Entenda até onde a palmada educa ou não, que benefícios existem no diálogo e na pedagogia dos “cortes”, além da importância de projetos educativos escolares no processo de formação infantil
A personalidade, o caráter e os valores transmitidos a uma criança passam, em grande medida, pela forma como pais e a escola atuam. Na opinião de especialistas, existem duas formas básicas de educar os filhos. A educação rígida, que envolve imposição de regras; e a educação positiva, pautada pelo diálogo. Quanto mais essa relação se estabelece em parceria, maior a chance de que os meninos e meninas se sintam seguros no processo.
De acordo com a pedagoga Leda de Freitas, 45, funcionária da direção de Pedagogia da Universidade Católica de Brasília, a presença dos pais é fundamental. “A criança que tem apoio dos pais e da família possui um desempenho. A criança que os pais deixam para lá tem outro”, explica.
Leda diz que a diferença da criança que vem com o afeto, com a atenção dos familiares, é visível na escola. “A criança é tranqüila, interage bem com os outros. Agora a criança que é largada, bate nas outras, é indisciplinada e encrenqueira”.
Para a pedagoga Viviane da Silva, 38, que trabalha no Marista, não existem fórmulas certas de educar os filhos, “porque o ato educativo é uno”, mas a presença e a escuta possuem dimensões importantes. “A presença nem sempre é física, mas é qualificada pelo exemplo, pelo vínculo estabelecido, pela coerência, transparência ao estabelecer contratos de convivência e de corresponsabilidade”, diz.
“A presença nem sempre é física, mas é qualificada pelo exemplo, pelo vínculo estabelecido, pela coerência”
PALMADA X DIÁLOGO
Viviane diz que a palmada é sempre maléfica, pois nesse tipo de “educação” a criança não tem como se defender, fica imóvel, medrosa. “Educação rígida lembra autoritarismo, que é a conquista pela força”, comenta. Na concepção da ex estudante de pedagogia da Faculdade Anhanguera, Odineia Ferreira, 37, a pedagogia ensina a entender melhor os sinais emitidos pelas crianças. “A pedagogia ensina o diálogo, o exemplo, a tomar decisões corretas em relação a disciplina”.
No mesmo tom, Leda sustenta que não há como construir uma sociedade com violência, mas, sim, a partir do ouvir e do respeitar. A criança, outrora, era educada pela punição. Se errasse levava palmatória. Na opinião dele isso criava uma série de neuroses. “Hoje nós trabalhamos com a criança como sujeito e pessoa”, diz.
De acordo com a pedagoga Neide de Almeida, 46, hoje, ensina-se a criança através de brincadeiras, músicas e atividades diferentes. E é exatamente através do brincar que se observam a personalidade, o caráter e o convívio familiar do aluno.
FORMAS DE EDUCAR
Odineia é mãe de Samara, 13 anos. Ela utiliza a educação positiva com sua filha. Ou seja, dialoga, conversa e expõe o que é certo e o que é errado, sendo que a decisão final cabe a Samara. Para Odineia, a palmada é um reflexo da raiva do pai, mais do que educação. “Você bate primeiro e não explica nada depois”, complementa.
Já na opinião da auxiliar de laboratório Conceição de Maria, 47, às vezes é preciso bater. “Eu converso quando precisa e brigo quando precisa, mas nada de forma excessiva”, diz. Segundo ela, a palmada é abusiva quando machuca e deixa marcas.
Uma das formas de educação que alguns pais utilizam é a educação rígida. Existem aqueles que acreditam que a palmada educa e aqueles que dizem que não, que é uma forma de agressão. Segundo Odineia, cada vez que se utiliza desse tipo de violência, a criança tende a obedecer só dessa forma. Ela não aprende pelo diálogo, e sim porque está apanhando.
Neide é mãe de Letícia, 13 anos. Ela desenvolve a educação dos “cortes” com a filha. Quando Letícia a desobedece, corta algo que ela goste. “Você vai ficar sem computador porque desobedeceu essa e essa ordem”, é o que Neide diz, por exemplo. Segundo a mãe da pré-adolescente, ela aprende mais assim. “Você nunca pode dizer que seu filho está de castigo. Nunca use essa palavra. Você diga que ele vai ficar sem isso, por causa disso”. Ela ainda comenta que é preciso que a criança reflita, peça desculpas se precisar, e pense se o que fez é correto.
APOIO ORGANIZADO
A primeira coisa que um professor precisa fazer quando uma criança sofre violência em casa é identificar e observar juntamente com o apoio da escola. É necessário não só um envolvimento do professor, mas do coordenador pedagógico e diretor, para que haja um apoio organizado. Depois disso, é preciso ir atrás dos responsáveis daquela criança. Perguntas como: “por que essa criança sofreu violência?” e “como isso acontece?”, precisam ser respondidas.
Para Neide, existem dois pontos a ser levados em consideração. Se a criança aparecer com manchas roxas na escola, é necessário conversar com os pais. Se isso persistir, chama-se o Conselho Tutelar. Se a criança tiver sido abusada sexualmente, o Conselho Tutelar é chamado imediatamente.
BRINCAR É SÉRIO!
Projetos que a escola desenvolve são importantes para a educação dos alunos e ajudam a lapidar o caráter e a personalidade. Na escola em que Neide leciona existe um projeto de leitura, no qual uma mensagem ou uma história que fale sobre os valores é levada para os alunos. A mensagem mais recente foi “A arca de Nóe”, com a qual se trabalhou a obediência.
Há também a brinquedoteca, onde é possível, pela brincadeira do aluno, conhecer a realidade dele. “É através do brincar que se observa e descobre como é a convivência familiar”. J-J
Matéria para o Jornal Artefato no mês de Maio/Junho 2010
Créditos dos infográficos e artes: Thiago Fagundes do blog Pirata Perna Curta, vale a pena conferir aqui
Por: Emerson Garcia
Adorei a matéria! A participação da escola e dos pais é realmente essencial na educação de uma criança.
ResponderExcluirhttp://naomemandeflores.com
Mt bom o texto, adorei (:
ResponderExcluirbeijoos