terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Dois casos de homofobia



O universo LGBT já foi pauta de vários posts no blog. Alguns deles foram feitos para questionar o preconceito e a homofobia quanto a causa. Outros, para criticar as atitudes desse grupo. Tudo isso pra não mostrar somente um lado da história. Hoje irei refletir especificamente sobre a homofobia, e as duas maneiras que elas podem aparecer. Uma, motivo de proveito; outra, criminosa.

Quando falei sobre homoafetividade no post Dom de reportagem: Além do arco-íris, uma frase que ficou muito marcada foi: “Às vezes os homossexuais não se dão o respeito”, de Rodrigo Cristiano*. Só para contextualizar os episódios que falarei a frente, preciso dizer que todos possuem não somente direitos, como deveres. A frase "O direito de um ser humano termina quando começa o do outro" fará muito sentido nesse post, bem como reconhecer seus limites e atitudes.

O episódio de proveito aconteceu aqui em Brasília, quando dois primos fingiram um relacionamento homossexual, e foram vítimas de uma suposta atitude homofóbica. O episódio criminoso foi visto por mim na série Queer as Folk (já falada no blog), em que Melanie e Lindsay são vítimas de homofobia em um hospital. Irei detalhar esses episódios mais a frente, mas preciso considerar algumas coisas sobre homofobia.


Homofobia

"[...] Casos como esse refletem o sentimento de intolerância para com pessoas homossexuais, ao qual se dá o nome de Homofobia. Homo: mesmo sexo; Fobia: pavor, medo. Medo ou pavor de pessoas que se relacionam com o mesmo sexo. Essa nomenclatura só tem esse título por conta de agressões físicas e verbais a homossexuais. Ou seja, denegrir o outro por meio de tapas, empurrões, socos, pontapés, xingamentos". Abra a mente, ao invés de fechar os punhos


Eu vi (e vejo) a homofobia dessa forma. Não é só agressões físicas que podem ser consideradas atitudes homofóbicas, mas também agressões verbais, xingamentos e ofensas. No site Guia de direitos exemplifica-se os tipos de intolerâncias que podem ser delicadas, sutis e talvez inofensivas, como:

"o agressor costuma usar palavras ofensivas para se dirigir à vítima ou aos LGBT como um todo;
é comum o agressor fazer uso de ofensas verbais e morais ao se referir às minorias sexuais;
a agressão física ocasionada pela homofobia é comum e envolve desde empurrões até atitudes que causem lesões mais sérias, como o espancamento;
o agressor costuma ficar mais agressivo ao ver explícitas demonstrações amorosas ou sexuais que fogem ao padrão heteronormativo (por exemplo: mãos dadas, beijos e carícias)".


Atitudes homofóbicas batem de frente com o que diz na Constituição Federal. No artigo 3º, inciso IV da Constituição fala-se da promoção do bem de todos, independente de origem, raça, sexo, cor, idade, e qualquer outro tipo de discriminação. A Constituição não conceitua que a homofobia é crime textualmente, mas leva a crer que "qualquer outro tipo de discriminação" a inclua. De acordo com o site Significados, acerca da homofobia:

"A homofobia pode ser contemplada como uma outra forma de discriminação, podendo ser classificada com um crime de ódio, podendo e devendo ser punida".




Leis foram criadas para contemplar o grupo LGBT, como a aprovação e regulamentação do casamento civil gay e a legalização de casamentos em cartórios, sujeito a penas, caso os juízes de direito se neguem a realizar a cerimônia.

Outras leis, como a PLC 122 foram arquivadas por distorcer um pouco o sentido da homofobia. Nela, criminalizava-se a discriminação motivada apenas na orientação sexual ou na identidade de gênero. 


A farsa da 'Terça do casal'

Michael Nascimento é assumidamente gay. Em uma promoção de um cinema daqui de Brasília foi com seu primo, que é heterossexual. Para conseguir desconto no ingresso, ele passou-se por namorado de seu primo e diz ter sofrido homofobia porque o atendente pediu para que se beijassem. Juízo final agora: Michael e seu primo sofreram homofobia ou não?

Para o G1, eles sofreram. O G1 não diz explicitamente, mas vitimiza Michael a todo momento da reportagem, mostrando somente seu lado, e não discute a atitude da mentira e do proveito. Para mim, as pessoas tem que parar de vitimizar-se e ver onde o problema está. Como pedir respeito e acabar com a homofobia, por meio de mentira e corrupção, queridos?! O mundo está tão estranho que admite-se a mentira em prol de um fim proveitoso. 

O caso de Michael te deu pena? Em mim nenhum pouco. I G1


Vou analisar o caso primeiro como se o casal fosse falso e depois se o casal fosse verdadeiro.


Casal como se fosse falso

“Eu apontei para o meu primo e disse que ele era meu namorado. O atendente se surpreendeu e perguntou se estávamos de sacanagem. Quando achava que o preconceito não poderia ser pior, ele nos mandou dar um beijo na boca. Eu sou gay e fiquei perplexo com tamanha homofobia”, disse Michael Nascimento.


Para o atendente 'se surpreender', como a vítima relata, é porque ele viu algo de suspeito no casal. Talvez eles não tinham química, ou seria apenas um namoro de fachada. E quando o atendente disse para se beijarem, é porque queria confirmar. Daí como era um casal falso, a vítima alegou homofobia e preconceito.


Casal como se fosse verdadeiro

Sim! Nesse caso a atitude do atendente poderia ser tida como homofóbica. Pedir para um casal homossexual se beijar pode ser desrespeitoso e preconceituoso. A homofobia poderia ser considerada por ofensas verbais, como as frases "vocês estão de sacanagem" e pedir para dar um beijo na boca.


Homofobia criminosa em um hospital

Veja a cena abaixo. Preciso de um juízo final: Melanie e Lindsay foram vítimas de homofobia?




A cena é idêntica dos pseudos namorados da Terça do casal. Um casal de lésbicas leva seu filho para ser atendido em um hospital, e a atendente diz que "somente a mãe da criança poderia entrar". Elas alegam que ambas são os pais do menino e tanto o enfermeiro como a atendente do hospital agem com preconceito.

"Qual de vocês é a mãe?" e "Vocês possuem documentos de adoção?" são as perguntas que o enfermeiro pergunta em tom homofóbico, além de dizer para a outra mãe que ela deveria esperar na recepção. 

Melanie percebe que sua mulher esqueceu do cobertor do bebê, e pede a atendente para entregar. Ela a trata com discriminação ao dizer "Senhor... ou seja lá o que você for, eu acredito que já ficou claro para você que apenas os tutores legais da criança são permitidos para ficar com ele". Melanie fica furiosa com a atitude e a xinga, dizendo: "Sua buceta homofóbica impertinente"

O decorrer da cena é bem reflexivo e dramático, mostrando a diferença de tratamento da mãe lésbica da criança e do seu pai biológico. Uma cena que mostrou a homofobia como tal, e pode ser considerada verdadeira, ao contrário do caso anterior.


Dois casos de homofobia

Nem tudo que se diz que é homofobia, de fato é, como pude mostrar nesses dois casos. Espero que tenha deixado claro as configurações dessa atitude criminosa.

Dois casos de homofobia. Um pautado em interesses, mentiras, que visa somente os direitos e não preza pelo respeito, de nem mesmo das pessoas que se julgam vítimas de homofobia. O outro, pautado na verdade (mesmo que em uma cena ficcional), na denúncia, no preconceito, e no drama que os homossexuais vivem todos os dias.

Com toda a sinceridade, não senti pena hora nenhuma de Michael e seu primo. Não sou hipócrita e 'bonzinho'. Não passo a mão na cabeça de nenhum hétero ou homossexual se perceber inverdade em suas ações. Senti, sim, dor no peito, vontade de chorar e de compartilhar dores, na cena de Melanie e Lindsay. Os seres humanos deveriam ser tratados com igualdade. É assim que eu penso, e ponto final. J-J


Por: Emerson Garcia

10 comentários :

  1. Oi Emerson, a pergunta que fica é: no caso do casal do cinema, será que o atendente pediria para um casal heterosexual se baixar, para comprovar o "compromisso" ou ele só fez esse tipo de cobrança por serem dois homens?

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    1. Faz sentido. Creio que não foi exigido o beijo dos héteros. Para mim, poderia ser um ato de homofobia, mas tem a questão da mentira que pesa muito.

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  2. Acho que nesse caso aí o erro foi do atendente também, porque se tinha uma promoção para namorados, tinha que aceitar qualquer um que falasse que são namorados, por isso que eu detesto essas promoções de cinemas do dia dos namorados, porque não tem como um casal provar que é um casal, e pedir pra se beijar só pra provar é falta de respeito, tanto pra quem tá em volta quanto para o próprio casal. Sei lá, é só o que eu acho mesmo. É a mesma questão que a Camila deixou aí em cima.

    Beijos!
    www.likeparadise.com.br

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    1. Exatamente. Não tem como provar, por isso pode ir qualquer casal, falso ou não. E concordo com você na questão do beijo.

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  3. Olá, bom são casos complicados, mas eu realmente acredito que houve homofobia nas duas ocasiões, se você estivesse lá com a sua namorada será que a atendente te pediria para beijar ela para provar que ela é sua namorada? Primeiramente, você não teria que provar nada. Se o cinema topou fazer essa promoção eles sabem o risco de falsos casais que poderiam aparecer só para pegar a promoção, ou seja, em todos os casos o erro é do cinema. Se coloca a promoção, todo mundo que se diz namorar tem direito a ela e não tem que provar nada, foi o Cinema que criou a promoção, agora dai a você achar certo fingir um namoro só por uma promoção é outra coisa. A atitude eu não acho legal, eu sinceramente não me sinto bem ganhando as coisas subindo em cima dos outros ou com mentira, sou daquelas que volta na lojinha e avisa "Olha, a senhora me deu 1 real a mais no troco", bom, esse é o jeito que EU me sinto bem e vivo, agora que, em ambos os casos, ocorreu homofobia, na minha concepção, é fato.
    Abraços, post importante, assunto que merece estar sempre em debate!
    http://cineleva.blogspot.com.br/

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    1. Gostei demais da sua opinião! O cinema tem uma parcela de culpa também. Talvez até maior do que os casais. Mas creio que a consciência dos falsos casais deve ter pesado muito também.
      Obrigado.

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  4. Emerson,
    Um post ótimo e bem relevante. O casal que se faz passar por gays, acho até engraçado.. mas fazê-los se beijar para confirmar isso , é demais pra minha cabeça. A sociedade é bem cruel mesmo e a cabeça das pessoas é terra de ninguém, pois como você disse no texto: Saber onde termina o direito de um e começa o do outro. Há ainda um longo caminho a percorrer. Mas, o preconceito existe e sempre vai existir, eu acho. A humanidade tem jeito?

    Bjos e um dia maravilhoso,
    http://www.dmulheres.com.br/

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    1. De fato, o preconceito sempre existirá, bem como a mentira, corrupção. Não sei se a sociedade tem jeito, não. Infelizmente estamos perdidos.

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  5. Igualdade sem dúvida!!
    Gosto dos teus posts são bem completos e bem escritos 😊

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