sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Dom do olhar: 'Intimidade depressiva' por Leomax Lester e Douglas Amorim















Hoje, na parceria da tag jornalista  ≠ idealizada por mim e pelo Arthur Claro, iremos falar sobre o tema Setembro amarelo (já explicado aqui). O Arthur, por meio de sua ótica e foco (veja aqui o que ele bolou), e eu pelos meus. Desse modo, decidi trazer um ensaio fotográfico sobre o tema, um Dom do olhar.

O ensaio em questão chama-se Intimidade depressiva- Traduzindo em imagens doenças mentais, criado em dezembro de 2016 e publicado em janeiro de 2017, do fotógrafo Leomax Lester e do psicólogo Douglas Amorim. Ele tem o objetivo de apresentar doenças psicológicas e emocionais de forma visual, principalmente para quem não tem ideia ou conhecimento do que elas sejam, assim como o psicólogo falou:

“Quis mostrar visualmente essa angústia para quem nunca a sofreu”.






















Leomax é cuiabano, fotógrafo audidata e publicitário em formação. Já Douglas também é cuiabano e psicólogo organizacional. Ambos se uniram nesse projeto. Leia o que Douglas disse:

“Eu sabia que ia acontecer a campanha Janeiro Branco, e queria fazer algum tipo de manifestação. Vi um material que uma moça fez sobre ansiedade e gostei, mas queria algo mais artístico. Por isso, convidei o fotógrafo Leomax Lester, e juntos fizemos o projeto”.


Embora as fotos tenham sido criadas para a campanha Janeiro branco, elas podem ser tranquilamente para o Setembro amarelo

O ensaio rendeu à dupla bastante repercussão e compartilhamento das fotos no Buzzfeed de vários países, como do Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Espanha, além da mídia regional. Fico grato por esse reconhecimento, principalmente por ser de um trabalho de brasileiros. 



O ensaio


O ensaio foi composto por dez fotos que traduzem diversas manifestações emocionais e psicológicas, como a depressão, suicídio, síndrome do pânico, embotamento afetivo ou emocional, transtorno de ansiedade, etc. 

O objetivo foi criar empatia e trazer informação sobre doenças mentais que podem levar ao suicídio, através de um viés artístico, fotográfico e, principalmente, teatral, já que Douglas Amorim também teve aulas de teatro e expressão corporal. Inclusive é ele o modelo das fotos, o que gerou polêmica e crítica (falarei em outro tópico!). Veja o que o psicólogo falou sobre o trabalho:

“Quis fazer as pessoas que sofrem se sentirem traduzidas e impelidas a buscar ajuda. Meu objetivo primeiramente era a psicoeducação, ou seja, ensinar as pessoas a procurar ajuda profissional tanto para tratamento quanto para prevenção de patologias. Além disso, eu queria acolher quem se sentia daquela maneira e, principalmente, mostrar para as outras pessoas, que nunca tiveram depressão, por exemplo, como os que têm se sentem. Criar um sentimento empático”.



Irei mostrar as fotos desse ensaio e comentá-las agora.


AVISO: Abaixo existem imagens sensíveis sobre suicídio!





Essa foto representa o sentimento de embotamento emocional e afetivo, que é quando a pessoa não tem vontade de fazer nada, muito menos levantar da cama e escovar os dentes. É uma imagem forte que impressiona, né?! 

Visual e estética: Gostei muito do lado sombrio dela e das composições com terra e raízes.





O clique representa a sensação de estar acorrentado, como muitos depressivos e pessoas com problemas emocionais se sentem. Quando alguém dizer que "depressão é frescura", mostre a ela essa imagem para ela compreender melhor a doença. “Quis mostrar visualmente essa angústia para quem nunca a sofreu”, explicou Douglas. 

Visual e estética: Iluminação sensacional! Além disso, parece que a foto está em movimento e que à qualquer momento o modelo será enforcado e cairá.





Esta traduz a sensação de ter virado um objeto e a perda de significado de si próprio. A vontade da pessoa depressiva é de sumir, desaparecer e se clamufar, assim como a foto sugere.

Visual e estética: Locação interessante. Ela traduz um ar bucólico, porém bastante triste.





Uma imagem que representa a sensação de sempre ser perseguido pela doença emocional ou psicológica, não importa onde vá. "Os morcegos representam a doença mental", explicou Douglas. Uma imagem que causa agonia e pânico só de olhar!

Visual e estética: Gostei muito dos recursos empregados na foto (Talvez o Photoshop pra criar os morcegos e a fumaça) porque a deixou com um ar sombrio e aterrorizante. Creio que a foto tenha sido trabalhada também em ambiente digital para ficar incrível.





Uma foto que representou muito bem o transtorno de ansiedade e a pessoa que sofre por antecipação e por conta de algo que ainda não aconteceu. Muitas vezes, elas são reféns do tempo, assim como retratado na foto.

Visual e estética: Adorei a máscara utilizada pelo modelo, assim como os relógios, que parecem estar em movimento e distorcidos.






Essa foto retrata a síndrome do pânico, que é uma sensação física de perigo mortal iminente. “As pessoas não sabem que tem tratamento, entendem como fraqueza. Os números só aumentam e isso não é tratado como caso de saúde pública”, explica o psicólogo. Li dia desses que a síndrome do pânico é o medo de ter medo, e concordo. É uma sensação de estar sufocado e preso.

Visual e estética: Uma foto que me deixou agoniado com esses vários braços e mãos! 






O clique representa fobia social e timidez patológica, ocasionadas pela depressão. Quem encontra-se nessa situação quer manter-se sozinho e acredita que o suicídio é a única saída existente.

Visual e estética: Gostei muito dos tons de preto utilizados na fotografia.






Uma foto que representa a bipolaridade e a instabilidade emocional. O bipolar ora está feliz, ora está triste; ora bem humorado, ora mal. Muitas vezes nem todos compreendem isso.

Visual e estética: A foto demonstra movimento. Também gostei bastante dessas bordas esbranquiçadas.






Está imagem representa alguém prostrado diante das coisas, a ponto de ficar paralisado e estagnado.

Visual e estética: Gostei muito de ser utilizado galhos na composição, assim como ampulhetas. A imagem me lembra bastante as estações do inverno e outono. 






Uma foto que traduz a despersonificação. Douglas a define como "transforma-se em outra pessoa, de forma que qualquer coisa pareça insuportável, intransponível. Quem está em depressão jamais age como agia.

Visual e estética: Adorei o recurso de edição de retirar a cabeça do modelo, assim como a posição em que ele manteve-se na foto. As aranhas e suas teias, bem como as árvores escuras atrás também deram um ar a mais na imagem.


Mais do que informação e alerta, esse é um ensaio artístico que se comunica com o imaginário humano e produz diversas sensações emocionais. Com essas fotos, Lester e Amorim imergiram em um mundo paralelo, mas que tem um pé na realidade, para construir imagens baseadas em dramas humanos existentes. 


A inspiração


Douglas e Leomax se inspiraram esteticamente no trabalho da fotógrafa americana Brooke Shaden. Ela cria imagens surreais e impressionistas com uma câmera e o auxílio do editor de imagens Photoshop.

Quando colocamos o trabalho de Leomax e Douglas ladeado ao de Brooke percebemos muitas semelhanças. Inclusive, abaixo, selecionei algumas imagens da fotógrafa que me lembraram muito o ensaio Intimidade depressiva (Você pode ver o trabalho completo de Brooke aqui). Veja:


























E aí, o que vocês acharam?


Enquanto no trabalho de Brooke percebe-se muito do expressionismo, no de Lester e Amorim vai além, a partir de uma comunicação direta com seu interlocutor.


As críticas


"O que?! Um psicólogo se expor dessa forma? Falar de suicídio, de doenças mentais e emocionais teatral e artisticamente? É inadmissível 'ficar de brincadeira' nas redes sociais ao se falar desse tema!" Os críticos disseram a respeito de Douglas Amorim.

Existe o tabu que psicólogo não pode expor seus sentimentos e doenças, e Douglas fez exatamente isso. Ele, que possui 29 anos, já teve depressão e não contou à ninguém. Resolveu expor isso com esse ensaio e recebeu uma ligação de sua tia, chateada ao vê-lo que ele era o modelo das fotos. Fora muito criticado pela exposição por ser um psicólogo. E psicólogo não sente dor, não sofre e é de ferro né?! Entretanto, antes de tudo psicólogo é humano.

Além disso, provavelmente Douglas Amorim sofreu represálias pelo tom artístico e teatral das fotos. E não pode "ficar de brincadeira" nas redes sociais ao retratar esse tema tão sério, não é mesmo?!

Douglas não só se expôs com esse ensaio (QUE PECADO! UIUIUI!), como com sua conta pessoal no Instagram (clique aqui). Leia seu depoimento (com acréscimos):

“Na verdade eu fui muito criticado por isso, por colegas que me diziam que o psicólogo não podia se expor. Mas foi depois que deixei essa ideia de lado que eu consegui fazer o que eu queria [criar a conta no Instagram com reflexões e textos], porque não existe nada no código de ética que impeça o profissional de ter uma vida online”. 



Que esse trabalho repercuta! 


Criar um ensaio como esse não é "ficar de brincadeira nas redes sociais sobre um assunto tão sério" (Mais detalhes sobre essas aspas na próxima segunda, 18). Não é por que trata-se de um trabalho artístico, estético e teatral que os autores foram desrespeitosos e brincalhões com a depressão e o suicídio. Pelo contrário, eles quiseram alertar, despertar e impactar as pessoas. 

Espero que esse trabalho repercuta ainda mais e que as doenças psicológicas e emocionais não sejam mais vistas como um tabu, já que agora todos as entendem, a partir desse ensaio psicoeducacional. J-J


#vocênãoquermorrer
#desabafe
#setembroamarelo





4 comentários :

  1. as fotos estão MUITO boas. de verdade. adorei! algumas estão bem pesadas e dão realmente uma 'angústia' de olhar. vocês mandaram muito bem.


    Beijinhos
    n. // www.fashionjacket.com.br

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    Respostas
    1. Essa foi a intenção dos autores. Eles conseguiram passar a mensagem.

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  2. Parabéns pelo pos!!! Precisamos abandonar atitudes arcaicas para prevenção e promoção da saúde mental! Por causa de muitos tabus em torno do suicídio o número de perdas é alarmane. Muita dor e sofrimento podem sim ser evitados!!! PARABÉNS!!! São iniciativas assim que merecem ser aplaudida..


    Parabéns!!! Achei muito legal o post!!! Precisamos evitar atitudes arcaicas... Por causa de muitos tabus em torno do suicídio ganhamos apenas dor e sofrimento. Por isso sou a favor da promoção e prevenção da saúde mental! PARABENS ATITUDES COMO A SUA, DE TIRAR TEMPO PARA FAZER PARTE DE UMA CAMPANHA DESSA PODE FAZER DIFERENÇA EM ALGUMAS VIDAS... OBRIDADA PELOS DEMAIS POSTS!Bjs

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