A publicidade brasileira tem muito a aprender com o "Burger King" e o "McDonald's" franceses

Duas marcas tornaram a se enfrentar no campo de batalha da publicidade. Falei desse mercado competitivo, estratégico e sanguinário no post Slogan usurpado: S de Sadia ou de Seara? e dos seus desdobramentos em Guerra dos frios. Diferentemente das marcas brasileiras Seara e Sadia que motivaram ações judiciais no Conar, McDonald's e Burker King, marcas internacionais e conhecidas em todo o planeta, provocaram-se comercialmente falando, mas nada de colocar a justiça no meio.

Falamos da França, país de liberdade em todos os níveis. O Brasil, embora com espírito democrático e libertário, ainda incorre em erros de "achar a propaganda de fulano de tal provocativa e de ser digna de ir pra justiça". É só lembrarmos de todo a polêmica gerada com o Digitau recentemente.

No Brasil, somos capazes de calar a liberdade publicitária; de dizer o que é correto ou errado, em se tratando de arte e publicidade; de calar a voz de grandes marcas, não as permitindo que elas provoquem outras. Não tem nada a ver com concorrência desleal ou "jogar sujo". Tem a ver com estratégia de marketing e perspicácia. O Digitau, por exemplo, não tinha a ver com jogar sujo com a gramática, mas com uma licença poética e um jogo de palavras. 

O caso do país do Pedro Blanche

Tudo começou com a McDonald's francesa produzir um outdoor explicando "como se chegar ao Burger King mais próximo". A princípio, parece que a empresa do Ronald McDonald's quer ajudar seu concorrente, mas não. Quer atrapalhá-lo, criando um mapa cheio de setas, paradas e locais. O McDonald's diz que o BK mais próximo fica a 258 km. Veja:

Fala sério! Eu amo o BK, mas entre dirigir 258 Km e 5 Km, o que vocês acham que eu escolheria? Isso aí! Ronald McDonald's na cabeça! 

A sacada da marca foi perfeita. A campanha é assinada pela TBWAParis e tem até uma propaganda veiculada na TV:

E como ficou o BK depois disso? "Colocou o MC na justiça, Emerson!" Negativo! Mas se fosse aqui no Brasil era exatamente isso que ia acontecer, e adeus investimentos publicitários e tempo disponibilizado para a campanha. O BK respondeu de forma provocativa e bem-humorada ao concorrente, com uma campanha publicitária televisiva. "Mas Emerson, a Sadia também fez isso aqui no Brasil". Sim, fez. Depois de perder uma ação na justiça e a campanha da Seara retornar à tv. Vai vendo. 

Na campanha, o BK se apropria da ideia do MC, de algumas cenas e da placa na estrada, e mostra um casal que se depara com a placa no caminho e opta por ir até o MC. Lá pedem um café grande e explicam para a atendente que "a viagem seria longa". 

"A ideia [...] é mostrar que os fãs de Whooper não se incomodam com a distância para poder apreciar os produtos da marca". 

A campanha é assinada pela Buzzman Paris.

O mundo aguarda por uma tréplica do McDonald's, mas acho que o BK o calou por um bom tempo. Enquanto isso, o Giraffas propõe um acordo de paz para vender um de seus produtos tipicamente francês: o Petit-Gateau. 

Deixem a disputa de lado e venham fazer as pazes com a mais francesa das nossas sobremesas. #PeaceDayTodoDiaMcDonald's...
Publicado por Giraffas em Quarta, 2 de março de 2016

"Jogar sujo?" Não! Estratégia de marketing

O que as marcas utilizaram foram estratégias de marketing para atingir os seus objetivos.  Não existe nada de mal em ser competitivo, desafiador e mostrar inovação, mesmo por meio da provocação de seus principais concorrentes.

Confira algumas dessas propagandas provocativas. A primeira, mostra que a rivalidade entre as marcas de fast-food's não é de agora:

Já a Samsung resolveu provocar a Apple justamente na área em que a concorrente tem mais dificuldade: autonomia de bateria.

Neste anúncio, a Nokia mata dois coelhos como uma cajadada, como se diz na gíria: promove o lançamento de seu smartphone e ainda tira um sarro da velha briga entre Apple e Samsung.

A publicidade brasileira ainda tem muito a aprender. J-J

Por: Emerson Garcia