Entre Frames #64 #EspecialFKandC #4 - God only knows

O JOVEM JORNALISTA está de volta! E retorna com a quarta edição do #EspecialFKandC no Entre Frames. Hoje analiso o clipe God only knows, lançado no dia 27 de julho de 2018 e que já conta com 67.732.045 visualizaçoes e 572 mil curtidas. Ele foi gravado em Chattanooga Tennessee (EUA) em dias chuvosos e tempestuosos.

O vídeo conta a história de uma jovem mulher triste, que vive de aparência e que, de forma desesperada, busca o suicídio para a resolução de suas frustrações. Mesmo sendo bela e vivendo em uma casa confortável e luxuosa, ela não tem uma vida boa. As aparências podem esconder o sofrimento de muitos. O clipe também apresenta uma realidade alternativa, um "E se...", o outro lado da moeda. Ele apresenta tons azulados (característica da banda), clima nublado e sombrio e a utilização de câmera rápida, dinâmica e trêmula. Há mudanças rápidas de cenários. Além disso, o clipe trata de temas relevantes, como: preservação da vida; suicídio; depressão; importância da amizade, escuta e da demonstração de carinho e apoio.    

#EspecialFK&C

Entre frames #61 #EspecialFK&C - Joy.

Entre frames #62 #EspecialFK&C #2 - For God is with us 

Entre frames #63 #EspecialFK&C #3 - Relate

Assista à produção agora:

Vamos aos meus ponderamentos?!

Essência

O ponto principal do vídeo é a preservação da vida e como ela pode estar em risco, por diversos fatores. O suicídio é somente as vias de fato, mas antes dele tem todo um contexto e antecedentes, como: rejeição, depressão, vozes abafadas, sentimentos represados, baixa auto estima, etc. A pergunta que é tensionada é a seguinte: "Um suicídio pode ser evitado?". A resposta é sim! A depressão pode ter dois destinos, basicamente, dependendo da forma que ela é tratada, e o clipe retrata esses dois lados da moeda. Uma menina se jogar da ponte, poderia ser evitado se ela recebesse um abraço, uma palavra, um ombro amigo. E também se ela fosse ouvida e atendida por profissionais da saúde, embora essa última parte não tenha sido tratada.

A essência, portanto, é mostrar essas duas perspectivas, ou seja: a jovem cometendo suicídio e a versão dos amigos intervindo, confortando-a. O auxílio de profissionais da área da saúde não é substituído, mas uma pequena atitude, como um abraço ou um sorriso podem fazer a diferença e mudar a trajetória de uma vida.   

A atriz Masey McLain encontra-se em um desespero sombrio e está com sentimentos represados e não encontra ajuda, na primeira perspectiva mostrada. Acredita que o suicídio é a resposta. Ela quer encontrar na dor da morte, o fim do sofrimento e sua dor. Joel Smallbone fala mais do projeto:

 "As coisas são boas, ela é uma mulher atraente, ela mora em uma casa linda e a vida parece boa. No entanto, existem essas coisas, essas inseguranças subjacentes que estão mudando a maneira como ela percebe a vida e as pessoas a percebem."

Talvez, comentários preconceituosos como esse podem surgir: "mas ela é linda, jovem, tem uma casa incrível. Do que ela está reclamando?!". Apesar de tudo isso, faltava algo nela, um vazio, algo que a preenchesse por completo. Ela esboçava sorrisos, colocava maquiagens e batons para ficar mais bela ainda, mas com o intuito de "maquiar" e esconder o que realmente sentia e o que ela precisava. Ela precisava, mais do que tudo, de ser ouvida, e não foi no primeiro momento. 

A nossa atitude pode transformar, literalmente, a vida de alguém. Sim! Você pode dar outro final diferente para o dia daquele que você tanto ama! Joel prossegue:

"O poder de alguém interagindo, mostrando um pequeno ato de bondade, um abraço, um sorriso, e como isso muda a trajetória de sua vida [neste] dia em particular, que foi um dia muito crucial na vida dessa jovem."

Introdução

O início é bem introdutório, apresentando cenários, personagens e detalhes que permeiam todo o vídeo. Entre 0:00 e 0:11 há os créditos iniciais e apresentação da ponte. A câmera a mostra de forma geral e depois detalhes dela. Depois, filma-se um bilhete no chão da ponte, ao mesmo tempo em que a música é iniciada (0:11 - 0:12). Há um fade out na cena e corta para a moça caminhando pela ponte. De forma minimalista, seus pés são filmados (Fade out) (0:13 - 0:16). Um breu total toma conta do clipe e corta para os cantores na ponte (0:16 - 0:18). 

Entre 0:18 e 0:19 Luke aparece centralizado e com close em seu rosto. O vento movimenta o seu cabelo e há um efeito de fade out. Joel, em seguida, surge e a câmera passeia ao seu redor, em 360º. Há trovões  e relâmpagos na cena (0:20 - 0:23).

Em pouco menos de 25 segundos, o clipe apresenta quase todos os elementos, personagens e premissa.  

Vida luxuosa = vida aparente

A partir de 0:24 o elemento que faltava para o clipe começava a ser desenvolvido: a casa da moça e sua vida pessoal. Entre 0:24 e 0:30 a casa é filmada. É uma residência muito boa, confortável e bonita. Mas logo percebemos que a moça não está alegre, mesmo que viva naquela lugar. Ela surge sentada em sua cama, triste e cabisbaixa. Perceba que a câmera se aproxima de fora para dentro e depois se distancia velozmente da cena e da garota. Após, há um corte e a câmera mostra a garota mais de perto. Vemos sua dor nas entranhas, de forma bem íntima. A câmera utiliza o close e o recurso de 360º (0:31 - 0:36). 

Entre 0:37 e 0:44 a parte cantada da música inicia e vemos os cantores cantando na ponte emblemática. Após, há cortes de cenas com a moça na cama e se dirigindo para o seu banheiro. Ela chega no ambiente e começa a se maquiar (0:44 - 0:47). 

  

A moça tinha uma casa incrível e agora se maqueia, como se quisesse disfarçar sua realidade e viver uma vida aparente. É interessante que a garota utiliza o batom para deixar seu sorriso mais vistoso, utiliza sombras e contornos para realçar seu olhar, deixando mais vivo e suas linhas faciais mais alegres. Ensaia sorrisos, mas percebemos que é falso e aparente, pois não saiu do fundo de sua alma. Ela quer forçar algo que não é, utilizar máscaras, mas vemos sua alma e o quanto está machucada. 

Na parte em que é cantado: "Every day you try to pick up all the pieces All the memories, they somehow never leave you Nobody, nobody, nobody sees you Nobody, nobody would believe you" (Todos os dias você tenta pegar todas as peças Todas as memórias, elas de alguma forma nunca te deixam Ninguém, ninguém, ninguém te vê Ninguém, ninguém acreditaria em você) a garota caminha pela casa deprimida e perplexa (0:48 - 0:56) e começa a escrever uma carta, em forma de desabafo. Após, caminha pela cidade, muito triste (1:00 - 1:03).

Ela estava com sentimentos represados, com sentimentos terríveis dentro de si, mas ninguém via (Somente os espectadores do clipe que puderam perceber isso). 

Imperceptível

Só Deus conhece o interior do ser humano, mas podemos compartilhar fragmentos e pensamentos do nosso próprio ser com confidentes. Entre 1:14 e 1:17, no trecho em que se entoa: "But there's a kind of love that God only knows" (Mas há um tipo de amor que só Deus sabe), conhecemos "o outro lado" de Joel e Luke, que somente Deus poderia conhecer. Primeiro, vemos Luke na cidade e depois a câmera é invertida, mostrando um outro lado da cena... E desse outro lado, surge Joel. Interpreto esse frame como a profundidade do nosso ser, aquilo que guardamos lá no fundo, que manifestamos (ou não) o desejo de compartilhar.

A garota, queria compartilhar isso, mas estava imperceptível para o meio e as pessoas que as cercavam. Provas?! Em 1:38, na parte em que diz: "You keep a cover over every single secret So afraid if someone saw them they would leave But somebody, somebody, somebody sees you Somebody, somebody will never leave you" (Você mantém um disfarce sobre cada segredo Tão assustados que se alguém os visse, iriam embora Alguém, alguém, alguém te vê Alguém, alguém nunca vai te deixa), Joel movimenta suas mãos como se quisesse contar um segredo, desabafo. Em seguida (1:39 - 1:51), a garota surge na lanchonete com amigos e uma amiga dá mais atenção aos outros do que à ela. Ela fica irritada, saindo da lanchonete.  

Interessante que todos na lanchonete estavam felizes, se divertindo, brincando. A protagonista estava fingindo que estava alegre e extrovertida, mas a gente sabe que ela não estava. Ela passou despercebida por todos. Ela queria conversar, desabafar, tirar aquele peso e carga, mas não conseguiu.

Desnorteada

Entre 1:51 e 2:01, corta para Luke na ponte (Fade in) que canta um trecho da música. A câmera é dinâmica. Após, para a moça desnorteada na ponte e também um outro lado dela, com Luke (2:01 - 2:04). A seguir, ela está em um carro e vê mensagens no celular e começa a chorar (2:14 - 2:17; 2:19 - 2:23). 

Parece que ela está no fundo do poço. Sem solução para a vida. Aliás, apenas com uma solução e a mais dolorosa. Ela está decidida a fazer algo contra sua própria vida, então sai do carro (2:23 - 2:26) e caminha rumo a margem da ponte, para o rio. Joel, então, coloca as mãos na cabeça, temendo pelo pior (2:28 - 2:30). Ela está com uma carta nas mãos, aonde traz um desabafo (2:31 - 2:41). 

Talvez na carta ela dissesse, por meio da escrita e das palavras, tudo que não conseguiu falar verbalmente porque não teve espaço. Talvez falasse de seus sonhos, memórias, perspectivas, idealizações. Talvez falasse de suas frustrações, desamparos, medos, lutas, angústias. Vai saber o que ela escreveu...  

Entre 2:41 e 2:46, então, a garota chega diante da ponte. Depois se ajoelha, deixando a carta no chão e se preparando para se jogar precipício abaixo (2:47 - 2:49). 

A câmera se distancia da tela e mostra ela apreensiva, vivendo os últimos minutos/segundos de sua existência nessa terra (2:51 - 2:52). Até o momento em que se joga (2:54 - 2:55).

A cena é chocante, eu sei, e muito controversa, mas o objetivo de For King and Country é de justamente tratar do tema, quase sem nenhum filtro. A realidade nua e crua. Ela se joga como um pontinho na imensidão do cenário e do mar e a câmera se distancia (2:55 - 2:56). Não há sangue, mutilação, mas a cena tem teor forte da mesma forma, mesmo que seja poética. 

E se...

Mesmo que até os quase 3 minutos o vídeo tenha sido chocante e incômodo, ele quer fazer refletir e mostrar um outro lado da moeda, uma nova perspectiva. E SE tudo tivesse sido diferente? E SE a garota tivesse sido ouvida e recebido uma palavra amiga? Desse modo, o clipe demonstra que há solução para tudo, até para uma depressão ou tristeza. Você não precisa tomar as vias de fato.

Assim, entre 2:57 e 3:05 a câmera se aproxima novamente da ponte, a garota é emergida do mar e se rebobina a cena. As cenas vão regredindo, até no instante em que ela sai arrasada da lanchonete e sua amiga corre atrás dela e lhe dá carinho e abraço (3:05 - 3:09). Pronto! Era o que ela precisava naquele momento e fez toda a diferença. Sua amiga mal sabia, mas evitou que ela perdesse sua vida de forma tão trágica, com o suicídio! 

As duas caminham abraçadas pela cidade (3:14 - 3:16; 3:21 - 3:22) e caminham pela ponte aonde aconteceria a tragédia. A protagonista vai até a beirada da ponte e a amiga a abraça e a consola. Ela junta o bilhete do chão e o rasga, em sinal de libertação. Afinal, aquele era um bilhete que ela deixaria para as pessoas após tirar sua vida, mas ela fora "salva e encontrada" por sua amiga, então ele não tinha mais serventia e/ou sentido (3:29). 

A garota, agora, possuía o que mais necessitava: carinho, atenção, compreensão e companhia. Essas necessidades advindas até mesmo dos cantores, que estavam presentes ali, do lado delas, também na beira da ponte (3:34 - 3:39). Você sabe o que é ter apoio das pessoas? Aquela garota sabia disso naquele momento (3:41). 

Quando o tempo reverte e rebobina, vai para o instante em que alguém interage com a garota. É uma interação física. Não é mensagem no Facebook, Whatsapp ou no Instagram. Alguém correu, literalmente, atrás dela, abraçou-a, encontro-a e mudou-a, e isso foi fantástico!

Juntos, para o que der e vier

Os cantores saem da ponte, as amigas também e eles caminham pela estrada (3:45 - 4:01). O clipe é finalizado com uma mensagem de ânimo e informação de preservação da vida que diz: "Love and listen- We need each other" (Amar e ouvir - Precisamos uns dos outros), além do número da Linha Nacional de Prevenção ao Suicídio dos EUA (4:01 - 4:22). O que a garota precisava, em resumo, era ser amada e ouvida. 

O final do clipe não é de apenas nos emocionar (O que ele consegue muito bem, com um final incrível), mas também de informar e nos alertar. Mais do que discursos e palavras bonitas, a banda se conecta com a vida e quer gerar em nós alguma atitude. Não dá para ficar inerte ao assistir o vídeo.

Letra

A letra apresenta uma mensagem profundamente intimista e é considerada esperançosa e cheia de luz. Há uma identificação muito grande dos seres humanos com a letra, afinal, ninguém sabe, de fato, o que você teve que passar para chegar até aqui, a não ser o próprio Deus. É Ele quem conhece nosso interior e coração. A letra também fala de solidão, falta de amor e falta de escuta ao outro. Além disso, de maquiagens e o que fazemos para esconder quem realmente somos ou o que sentimos. 

Selecionei alguns trechos, com comentários meus.

"Wide awake while the world is sound asleepin'

Too afraid of what might show up while you're dreamin'

Nobody, nobody, nobody sees you

Nobody, nobody would believe you

Every day you try to pick up all the pieces

All the memories, they somehow never leave you

Nobody, nobody, nobody sees you

Nobody, nobody would believe you"

(Bem acordado enquanto o mundo está dormindo

Com muito medo do que pode aparecer enquanto você está sonhando

Ninguém, ninguém, ninguém te vê

Ninguém, ninguém acreditaria em você

Todos os dias você tenta pegar todas as peças

Todas as memórias, elas de alguma forma nunca te deixam

Ninguém, ninguém, ninguém te vê

Ninguém, ninguém acreditaria em você)

Aqui mostra como somos imperceptíveis aos outros e como estamos cada vez mais solitários. 

"God only knows what you've been through

God only knows what they say about you

God only knows how it's killing you

But there's a kind of love that God only knows

God only knows what you've been through

God only knows what they say about you

God only knows the real you

But there's a kind of love that God only knows"

(Só Deus sabe o que você passou

Só Deus sabe o que dizem sobre você

Só Deus sabe como isso está te matando

Mas há um tipo de amor que só Deus sabe

Só Deus sabe o que você passou

Só Deus sabe o que dizem sobre você

Só Deus sabe o verdadeiro você

Mas há um tipo de amor que só Deus sabe)

O trecho mostra como podemos negligenciar Deus, pois somente Ele conhece nosso interior e pode preencher essa enorme lacuna em nossas vidas. É interessante que a gente procura o amor no outro, não é mesmo?! Mas o verdadeiro amor somente pode ser encontrado em Deus!

"You keep a cover over every single secret

So afraid if someone saw them they would leave

But somebody, somebody, somebody sees you

Somebody, somebody will never leave you"

(Você mantém um disfarce sobre cada segredo

Tão assustados que se alguém os visse, iriam embora

Alguém, alguém, alguém te vê

Alguém, alguém nunca vai te deixar)

Aqui fala de como utilizamos máscaras e disfarces para mostrar que estamos bem. Uma realidade que não existe. Mas Deus conhece a verdade ao nosso respeito e o que guardamos. 

Música

É o segundo single do álbum Burn the ships (2018) e atingiu a segunda posição do US Hot Christian Songs e 24º no Billboard Bubbling Under Hot 100. Ela é tocada em uma chave D Maior e 144 batidas por minuto. Ela foi escrita em tempo comum, tendo o alcance vocal dos irmãos Smallbone em uma extensão de A2 a G4. 

Para os críticos, é uma faixa emocional permeada de esperança que aborda a depressão e o suicídio que poderia ser facilmente combinada com Imagine Dragons ou Fun. 

God only knows foi considerada a Melhor Música Pop/Contemporânea gravada do ano de 2019 pelo Dove Awards. Joel Smallbone disse ao aceitar o prêmio que a música parecia "um presente de Deus". Em 2020, mais um prêmio: o de Melhor Performance/Canção de Música Cristã Contemporânea no Grammy Awards. 

Uma fortíssima mensagem

Uma curiosidade pertinente sobre God only knows é que na semana em que os irmãos Smallbone estavam criando o conceito de vídeo, houveram dois suicídios de famosos americanos: Anthony Bourdain, chef, escritor e apresentador de TV; e Kate Spade, jornalista de moda. Foi com essas mortes de contexto, que decidiram fazer um clipe em apoio à prevenção do suicídio. 

De fato um clipe muito forte e que nos faz refletir. Uma ótima forma de começar esse mês que é conhecido como Setembro Amarelo, o Mês de preservação da vida e prevenção ao suicídio! Até o próximo Entre Frames! J-J

Por: Emerson Garcia