quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Minissérie “Decadência” 20 anos – parte 2: a eletrônica ‘guerra santa’

Caros leitores, essa é uma matéria dividida em três partes a respeito da minissérie 'Decadência', de autoria de Dias Gomes baseada no livro homônimo e adaptada pelo autor. Essa é a segunda. Boa leitura!

Logotipo da minissérie | Memória Globo.


A minissérie foi baseada no livro homônimo de Dias Gomes –  publicado em março de 1995 pela editora Bertrand Brasil, e teve sua adaptação exibida na TV Globo seis meses depois. O resumo da história está aqui, mas juro que não revelei detalhes desta, para que você, caro leitor, veja e ponha seus comentários e reflexões para semana que vem, última parte dessa sequencia de posts.

O livro que deu origem a minissérie.


A minissérie abordava a ascensão de um ex-motorista que virou pastor evangélico com desejo de vingança a uma família em início de decadência moral, ética, afetiva e familiar. Os primeiros capítulos levantaram a ira dos adeptos da fé protestante de tal forma que levou a emissora carioca em a veicular a seguinte mensagem:

“A ação da minissérie 'Decadência' se passa entre 1970 e 1992. A época é real, mas a obra é de ficção. A história do período foi preservada, mas os personagens são absolutamente fictícios. A Rede Globo considera imprescindível renovar seu respeito a todas as religiões, e lembrar que em qualquer atividade podem existir pessoas bem ou mal intencionadas. 'Decadência', de Dias Gomes, não pretende fazer crítica a nenhuma religião em particular ou mesmo a qualquer um de seus representantes.”

O ator Edson Celulari lendo a mensagem da minissérie.


Como não tive acesso às imagens originais disponíveis da Rede Globo, não tenho certeza em qual capítulo esta mensagem foi ao ar. Creio que foi no segundo ou no terceiro. Na versão exibida pela portuguesa SIC TV, a mensagem foi ao ar desde o primeiro capítulo da minissérie.


Contexto da época: Os protestantes, Edir Macedo e a minissérie

Edir Macedo Bezerra em 2007 na época da inauguração da Record News | TV Record.


É sabido pelos historiadores que a fé protestante existe no Brasil desde o século XVI, mais precisamente em 1532 com a chegada dos luteranos ao país. Este ramo religioso fundado por Martinho Lutero se dividiu em outros (evangélicos, calvinistas, presbiterianos, pentecostais, etc. e por aí vai). A Assembleia de Deus – originada na cidade de Belém em 1911 – é considerada por parte dos adeptos a mãe das igrejas evangélicas como é conhecida em nosso tempo.

Na década de 1980, a televisão no Brasil passava por uma fase de transformações. Com o fim da Rede Tupi de Televisão e a cassação de suas emissoras, surgiram a Rede Manchete de Televisão e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Esta última tem como proprietário Silvio Santos, apresentador e animador de TV. Silvio Santos também era dono de 50% da TV Record São Paulo, canal 7 – emissora líder da extinta Rede de Emissoras Independentes (REI). Os outros 50% pertenciam a Paulo Machado de Carvalho – fundador das rádios Bandeirantes, Panamericana (ou Jovem Pan), Excelsior (atual CBN São Paulo) e São Paulo. Ele também adquirira a Rádio Record por muitos anos.

As leis de comunicação brasileiras proíbem uma pessoa possuir duas emissoras de televisão e a TV Record estava em situação de quase falência no final da década de 1980. Neste cenário, Silvio Santos vendeu sua parte da emissora e ficou com o SBT, e Paulo Machado de Carvalho vendeu a sua para o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo Bezerra.

Edir Macedo se destacou entre os demais pastores, e foi foco de reportagens a respeito de suas igrejas, a fé evangélica e adjacências. A extinta Rede Manchete, em seu programa Documento Especial, abordou a respeito do tema: milagres, cultos e diversas denúncias de charlatanismo, curandeirismo e estelionato. O canal de TV por assinatura da Globosat, Canal Brasil, exibiu o programa em sua grade que você pode ver aqui em três partes:













Com dados do programa da extinta emissora de Adolfo Bloch, o número de evangélicos em 1950 girava em torno de 3% (cerca de 1,5 milhão entre os 51 milhões de habitantes na época, segundo o IBGE). Na época em que o programa fora exibido (1989) chegavam a 8 milhões de crentes (entre os mais de 120 milhões de habitantes).

Em 09 de novembro de 1989, Edir Macedo comprou a TV Record e formou sua rede de emissoras de TV e rádio. Na segunda metade da década de 1990, a hoje Rede Record de Televisão adquiriu as afiliadas perdidas da Rede Manchete – decadente, com dívidas até sua extinção em maio de 1999 – e cresceu em audiência. Em 2003, a emissora passou por reformas midiáticas, nas quais deram consequência o crescimento da rede de televisão, seu faturamento publicitário e a disputa do segundo lugar de audiência com o SBT de Silvio Santos.

No ano seguinte a TV Globo exibiu o Globo Repórter sobre o mesmo tema abordado pela Manchete. Foi por aí a projeção nacional de Edir Macedo, a fé evangélica, os escândalos e o crescimento de fiéis. Neste vídeo é a chamada do programa:





Daí em diante houve polêmicas e denúncias em torno da igreja e de seu líder máximo. Em 1992, Edir Macedo foi preso por charlatanismo, curandeirismo e estelionato. Tudo foi arquivado. O mesmo digo para as denúncias contra a compra da Record. É nesse contexto apresentado à vocês que creio que o autor de telenovelas e minisséries, Dias Gomes, criou o seu livro e a minissérie Decadência.


A troca de acusações entre da Rede Globo e Edir Macedo

Livro “Afundação Roberto Marinho” de Roméro da Costa Machado.


Em 1995, o Jornal Nacional exibiu uma matéria a respeito do dinheiro dos fiéis e táticas de arrecadação por Edir Macedo e seus colaboradores. Você pode ver aqui. Agora, mais polêmico ainda: foi no mesmo ano a fatídica cena do “chute na santa”, no qual Sérgio Von Helde vilipendiou a imagem de Nossa Senhora Aparecida – considerada pelos católicos a padroeira do Brasil e de Brasília. Exibido justamente em 12 de outubro de 1995:




Estas matérias foram exibidas no mesmo ano da minissérie. Para os apoiadores de Edir Macedo, foi toda a preparação para “destruir a igreja”. Para outros, tudo não passou de “mera coincidência”. A Rede Record reagiu fortemente contra as investidas da emissora de Roberto Marinho como você pode ver nesta chamada do programa 25ª Hora:





A emissora de Edir Macedo Bezerra combateu fortemente a TV Globo antes da exibição de Decadência: a Rede Record exibiu o telefilme canadense The Boys of St. Vincent, do diretor John N. Smith – baseado em fatos reais, acerca de pedofilia na igreja católica e abusos sexuais em um orfanato. O filme completo está aqui para consulta extra e você pode ativar as legendas em português pelo YouTube.

Outras reações foram pelo programa 25ª Hora, no qual foi dedicado expor as polêmicas a respeito da Rede Globo. O tema era Afundação Roberto Marinho (uma junção das palavras “fundação” e o verbo “afundar”). Ela está dividida em quatro partes: PARTE 1, PARTE 2, PARTE 3 e PARTE 4.

Para quem viveu esta época se lembra bem, ou mais ou menos, que a Rede Globo e Edir Macedo (via Igreja Universal e Rede Record) estavam em pé de guerra e a minissérie Decadência foi o ápice de toda a polêmica que envolveu todos os fatos elencados aqui. Há 20 anos o Brasil acompanhou toda a trajetória destes relatos espinhosos.


Os capítulos completos da minissérie e participação de vocês 

Na última parte desta série sobre os 20 anos de Decadência, proponho que assistam e me digam o que acharam: se a minissérie continua atual, se vocês se identificaram e se as impressões que tiveram foram as mesmas que as minhas.Tire um dia pelo menos para assistir. As melhores frases eu publicarei aqui dia 23 de setembro. O prazo é até dia 21. Os capítulos estão aqui.

Semana que vem é a última parte da nossa série. Falarei das curiosidades da minissérie, seus desdobramentos finais e os melhores comentários sobre o tema. Até mais pessoal! J-J


Por: Pedro Blanche

8 comentários :

  1. Oi Pedro, oi Emerson....
    Nossa quanta informação! Para começar a informação de que eu estou velha! hauhauah 20 anos de minissérie e eu lembro dela! e de toda a polêmica!
    Não tenho dúvida que a minissérie é atual, a única coisa é que hoje vivemos uma fase de "politicamente corretos" que por um lado é uma falsidade, mas por outro não precisaremos mais ver pastor chutando santos na tv! Eu fui evangélica a minha vida toda, fazia parte de uma igreja descente, lembro que quando o Papa faleceu, nossa igreja fez uma oração por ele e pelos católicos que acabavam de perder o maior líder, mas sei que minha igreja era minoria. a grande maioria quer saber de dinheiro a qlqr custo mesmo. A minissérie e novelas e filmes e música e mídia em geral tinha muito essa questão de colocar a tona uma questão que estamos vivendo, e a verdade é que os problemas são os mesmos, vivemos um museu de grandes novidades, não é? Nossa vou parar por aqui, pq já estou filosofando demais! Vou assistir esse "Afundação" que eu não conhecia!

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  2. Hello from Spain: point well taken. Interesting misissérie. I did not know. Keep in touch

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  3. Essa guerra de emissoras existe desde sempre, né? Quando mistura religião, aí é que o bicho pega mesmo...

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  4. Eu acho que cada coisa dever ser cada um em seu devido lugar
    eu assisto onde gosto e si tiver ótimo conteúdo que hoje estar muito
    difícil.
    Canal:https://www.youtube.com/watch?v=EgeQXJjUpSQ
    Blog:http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

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  5. Essas brigas religiosas sempre dão o que falar. A igreja e a televisão nunca irão concordar.

    rasgadojeans.blogspot.com

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  6. To por fora total, vou procurar ver e saber de tudo e depois falo minha opinião,

    Bjuuuu
    http://www.blogjumedeiros.com/

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  7. Religião e política está aí um assunto que é complicadíssimo falar. concordo com o ponto de vista da Samara Ferreira. :)

    Eu visito você e vocês quase sempre, rs. Mas, por um outro blog o Alice Twins. xD

    Um beijo,

    www.purestyle.com.br

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  8. Eu era pequena quando a série foi exibida, mas sempre soube dessa "guerra" entre emissoras =/

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