segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Liga: Realidade ou Ficção?


Será que o programa A Liga - que passava todas as terças às 22h30 na Band até ano passado (2015) e que teve dois episódios inéditos em fevereiro desse ano - poderia ser classificado como jornalismo investigativo de caráter público, levando em consideração que, de acordo com os idealistas do programa, é um entretenimento? A propaganda de “mostrar a realidade de dentro” e “quanto mais os olhos vêem mais eles podem enxergar”, mostram um processo televisual de assegurar a realidade e o jornalismo investigativo. 

Quando nos amparamos em teorias jornalísticas - que tem como foco o jornalista ser objetivo, ser direto em suas matérias, com o objetivo do ethos jornalístico, além de ser cauteloso e imparcial em suas reportagens investigativas, não imprimir suas subjetividades na matéria, sempre se comportar de forma realística sem a ficção - percebemos que em A Liga os valores objetivos jornalísticos são relativizados. 

Há escancarado a opinião pessoal do repórter, que é muito mais do que um mero pensamento, e sim, uma notabilidade de ser famoso e conhecido pelo público. O objetivo não é deixar claro a opinião, que eles até dizem ser verdadeira, e sim, um modo de se destacar profissionalmente, por meio da ficção e do humor. 

Um dos itens importantes que são conferidos dentro do jornalismo investigativo são os arquivos bem organizados, checagem, paciência e concentração, entre outros. Na técnica, o autor Leandro Fortes nos diz que uma boa reportagem investigativa é aquela que dá conta da pesquisa. Em A Liga, podemos perceber que os episódios concentraram-se mais em testemunhas e imagens, do que em materiais e documentos. O que nos faz chegar a conclusão que o programa não é jornalismo investigativo e nem se detêm no conhecimento policial básico. Para efeito de sentido, os repórteres fazem crer que ao entrevistar um amplo número de fontes, estão realizando uma boa investigação. Contudo, não há um sentido claro da utilização das fontes e de suas contraposições. 

Na mesma perspectiva, quando o programa apresenta-se com paladinos e heróis, ou seja, pessoas que intitulam-se capazes em investigar situações desconhecidas pelo público e aquelas, que em um passe de mágica, limpam as viseiras da população, nada mais é que, de novo, a falsa utilização da práxis jornalística, em uma perspectiva de pseudo jornalismo-cidadão, além de apenas notabilizar apresentadores como Rafinha Bastos em Moradores de Rua, que apesar de caracterizar-se como mendigo, serviu mais para transformá-lo em um showman, do que alertar a população.

The Illuminated Showman


Contudo, quando falamos de ir a frente da objetividade, substituindo-a pela subjetividade, estamos falando de uma atração que não possui características somente do jornalismo; e sim de outros conceitos de tom ficcional, algo muito a ver com a atração ser considerada um show televisual, que quer colocar os repórteres ora em situações cômicas, ora em dramáticas, vestidos de uma forma incomum, como se fosse um teatro “jornalístico”, com falas improvisadas, e encenações.

Mas, ao ultrapassar o ethos jornalístico, os repórteres de A Liga ainda se amparam em conceitos do jornalismo investigativo, do jornalismo público e da reportagem na TV. Os dados não foram inventados, nem foram entrevistadas pessoas fictícias. Entretanto passa-se facilmente do mundo real para o ficcional e lúdico, porque o objetivo claro da atração é a retenção de público e manutenção de audiência. E, atualmente, os programas de humor e entretenimento são os que tem dado maior audiência, como o Pânico na Band e CQC (que está na geladeira em 2016), ambos da Band.

A todo momento, os apresentadores compuseram o que se chama de “personagem investigativo”, ou seja, uma pessoa ficcional baseada na realidade. Em Milionários, que Rafinha “criou” um personagem preconceituoso, sem educação e sem regras de etiquetas. Em Mudanças Climáticas, quando Rafinha compôs o personagem do benfeitor, aquele que vai resolver os problemas da população e que briga pelas causas sociais. E em Prostituição, que Rosanne tornou-se uma prostituta que sofre preconceito e que se apresenta sensual e sedutora. 

A Liga aparenta possuir valores objetivos jornalísticos, mas eles são remodelados, quando faz com que o público acredite que por ter multiplicidade de opinião, é jornalismo; que por trazer problemas sociais, é jornalismo cidadão; que, por trazer a ideia de respeito as fontes e suas dores, é interesse público; que por trazer um “personagem investigativo”, a reportagem é investigativa. Contudo, a atração pode ser resumida em hibridismo narrativo televisual, onde os apresentadores buscam o glamour e ser uma celebridade; onde a cada terça-feira é um show televisual diferente; onde o espaço real é confundido, e muitas vezes substituído pelo mundo ficcional e lúdico; onde a preocupação é a audiência e entretenimento do público; e onde o objetivo é provocar sorrisos do público e admiração pelos apresentadores que fizeram nada mais, nada menos, que um jogo teatral. J-J

Guia brasileiro






Por: Emerson Garcia

20 comentários :

  1. Oi Emerson, quanto tempo! Olha, eu desisti faz tempo de acompanhar esses programas de "jornalismo investigativo" com jornalistas-celebridades... Não tenho paciência pra tanta coisa armada, combinada... Zero jornalismo na minha (humilde) opinião de jornalista.

    http://naomemandeflores.com

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    1. Você é das minhas. Se é pra mostrar a realidade, porque a invenção e a armação? Isso que eu não consigo entender também.

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  2. Já assisti a LIGA várias vezes e acho bem legal, agora se é ou não fictício o real eu não sei. Mas nos dias de hoje tudo é meio combinado então não dá pra escolher muitoo.
    Gostei do post.
    Beijos
    neversaynever-believe.blogspot.com.br

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    1. O que eu posso dizer, de acordo com os meus estudos de tcc, é que "A Liga" é os dois, e eu posso te afirmar isso com certeza.

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  3. Olá, não sou muito fã deste programa, nunca assistir um episodio sequer. A única coisa que eu assisto na bande é o pânico. Mas foi bom você ter tocado no assunto, como eu não assistia, não sabia sobre isso. Tem post novo lá no blog, passa lá.

    Abraços,
    J. A. Santos

    http://j-a-santos.blogspot.com

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    1. "Pânico" tem muitas características de "A Liga", olha que interessante?

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  4. Eu não assisto esse programa, mas tenho um ponto contra você. Vamos supor que o personagem fosse real, isso não é considerado investigativo porque você daria voz à vítima? Juro, se os personagens fossem reais pra mim seria jornalista. Nós não somos o dono da verdade, quando damos voz a alguém nossa opinião vale muito mais. Acho que isso você descreveu é um jornalista mais careta (minha opinião), acho que sem as músicas (odeio músicas em reportagens) e alguém real contando sobre sua história sem o sensacionalismo é jornalismo.
    "A Liga aparenta possuir valores objetivos jornalísticos, mas eles são remodelados, quando faz com que o público acredite que por ter multiplicidade de opinião, é jornalismo; que por trazer problemas sociais, é jornalismo cidadão; que, por trazer a ideia de respeito as fontes e suas dores, é interesse público; que por trazer um “personagem investigativo”, a reportagem é investigativa. " A liga pode não estar certa, mas jornalismo cidadão mostrar problemas sociais e assim por diante. Se não, para que serve o jornalismo? Discordo dessa sua frase.

    www.vestindoideias.com

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    1. Olá, Carla.
      Não sei se você compreendeu bem, mas existem personagens e personagens. Quando você vai fazer uma matéria, é claro que é preciso de alguém real para falar daquilo, mas o que eu disse no post é do jornalista torna-se um personagem, que muitas vezes é criado para entreter, emocionar e refletir. E muitas vezes esse personagem que o jornalista veste não é real, nem reflete sua realidade.
      Se jornalismo investigativo pra você é isso, "A Liga" não se encaixaria nesses termos. Temos músicas, encenações, teatros, figurinos, cgs e cenários no estúdio.
      Por fim, o que eu me referi, e o que estava em jogo, era o "jornalismo innvestigativo" de "A Liga ", que eu analisei por um ano e meio para fazer o meu tcc.
      Beijos.

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  5. Eu nunca assisti kk' nem sabia como funcionava
    www.byanak.com.br

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  6. Olá JJ,
    Como vai?

    Também nunca assisti.. para mim é novidade.

    Um beijo,

    www.purestyle.com.br

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  7. Muito interessante os seus apontamentos. Não assistia esse programa, então não tenho uma opinião formada. Mas você me fez pensar sobre o assunto :)

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Que bom que tive essa capacidade de fazer você refletir.
      Beijos.

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  8. Eu não assisto o programa e nem sabia sobre o que se tratava até agora rs
    kisses

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  9. Na época eu assistia A liga, achava interessante o programa... mas com o tempo eu percebi que ele manipulava as pessoas e cada vez mais os casos eram mais sensacionalistas. Enfim, parei de acompanhar e nem sei dizer se ainda passa esse programa ou não.

    Beijokas da Mylloka
    http://myllokasecret.blogspot.com.br/

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    1. Passa. Esse ano ele vai pra quinta ou sexta temporada, mas não tenho mais informações.

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  10. Já assisti alguns programas e é realmente um show jornalistico. Não que o tendencialismo não faça parte do jornalismo mas neste programa é nítido. Há um tipo de glamurização dos fatos que incomoda e tenta cavar soluções práticas.

    Gostei muito do seu ponto, muitas pessoas não passam do que eles falam superficialmente.

    Beto


    blogcoisastriviais.blogspot.com

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  11. Eu assistia de vez em quando e adorava, não sei se virou mais sensacionalista agora (porque faz tempo que não assisto) mas quando eu assistia o programa parecia ser bem sério e o fato de eles criarem um personagem era uma forma de nos fazer entrar naquele mundo junto com eles para entendermos melhor a situação. Mesmo discordando em alguns pontos, gostei de ver esse lado, é legal ver opiniões diferentes sobre um mesmo assunto ^^
    Um beijão,
    Gabi do likegabs.blogspot.com ♡

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    1. Que bom que você acompanhava. Pois é, a multiplicidade de opiniões é uma dádiva.

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