quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Quinta de série: Dois irmãos

(Pode conter spoilers!)








O Quinta de série de hoje traz uma série genuinamente brasileira! Trata-se de Dois Irmãos, uma minissérie da Globo exibida entre 9 e 20 de janeiro desse ano que contou com 10 episódios. Essa produção foi baseada no livro homônimo do autor Milton Hatoum.

A exibição de Dois Irmãos em TV aberta faz parte do Projeto Quadrante - que começou em 2007 com as exibições de outras grandes obras brasileiras, A pedra do reino e Capitu. Dois Irmãos, portanto, marcou a estreia de Milton Hatoum nas telas.

O livro e a minissérie contam a história dos conflitos e conturbações de dois irmãos gêmeos de uma família de libaneses que residem em Manaus. Desde seus nascimentos, Omar e Yakub sofrem problemas de relacionamento. Isso porque os dois são vistos de formas diferentes por seus pais. Enquanto a mãe, Zana, ama Omar e manifesta uma predileção por ele; o pai, Halim, admira Yakub. Essas atitudes gerarão conflitos, problemas psicológicos e emocionais, inveja, ciúmes, rancor, entre muitos outros sentimentos não só em Omar e Yakub, como em toda a família. Zana e Halim ainda possuem uma filha, Rânia, que toma de conta dos negócios da família, mas que vive à sombra de seus irmãos gêmeos.





Omar e Yakub são idênticos na aparência, mas distintos nos aspectos psicológicos e nos rumos que cada um tomou. Desde pequenos, os dois brigavam, mas isso foi agravado com a chegada de Lívia à cidade. Ambos se apaixonam por ela, o que gerou ciúmes da parte de Omar. Em uma noite de cinema caseiro na cidade ele flagrou ela beijando seu irmão Yakub, o que despertou o desejo de vingança. Ele, então, fere seu irmão no rosto com um caco de vidro, o que o deixa bastante machucado e com uma cicatriz.

Seus pais, Halim e Zana, decidem então enviá-los para a Líbia, mas no final das contas somente Yakub vai, já que Zana tem um apreço enorme por Omar e na hora da partida não larga de sua mão.

O tempo passa. Agora Yakub é um importante engenheiro civil e Omar um boêmio, preocupado apenas em divertir-se, drogar-se e beber. A volta de Yakub para Manaus despertará sentimentos antigos e reacenderá conflitos entre os irmãos.






A ambientação da série é na capital amazonense Manaus, durante os anos 1920 e 1980. É interessante perceber o pano de fundo da Segunda Gerra Mundial e da ditadura militar brasileira, bem como as transformações de Manaus, costumes e culturas - como bordeis, comidas, festas e músicas. 

A série levantou questões que podem dizer respeito a qualquer família, como: conflitos, segredos familiares, predileções por filhos e relacionamentos entre irmãos. Não há como manter-se inerte e não se emocionar ao ver os caminhos errados que Omar tomou durante a vida. Foi de cortar o coração, por exemplo, ver de um lado Yakub bem sucedido, aceito e admirado por seus pais, e do outro Omar sofrendo pelado, nu, sujo, careca e sangrando, em um canto. Dois irmãos foi bem dramática nesse sentido. A cada episódio era uma surpresa, reviravolta, um nova conflito e angústia.

A adaptação televisiva, assim como a obra literária, contou com um narrador que trouxe mais entendimento, beleza e estética à trama. Quem narrava a história dos gêmeos era Nael, filho da empregada doméstica da casa, Domingas. Com a narração conhecemos mais da personalidade de cada um, bem como explicações de detalhes da trama de Milton Hatoum. 

O elenco contou com atores de peso, como Juliana Paes, Viviane Pasmanter, Eliane Giardini, Antônio Fagundes, Antônio Calloni e Cauã Reymond. Ao meu ver foram atuações emocionantes e convincentes, principalmente a de Cauã Reymond, que soube atuar com maestria o papel dos gêmeos e imprimiu neles características próprias. Em um, a contenção, timidez e o rancor comedido; no outro, a raiva, a vingança desmensurada e  a angústia extravagante. Veja o que o ator disse sobre o trabalho:

"O que eu vivi foi muito poderoso para eu entender quem sou eu como artista. Eu me apaixonei por esse lugar novo que eu descobri. Foi muito interessante deixar essa selvageria vir à tona".


A mudança de atores durante as fases não foi um problema, mas um ponto positivo para a trama. Houve um cuidado enorme quanto às escolhas, prezando por uma continuidade impecável. Foi como se os personagens apenas envelhecessem, já que os atores souberam pegar a essência dos mesmos.





Foi desafiante adaptar essa obra literária para a TV, já que trata-se de um livro com linguagem difícil, porém riquíssimo de detalhes e nuances. O objetivo do canal, portanto, foi tornar a minissérie mais acessível, embora em um horário de difícil audiência. Daí o desafio: como trazer essa história grandiosa, complexa e que induz à reflexão? Mas o canal conseguiu, e Dois irmãos foi marcante.

Marcante, primeiro, por trazer a direção artística de Luiz Fernando Carvalho (Meu pedacinho de chão e Velho Chico) que realizou um trabalho primoroso. E o resultado foi incrível, a partir das locações, enquadramentos, fotografia, linguagem poética, trilha sonora e, claro, a escalação acertada dos atores.

E, segundo, porque a versão televisiva aumentou em 600% a compra do livro, de acordo com a Companhia das Letras e dados da Nielsen. Esse fato demonstra como a minissérie foi importante na propagação da leitura e da literatura de requinte e qualidade.








A crítica destacou pontos importantes da inovação da linguagem, bem como do desafio de adaptar uma obra literária desse calibre. A audiência, por sua vez, foi satisfatória, de acordo com dados do Wikipédia. Veja (com grifos):

                                                 SEG        TER          QUA            QUI          SEX
            9/01 a 13/01/2017 21,5        19,8        20,8          22,1        19,0
           16/01 a 20/01/2017 20,8         22,0        21,1         20,4        20,9



Grifei índices de audiência expressivos, porque é difícil uma programação que vai ao ar por volta de 10 ou 11 da noite obter 22,0 ou 22,1 de audiência, por exemplo. Dois Irmãos conseguiu isso!


Recomendo essa série, mesmo que ela tenha uma narrativa lenta, em que as coisas possam demorar algumas vezes pra acontecer; linguagem formal elevada; e dificuldade de compreensão da história. No geral, Dois irmãos te prende seja por conta das atuações, paisagens, fotografia ou todo seu trabalho artístico. J-J











Por: Emerson Garcia

5 comentários :

  1. Não conhecia essa série, parece ser boa. Brasil tem excelentes séries, não é? Lembro de algumas que assisti quando ainda morava aí;)
    Bjs!

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  2. Não acompanhei Emerson, eu quase não tenho mais assistido TV aberta. Fiquei interessada no livro!

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  3. Até pensei em assistir na época mas acabei não assistindo. Gostei da resenha. Bj

    www.mayaravieira.com.br

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