terça-feira, 27 de outubro de 2015

O desrespeito machuca mais do que um corte de faca


Dois episódios da estreia do MasterChef Jr Brasil foram discutidos durante a última semana (20). O primeiro deles, o de pedofilia à uma das candidatas, Valentina, de apenas 12 anos. O segundo, o de Hytalo, de 11 anos, que foi discriminado por seu modo de andar e falar. Ambos retratam uma sociedade, que embora civilizada, tem atitudes de barbárie e desrespeito, que recebe o aval do anonimato e da confortabilidade do mundo virtual. 

Antes de tudo, tem que se parar com a ideia de achar que porque as crianças estão expostas em um programa de TV, elas estão a mercê de comentários maldosos e atitudes desrespeitosas, aliás, a todo momento elas estão sendo observadas pelos órgãos da justiça e por responsáveis maiores de idade. 



A estreia do Masterchef Jr suscitou a questão da participação de crianças em programas de competição. Menores com faca nas mãos;  sob o perigo de fogo; deixando eletrodomésticos caírem no chão; e, até mesmo, o choro e a tensão, não são mais nocivos que comentários maldosos dos telespectadores. 

Aliás, a tensão, a cobrança e até xingamentos da edição do Masterchef, foram substituídos pela doçura, incentivo e palavras brandas. No site oficial, o diretor Patrício Díaz explica que o programa "explora mais o lúdico, a surpresa e o divertimento, mas sem perder de vista a competição e a exigência culinária". Mas, não é de se espantar que saia do ar por conta da desproteção desses meninos, que não é nem da Band, nem da Justiça, mas dos maníacos da internet.


Valentina



Durante a exibição do programa, Valentina foi chamada de "vagabunda e puta", por conta do possível corpo de mulher e a altura. Digo 'possível', porque uma criança de 12 anos de idade, tem atributos físicos de criança, mais que de uma pessoa adulta. O problema está nos olhos de quem a vê, e na cultura do estupro, que normaliza (e aceita) um homem chamar uma mulher de gostosa e desejá-la sexualmente, não importa a idade. 

É achar que alguém merece ser estuprado, porque se veste com roupas curtas. É legalizar o estupro, e no caso de Valentina, legalizar a pedofilia, porque ela se parece uma mulher. Esse assunto já foi amplamente discutido em A cultura do atraso e Crianças a mercê da engenharia social. É por isso que vimos essa série de tweets:














No artigo de Carol Patrocínio, no CartaCapital, ela diz o seguinte:

Crianças, tenham elas habilidades de adulto (como cozinhar), corpo desenvolvido, usem roupas provocativas ou sejam maduras, são apenas crianças. E qualquer intenção não fraternal direcionada a elas é crime. A culpa não é delas.


Isso reforça o que eu disse: ser estuprado não é culpa das crianças, é da cultura do estupro, que dissemina como 'normal' desejar o corpo de uma pré-adolescente. Não é doente quem tem a noção de certo e errado. Embora para Ricardo de Moraes Cabezon, presidente da Comissão de Direitos Infantojuvenis da OAB, "há uma linha tênue entre a pedofilia e o abuso sexual de menores, este sim é considerado crime". O advogado ainda diz que o que fizeram com Valentina foi caracterizado como difamação, crime contra a honra. 

Para mim, a partir do momento que se faz comentários como esses, já é considerado pedofilia. Não importa se ocorreu abuso sexual, ou não. Aliás, me surpreende um presidente da Comissão de Direitos Infantojuvenis dizer que há diferença entre pedofilia e abuso sexual de menores. Pedofilia não é doença, como pintam por aí, é crime, como bem disse Rafiza Varão:





Não foi a mídia que sexualizou essa criança, não foi a mãe dela que comprou uma roupa provocativa para participar do programa, muito menos a menina que resolveu ser erótica, mas foram esses internautas nojentos que acharam que estavam livres de punição.


Hytalo



O que fizeram com o competidor Hytalo foi uma discriminação, de algo que não está desenvolvido nem para o próprio garoto. Uma criança de 11 anos de idade foi vista como homossexual, o que revela o pior lado do ser humano: o do julgamento. Não estamos falando de homofobia, porque Hytalo não tem todas suas faculdades físicas e mentais, mas da falta de respeito a uma criança.



O colunista do R7, Álvaro Leme, falou desse caso e das "crianças viadas" (Está entre-aspas, porque, de fato, nenhuma criança é homossexual):

"Com aquelas crianças do programa, me preocupa. Porque elas ainda são frágeis e, [...] estão sujeitas a uma perseguição que nem sei como classificar: a de virar "o viadinho da internet". Aquele que o Twitter inteiro definiu como bichinha. [...]
Quem disse que um menino afetado ou uma menina menos delicada vão ser homossexuais? Aliás, e daí se forem? [...]"


A adultificação de crianças em programas de TV



Criança é criança, fato. Mas, ela pode ser vista como adulta pela mídia e pelas pessoas (que já foi falado). TV, cinema, teatro e Youtube criaram uma dinâmica de cultura da celebridade, que substituiu o antigo modelo paterno. Pais tornam seus filhos em imagem, e logo eles estão na mídia, e muitas vezes, ela será o "pai desses filhos". É só lembrar que Sílvia Abravanel participa do Bom dia e cia como uma mãe para as crianças, depois daquele episódio na justiça



Tornar os filhos celebridades da TV requer deles responsabilidade e uma postura mais madura. Os apresentadores do Masterchef Jr Brasil, embora com uma postura mais branda, ainda requerem que essas crianças tornem-se adultas antes do tempo (mas diferente do povo que quer que Valentina seja uma 'puta' e Hytalo um 'viadinho'). 

Eles precisam entregar os pratos no tempo determinado, tudo isso com o tempero das lágrimas, tensão e correria; devem cozinhar na frente dos pais - eu sei que a justiça determina, mas pense nessas crianças ouvindo dos pais: "cozinha, filho" ou "enxuga a lágrima e vai!"; devem manipular facas; cozinhar carne de porco e outras coisas estranhas; e tudo isso almejando ser um futuro chefe profissional.

Adultificadas, essas crianças devem se expor à pressão da competição. Mas nada é tão grave do que se expor ao assédio sadomasoquista dos telespectadores. Machuca mais do que um corte de faca. Ah, se machuca. J-J

Por: Emerson Garcia

11 comentários :

  1. Olá,
    Vi só a polêmica da Valentina e achei um absurdo claro, a menina é uma criança e se parece como tal, mesmo se ela fosse desenvolvida, nada disso justifica esse tipo de atitude. As pessoas realmente podem ser muito malvadas quando querem.
    Beijos.
    Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

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  2. Sei lá, na minha humilde opinião, já é ruim o suficiente maltratar os classificados adultos,imagine essas crianças?
    Os pais que influenciam isso na vida de uma criança.É muita pressão e maldade. Eu não concordo nada com isso :(
    É pra gente começar a enxergar como a televisão realmente faz mal para a sociedade né?


    Gostei do texto reflexivo.
    Beeijos.
    PS:Te marquei numa tag lá no blog :)

    http://carolhermanas.blogspot.com.br/2015/10/tag-da-senhora.html


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    1. Obrigado pela marcação. Respondo na semana que vem.
      Gostei do seu ponto de vista.

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  3. Eu vi a polêmica da Valentina. Fiquei indignado com toda essa situação. Imagina se para nós já é sério, imagina como essas crianças estão se sentindo agora?

    E só pra avisar... Respondi a tag que você havia me indicado! \oo/

    http://www.decidindose.com/2015/10/tag-8-coisas.html

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    1. Crianças são frágeis, imaturas, não desenvolvidas. Um perigo mesmo.
      Que bom que respondeu!

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  4. Qual o problema dessas pessoas?? Isso é falta de amor e falta do que fazer também.

    rasgadojeans.blogspot.com

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  5. Esse é um assunto delicado, sei lá, não da para acreditar que as pessoas fazem essas brincadeiras preconceituosas e ofensivas ainda hoje em dia. E não importa se são crianças ou adultos, as pessoas tem que ter respeito uma com as outras.

    www.vivendosentimentos.com.br

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  6. concordo totalmente!! falta de respeito dói muito mesmo...

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  7. Gente do céu, eu sei que essa postagem é velha, mas eu estava olhando postagens dos blogs que sigo e esse título me interessou. Enfim, como uma pessoa pode dizer, ainda no Twitter, "não fica assim migo. A culpa da pedofilia é dessa mulecada gostosa". Em toda a minha vida, eu nunca vi algo mais nojento que essas palavras. Precisei parar, reler e observar por alguns segundos esse comentários, e voltar novamente. Pois de todos, esse foi o mais doentio que eu vi.

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    1. Isso faz parte da cultura. Hoje em dia não escandaliza mais ninguém.

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