Pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro a imunização contra o coronavírus foi dividida por gêneros, ou seja, homens de determinada faixa etária foram vacinados em um dia, e mulheres de determinada faixa etária em outro. Segundo o secretário da saúde do Rio, Daniel Soranz, a separação por gêneros será uma medida adotada daqui em diante na cidade. O intuito foi evitar a aglomeração, mas essa segregação exclui o atendimento médico de pessoas transexuais e transgêneros, evidenciando um problema para a saúde de um grupo específico e reafirmando o preconceito.
O discurso e a jutisficativa para a separação é plausível e benéfico para a saúde da população, quando ele diz (com grifos):
"Com datas separadas para homens e mulheres, distribuímos melhor as pessoas em dois dias. Antes, todos estavam procurando os postos no primeiro dia e de manhã. Pedimos que as pessoas procurem os postos no período da tarde, quando as unidades estão mais vazias".
Contudo ele desprotege as pessoas transexuais e travestis que provavelmente não tem conseguido se vacinar por conta dessa separação. Imagina que difícil seria uma mulher trans, por exemplo, que não consegue se vacinar como mulher e, provavelmente, não vai querer se vacinar como homem por motivos óbvios. Além disso, os indivíduos transexuais e travestis não procuram atendimento médico, muitas vezes, por medo de sofrerem discriminação, maltratos e por crerem que não serão chamados por seus nomes sociais. O que é algo totalmente contraditório, tendo em vista que a Constituição de 88 prevê o não condicionamento ao acesso à saúde no SUS, ou seja, toda e qualquer pessoa tem o direito de ser atendida e tratada, independente de condição sexual, social ou racial.
A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde (2006), que consolida os direitos e deveres do exercício da cidadania na saúde no Brasil, afirma que "todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação", mas na prática não é isso que ocorre e a medida da cidade do Rio de Janeiro demonstra isso. Se analizarmos de forma precisa, as pessoas transexuais e travestis estão impedidas ao acesso universal, integral e equânime na saúde. A sociedade da cidade carioca (Vou ser específico para não generalizar) é heteronormativa, aceitando apenas homens e mulheres como gêneros e pessoas normais. Para ela, homem é homem e mulher é mulher, e qualquer outro gênero que fuja disso é visto a partir da perspectiva da anormalidade. Pode ser que haja uma falta de conhecimento, mas no fundo isso se chama repulsa e discriminação. É não aceitar que uma pessoa não se identifique com o seu gênero biológico, a obrigando ela ser o que não é e a se vacinar, por exemplo, como homem ou mulher, sendo que ela não se identifica nem como um nem como outro. Por que não criar uma terceira seleção para que homens e mulheres trans e travestis se vacinem? Simples, porque a sociedade da cidade carioca (E eu quero estar iludido que a sociedade do Brasil e do mundo não tenha esse comportamento) é discriminatória e preconceituosa. O governador e secretário de saúde não querem beneficiar e incluir essas classes para não ferirem a hetoronormatividade da cidade carioca, muito menos fazer apologia à classe LGBTQ+, porque eles são heterões e destilam suor e testosterona por aí e não querem ser chamados de boiolas, viadinhos ou qualquer outro nome LGBTQ+ (insira aqui o seu insulto LGBTQ+).
Talvez o que falte na sociedade da cidade carioca é educação, conhecimento e informação que as pessoas transgêneros e transexuais também são seres humanos e merecem ser vacinadas como qualquer outro indivíduo. O desafio se encontra em como ser educado e informado, sendo que não existem meios para isso e quando o governo ou a secretaria de saúde deveriam ser os mais informados e promovedores da educação excluem da imunização uma classe que existe (Só não vê quem não quer enxergar). Outra questão, ainda grave, é que os próprios profissionais da área da saúde não sabem lidar com a comunidade transexual e travesti (Isso sem falar que não sabem lidar com gays e lésbicas também, mas vamos fingir que esses são bem atendidos #sqn).
Em dezembro de 2011 foi criada a Política Nacional de Saúde Integral de LGBTQs a fim de promover a saúde integral LGBTQ+ de forma a eliminar a discriminação e o preconceito institucional. Ano passado, durante a Semana do Orgulho LGBTQ+ 2020 aqui no JOVEM JORNALISTA, Thiago Nascimento e Milena A. Soares, falaram dessa política e seus pontos. É uma política muito bonita, mas utópica e difícil de ser colocada em prática. Os pontos (que não vou colocar aqui, se quiser você pode ler no post) provocam o riso e o pensamento do tipo "Sério que está escrito isso? Você tá brincando", porque nada do que está previsto acontece na realidade (quer dizer, na realidade da cidade carioca, claro). O post se chama Saúde LGBTQ+ no Brasil e teve o intuito de discutir o funcionamento do SUS para a comunidade e como os LGBTQ+ são discriminados na saúde.
O SUS pode, sim, tornar-se um importante meio de promover a cidadania das pessoas trans e transgêneros se, e somente se, universalizar o seu acesso e sendo um serviço de equidade que as considere como indivíduos e levando em consideração, claro, suas saúdes. A saúde e as medidas para preservá-la sempre devem vir em primeiro lugar, mas acima delas se encontra a saúde para todos, inclusive para as pessoas transexuais e travestis. J-J
Por: Emerson Garcia
Olá! Eu entendo o seu ponto de vista mas, acho que aqui no RJ a vacinação de forma geral está lenta, desorganizada e infelizmente não há muito o que fazer. Pois, digo por experiência aqui de casa meus pais tomaram a primeira dose e já passou no prazo de tomar a segunda e a vacina ainda não chegou.
ResponderExcluirhttps://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
Acho estranho dividirem por género, nem faz qualquer sentido.
ResponderExcluirCoisas de Feltro
"" O intuito foi evitar a aglomeração, mas essa segregação exclui o atendimento médico de pessoas transexuais e transgêneros, evidenciando um problema para a saúde de um grupo específico e reafirmando o preconceito. ""
ResponderExcluirIsto a ser verdade e, acredito que o seja, é de uma aberração sem limites. Jamais deveria acontecer. As pessoas têm de ser livres e escolher o seu caminho, seja ele qual for, onde se inclui o sexual. Não à discriminação e separação de pessoas não consideradas heterossexuais. Não consigo admitir essa separação e preconceito.
Feliz fim de semana.
Abraço
Muito interessante a reportagem e todos os dados que você trouxe, que nos faz pensar sobre o assunto.
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Que post informativo e necessário. Sou do RJ e aqui a desorganização e desinformação geram aglomerações inadimissíveis. Abraço!.
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Oi Emerson,
ResponderExcluirComo não sou cientista, não entendo se existe uma 'diferença na vacina' para homens e mulheres por conta de biologia mesmo. Pessoalmente, é a única coisa que explicaria essa divisão, porque de resto... acho desnecessário demais.
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Oie, tudo bem?
ResponderExcluirRealmente um assunto bem delicado, que deve sempre ser pensado e levado em consideração
Blog Entrelinhas
Que coisa, eu não estava sabendo disso e já estou meio que indignada. Tempos sombrios demais!
ResponderExcluirBeijo
Não sabia dessa situação... É realmente lamentável!
ResponderExcluirBjxxx
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