Estava com saudades do Entre Frames?! Ele está de volta hoje em um post colorido e cheio de diversidade! Irei analisar o clipe Só o amor da Preta Gil feat. Gloria Groove. Lançado em 30 de outubro de 2019, o vídeo é mais que um clipe ou single, mas um manifesto artístico e cultural. Ele possui 5.397.824 visualizações, 156 mil curtidas e 3 mil descurtidas. Só o amor é estrelado por Preta Gil, Gloria Groove e Glamour Garcia; o roteiro ficou por conta de Preta Gil e Rodrigo Pitta; direção de fotografia de Heitor Cavalheiro; direção de arte de Rodrigo Pitta; e coreografia de Flavio Verne.
O clipe é marcado pelas cores do arco-íris, símbolo da luta LGBTQ+, mas é sobretudo uma homenagem à todas as mulheres transgêneros, contando com a participação da atriz transgênero Glamour Garcia - que interpretou a Britney na novela A dona do pedaço - e de quatro mulheres transgêneros comuns.
O vídeo, portanto, traz cor, coreografia, militância, mas também tem uma veia documental e real por contar a história das mulheres transgêneros no seu cotidiano. Isso é marcado pelo uso de cores e disposição da câmera, como veremos mais à frente. Assista ao clipe:
Como de costume, vamos às minhas observações.
Mulheres trans
Conhecemos o dia a dia de quatro mulheres transgêneros no clipe. Conhecemos a história de Paola, produtora musical; de Paula, diretora da escola; de Emanuelle, enfermeira; e Marcela, gerente de banco. O vídeo, desse modo, é documental, ao apresentar as mulheres, seus nomes e funções entre 0:10 e 0:19. A ideia é a de mostrar seu dia a dia, com elas se arrumando, passando batom e se produzindo para mais um dia de labuta (0:00 - 0:06), com a divisão de tela em cenas simultâneas (0:21 - 0:24) e a utilização da cor preto e branco, já bastante utilizada em documentários.
As mulheres trans possuem uma vida comum, de vitórias e derrotas, mas em nenhum momento elas baixaram a guarda no clipe. Elas aparecem felizes, empoderadas e realizadas profissionalmente. Prova disso é aos 0:30 quando elas param e fazem uma pose empoderada na tela, dando close.
A ideia foi de mostrar o dia a dia das mulheres de forma simultânea, com elas entrando em seus locais de trabalho (0:25 - 0:29); em atuação em suas atividades; e até terminando suas labutas diárias, indo embora e chegando em casa, tirando suas maquiagens e batons (1:20).
Com o clipe conhecemos um pouquinho da vida dessas heroínas, mas é possível conhecer essas histórias inspiradoras mais à fundo por meio do documentário Vidas Transversais, que conta com quatro micro episódios de 3 minutos e está disponível no canal da Preta Gil no Youtube.
O clipe intercala o documentário em preto e branco com o clipe em si, realizando um trabalho artístico e interessante visualmente falando.
O lado colorido do clipe
As cenas reais do dia a dia das mulheres transgêneros são misturadas com cenas coreografadas e bonitas visualmente, com as cores que fazem menção tanto à bandeira LGBTQ+ como aos trans, se repararmos direitinho quando os créditos iniciais surgem na tela (0:07 - 0:09). O interessante é que o clipe foi todo construído tendo como base as seis cores da bandeira atualizada LGBTQ+, com figurinos, fundos e acessórios nas tonalidades. Até entre 2:23 e 2:29 surge as cantoras e Glamour Garcia em uma montagem da tela que forma uma bandeira LGBTQ+. Veja abaixo:
As estrelas do clipe sempre aparecem com bailarinos afiados na coreografia, realizando movimentos sincronizados e ritmados, de acordo com a vibe da música.
O movimento de câmeras de aproximação, edição dinâmica e frames rápidos foram utilizados principalmente nas partes coloridas do clipe, que ficaram alinhadas com a coreografia.
Glamour Garcia
Ao lado das cantoras, a atriz marca presença e outra pessoa não deveria ser escolhida para compor o time de celebridades, do que ela. E por que?! Glamour Garcia foi a primeira atriz transgênero de uma novela global. Sua personagem fez enorme sucesso na trama e até os dias de hoje comenta-se sobre ela. Ao lado das mulheres trans da vida real, Glamour é símbolo de luta, resistência, realização e empenho. Ela sofreu muito preconceito para chegar ao lugar em que chegou, tendo que mostrar sua força e garra.
Quando é cantado "Ela sabe onde chegar e na bolsa leva o amor", a atriz surge confiante, com um vestido azul sob um fundo também azul (0:50). O interessante é que o trecho se encaixou muito bem com a história de Glamour Garcia que sabia onde chegar: no hall da fama e com um papel de destaque em uma novela das 9!
Frases e cenas empoderadas
Não há dúvidas que Só o amor é um clipe militante. Mas não é somente ele que é isso. A letra é muito forte e empoderada também e ela se encaixa com vários trechos encenados e estou aqui para provar isso.
- "Ela faz o destino dela" (0:35): mostra a tela dividida em quatro com as mulheres trans comuns fazendo suas funções e em plena atividade, mostrando que elas são autônomas e autosuficientes.
- "Só o amor, só o amor, só o amor" (0:55 - 1:00): nessa parte frames rápidos surgem com predominância nas cores azul, laranja e vermelho, mostrando que a diversidade representada pelas cores é o caminho para um futuro melhor onde o amor predomine.
- "Tem um brilho no olhar" (1:01): nessa parte Preta Gil e os dançarinos estão com a cor mais solar e brilhante já existente, o amarelo!
- "Ruxell no beat" (1:19): nessa parte Glamour Garcia vira para a câmera e dubla a frase em questão.
De preto e branco para colorido!
A transição entre o preto e branco e o colorido pode ser percebida de forma clara em uma passagem de Gloria Groove, quando ela surge sob uma paleta preta e branca e, segundos depois, sob uma roxa e verde (1:30).
Preta e Gloria juntas
Entre 1:56 e 1:58 Gloria e Preta ficam juntas na tela e a performance das duas é de cair o queixo e de arrasar qualquer quarteirão! Elas possuem muita harmonia no palco do clipe. Chega em determinado frame (2:10) que elas dão as mãos mostrando união, força e amor para disseminar a ideia difundida desde o início do clipe: diversidade sexual, principalmente trans, com todos os direitos humanos que se necessita! Para mim esse é um dos momentos mais incríveis, significativos e fofos de todo o clipe.
Montagens
O clipe é ao mesmo tempo artístico, visual, como documentário. Não poderia deixar de destacar também a montagem com todos os cenários coloridos (2:31) que foram editados um atrás do outro, de forma dinâmica e interessante. Isso mostra que menos é mais!
Há certa beleza visual e artística com os frames coloridos e as diversas coreografias sincronizadas.
Efeitos e movimentos de câmera
Já mencionei de forma geral, mas não custa nada reforçar os efeitos e movimentos de câmera que deixaram o clipe mais interessante. A câmera ora se aproxima, ora se distancia, além de efeitos de transição de vídeo criativas.
#Sóoamor
Entre 2:13 e 2:14 as mulheres trans surgem com placas escrito "Só o amor" nas cores trans, ou seja, rosa e azul. Não por acaso que essas cores estão contidas em fundos durante o clipe e até mesmo nos créditos iniciais.
Enquanto seguram as placas, as mulhreres trans vestem roupas pretas que contrastam com o fundo rosa do clipe.
É essa mesma frase que está contida em um saco de pipoca que Preta come e, que inclusive, o tempera com Sazon (Olha o merchan aí, gente!) entre 2:42 e 2:46.
As referências trans continuam quando as cantoras e atriz surgem na tela sob o fundo rosa e a câmera se aproxima delas entre 2:47 e 2:48.
Mulheres trans famosas
Entre 2:49 e 2:52 as mulheres trans reais seguram fotos de trans famosas, incluindo Glamour Garcia. Assim, elas fazem uma homenagem à atriz Rogéria, à modelo Roberta Close, à quadrinista Laerte, Lea T e Jane Di Castro - que na opinião de Preta Gil são "verdadeiras heroínas" que lutaram pela causa trans no Brasil.
O clipe é finalizado com essa homenagem, com a câmera se distanciando das mulheres e com um efeito de vídeo parecendo de filme antigo (2:52).
Repercussão
Só o amor gerou debates por conta do elenco escalado, assim como o tipo de abordagem empregados tanto no vídeo como na letra. Esse é um assunto de extrema importância, levando em consideração a intolerância e transfobia no Brasil. Trabalhos como este refletem e reforçam a necessidade de representar as mais diversas narrativas, para que estes discursos cheguem ao público por meio da música.
O intuito de todo esse projeto - tanto a música, clipe, como o documentário - é de levar o amor para aqueles que anseiam por ele. Mas é também levar informação, luz e amor, pois para Preta essas três coisas seriam capazes de transformar a sociedade.
A repercussão foi tão grande que camisetas exclusivas com temática do clipe foram criadas. A renda das vendas estão sendo destinadas à Casa Chamma, uma instituição de apoio a homens e mulheres transexuais em São Paulo.
Letra
A letra fala de uma mulher forte trans que está cada vez mais conseguindo empregos dignos, tendo suas vidas integradas e seus sonhos e direitos atendidos. A ideia da Preta é de fazer uma homenagem positiva que vai de um mundo em preto e branco e ganha as cores da bandeira LGBTQ+, da diversidade e também simbolizando a luta de muita gente.
A partir de agora, comento alguns trechos da canção.
"Suave como um furacão
Tranquila como um vulcão
Se joga no mundão
Não, e ninguém segura"
Preta caracteriza uma mulher trans como uma pessoa cheia de força e ímpeto, que chama a atenção e marca sua trajetória como um furação e um vulcão.
"Guiada pelo coração
Se quer, anda na contramão"
As mulheres trans não são guiadas por convenções sociais, mas pelo seu coração. Por suas decisões, tem a coragem de caminhar na contramão do sistema e da heteronormatividade.
"Eles vão falar
Não vai se importar
Ela faz o destino dela
Nasceu pra voar
O céu vai tocar
Ela faz o destino dela"
Esse trecho mostra às mulheres trans e pessoas LGBTQ+ que as pessoas vão falar, vão agir com preconceito e vão julgar, mas não importa, bastando seguir seu destino, quebrando obstáculos e chegando até o céu.
"Ela sabe onde chegar
E na bolsa leva o amor
Só o amor
Só o amor
Só o amor
Tem um brilho no olhar
Faz vida encher de cor
Só o amor
Só o amor
Só o amor"
Foco e empenho não faltam para mulheres trans. Elas possuem objetivos, "fogo nos olhos", mas não passam a perna em ninguém e agem de forma amorosa. Quando elas chegam o mundo se enche de cor, assim como no clipe que deixou de ser preto e branco e passou a ser colorido.
"Ela contorna os olhos e sorri no espelho
Esbarra e cai em si
A luz e o vento em suas costas"
Um trecho que fala da produção de uma mulher trans. Ela é um ser iluminado e favorecido pelo vento em suas costas.
"Voando baixo por onde sentir
Um beija flor e um bem te vi
Reluz, é pedra preciosa"
Uma mulher trans tem a escolha de voar alto ou baixo. Não importa, ela é dona do destino dela. Ela possui as cores e delicadeza das aves e reluzem como pedras preciosas, marcando sua trajetória na terra.
Música
A música é animada e pra cima, se assemelhando à um axé com batidas.
Esse foi o Entre Frames de hoje! Agora, iremos entrar em um recesso no quadro, mas retornaremos em breve com mais análises de clipes (Não sei precisar a volta para o retorno). Aliás, que clipe você gostaria de ver nesse quadro? Diga nos comentários! J-J
Por: Emerson Garcia
A vida é composta de novidade, movimento, modificação. O hoje nunca será igual ao ontem, nem ao amanhã. Por isso a vida é tão bela e aliciante de viver, pois cada dia é uma nova novidade.
ResponderExcluir.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Abraço
Oi Emerson bt!
ResponderExcluirEstou passando muito rapidamente pq ainda estou limitada pela crise da coluna, mas continuo com a minha posição de que só o amor importa, não cabendo por motivo algum qualquer tipo de intolerância.
Parabéns pelo post!
Bjsss e linda tarde aí p/vcs
Gosto da partilha pois não percebo nada deste assunto! 👍
ResponderExcluirUau, nunca tinha visto o clipe. Muito legal. Como você falou, quase um documentário. Muito bonito.
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Os tempos estão mesmo mudando e as mentalidades também!!
ResponderExcluirxoxo
marisasclosetblog.com
Que clipe maravilhoso, adorei a analise
ResponderExcluirBeijos
www.pimentadeacucar.com
Oi Emerson,
ResponderExcluirO clipe é maravilhoso! E eu nem gosto da Preta Gil, mas tem a maravilhosa Glamour Garcia, que eu adoro, para compensar e a música é ótima.
Eu sou muito cabeça fria quanto a esta questão de gênero e tenho amigas que são casadas há muitos anos, bem como tenho um amigo que está virando amiga, e eu sempre nem digo que aceito, pois na verdade me parece algo tão natural, tão eu não tenho nada a ver com isto, que acho absurdo alguém se incomodar, mas sei que existe o problema no mundo e principalmente no Brasil.Então vamos expor a realidade, pois quanto mais expomos, com mais naturalidade as pessoas são vistas e amadas.
Beijos
Não conhecia este videoclip e por isso foi ver para acompanhar melhor o post! :) Bom fim de semana.
ResponderExcluir--
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Olá, Emerson.
ResponderExcluirEu não sou muito ligada em musicas, por isso nem conhecia hehe. Mas adorei esse colorido todo.
Prefácio
Desconhecia o clipe, pelo que sua detalhada análise, sempre nos chama a atenção, para mil pormenores, que certamente me escapariam... numa primeira apreciação...
ResponderExcluirUm grande abraço!
Ana