Quinta de série: Jessie & Colombo

 Pode conter spoilers!

O JOVEM JORNALISTA está de volta, com posts inéditos e interessantes! Ditadura, perseguição, romance e amor é a receita de Jessie & Colombo, série documental da Globoplay, lançada no dia 29 de março desse ano. Ela conta a história de Colombo Vieira de Souza Junior e Jessie Jane Vieira de Souza, um casal que tentou sequestrar um avião no Rio de Janeiro durante o período autoritário. Eles tinham a ideia de trocar os reféns por presos políticos, mas não deu certo e eles acabaram presos e torturados por agentes do governo brasileiro.  

O sequestro, que não deu certo, ocorreu no dia primeiro de julho de 1970, no aeroporto do Galeão, na zona norte do Rio de Janeiro. Poucos minutos após decolar para São Paulo, o piloto do avião Caravello PP-PPDC foi obrigado a retornar para o Galeão. Quatro militantes do Comando Reinaldo Silveira Pimenta tomaram controle da aeronave. O intuito era a negociação e libertação de 40 presos políticos. Mas uma equipe especial da Aeronáutica interviu na situação e entrou na aeronave. Eles esguicharam espuma nas janelas para impedir a visão de dentro para fora, arrombaram a porta e invadiram a aeronave. Jessie Jane, Colombo Vieira e Fernando Palha foram presos e condenados a mais de 20 anos de prisão.  

O casal ficou separado, após a prisão, e, durante, quase dez anos, se comunicavam e namoravam por meio das cartas escritas por eles. Uma história de amor e revolução apaixonante, demonstrada por escritos em que os laços afetivos amarram passado e presente de duas famílias oprimidas. As cartas são narradas pelos atores Andréia Horta e Humberto Carrão, de forma emocionante e apaixonante. 

Jessie e Colombo foram casados por várias décadas. Eles resistiram as adversidades, perseguições, distância e até mesmo a gravidez de Jessie sem a presença de Colombo. 

Com direção de Susanna Lira, a produção além de falar do amor dos protagonistas, ainda explora a luta contra a ditadura. A série documental foi dividida em quatro episódios, de em média 40 minutos cada. Os títulos foram os seguintes: Bem unidos façamos; Vai ver que o tempo é reacionário; Escalada; e A Lua de Leta.

O primeiro apresenta os fatos históricos e a notícia que repercutiu no Brasil e mundo. O capítulo é compostos por notícias e vídeos da época, além de entrevistas com pessoas primordiais. 

O seguinte, mostra o período em que Jessie e Colombo foram presos, torturados e separados. Encontram nas cartas uma forma de manter a sanidade, alguma esperança no futuro e deixar seus amores e paixões reavivados.  

Escalada tem como foco principal a greve de fome nos presídios e mudanças no regime. O casal se beneficia de algumas flexibilizações e uma visita médica transforma totalmente suas vidas. 

O último episódio, A Lua de Leta, enfatiza a liberdade de Jessie e Colombo, que retornam para casa após quase uma década de tormento, perseguições e torturas. Outras lutas são iniciadas.  

A série documental apresenta os acontecimentos que marcaram o Brasil durante o período da ditadura militar. A produção estreou justamente na semana em que completou-se 59 anos do golpe militar. O foco é na ditadura, mas sobretudo na história de amor e superação de Jessie e Colombo, o que eleva à história para uma escala humana, mais cortante e emocionante.  

As correspondências trocadas por Jessie e Colombo possuem um tom sentimental, político, existencial e até mesmo com assuntos do dia a dia e a rotina do cárcere. Os atores Humberto Carrão e Andréia Horta mergulham com enorme emoção no universo de Jessie e Colombo. A diretora falou mais disso: "São fatos históricos políticos contados através de uma história de amor e resistência".

Era um amor genuíno e forte, que surgiu quando eles tinham menos de 20 anos e estavam na flor da juventude. Eles trocaram extensas e numerosas correspondências e elas serviram para constituir a narrativa da obra. 

Jessie Jane diz que essas cartas eram as janelas para a vida. Ou seja, não eram documentos para a história, serviam apenas para o casal manter seus laços afetivos fortes e vivos. Essas cartas foram guardadas porque faziam parte da história pessoal dos enamorados. Jessie não as vê como testemunhas de um tempo histórico, de interesse público. 

Há também uma farta documentação de filmes e fotos, enquanto eles estavam presos. A produção também conta com alguns trechos de docudrama - em que várias cenas são encenadas e simuladas. 

O amor deles foi revolucionário, sobrevivente e fortalecido, a cada dia, a cada choque, a cada pau de arara. Em um ambiente aonde a dor e a tortura poderiam prevalecer, o amor quem venceu. As grades não evitaram o amor dos pombinhos apaixonados e gerou, até mesmo, um fruto - Letinha. 

Jessie Jane continua com força, sensibilidade e doçura. Atualmente, é historiadora, professora doutora da UFRJ e vive de forma tranquila e em paz. Colombo trabalhou na política com Leonel Brizola, lutando pela democracia e justiça social. Faleceu no dia 25 de abril de 2021, durante as gravações da produção da série. Leta (Letinha), fruto desse amor incrível e incondicional, trabalha com urbanismo e em defesa do desenvolvimento sustentável e justiça climática.  

O projeto da docusérie foi um desejo de Colombo como uma declaração de amor à vida. Ele desejava inspirar novas gerações que ainda resistem à tiranias e torturas. De fato, as cartas não foram de ódio, mas de amor. A série foi criada por Bruno Passeri e Roberto Passeri; produzida pela Modo Operante. Recomendo essa história de amor e política! J-J 

 

Por: Emerson Garcia