As novelas são mais do que mero entretenimento, mas carregam a importante missão de abordar temas de relevância social que possam interessar uma parte de seu público. Nas últimas exibições, assuntos como a comunidade LGBTQ+, violência contra a mulher, pedofilia e outros foram abordados nas principais tramas das emissoras nacionais. Com Amor sem igual, que acabou essa semana (18), não foi diferente.
Criada e escrita por Cristriane Fridmann, a novela - que foi ao ar entre 10 de dezembro de 2019 e 18 de janeiro de 2021, com algumas interrupções - tratou de temas ainda polêmicos e cabeludos, como a violência contra a mulher, estupro, prostituição, tráfico de pessoas, xenofobia e vícios em drogas. Além desses, a novela inovou por falar de tráfico de órgãos, tema esse que nunca tinha visto em outra produção.
Ao tratar dessas temáticas, é possível perceber a tentativa da emissora de Edir Macedo de alertar e informar a população, por mais que muitas delas não tenham sido esplanadas da forma correta. Tiveram algumas abordagens, como veremos nos tópicos a seguir, que não tiveram um resultado muito positivo, já que não se encaixaram com a realidade e não foram tratadas com o devido cuidado e seriedade.
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A partir de agora falarei de como os temas foram abordados. Vem, comigo.
Violência contra a mulher
Um tema bastante atual na sociedade que foi tratado na trama quase que de forma constante, por meio das personagens Poderosa, Furacão e Iara. Elas foram violentadas por homens, de forma brutal e até mesmo covarde.
Um dos pontos altos da trama foram as agressões físicas e verbais que Iara sofreu do seu marido, Ernani. As cenas foram fortíssimas, com bastante violência e derramamento de sangue. Iara sofreu ameaças de morte à exaustão. Ela até tinha vontade de denunciar Ernani, mas faltava força e coragem. Assim, a novela mostrou como é difícil para uma mulher violentada denunciar. Ao mesmo tempo que me questionava o porquê dela não denunciar a agressão, me solidarizei com a personagem.
Do outro lado, posso citar a violência que as personagens Poderosa e Furacão sofreram por conta de um dos vilões da trama, o Bernardo. Esse cara fez da vida das personagens um inferno. Ele foi capaz de espancar a Poderosa e Furacão, colocar fogo onde a Poderosa estava e outras atrocidades. Bernardo foi o retrato de um homem forte, agressivo e que não tinha limites, que se aproveitava disso para violentar mulheres, que por sua natureza são mais frágeis.
A violência contra a mulher deve ser mais tratada como temas sociais nas novelas. É preciso mostrar que muitas mulheres são violentadas e que não possuem força para denunciar.
Estupro
Nessa temática não tem como deixar de destacar o estupro do personagem de Leandro contra a Maria Antônia. Este foi um dos episódios mais tensos e chocantes da trama, assim como seus desdobramentos depois.
Durante a festa de aniversário de Fernanda, Leandro seguiu as instruções de Tobias para seduzir Maria Antônia e levá-la para a cama. Ele embebeda a jovem e a convence a subir para um dos quartos, onde ela é abusada sexualmente pelo vilão. A cena não foi explícita, mas foi possível ver a ojeriza de Maria Antônia a respeito de Leandro e toda a violência que a cena sugeriu.
Maria Antônia ficou devastada após o fato. Uma moça de família, virgem, abusada sexualmente de forma gratuita e descabida. A personagem carregou no seu corpo marcas físicas e psicológicas por um bom tempo. Ela ficou reclusa, tímida, depressiva e sem vontade de compartilhar o estupro com ninguém. Assim, a autora mostrou os efeitos e consequências de um estupro na vida da mulher.
A personagem então fica na dúvida se deve ou não compartilhar o fato. Se abrir sobre isso é difícil, doloroso e leva a questões como: "O que as pessoas vão falar de mim? As pessoas irão me julgar?". A personagem se abre com Poderosa, que ao saber pretende fazer vingar a garota. É aí que a trama escorregou um pouco. Ao ínves de Maria Antônia buscar ajuda psicológica e emocional, ela se abre com alguém que só desejava vingança por ela.
Entre muitos deslizes, Maria Antônia resolve contar para os seus pais, mas foi um pouco tarde, pois a forma que ela estava se portando nas redes sociais fariam com que as pessoas a julgassem e a culpassem. Maria Antônia passou a postar fotos sensuais, de sutiã e calcinha e com poses que não condiziam com uma moça de família. Mais uma vez, um tema tão sério como o estupro foi levado pelos ares.
Como Cristiane Fridmann concluiria esse tema que já estava tão banalizado na trama? Senti que a autora se perdeu no caminho. Ela sugestionou que Maria Antônia fosse a culpada, enquanto Leandro a vítima da estória. Contudo, até entendo o que a autora quis fazer: ela quis trazer o tema de estupro como muitas vezes ocorre em nossa sociedade, em que a vítima é culpada.
Contudo, na semana passada Cristiane Fridmann conseguiu concluir essa temática, com a prisão de Leandro por estupro de vulnerável, a partir do depoimento de Tobias que disse que Maria Antônia foi estuprada sim e que isso não passava de um plano.
Prostituição
O que?! Uma temática dessas em um canal evangélico?! Sim, leitor, você não leu errado. A prostituição foi tratada na trama sem filtros ou maquiagens, à começar pela trama da protagonista que era uma garota de programa.
A autora conseguiu mostrar que muitas mulheres não escolheram entrar na vida de prostituição, mas que a vida as obrigou isso, principalmente por necessidade, traumas do passado e desilusões amorosas. Por exemplo, Poderosa entrou nessa vida porque teve raiz de amargura desde sua infância com a rejeição de seus pais. Ela sempre foi usada durante toda sua vida, e agora adulta chegaria sua hora de usar os homens. Ela não conhecia o amor e sua profissão era ideal já que ela não precisaria amava. Só que ela conhece Miguel, por quem vive um amor sem igual e fará de tudo para tirá-la dessa vida (Ok, sem spoilers!).
Na novela conhecemos garotas de programa de estradas de caminhão e de luxo, que trabalhavam no Madmoseille Olímpia Night Club. Mesmo com essas diferenças de status, as mulheres não são tratadas de forma vulgar, mas com humanismo. Além disso, o sexo e cenas sensuais foram poupadas da tela, embora haja uma insinuação ali ou aqui.
A prostituição foi apresentada como negócio, mas também como meio de sobrevivência. Felizmente, muitas dessas garotas saíram dessa vida, como Poderosa, Furacão e Cindy, mostrando que sempre há uma saída para ser valorizado e bem quisto pela sociedade, uma vez que como prostitutas elas não tinham nada disso.
Tráfico de pessoas
Em menor proporção, em apenas cerca de duas cenas, a temática do tráfico de pessoas também foi tratada na estória de Cindy. Após deixar o Madmoseille Olímpia Night Club e fugir com o dinheiro de Antônio Júnior, Cindy foi capturada e traficada para o estrangeiro, como uma mercadoria de valor e prazer.
Cristiane Fridmann poderia tratar dessa temática com mais profundidade? Poderia, mas ela preferiu abordar apenas em pinceladas. Mesmo sem a profundidade do tema, vemos as consequências que o tráfico de pessoas fez com Cindy. Talvez temos essa base e entendimento porque acompanhamos a saga de Morena em Salve Jorge, novela global de Gloria Perez.
Sabemos que o tráfico de pessoas é uma problemática em todo o mundo, mas também no Brasil, quando crianças e jovens são exportadas à cada minuto para lugares desconhecidos para serem tratadas como escravas, e mais que isso: escravas sexuais. Há um mercado negro e nefasto, que é mais sujo do que se possa imaginar e do que vimos na telinha. É uma pena que essa realidade seja tão presente em nossa sociedade nos dias de hoje e não podemos fechar os olhos.
Vícios em drogas
Nessa temática posso trazer a estória de Antônio Júnior que estragou sua vida com as drogas e ficou totalmente desnorteado. A trama, sobre esse tópico, foi bem real e impactante, mostrando os efeitos da droga na vida de um jovem. Antônio Júnior era um jovem bonito, com uma família linda, mas que se viu desgraçado quando pediu sua emancipação.
Com dinheiro, Antônio podia tudo e tinha tudo, até que enveredou para o caminho das drogas e da bebida, tendo até mesmo risco de vida quando se drogou e colocou fogo aonde morava. Ele roubou para ter droga, foi morar na rua e ganhou uma aparência física um tanto nefasta. Sua família fez de tudo para ajudá-lo, mas já era tarde demais.
Foi aí, que teve uma das cenas mais dolorosas da novela, quando Antônio Júnior foi preso na cama por seu pai, Oxente, porque ele já estava tentando contra sua própria vida e era capaz de tudo para conseguir drogas.
Oxente e sua esposa decidem interná-lo em uma clínica de reabilitação, fazendo até um merchan para a igreja Universal. Os pais falam que o "vício tem cura" e realmente ele tem para quem deseja se tratar. Meses depois, Antônio Júnior retorna da clínica totalmente curado e reabilitado.
Sabe, essa foi uma das temáticas mais dolorosas, interessantes e reais que Cristiane tratou na novela. Ela chega a emocionar, até.
Xenofobia
Outro tema importante tratado na trama foi o de xenofobia. Aqui eu trago a estória de Pedro Antônio. Ao deixar sua namorada Fernanda em casa após um jantar em um restaurante italiano, o carro de Pedro quebra no centro da cidade. O jovem pede ajuda aos seus irmãos e diz para "seu painho não se preocupar". Então, um grupo de skinheads ouvem ele chamando seu pai de forma nordestina e agem com xenofobia e preconceito. Eles ameaçam bater no rapaz, que corre, mas até que é encontrado novamente.
O ódio gratuito e descompensado da cena foi de arrepiar e emocionar. Pedro apanhou tanto, que senti dó dele. E ele apanhou não porque era nordestino, mas porque chamou o seu pai de "painho", vê se pode?! Foram tantos socos, sangue e chuteS, que eu fico meio mexido só de lembrar. Depois de apanhar tanto, Pedro é salvo pelos policiais.
Uma realidade distante da nossa? Diria que não. Há muitos grupos preconceituosos e xenófobos no Brasil, mostrando que o nazismo e outros grupos violentos deixaram uma herança difícil de engolir.
Tráfico de órgãos
O último tema que trato é o tráfico de órgãos. A novela mostrou de forma irreal porém real como o tráfico de órgãos ocorre. Aqui cito a estória de Ramiro Viana, que trafica o rim do jogador de futebol Pepe em benefício próprio e por conta de sua saúde debilitada.
A novela mostra todos os trámites e polêmicas que essa atitude de Ramiro Viana apresentou. Quais são os limites éticos e humanitários nessa questão? Eles existem?! Tirar o rim de um garoto sadio é válido se a sua saúde estiver mais ferrada que a dele?
Sabemos que o tráfico de órgãos é presente na saúde brasileira, mesmo que o assunto esteja no escuro e não seja tão difundido. Órgãos são traficados de forma clandestina e há um mercado negro nisso tudo.
Esses foram alguns dos temas sociais relevantes que Amor sem igual tratou em todo seu tempo de exibição. Espero que as tramas tragam outros temas que ainda não foram abordados, pois são de extrema valia para informar como alertar a população. J-J
Por: Emerson Garcia
Já vi várias novelas brasileiras. Agora, por motivos profissionais que não me deixam tempo disponível, não vejo e/ou vejo muito menos.
ResponderExcluir.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Votos de um dia feliz
Acho muito legal que as novelas tratam de assuntos extremamente sérios e importantes.
ResponderExcluirAté porque a TV é um meio mais fácil de alcançar mais pessoas, pessoas que geralmente não tem acesso a outros tipos de informação.
Bacana seu post :)
https://www.heyimwiththeband.com.br/
faz tempo que não assisto novelas da Record, mas sempre gostei das produções deles
ResponderExcluirbeijo
A mina de fé
Não conhecia esta novela, mas os temas que você selecionou que foram abordados por ela são super necessários, principalmente para informar e conscientizar as pessoas.
ResponderExcluirBlog Profano Feminino
Já vi muitas e gosto!
ResponderExcluirAtualmente não sigo nenhuma!... 😘
Contar ou abordar temas atuais na teledramaturgia não consiste numa tarefa fácil. Já que envolve a compreensão e o envolvimento do telespectador.
ResponderExcluirContudo,suas observações merecem atenção.
O telespectador precisa compreender as entrelinhas,o que nem sempre acontece. O mais comum é se envolver,torcer pela reação do personagem na busca de dar a volta por cima.
Até qualquer hora
OI Émerson, tem um bom tempo que não assisto a uma novela. Sempre i achei muito importante as abordagens de temas atuais e sociais nas novelas. É importante trazer esses assuntos para discussão sempre. E de várias maneiras. É importante dar visibilidade e trazer esclarecimentos.
ResponderExcluirNesse aspecto as novelas têm papel muito importante.
beijos
Chris
Inventando com a Mamãe / Instagram / Facebook / Pinterest
Temas fortes... que não podem ser ignorados... Informação e pedagogia, será a função das boas novelas... como me parece ser o caso!
ResponderExcluirAté há uns anos atrás, assistia a imensas novelas da Globo, e algumas da Record... agora nem tanto, pois o tempo, destina-se a outros afazeres... sendo que a Net, também veio ocupar um pouco os tempos destinados ao lazer...
Um grande abraço!
Ana