Para quem quer possuir reconhecimento profissional, a graduação é apenas o primeiro passo. Após ela, os caminhos se alargam com o Mestrado e o Doutorado. Gilvânia de Melo, 36, formada em Farmácia pela Universidade Estadual da Paraíba, percebeu a necessidade de alargar as suas tendas através do mestrado. Foi o trabalho Os textos de bula na perspectiva da gestão social do conhecimento, apresentado dia 24 de junho de 2009, que deu a ela o título de mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pela UCB. O desejo de Gilvânia, além do título, foi apresentar a importância dos textos de bulas ao contribuir com as discussões na área de saúde pública, uma vez que a OMS (Organização Mundial da Saúde) diagnosticou o uso inadequado de medicamentos.
Trabalho árduo, problemas pessoais, desafios que parecem intransponíveis, e outras dificuldades, antecedem o sucesso e reconhecimento de um trabalho de mestrado. O nervosismo na hora da apresentação e o olhar afoito da banca examinadora podem ser vencidos pela confiança, perseverança, afinidade com o tema e a certeza que o seu trabalho é importante. O resultado do trabalho de Gilvânia só podia ser positivo: satisfação com o trabalho final – embora a plenitude só acontecesse depois de trabalhar com o textos de bula, tendo a possibilidade de implementar as sugestões; obtenção de comentários elogiosos; e o ingresso na Coordenação-Geral de Gestão do Conhecimento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, onde atua como coordenadora. E de pensar que tudo começou com uma das melhores escolhas de curso que ela fez na vida!
Jovem Jornalista- Quais os motivos da escolha do tema para a dissertação?
Gilvânia de Melo-Trabalhei durante 6 anos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sempre atendendo demandas referente a medicamentos. Nos últimos três anos coordenei tecnicamente um projeto chamado de Projeto Bulas que propunha, dentre outras coisas, a instituição de um novo processo de trabalho eletrônico com os textos de bula, acompanhado de ações de educação e comunicação em saúde, na perspectiva do combate ao uso inadequado de medicamentos.
J.J.- À priori, o uso de bulas auxilia em uma melhor utilização de medicamentos. Mas porque será, Doutora, que as bulas disvirtuam a função de auxiliar o consumidor?
G.M.- Aqui, gostaria de fazer duas considerações com relação ao que a pergunta afirma. Primeiro, as bulas, como estão hoje, não auxiliam a utilização de medicamentos -temos vários estudos científicos que comprovam o fato. Segundo, será que são as bulas que desvirtuam o consumo de medicamentos ou esse é apenas mais um elemento a ser considerado nesse ciclo não-virtuoso? Acho que devemos fazer uma análise mais ampla desse cenário.
J.J.- Por que a má utilização de bulas ocasiona um agravamento da saúde?
G.M.- Qualquer informação utilizada fora de contexto e sem os devidos esclarecimentos pode gerar problemas. Com os medicamentos essa situação adquire um tom bastante crítico uma vez que o mesmo “remédio” que cura também pode matar. Contudo, esse aspecto, muitas vezes, não é considerado pelos usuários.
J.J.- Para que isso não ocorra, as bulas devem ser informativas, educativas e explicativas, no entanto, elas possuem letras microscópicas e informações difíceis, além de conceitos que nem todos tem acesso. A bula é acessada por todas as pessoas, Gilvania? Por que?
G.M.- O processo de construção da bula parte da perspectiva do produtor da informação quando deveria partir da perspectiva do usuário. Além disso, acredito que o tipo de tratamento dado ao texto é inadequado. O tratamos dentro de uma abordagem disciplinar que não atende mais a complexidade do universo da saúde.
J.J.- Na visão da Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação, qual é a concepção de bula ideal?
G.M.- A mim não compete falar dessa visão, mas eu acredito que a bula ideal é aquele instrumento construído a partir da perspectiva do usuário da informação, que possibilite a apropriação social do conhecimento ali disponibilizado, permitindo, caso necessário, um processo de tomada de decisão mais informativo e racional dentro da perspectiva de um processo de cidadania ativa.
J.J.- Existe algum exemplo de bula ideal que a senhora e a Gestão do Conhecimento aprovam e é trabalhada em algum país?
G.M.- Não existe uma bula ideal e mesmo que existisse, ela, sozinha, isolada de outras ações, poderá muito pouco. O que eu tenho que avaliar é se o texto em circulação no meu país contribui efetivamente, ou não, para a redução dos problemas associados ao consumo inadequado de medicamentos. Se o texto não contribui, ele é inútil por mais bem escrito que esteja. Entretanto, o que posso compartilhar, é que existem outros países que tem dedicado maior atenção aos textos de bula, reconhecendo que ele é uma importante fonte de informação de fácil acesso.
J.J.- Na pesquisa, a senhora percebeu que não há muitos trabalhos direcionados a um melhoramento de bulas. Porque disso?
G.M.- Acho que quem pode mudar a situação no nosso país ainda não reconheceu de fato (com a execução de ações efetivas), a importância do desenvolvimento de um trabalho permanente nessa área.
J.J.- Durante a pesquisa a senhora pensou em desistir, devido as dificuldades? Ou sempre seguiu em frente?
G.M.- Tive vários problemas de ordem pessoal que quase me fizeram desistir, mas no tocante ao aspecto do trabalho em si, para mim, foi muito tranqüilo. Gostar da temática com a qual se está trabalhando ajuda muito a vencer as dificuldades que naturalmente aparecem ao longo do processo.
J.J.- Qual a afinidade pessoal da senhora com relação ao tema? Lia bulas quando criança?
G.M.- Nunca tive o hábito de ler bulas até o momento em que tive que trabalhar com elas. As bulas deixaram de ser o “papelzinho que vem dentro da caixa de remédio” para ser um instrumento de informação e comunicação em saúde com possibilidade de impacto no combate ao uso inadequado de medicamentos.
“O processo de construção da bula parte da perspectiva do produtor da informação quando deveria partir da perspectiva do usuário”.
J.J.- Qual a importância do tema para a sociedade?
G.M.- Se a abordagem proposta na dissertação fosse implementada, teríamos condição de desenvolver um trabalho contínuo e interdisciplinar que, certamente, resultaria em um instrumento de informação com outras características. Essa iniciativa, associada a outras ações de saúde pública, poderia mudar alguns cenários que vivenciamos atualmente relacionados a medicamentos.
J.J.- Como foi realizada a escolha de orientador? E a relação com ele, como funcionava?
G.M.- Escolhi minha orientadora não só pela relação com a temática mas principalmente por admiração. A professora Luiza Alonso é uma das mulheres mais inteligentes que conheci nos últimos tempos! Para mim foi um privilégio poder conviver com ela, ouvindo-a sempre atentamente.
J.J.- Cite uma frase para quem quer ter sucesso no ambiente acadêmico.
G.M.- Meu pai sempre dizia que o estudo era a única coisa que ele podia nos deixar como herança, pois o conhecimento era o único bem que ninguém nunca poderia nos roubar. Essa afirmativa tem sido uma realidade para mim. J-J
Por: Emerson Garcia
Por: Emerson Garcia
Gosto dessa última resposta... sem esforço, nada feito.
ResponderExcluirÉ verdade Emerson, cada vez mais um mestrado e doutorado são necessários para uma carreira bem sucedida.
ResponderExcluirhttp://naomemandeflores.com
Gostei da entrevista,é bom mostrar que apenas a graduação não é o suficiente.
ResponderExcluirvestindo-ideias.blogspot.com.br