quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

“De manhã, eu costumo dizer, que eu vendo a notícia e a tarde eu compro a notícia"



A jornalista Márcia Delgado diz que trabalhar como assessora de imprensa na Funasa é diferente de ser editora de cidades no Jornal de Brasília e reforça que o jornalista deve ter responsabilidade com a informação, ter critérios de cobertura e sempre checar, rechecar os fatos e as fontes





Maria Márcia Delgado Alvim tem 38 anos, nasceu em Minas Gerais em 6 de fevereiro de 1970. É formada em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Já trabalhou como repórter de cidades e economia no Jornal de Brasília, como subeditora e editora de cidades deste, no Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como repórter, no Sindicato dos Transportadores de Carga como assessora de imprensa e no Jornal da Comunidade como repórter. Atualmente presta serviço no Jornal de Brasília há 12 anos, e na Assessoria de Comunicação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) há cinco anos. Márcia Delgado é solteira e possui um filho.


Jovem Jornalista- Como você, jornalista, se porta diante da informação?
Márcia Delgado- A gente tem sempre que se portar diante do fato pensando que você tem dois lados da história. Nunca se pode dar só uma versão da história, tem que dar as duas versões. Esse é um princípio do jornalismo, que eu acho que a gente deve levar em conta, porque ninguém é culpado antes de ser condenado pela justiça e ninguém é inocente antes de ser absolvido pela justiça. Então, nós, jornalistas, temos que ter muito respeito, muito critério, muito tato para lidar com a informação, porque a gente ainda tem casos que já foram evidentes de que uma informação incorreta pode destruir a vida de uma pessoa, assim como ela pode ajudar uma pessoa. Então, o poder da informação é muito grande e é necessário responsabilidade com esta.

J.J.- Então, no caso, seria investigar os fatos como eles se manifestam?
M.D.- Sempre checar, sempre investigar uma informação, rechecar, ter o cuidado de dar uma informação quando você tem certeza. É obvio que a gente nunca vai dar a verdade como ela é, porque você vai ouvir varias versões e ainda vai contar uma história de acordo com essas versões, com a sua apuração, para que você tente se aproximar ao máximo da verdade.

J.J.- Você crê que a sua maneira de agir frente à informação e aos fatos influencia a sociedade?
M.D.- Eu acho que a informação influencia sim, ela forma opinião. Pessoas que lêem um jornal, que vêem uma notícia, elas sempre vão poder opinar. Elas estão antenadas com aquele fato e um dado incorreto, impreciso, inverídico, pode sim causar um dano muito grande tanto na sociedade quanto na vida das pessoas envolvidas.

J.J.- Você crê que exista desvirtuamento do papel do jornalista?
M.D.-
Acredito que sim, mas essa é uma prática em que a gente, jornalistas e os que estão se formando em jornalismo, tem que procurar não levar para esse lado. Porque você não pode, primeiro, opinar sobre uma informação. Por isso existe nos jornais uma editoria de opinião. Se você quer dar o seu ponto de vista sobre um fato, escreva um artigo, uma crônica, agora o que não pode é opinar em cima de outra coisa ou ser tendencioso. Por isso que você tem que ouvir os dois lados e o leitor que tire sua conclusão. Se você colocar as duas versões, as três versões sobre um fato, o próprio leitor se posiciona. Então, o jornalista não precisa colocar a sua subjetividade na matéria. Ele pode ouvir, contar toda a história bem contada e o leitor que tire as suas conclusões, que julgue se quiser, que absolva se quiser.


J.J.- Qual a sua opinião sobre os jornalistas que manipulam a notícia?
M.D.-
Sempre tem que se seguir a linha editorial do jornal, mas como profissional você tem que se esforçar para chegar o mais próximo da verdade e não tentar manipular a informação e mostrar sempre todas as questões do fato.


J.J.- É válido quebrar regras e informar a sociedade?
M.D.-
Você tenta fazer o trabalho o mais transparente possível, fazer com que contribua para a sociedade. Agora, claro que você trabalha numa empresa. Você tem que obedecer a linha editorial dela, saber que você sempre tem alguma coisa além desse profissionalismo. Então, o jornalista tem que buscar isso todos os dias: noticiar, denunciar, ajudar, porque o nosso papel na sociedade é esse. Você não está aqui para destruir a vida das pessoas, você está aqui para fazer denúncias sérias, fundamentadas. Você trabalha para ajudar as pessoas, dar voz para a população. Então, a gente tem que buscar isso a qualquer preço sim. Agora é óbvio que nem sempre isso é possível, porque encima do jornalista tem os interesses da empresa e do veiculo de comunicação. Nem sempre é viável colocar isso de uma forma exarcebada, profissional, quanto se quer, quanto se deseja, quanto se aprende.

J.J.- Qual a sua opinião dos valores-notícia? Eles direcionam a notícia ou a tornam mais elitista?

M.D.- A notícia tem sempre um valor objetivo. Ela não tem o dever único de informar, você tem todo um valor agregado a ela que pode modificar a vida das pessoas, que pode contribuir para uma sociedade melhor. Então, quando se redige uma notícia não se pensa em só relatar o fato que aconteceu, e sim mostrar para a sociedade o que está acontecendo no universo em que ela vive ou num mundo, ou num país. Agora, tem valores agregados a essa notícia que são importantes como: dela você tem que contribuir para modificar a vida de uma pessoa ou de uma comunidade.

J.J.- Como é essa ponte entre trabalhar na Funasa e no Jornal de Brasília?
M.D.-
São dois universos totalmente diferentes. Uma coisa é um trabalho de assessoria e outra coisa é um trabalho de editoria de Cidades do Jornal de Brasília. De manhã, eu costumo dizer, que eu vendo a notícia e a tarde eu compro a notícia. Então, de manhã nós estamos mostrando para a sociedade o que está sendo feito pela instituição, o trabalho que está sendo desenvolvido. O objetivo é cuidar da imagem da empresa. Aqui na Funasa eu atendo a imprensa e de tarde o meu papel é outro. É de servir a sociedade como um todo, mostrando as notícias que acontecem na nossa cidade, tentando melhorar um pouco a sociedade onde a gente vive.

J.J.- Você publicou uma notícia em 11 de janeiro de 2006 para o Jornal de Brasília intitulada “Mais segurança na hora de comprar remédios”. Nela você dá dicas de como alertar os consumidores do fabricante, do lote, da dosagem entre outros, além de mostrar que tais remédios deveriam ser autenticados. De que forma o papel do jornalista na sociedade se aplica a essa notícia?

M.D.- É fundamental, o direito do consumidor, a política do cidadão sobre uma informação de um remédios. Eu sempre trabalhei, quando repórter, com o direito do consumidor. Eu creio que é uma das áreas mais importantes dentro do jornalismo, porque não é sabido de muitas pessoas. Você quer informar o que é correto, dar dicas, fazer alertas. Esse é o nosso papel. Porque muitas vezes os consumidores são ludibriados nesse país e muitas vezes não tem voz. Eu acho importantíssimo informar, e se for saúde melhor ainda. O que a gente busca hoje é ter saúde. Então, matérias relacionadas à essa área sempre vai ter muita leitura e muita abrangência.

J.J.- O que você pensa dos jornalistas que não apuram os fatos e publicam notícias falseadas?
M.D.-
Totalmente abominável. Você tem que apurar os fatos até eles serem esgotados. O jornalista não pode ter preguiça de apurar a matéria. Eu sempre digo para os repórteres do Jornal de Brasília que uma história tem 90% de chance de ser bem contada se ela for bem apurada. Então, você investiga bem, ouve todos os lados. Eu acho que com isso você se aproxima ao máximo da verdade e notícias falsas, obviamente, é abominável.

J.J.- Você crê que a internet possui todas as informações necessárias e corretas que precisamos?

M.D.- A internet é uma ferramenta importante no nosso trabalho. Eu sou de uma época que não tinha esse instrumento e que nós recorríamos a outros métodos, buscar a informação com a leitura, a pesquisa. Então, hoje a internet facilita, mas você deve ter cuidado com as informações que você busca na rede, porque a gente sabe que tem muita informação falsa, que não corresponde a verdade. Como jornalista você tem que ter a preocupação de filtrar bem a informação e saber se aquilo que está sendo informado é correto ou não.

J.J.- Como é o trabalho do editor?

M.D.- O editor trabalha com o texto dos seus repórteres. Ele trabalha com o texto da melhor forma possível. Às vezes, você tem que reescrever o texto, às vezes tem que mandar o seu repórter rechecar uma informação. Essa é a preocupação do editor. O repórter manda o seu material para ser publicado, mas é o editor que tem que ter a responsabilidade naquilo que será veiculado. Então, o meu papel é pegar esse material, trabalhar ele da melhor forma possível para que o jornal tenha qualidade, que ele seja lido, que as pessoas gostem daquilo que elas estão lendo.

J.J.- Qual o seu papel como editoras de cidades?
M.D.-
O meu papel como editora de cidades é coordenar um trabalho, apresentar um produto final na banca de um trabalho que começa a ser feito logo no início da manhã com a chefia de reportagem, com os repórteres nas ruas, e o meu serviço é pegar todo esse material e condensar dentro da editoria, dando prioridade a alguns assuntos, descartando outros, tendo cuidado de ver se aquela informação é correta. Todos os dias a gente trabalha para mostrar à nossa comunidade o que está acontecendo do lado dela, o que foi notícia no dia anterior, o que movimentou a cidade. Sempre estamos orientando os nossos repórteres a checar a informação, a rechecar sem dúvida, perguntar. Isso é um princípio básico do jornalismo.

J.J.- Onde entra a objetividade e a subjetividade do jornalista em meio aos fatos?

M.D.- Pois é, tem matérias que você pode colocar uma dose de subjetividade se for matéria humana. A gente tem vários exemplos disso nos próprios jornais locais. Você pode colocar a sua alma ali, você pode contar uma história de uma forma mais leve, não tão objetiva, não tão sisuda. A notícia tem que ser contada de maneira objetiva, em geral é assim que funciona. Mas, algumas matérias lhe permitem que você seja mais solto, que você coloque um pouquinho mais a sua cara ali. É obvio que quem está escrevendo a matéria não é um robô, é um ser humano. Então, você leva em conta os seus valores e os seus sentimentos. Cada jornalista deve discernir onde ele pode colocar um pouco de subjetividade e aonde ele deve ser sempre objetivo.

J.J.- Você crê que a notícia e a reportagem podem ser lidas por todos?

M.D.- Acredito que sim e a gente trabalha para isso: contar a história da maneira mais simples possível para que todos tenham entendimento e compreendam a notícia e que ela seja universal, assim todas as pessoas terão acesso.

J.J.- Qual é o verdadeiro papel do jornalista?
M.D.-
A pessoa que se forma em jornalismo, que atua como jornalista tem que ter noção de que ela tem um papel fundamental na sociedade. Eu acho que a informação tem um poder muito forte e você diante desse poder não pode se deslumbrar, você não pode achar que é superior aquilo, pelo contrário, você está a serviço de uma sociedade. Esse é o verdadeiro papel do jornalista, em minha opinião. Nós estamos aqui para informar, fazer um trabalho de utilidade pública, denunciar o que está errado na nossa sociedade e contestar. J-J

Por: Emerson Garcia

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dom de reportagem: Português ganha força


Decisão de maior cobrança dessa matéria nas provas objetivas e peso maior na redação das provas do vestibular e PAS da UnB suscitam, ainda mais a importância do português para a vida pessoal e profissional dos alunos



Ler, interpretar e possuir senso crítico são essenciais para o domínio da língua portuguesa. As mudanças no vestibular da UnB e do PAS reforçam que, para entrar na universidade, é preciso ter a língua como aliada.

A decisão tomada pelo Decanato de Ensino de Graduação, de maior cobrança da língua portuguesa e redação, partiu da pesquisa dos colegiados de curso. De acordo com Márcia Abrahão, decana há três anos e professora de geologia e geociência há 16, não houve problemas, e sim a necessidade de atender ao perfil de alunos que a instituição anseia. “Há perfis específicos e, também, características similares, em que objetivos como ler, interpretar e escrever são primordiais”, explica.

A redação passa a ter caráter classificatório, ou seja, a nota será calculada junto com outras provas. A atitude aumentará seu peso, pois dará maior vantagem aos alunos.

O método do Sigma, que teve 248 alunos aprovados no último PAS, tem metade das questões discursivas da prova, textos em língua portuguesa, onde se corrigem aspectos micro estruturais da escrita, como gramática e ortografia.


Josino Neto, coordenador e professor de português do Sigma, dá aulas para o 6º ano de ensino médio e detecta na articulação das idéias e na lingüística textual os maiores problemas dos alunos. De acordo com ele, as novas regras só reforçam o ensino do português. A decisão da UnB é tardia, pois os alunos e as demais pessoas devem compreender o texto e comunicar-se através da redação.

Dominar a língua portuguesa faz parte de um processo que deve ser acompanhado desde o início da vida escolar, pois é a partir dessa etapa que se verifica a capacidade de cognição dos alunos. A familiaridade com as letras, a junção delas e as primeiras leituras são exemplos de alfabetização. Iago da Silva, seis anos, está no Jardim 3 da Escola Classe 43 de Ceilândia e, apesar de ainda não ler e escrever em sua plenitude, já ensaia as atividades. Ao perguntar como se escreve uma palavra, ele já consegue ordenar palavras pelas formas das letras. “Como se escreve amor? É o “a”... o que tem três perninhas... a bolinha e o que tem a bolinha e duas perninhas?”, ensaia o pré-alfabetizando.

É essa capacidade de cognição que pode ser verificada no ensino médio, através da prática da escrita. No colégio Sigma a redação é avaliada a partir de três pontos principais: a lingüística, seu domínio e o desenvolvimento da idéia. No que diz respeito às formas de avaliação, há três instâncias diferenciadas. A primeira é a elaboração do discurso, a partir da interpretação do texto. A segunda é a utilização da língua através da redação. A terceira seria a alternativa correta.


ENSINO DA LINGUAGEM ULTRAPASSA BARREIRAS

As mudanças só vieram reforçar o domínio da língua portuguesa para o desenvolvimento humano. O coordenador Josino Neto explica que o aspecto global da língua portuguesa permite compreendê-la em uma esfera humana, pois as habilidades vão além da matéria. “O aluno utiliza na vida social e profissional, pois adquire vocabulário em outras áreas”, explica.

Para André, atual estudante de psicologia da UnB, o ensino da língua portuguesa é um dos mais dinâmicos existentes, pois ultrapassa barreiras. “A escola se encarrega de transmitir a informação técnica, objetiva, mas o contexto de utilização prática da língua é o próprio indivíduo que aprende em seu convívio social”, defende.

A importância da língua para a vida pessoal e profissional é óbvia: ela é um instrumento de comunicação. Contudo, sua utilização pode ser diferenciada para ambas as áreas, uma vez que depende da roupagem que é utilizada em cada uma. “A língua pode persuadir, influenciar manipular, no que diz respeito às áreas da vida”, explica André.


Énio diz que o conteúdo e organização das idéias são os grandes vilões dos alunos, e não o domínio da língua portuguesa em si. Os estudantes não tem interesse pela prática da leitura e escrita. Deve-se estimulá-lo a ler e raciocinar e, muitas vezes, o efeito vem a partir da brincadeira. “No Mackenzie realizamos dinâmicas e jogos sobre concordância, regência e colocação pronominal, além de, em cada aula de gramática, apresentar uma palavra desconhecida, onde o aluno é instigado a questionar-se sobre novos vocabulários”, reitera o professor.

Énio fala que os problemas dos alunos referem-se ao vocabulário limitado e jovial, pois estão acostumados com a linguagem coloquial e os meios que freqüentam, como twitter e MSN. A simplificação das linguagens deixa o estudante preguiçoso, sendo necessária a adaptação do uso da língua e sua utilização em momentos diferenciados. A linguagem da internet não deve ser associada à norma culta.

Com as facilidades que a língua propõe, como a simplificação de obras em minisséries televisivas, a língua perde sua elegância e normas. “O uso das palavras incomuns é retirado e colocam-se palavras fáceis que impedem os alunos de possuir senso crítico”, defende o professor.


Outro fator que conta como uma falta de domínio da língua portuguesa seria a falta de interesse de cultivar o patriotismo. “Na França, os franceses amam o francês. Assim como em Portugal eles defendem o uso correto da língua. Mas no Brasil há o desprezo”, explica. J-J


*Matéria de minha autoria para o Jornal da Comunidade publicada no mês de maio/2011.


Por: Emerson Garcia

sábado, 1 de dezembro de 2012

Top Lista 2011/2012!



Por: Emerson Garcia
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