo lugar
Ainda sonho com uma sociedade onde o respeito seja a moeda de troca e não as ofensas gratuitas e sem fundamentos.
E você, acredita que ainda há racismo em nossa sociedade? Acredita que o respeito cabe em todo lugar? Digam tudo nos comentários! J-J
Por: Emerson Garcia
Nossa pesada, eu não vejo Tv não sabia nada do que estava rolando. Acho que é o sonho de todo mundo uma sociedade dessa.
ResponderExcluirAhhh respondi sua TAG lá no blog :*
http://www.cherryacessorioseafins.com.br
Espero que essa sociedade possa existir algum dia.
ExcluirEu vi que respondeu a tag. Que bom!
Preconceito seja da forma que for ainda é visível na nossa sociedade. E o racismo infelizmente não é diferente. O primeiro caso, que foi o que acompanhei, fiquei incrédula com atitudes e palavras tão banais.
ResponderExcluirrasgadojeans.blogspot.com
Ainda existe e muito.
ExcluirObrigado pelo comentário!