sábado, 16 de abril de 2016

"Racista, a Kéfera?": mais uma discussão sobre "blackface"

Nessa semana, uma polêmica que envolveu a youtuber Kéfera Bushmann deu o que falar. Ela publicou um vídeo-paródia da música Work de Rihanna, que trazia ela como a cantora, e seu namorado Gusta Stockler, como o rapper Drake. O motivo da polêmica, foi porque internautas e haters a acusaram de ser adepta do blackface e de ser racista, devido, a princípio, seu namorado Gusta usar maquiagem negra/morena para se parecer com o artista.



Assisti aos dois clipes - o original e o da paródia - e observei que "os dedos nervosos" da internet, como o Pedro falou nesse texto sobre blackface, estão enganados. Para acusar alguém de algo, deve-se ter certeza e conhecimento, bem como, para utilizar-se de algo, é preciso saber com o que está mexendo. Vamos a um conceito que Pedro utilizou no texto:

"[Blackface] Para quem não sabe, é quando um artista branco pinta seu rosto de preto para fazer uma personagem negra (e, naquela época, imitar os estereótipos racistas a respeito dos negros). Em termos raciais é algo a ser firmemente repudiado".


Gusta não é um artista branco, posso afirmar isso com certeza. Ele tem traços negros e indígenas, mesmo que tenha o cabelo liso escorrido. O que ele fez - e isso todo artista faz para ficar mais apresentado na tela - foi retocar seu rosto com produtos de beleza e maquiagem. Ele não passou uma tonalidade escura, para tornar-se negro, pois ele já tinha esse tom de pele. Veja a foto de antes e depois dele e seu texto esclarecedor no Facebook para tirar suas próprias conclusões:

A hipocrisia rola tão solta que os haters apontaram seus dedinhos nervosos para Gusta que tem "pele morena e com traços indígenos em sua aparência", e esqueceram de julgar a forma que Kéfera aparece no vídeo: com seu próprio tom de pele branco e somente a maquiagem parecida com a de Rihanna. Rihanna é morena e Kéfera branca, e ela não arriscou pintar-se de negra para se parecer com a cantora. Se isso acontecesse, o show de pedradas seria sem limites. E aí eu concordaria com os internautas de Kéfera ser adepta da blackface


Blackface na história

Vamos tentar contextualizar toda a polêmica e história do blackface e analisar se esse conceito se encaixa ou não ao caso de Gusta. 

O blackface foi/é utilizado como uma performance caricata, preconceituosa e estereotipada. Essa caracterização ocorria por volta dos anos 1830-1890 em shows de menéstreis, e ficaram fixas no imaginário do americano, criando estereótipos bastante racistas.

The Black And White Minstrel Show on Television


O que era pra ser apenas um show de entretenimento, tornou-se uma apresentação ofensiva, que põe a prova a dignidade e os estereótipos de negros (grifos meus):

"Comediantes faziam sucesso apresentando, para um público formado por aristocratas brancos, personagens estereotipados de pessoas negras com o intuito de ridicularizá-las. Além de pintar o rosto de preto, esses comediantes pintavam exageradamente a boca de vermelho para chegarem numa “representação ideal” do que eles julgavam ser o negro". (Fonte: Carta Capital)


Sempre eram artistas brancos que pintavam seus rostos e peles de negro ou de uma tonalidade de marrom. Talvez para economizar e não contratar um negro de fato para o cast, mas também, para criar estereótipos que perpetuam até o dia de hoje. Estereótipos como: negro tem cabelo "de Bombril", a pele negra não tem variações, os lábios de pessoas negras são carnudos, grossos e bastante avermelhados. Algo que não fugia da imagem abaixo:



Daí percebemos o perigo de estereotipação. Somos milhares de pessoas no mundo, e nenhuma delas se parece com ninguém, pode ser negro, pardo, branco. E pode até ser oriental e com os olhos puxados. Você é único. Aliás, a estereotipação errônea hoje em dia passa na questão de que "todo oriental é igual ao outro, e que toda pessoa do Oriente Médio é terrorista". Não é bem assim.

Depois do blackface ganhar espaço no teatro, passou para a tv e o cinema, como Pedro bem disse, por meio de filmes, shows musicais e novelas, até chegar aos dias de hoje, na polêmica da paródia de Work da Kéfera. 


Quem é o racista aqui?

Aliás, a estereotipação do vídeo da Kéfera veio mais dos haters, do que justamente dela. Não vemos Gusta com os lábios carnudos e vermelhos, tinta marrom chamativa, nem cabelo ruim. Os próprios "sábios" internautas que estereotiparam e disseram: "isso é blackface e racista"

Kéfera defendeu-se e disse que nem ela nem seu namorado foram racistas e ouviu: "Mas se não é blackface porque o Gusta está com o cabelo de um negro?" Respondo a esses seres inteligíveis que Drake, o cantor interpretado, tem o cabelo crespo e baixinho, e para ser uma paródia verossimilhante, Gusta tinha que caracterizar-se assim, e não é ser racista, mas interpretá-lo com verdade. Veja o clipe original de Rihanna (a partir de 3:45, por tratar-se de um clipe dois em um, e a interpretação de Kéfera ser da segunda parte) e depois a paródia da Kéfera (que está só Facebookpor ela ter violado os direitos autorais da música no Youtube):







Lê-se na entrelinha do comentário do hater: "Negro só pode e deve ter cabelo crespo e ruim" e que "esse tipo de cabelo só é de pessoas dessa raça". Ora bolas, acusa-se a outra pessoa de racismo por meio desse argumento? Me explique isso. E ainda não se leva em conta a interpretação verossimilhante de Gusta com relação a Drake. 


Negro não é fantasia


"Kéfera defendeu-se e disse que nem ela nem seu namorado foram racistas". (Desse mesmo texto, grifo meu)


Não sei se perceberam, mas a frase acima (e que eu falei no tópico anterior) foi colocada dessa forma propositalmente. Eu poderia falar: "Kéfera defendeu-se e disse que nem ela nem seu namorado são racistas". Mas coloquei foram, e por que? Porque somos mutantes e mudamos nossas convicções dia a dia.

Você pode espantar-se, mas te digo que Kéfera já fez uma performance como "negra maluca" no carnaval de 2013, mas com uma foto repostada no carnaval de 2015 (música de revelação ao fundo). Gritos, acusações e julgamentos ecoaram pelos corredores da internet. Do outro lado, apenas uma brincadeira de uma youtuber, de forma divertida e caricata. E a foto foi a seguinte (música de suspense de novo):























Alguns comentários, como esses abaixo, surgiram contra Kéfera:

'' Me decepcionei muito com essa foto. Mas eu gosto muito da Kéfera Buchmann. Acho apenas que ela não refletiu sobre isso ainda. Sobre a representatividade negra. Mas espero que ela pense sobre. Vamos ajudar ela gente.''


''Racista'' ''Nojenta'' ''Escrota como sempre!'' ''Quem curte blackface é idiota ou racista por natureza.''


É comum vermos essa performance de "negra maluca" nos carnavais brasileiros, e isso é blackface, racismo e errado. NEGRO NÃO PODE SER FANTASIA, MESMO QUE ISSO SEJA CULTURAL! Isso seria apenas equipará-los a outras fantasias como da Minnie, pirata ou fadinha. Isso é coisificar os negros e criar estereótipos ridículos e mentirosos, que nada tem a ver com a realidade:

"Há algum tempo, a comediante Kefera Buchman gravou um vídeo chamado “Tá liberado, é carnaval” onde aparece pintada de preto, com uma peruca black power dançando de forma ridícula e caricata. [...] Nesse vídeo, a humorista ultrapassa todos os limites do bom senso e do respeito ao retratar mulheres negras de forma tão ultrajante. Nunca vi uma mulher negra se comportar do modo como ela fez". (Fonte: Carta Capital)


O perigo está justamente nessa última frase que eu grifei. Por que reafirmar esses estereótipos e esse preconceito? E o mais inadmissível: Por que alimentarmos o racismo logo por meio de uma pessoa branca? Perguntas que talvez nem o Globo Repórter possa responder. 


Ponderações

Gosto de ver um fato pelos seus vários lados, investigando a fundo tudo o que permeia. Se Kéfera não foi racista no presente, ela pode ter sido no passado. Acho errado mostrar só um lado e defender alguém sem ter provas. Por outro lado, odeio tampar com a peneira o que acho errado. Gosto de ponderar os lados, por isso divulgo o direito de resposta de Kéfera no Snapchat agora:



"Racista? Eu? Sério?! Não!"


Kéfera finaliza os vídeos com esse questionamento. E digo que ela pode até não ser mais racista, mas que talvez possa ter sido vista assim (O que Kéfera fez no verão passado), mas isso não dá o direito nem a mim, nem a ninguém, de julgá-la. J-J


Por: Emerson Garcia

16 comentários :

  1. Hoje em dia o pessoal está muito, querendo dizer, que é tudo racismo. Qualquer coisa que existe no mundo de errado é racismo. Isso não une, só separa mais as pessoas, e sem sentido muitas vezes. Acho que temos sim que sempre avaliar as situações antes de acusar alguém.

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Pois é. O preconceito e o racismo surgem justamente porque houve um prejulgamento. E o prejulgamento, por sua vez, surge da falta de conhecimento.

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  2. O grande problema é que a sociedade anda muito chata, tudo é racismo / preconceito.

    Eu tenho uma filha branquinha e magrinha, e chamo ela de preta e gorda de forma carinhosa... sempre falo minha gorda ou minha preta. Outro dia no shopping chamei vem gorda linda e uma senhora, você vai traumatizar sua filha assim, saiu resmungando que era assim que as mães criavam filhas anoréxicas e blá, blá, blá.

    Aí me pergunto, será que os julgamentos não estão precipitados? Será que não seria super legal tentar compreender o contexto antes de falar bobeiras? Enfim, espero que a sociedade pare com este mimimi todo!

    Beijocas

    www.vidabonita.com.br

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    1. Exato. Analisando bem, o contexto que você chamou sua filha de pretinha e gordinha é no âmbito do carinho e afeto. Só não percebeu isso quem não quis.

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  3. Olá, eu tinha visto esse drama todo na internet, porém não tinha visto o vídeo e nem os pronunciamentos da Kefera sobre o assunto.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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    1. Ficaram legais as explicações dela no snap. Pena que excluíram.

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  4. Participo de um grupo no fb de blogueiras negras dizendo terem se sentido ofendidas e que black face vai além disso. Minha impressão é que odeiam a Kéfera e vão fazer de tudo para maltratá-la e julgá-la. Não teve black face e ponto. As pessoas precisam parar de problematizar tudo, vamos falar da letra machista então, mas não, as pessoas querem julgar algo que não tem. Me poupe

    www.vestindoideias.com

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    1. Eu resolvi nem focar na letra da paródia, senão daria outro post e outra polêmica.

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  5. Acho que foi julgado de forma errada né?Ela só fez uma parodia da música..e se i lá...não é racista por isso.Foi só o figurino,uai.


    beeijos!
    http://carolhermanas.blogspot.com.br/

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    1. Exato. Figurino e maquiagem. As pessoas não sabem mais separar as coisas.

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  6. Eita, hora da polêmica! uehueuheuheu

    Primeiramente, quero dizer que a internet é uma terra sem lei. Todo mundo quer problematizar e mostrar o seu lado com o intuito de se achar o certo, o correto, o exemplo de humano que todos deveriam ser. Gente, para que ta feio. Negros sofrem preconceito, sim! Mas este não é o caso. Tenho muitos amigos negros que morrem de vergonha em verem os "brancos" os defenderem internet a fora...

    Abraços,

    Blog Decidindo-se \o/

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    1. Isso me irrita profundamente na internet, Vinicius. Existem tantos outras atitudes de preconceito e racismo que deveriam ser discutidas e o povo não dá nem conta.

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  7. O que era pra ser brincadeira acabou se tornando um cenário de discussão e revoltas sem fundamento nenhum! Racismo, sério? Até parece... pra começar que o Gusta não alterou o tom de pele, ele só quis se parecer com o cantor, não há motivo pra tanto alarde. Toda essa confusão começou com os haters querendo derrubar a fama da Kefera.
    Eu li uma materia de um jornal online que era super sensacionalista, o texto deles era cheio de veneno contra a Kefera e vários outros Youtubers que nem tinham a ver com a paródia.

    Beijokas da Mylloka
    http://myllokasecret.blogspot.com.br/

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    1. Não admiro em nada esses haters, justamente por ofenderem sem motivo e sem causa.

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  8. Sobre o blackface pelo que eu vi o namorado dela não fez, mas convenhamos que a parodia é um absurdo, desrespeita a mulher como um todo.
    Kisses

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