sábado, 19 de janeiro de 2013

Niemeyer I

Olá! Como diz o ditado "quem é vivo sempre aparece!". Eu quero explicar a minha ausência de 1 mês e 10 dias para vocês do blog. No dia 05 de dezembro de 2012 (não tão longe assim) aconteceram dois fatos muito importantes. O primeiro, eu fiquei sem internet, devido a problemas com a Oi; o segundo, morreu Oscar Niemeyer nesse dia. Ele faria 105 anos 15 de dezembro. E eu penso que o ano de 2013 não começaria se eu não fizesse uma homenagem a ele aqui no blog, de uma semana de posts especiais.

Resolvi recordá-lo com um capítulo de livro-reportagem que fiz há uns três anos atrás chamado Ceilândia Nordestina- A história da Casa do Cantador, em que eu tirei nota máxima. Para quem não sabe a Casa do Cantador foi projetada por Oscar Niemeyer e é o único monumento dele daqui de Brasília que fica em Ceilândia, minha terra natal.



Vamos a primeira parte dessa história emocionante?



Passando todos os dias pela Casa não me sentia atraído a entrar, mesmo sendo pública. Descia na parada de ônibus daquele lugar bastante familiar por ser onde sempre vivi. Desembarcava e atravessava duas pistas até chegar nela. Passava ao seu lado, a via por fora, mas nunca entrava.
Diziam que ela abrigava um hotel, que repentistas e cantadores nordestinos participavam de festivais e se hospedavam lá, que a Casa é conhecida como o Palácio da Poesia e da Literatura de Cordel, que ela já perdeu a função de espaço para divulgação cultural nordestina, que já foi reformada e teve que voltar a forma original. Sabia um pouco dela. Agora teria que conhecê-la pessoalmente.
Bastaria mudar o percurso que sempre costumava fazer para conhecer as histórias que permeavam pela Casa. Confirmando o que já tinha ouvido falar dela ou descobrindo mais coisas. Saberia, portanto, que o local possuiria boas e reveladoras histórias: de repentistas nordestinos e, principalmente daqueles que são nordestinos e que vivem em Ceilândia, ou seja, minha própria narrativa, meu próprio lugar.
A Morada de que eu falo é a Casa do Cantador. Quem a conhece ou quem não, verá que é importante saber o histórico desta por ser um local que constrói os costumes do nordeste na cidade.

Alocada em Ceilândia Sul, precisamente na divisa da Guariroba e do P.Sul, na QNN 32, a Casa do Cantador foi inaugurada em 9 de novembro de 1986. Existe um motivo para estar localizada nessa cidade. É que a cidade concentra um grande número de imigrantes da região nordeste brasileira. A Morada é conhecida como o Palácio da Poesia e da Literatura de Cordel no Distrito Federal e promove a cultura nordestina. Literatura de cordel[1], Repente[2], Cantorias, Coco de emboladas[3] e aboio, estão entre as principais atividades que a Residência promove através de eventos típicos, além da culinária nordestina que é muito rica.
Saberia que iria encontrar um pouco do Nordeste em um local característico: Ceilândia. O que não imaginava é que quando chegasse ao meu destino me surpreenderia com outras histórias além da do próprio Sítio. Conheci uma figura extrovertida e encantadora, um nordestino nato que estava disposto a me contar o que eu não sabia sobre as origens daquela Casa. Um homem sábio, independente de sua classe e que, de maneira espontânea, me apresentou aquele lugar até então desconhecido. Damião Ramos dos Santos nasceu em Aracaju (SE), possui 48 anos e estava hospedado no hotel que a Casa-Residência possui. Como repentista certos caprichos e comodidades eram possíveis a ele por vir do Nordeste e demonstrar seu trabalho na região candanga.
Fazendo jus a profissão, Damião Ramos, como gosta de ser chamado profissionalmente, adora contar histórias ainda mais de um lugar que conhece muito bem desde 1984. A primeira vez que Damião veio a Brasília, já como repentista, o Palácio ainda não existia, ou seja, ele o conhecia antes de seu nascimento. Vinha para cá para divulgar seu trabalho em festivais e fazer cantorias. Ele me contou que o caráter histórico de construção da Morada está ligado diretamente a repentistas que, como ele, vinham para as mais diversas regiões brasileiras divulgar o cordel em caminhões pau-de-arara[4]. Ele conta que isso resume a origem desta. Cantadores de vários estados nordestinos vinham nesse meio de transporte com instrumentos como pandeiros e violões, cantar em praças, antes não tinha um local apropriado para eles. Só em 1986, dois anos depois da primeira vinda de Damião, é que a Casa do Cantador foi construída. Antes de ser o que é hoje, todo um sonho foi projetado e colocado em prática. Ceilândia inclui, portanto, repentistas, e os que são considerados nordestinos-candangos[5].

          Ao entrar na C.C.[6] e ultrapassar a linha receosa do medo e invadir a fronteira da imaginação, vi um portão de arames trançados, semi-encadeado que estava entreaberto e por sinal queria dizer: “Pode entrar, é um lugar público”.

Foto: Emerson Garcia


Continua...




[1] É um tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel pendurados em cordas ou cordéis.
[2] É uma mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso.
[3] Consiste em uma dupla de cantadores que, ao som enérgico e batucante do pandeiro, montam versos bastante métricos, rápidos e improvisados.
[4]  Forma de transporte irregular, usado sobretudo na região Nordeste do Brasil.
[5]  Nordestinos-candangos são aqueles que emigraram dos estados nordestinos e chegaram em Ceilândia para ali morar.
[6]  Para facilitar a leitura Casa do Cantador foi substituída por C.C.

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