segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Quem quer dinheiro?





Mais uma vez a vida imita a arte. Lembrando o famoso programa dominical de auditório, a política brasileira se reduziu a um descarado Topa Tudo por Dinheiro. Em troca de apoio político para barrar a denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo organizou um verdadeiro balcão de negócios, no qual foram negociados verbas, cargos e emendas parlamentares em plena luz do dia, à vista de todos, sem nenhuma cerimônia e, menos ainda, rubor nas faces. A compra de votos se estendeu até o plenário, minutos antes da votação, pouco importando se havia jornalistas presentes.

Contrariando 81% da população (e 89% dos jovens), os nobres deputados rejeitaram o prosseguimento da denúncia por corrupção passiva oferecida pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Sem entrar aqui no mérito em si da denúncia, o fato é que os parlamentares brasileiros há muito deixaram de representar o povo. Representam, hoje, apenas os interesses de quem pagar mais, sejam as empresas, financiadoras das campanhas políticas por meios ilícitos; seja o governo de ocasião, comprando com migalhas o futuro de uma nação inteira, que permanece à míngua, sem educação, saúde e segurança públicas com o mínimo de qualidade, apesar da maior carga tributária da América Latina e uma das maiores do mundo.

Mas o pior de tudo é que você, cidadão, por mais que não concorde com esse e com outros muitos descalabros - a exemplo da desfiguração das 10 medidas contra a corrupção - é quem, no fundo, acaba pagando por todos eles, pois o dinheiro entregue pelas empresas via caixa 2 é, em essência, dinheiro público desviado nos mandatos anteriores e atual, e que seguirá sendo nos futuros mandatos. Igualmente público é o dinheiro das verbas, emendas e cargos utilizados para comprar votos e apoio político no Congresso.

O custo de toda essa última farra com o dinheiro público, de mais de 17 bilhões (com B mesmo!) de reais, você está pagando neste exato momento, por meio do aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis. Enquanto carreiras públicas privilegiadas solicitam e aprovam ultrajantes reajustes salariais de 16% a 41,3%, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anuncia que o governo não conseguirá cumprir as metas fiscais estabelecidas para este e os próximos anos, as quais já previam rombos nas contas públicas de R$ 139 e R$ 129 bilhões, respectivamente. Crise? Que crise? Não contente em custar mais de R$ 1 milhão por hora para o contribuinte, além de usufruir de dois recessos anuais e uma rotina de trabalho de apenas três dias na semana, o Poder Legislativo acaba de anunciar que gastará nada menos que R$ 8,3 milhões apenas com aluguel de carros zero-quilômetro para os 81 senadores, valor esse que não inclui o custo dos motoristas.

Contudo, não desanime. Mudar essa realidade, apesar de não ser fácil, é possível, sim. E, igualmente, depende apenas de você, cidadão. Para ser efetiva, essa mudança deverá incluir ações de curto, médio e longo prazos. Portanto, preste muita atenção. No curto prazo, utilize o poder do seu voto, nas eleições de 2018 e nas seguintes, para não eleger ou reeleger nenhum dos políticos profissionais, nem seus familiares. Ajude a promover uma ampla renovação na política, eliminando do Congresso, dos palácios, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais nomes e sobrenomes que há décadas dividiram o país em novas capitanias hereditárias, chamadas partidos, cartelizando o assalto aos cofres públicos. 

No médio prazo, envolva-se mais nos debates, participe e apoie ativamente projetos e iniciativas, locais e nacionais, com as quais você concorde, para pressionar por mudanças positivas para o país. A atividade política, em si, não é corrupta. Corruptas são as pessoas. Exatamente por isso, é preciso promover o envolvimento cada vez maior de cidadãos de bem na política nacional. Cidadãos preocupados em fazer o que é justo e o que é correto, doa a quem doer. Cidadãos preocupados com o futuro do Brasil, com o interesse coletivo, não com seus próprios interesses ou de terceiros. 

Por fim, no longo prazo, não há como sustentar qualquer projeto de melhoria sem uma verdadeira priorização da educação, sem discursos demagógicos e promessas populistas. Apenas seguir o exemplo de Cingapura, país que, em poucas décadas, apostando na meritocracia e na valorização dos professores, tornou-se referência mundial no assunto.

Enfim, há muita coisa a ser feita. As pessoas só precisam acordar para o fato de que ninguém irá melhorar o país para elas. Não adianta recorrer às forças armadas. Quem pode, e vai, melhorar o Brasil, são os próprios brasileiros. Não existem salvadores da pátria. Não mais. De repente, se a Justiça Eleitoral não tivesse apeado da corrida presidencial de 1989 o empresário e apresentador Silvio Santos, quem sabe ao menos o povo, não poderia estar participando também dessa festa de aviõezinhos de dinheiro público. 'Ma oeee' ... J-J


Por: Regis Machado, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU)

Um comentário :

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