Carne Vale é uma expressão latina que significa “adeus à carne” em referência ao período da Quaresma que se aproxima, liturgicamente marcado pelo jejum e por outras penitências e sacrifícios. Consequentemente, meio que para tentar compensar a carência vindoura, não é de se estranhar que, durante essas festividades, as pessoas se acostumaram a abusar da carne, doces, álcool, desejos sexuais e de quaisquer outras coisas que possam vir a ser objeto das suas futuras abstenções.
Certas autoridades e políticos, no entanto, apesar de não se absterem de fazê-la ao longo do restante do ano, aproveitam esse período para abusar ainda mais da paciência e passividade do povo brasileiro. A última veio do Diretor-Geral da Polícia Federal, que novamente se manifestou descabida e publicamente para defender o presidente na única investigação ainda pendente contra ele, no Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista à agência Reuters, Fernando Segóvia afirmou não haver indícios de que o decreto dos Portos, sancionado por Temer em maio de 2017, tenha beneficiado a empresa Rodrimar, aventando, ainda, a possibilidade de punição do delegado encarregado do inquérito.
A festa, também, é marcada pela inversão geral das regras e convenções cotidianas. As pessoas se fantasiam, rico se mistura com pobre, homem se veste de mulher. Por que não aproveitar, então, para desautorizar outros magistrados e mandar soltar presidiários? Essa foi a contribuição de Gilmar Mendes, “muso” multi-homenageado nessa época, ao conceder a liberdade ao ex-secretário de Saúde de Sérgio Cabral, Sérgio Côrtes, preso na Operação Fatura Exposta, desdobramento da Lava Jato no Rio. Afinal, como disse o próprio beneficiado: "as putarias têm que continuar”.
Se bem que, nesse quesito, como na Bahia, o Carnaval de Gilmar é o ano inteiro. Ele já havia concedido habeas corpus aos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita, presos naquela mesma operação. Livrou também o ex-governador Anthony Garotinho, o ex-médico estuprador Roger Abdelmassih (que depois fugiu para o Líbano), o ex-banqueiro Daniel Dantas, entre outros casos ilustres. O empresário carioca Jacob Barata Filho, mais conhecido como “Rei do ônibus”, deve ter mais prestígio que o Rei Momo. Foi solto pelo Ministro três vezes seguidas.
Para todos esses abusos, só há um remédio possível. Passada a ressaca da folia, a população precisa limpar o glitter, despir sua fantasia de palhaço e encarar a realidade o quanto antes. Para conseguir mudanças positivas no país, as pessoas terão que atuar juntas, conscientizando-se umas às outras e mobilizando-se para formar um bloco cada vez maior, mais organizado e coeso para lutarem por aquilo que querem. Sem pressão, nenhuma das pautas que efetivamente interessam ao Brasil - a exemplo de uma ampla reforma política, incluindo o fim do foro privilegiado, - vai avançar no Congresso. Daí, então, o cavaco não será o único a chorar... J-J
Por: Regis Machado, auditor do Tribunal de Contas da União
O Brasil não é pra amadores né?
ResponderExcluirBoa semana ♥
Beijinhos
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