sexta-feira, 30 de junho de 2017

A comunidade LGBTQ+ e a Religião




Esse, talvez, seja o post mais polêmico dessa semana. A convergência e o diálogo entre esses dois pólos é algo complicado, mas nós - Emerson Garcia e Thiago Nascimento - nos encorajamos a falar desse assunto tão espinhoso. Esse texto não tem o objetivo de discutir a bíblia, de formar paladinos e heróis, ou mocinhos e bandidos. Mais do que promover um embate, queremos, sim, o debate de várias questões e pontos relevantes. 

Desse modo, falaremos dos seguintes temas em forma de tópicos: Ser gay é pecado?; É possível ser LGBTQ+ e religioso?; Como acolher fiéis gays?; e Teologia inclusiva


1- Ser gay é pecado?






Segundo alguns sacerdotes católicos e evangélicos, a resposta para essa pergunta é não. “Orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação”, é o que afirma o bispo dom Maurício Andrade. No outro lado da história, o pastor Silas Malafaia insiste em pregar repetidamente o mesmo texto conservadorista: “Homossexualidade na Bíblia é pecado. Pode tentar forçar, mas é pecado”.

Ainda rebatendo esse pensamento do pastor, o bispo diz que não há nenhuma menção à homossexualidade no Novo Testamento e que há várias passagens que pregam a inclusão. “É muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus”, conclui.

Em março de 2011, o arcebispo Desmond Tutu lançou um livro denominado Deus não é cristão e outras provocações que conta com um texto sobre a inclusão dos homossexuais na igreja (com grifos):


Todo ser humano é precioso. Somos todos parte de uma família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são”.






Uma escola católica tratou o casamento gay como algo pecaminoso. Um aluno resolveu contestar com uma tese de 127 páginas escrita de janeiro a maio desse ano (com grifos e acréscimos):

“Eu frequento uma escola católica e eles queriam que eu escrevesse um trabalho sobre como casamentos gays são ‘errados e perigosos’. Em vez disso, escrevi essa tese ("Casamento gay é fabuloso") de 127 páginas."


Durante 127 páginas (que podem ser lidas aqui), o aluno refutou o trabalho proposto com diversas citações bíblicas e de estudiosos. Para ele, a Bíblia não condena a homossexualidade e incentiva o amor por várias vezes (com grifos): 


“Fica evidente a partir desse estudo que Cristo jamais condenou a homossexualidade. Deus também não, e nem a Bíblia. [...] Não há evidências de que a Bíblia condena relacionamentos amorosos, e sim a luxúria, a violência e a ganância. [...]

Deus criou a você e não cometeu erros. Deus me fez gay e não cometeu erros. ‘Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças’ (Timóteo Cap. 4 Vers. 4). O casamento não é entre homem e mulher, mas entre amor e amor. O amor não é errado e nem um engano. Nem é uma abominação. Amor é apenas amor."



Na opinião do bispo dom Maurício, a interpretação bíblica que condena a homoafetividade é errônea:

Quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos.”



2- É possível ser LGBTQ+ e religioso?







Antes de tudo, religião é diferente de ser religioso. É possível fazer parte de uma religião e não ser religioso e vice-e-versa. Ser religioso depende do indivíduo, não da religião. Fé e crença em algo sobrenatural são coisas adquiridas com um relacionamento íntimo com Deus, que podem, ou não, ocorrer em um templo. 

Desse modo, é possível ser LGBTQ+ e religioso, pois a fé e a intimidade são próprias de cada pessoa. Eu não posso interferir na sua forma de crença e como você é religioso, nem você na minha e como eu sou. Você não pode julgar minha interpretação de religião, muito menos eu a sua. Quem é capaz de julgar alguém assim: Deus não o ouve, por causa da sua forma de se portar, de se vestir, de ser e por conta de sua escolha sexual? Ninguém, já que trata-se de um relacionamento íntimo que não lhe diz respeito. 

A religião cria dogmas, estereótipos e rituais. Quando falamos de ser religioso estamos falando de uma esfera bem distinta. Falamos de dogmas, estereótipos e rituais que mudam de pessoa pra pessoa. 


3- Como acolher fiéis gays?


Continuando as sequências de polêmicas, precisamos falar urgentemente sobre como os fiéis de várias religiões aceitam a comunidade LGBTQ+. Convivemos no dia a dia com pessoas como o pastor Feliciano, que insiste em dizer que pessoas homossexuais não podem e não devem fazer parte da comunidade cristã, a menos que “se cure”. Toda essa questão de cura é assunto para outra hora.

Ao contrário de pessoas como o pastor, existem aqueles que aceitam e ajudam a comunidade LGBTQ+. Como foi o caso de um pastor homossexual e seu marido, que criaram uma igreja para acolhê-la, visto que esta ainda sofre muita exclusão da comunidade cristã. Em sua igreja 90% dos frequentadores são homossexuais. 

Em nossa opinião, isso não é muito certo, porque embora faça com que essas pessoas possam frequentar uma igreja de sua religião, promove uma separação ainda maior entre a comunidade LGBTQ+ e a Igreja.

Mesmo depois da aceitação por parte da Igreja, eles ainda tem que passar pela aceitação dos pais, que muitas das vezes também são cristãos e de outras igrejas que ainda abominam a homossexualidade. Como já disse o bispo dom Maurício Andrade: 


“Todo ser humano é precioso. Somos todos uma parte da família de Deus."



4- Teologia inclusiva






Atualmente, a teologia inclusiva tem se disseminado no Brasil e no mundo, com o objetivo de aceitar e acolher a comunidade LGBTQ+. Esta é praticada, em sua maioria, não por comunidades religiosas tradicionais, mas por atores do próprio gueto LGBTQ+, que se dispuseram a incluir pessoas de sua mesma condição em um ambiente religioso. E o que seria teologia inclusiva?

Veja como conceitua o livro Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos (com grifos):

"A Teologia Inclusiva, como a própria denominação sugere, é um ramo da teologia tradicional voltado para a inclusão, prioritariamente, das categorias socialmente estigmatizadas como os negros, as mulheres e os homossexuais. Seu pilar central encontra-se no amor de Deus pelo homem, amor que, embora eterno e incondicional, foi negado pelo discurso religioso ao longo de vários séculos."


De acordo com o excelente texto O arco-íris invade o céu do UOL disponível aqui a teologia inclusiva é o refúgio de muitos da comunidade LGBTQ+, mesmo com questionamentos:

"A teologia inclusiva se apresenta como a única forma de os gays terem uma vida religiosa plena, mas até internamente essas igrejas sofrem dilemas: são santuários de gueto ou de transição? Esses templos recebem também heterossexuais, mas ali eles são minoria." 



A teologia inclusiva prega a inclusão a partir da contestação de partes da Bíblia, o que pode soar como uma atitude militante gay. Por que não incluir essa comunidade, a partir do discurso bíblico do amor? Por que é preciso contestar a Bíblia? Isso pode ocasionar mais embates entre esses pólos.

Talvez essa teologia inclusiva - que relê, reinterpreta e resiginifica trechos da Bíblia - não seja mais adequada. O termo poderia ser bem aproveitado se trabalhasse de forma massiva a inclusão. 

Quando lemos os outros verbetes que significa a mesma coisa, a situação torna-se mais preocupante: teologia queer e teologia gay. Acreditamos que não é preciso criar uma Bíblia gay (Tem até alguns projetos para tirar trechos ditos 'homofóbicos' do livro sagrado e criar outro livro!) e conceitos religiosos gays para fazer com que a comunidade LGBTQ+ seja inclusa na religião.


Para aqueles que acham que sua interpretação da Bíblia é única, saibam que você não é a última Fanta do engradado e, além disso, Deus não separa ninguém. Somos todos filhos Dele. Deus curte minorias. Então, vamos parar com essa palhaçada porque somos todos humanos. Se ser gay é pecado, você que julga uma pessoa pela sua sexualidade (que não é algo que a pessoa escolhe), também está pecando de uma certa forma. Sejamos felizes. Os gays só querem viver em paz. Viva o amor! J-J





Por: Emerson Garcia e Thiago Nascimento

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Séries voltadas ao público LGBTQ+




Ainda seguindo os posts dessa semana em homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQ+ – que foi ontem –, hoje teremos uma lista de séries que foram feitas pensando na comunidade LGBTQ+ ou que em algum momento delas eles ganham uma ênfase com uma trama muito interessante. Para facilitar, tanto para mim (que descobri que eu tenho uma ordem de séries que gosto mais), quanto para vocês, fiz um top 10 em contagem regressiva. Então vamos lá!



10- The Fosters




O tema principal da série, como já foi dito aqui no Quinta de Série, não é a sexualidade, e sim todo o drama familiar ao redor de uma família de crianças que foram adotadas por um casal de lésbicas. É claro que em muitos momentos, ela trata de coisas pertinentes na vida de pessoas LGBTQ+, mas o foco mesmo é mostrar a vivência dessas pessoas.

Essa série conta a história de Lena e Steph, que são um casal de lésbicas que decidiram adotar algumas crianças. Mariana e Jesus foram os primeiros a serem adotados. Estes são gêmeos. Algum tempo depois, elas adotam Jude e Mariana. Além disso, ainda tem o Brendon, que é filho biológico de Steph.

Uma coisa que achei muito legal, é que o Jude é gay. E você vê ele passando por coisas que sabe que as mães poderiam ajudá-lo, mas ele se nega a pedir ajuda e quer descobrir a maioria delas sozinho (coisa de adolescente). Inclusive, ele se apaixona pelo seu melhor amigo. O romance deles é bem explorado, mas como todos sabemos, nem tudo é o mar de rosas... Vou parar por aqui senão vou me empolgar e contar umas das melhores partes da série. Vamos deixar essa informação no ar e quem quiser assistir, tem as 3 primeiras temporadas na Netflix (a série vai estrear sua quinta temporada no mês que vem).



9- Faking it




Nessa aqui, duas amigas decidem fingir ser um casal de lésbicas, pois em sua escola a diversidade não é algo que as pessoas ignoram. Então, fazem isso após uma festa dada por um de seus colegas de escola, onde haviam vários alunos da escola delas presentes. Daí a confusão começa. 

Amy, após fingir ser um casal com sua melhor amiga Karma, descobre que sente uma atração pela amiga de verdade. Isso desencadeia em um monte de coisas ruins tanto para Amy, quanto para Karma, que veem sua amizade em risco depois disso. Só que esses não são os únicos personagens LGBTQ+ da série. Shane, é melhor amigo do interesse amoroso de Karma, e ele é gay. Além dele, tem a Lauren, que é intersex e alguns outros que foram participações de atores convidados. Faking it já esteve presente no Quinta de série.



8- The L Word




Ainda não assisti essa série (vou assistir em breve) e toda a informação sobre ela foi retirada da internet.

Ela conta a história de um grupo de mulheres lésbicas ou bissexuais de Los Angeles. Muitos dos problemas que a comunidade LGBTQ+ passa no dia a dia é mostrado nessa série, como problemas para se assumir e dificuldades para conseguirem ter filhos. Em breve a assistirei e ela estará aqui novamente no Quinta de Série.



7- Shameless




O foco dessa série não é exclusivamente o público LGBTQ+, mas um dos membros da família Gallagher é gay. Depois de um tempo não se importando muito com isso, ele se relaciona com um homem trans, o que faz com que ele descubra muita coisa.

Isso acontece lá para a 6ª/7ª temporada, e é a  que tem um ótimo foco nesse assunto. Mas, não é só nessas temporadas que acontece. Como já disse, o personagem é gay. Então ele já tem outros problemas, como ter que namorar escondido porque não podem descobrir que seu namorado é gay. Essa é a série das tretas. Quando você acha que não tem mais, elas surgem. Shameless já esteve no Quinta de série.



6- Transparent




Assim como The L Word, eu ainda não tive a oportunidade de assisti-la, mas muito em breve a assistirei e ela retornará aqui no blog para o Quinta de Série.

Transparent é uma série da Amazon Studios que conta a história de Mort, que tem três filhos adultos. Mort reúne os filhos e conta e eles que é transgênero. O relacionamento deles era difícil antes de se assumir, e este começará a se moldar de acordo com os segredos que vão sendo revelados.




5- The New Normal




Uma das séries de comédia mais maravilhosas que eu já assisti na minha vida. Obrigado, Ryan Murphy, por criar outra série tão maravilhosa quanto Glee. Depois dessa homenagem, vamos ao que interessa.

A série conta a história de David, um obstreta, e Bryan, um produtor de TV bem-sucedido. Eles querem muito um filho e estão em busca de uma barriga de aluguel, e é quando chega Goldie, uma mulher que trabalhava como garçonete, mas decide fazer algo diferente. Goldie tem uma filha chamada Shania. Acompanhada de Goldie, vem Jane, a avó de Goldie super preconceituosa. Ainda tem a Rocky, a assistente de Bryan e uma das personagens mais engraçadas. Todos os episódios estão disponíveis na Netflix. The New Normal já foi post do Quinta de série.



4- Looking




Uma série da HBO que conta a história da vida de Patrick e seus amigos gays e seus relacionamentos. Patrick é muito inocente e sempre acaba sendo pego em umas situações bem delicadas. A vida amorosa de todos é uma bagunça e eles estão procurando a felicidade. 

Patrick se relaciona com Richie por um tempo, até que se sente atraído por Kevin, seu chefe. Então ele termina com Richie e entra em um relacionamento com Kevin. Mas nem tudo é um mar de rosas... A série foi cancelada e encerrada em um longa-metragem de mesmo nome. Já foi post do 5Q.




3- Please like me




É um programa leve, mas que também tem seus momentos de drama, afinal, ser LGBTQ+ ainda (infelizmente) é assunto polêmico. 

A série conta a história de Josh, um rapaz que se assume homossexual depois de um relacionamento com uma garota. Ele mora com seu amigo Tom e acaba passando por muitas coisas devido a sua falta de bom senso e, muitas das vezes, sua inocência. A história tem um tom muito humorístico na maioria das situações, mas em muitos outros assume características bem dramáticas. 


2- When We Rise




Completamente ao contrário de Please like me, When we rise conta a história das lutas políticas LGBTQ+. A história narra as lutas da comunidade LGBTQ+ e os movimentos de direitos, começando com a revolta de Stonewall - que foi falada no primeiro post dessa semana.

A série conta com muitos atores famosos como Guy Pearce, Rachel Griffiths, Kevin McHale, T.R. Knight, Charlie Carver, Richard Schiff e muitos outros. Ela conta apenas com 8 episódios com duração de 1 hora cada. 



1- Queer as folk




A minha queridinha, é claro. Uma das primeiras séries com temática LGBTQ+ que eu assisti na minha vida, e obviamente não podia deixar de falar dela aqui. Já foi tema de uma Quinta de série.

Ela conta a história de Brian, um gay garanhão que já pegou metade dos homossexuais de Pittsburgh. Justin, um jovem artista, que acaba se apaixonando por Brian (Logo por quem?! A gente sempre se apaixona pelos mais difíceis. Incrível!). Brian, depois de muito tempo relutante, acaba se apaixonando por Justin.

Além de Brian e Justin, ainda conta a história de Michael, Lindsay, Melanie, Ted, Emmett, Vic e Ben, que são todos amigos e homossexuais que vivem em Pittsburgh. Há ainda a Debbie, mãe de Michael e irmã de Vic, que é super ativista na causa LGBTQ+.

Quem vê assim, acha que na série é tudo às mil maravilhas, mas quem assistiu sabe como sofremos com ela. A história trata todos os tipos de coisas passadas por pessoas LGBTQ+, desde o preconceito até apanhar quase morer só por causa de sua orientação sexual.

Infelizmente, essa série não está disponível na Netflix BR, mas fiquei sabendo que na Netflix US tem todas as temporadas. Qual o seu problema, Netflix? Vamos disponibilizar isso aí?


Essa foi a lista de séries voltadas ao público LGBTQ+ que separei pra vocês. Há abordagens de várias vertentes da comunidade e temas importantes e polêmicos. E você, conhece alguma nessa linha? Diga nos comentários! J-J





Por: Thiago Nascimento

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Crianças e convivência com homossexuais e o mundo LGBTQ+



Crianças são inteligentes, criativas, perceptivas e possuem uma visão de mundo diferente dos adultos. Elas são, sobretudo, aprendentes e influenciadas pela sociedade, e família. Atualmente é comum conviverem com homossexuais.

O objetivo desse post é discutir: qual é a visão delas sobre o mundo LGBTQ+?; como é a didática para explicar a homossexualidade para elas?; e filhos de pais gays


Visão sobre o mundo LGBTQ+



Crianças criadas em um ambiente que trate a sexualidade de forma natural, que aceita toda e qualquer forma de amor, tem mais facilidade de terem uma reação natural ao ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando na rua, por exemplo. O amor, respeito, compreensão e aceitação que vivenciam no lar influenciam na visão sobre o mundo LGBTQ+. 

A partir da criação, elas encararam a homossexualidade com maturidade, entendimento, compreensão e dentro do seu próprio universo, o infantil. A sinceridade e ludicidade as fazem ver uma relação homossexual como "amor" e um gay não como gay, mas como "uma pessoa que ama". Foi com essa reação de seu irmão de 8 anos que Lucas Vasconcellos de 23 anos surpreendeu-se ao contar sobre sua orientação sexual. Confira (com grifos):


“Hoje eu contei para o meu irmãozinho que eu era gay.

Após muitos anos desde que descobri a respeito da minha sexualidade, sobre o gênero que desperta uma paixão realmente autêntica em mim, finalmente cheguei a decisão de confiar a minha realidade a essa pessoinha com quem mais me importo na vida.
Dividi isso de maneira bem pedagógica, tentando criar uma analogia sobre as pessoas e suas cores favoritas. Dizendo que têm pessoas que gostam mais de preto, ou branco, ou azul, ou amarelo, ou vermelho; explicando sobre o quão legal isso fazia do mundo. Que todos podemos gostar de cores diferentes, e ainda assim sermos felizes e respeitados ao colorir nosso mundo com elas.

Ele parecia saber que eu ia confessar algo. Mergulhou num estado quieto e pensativo durante a explicação inteira, e então, por fim, resolvi assumir minha sexualidade. Ele continuou me olhando, bem calmo e sorrindo, tão natural, e eu o questionei:

“Tu sabe o nome que se dá a quem gosta de pessoas iguais, John? Homens que gostam de outros homens, e mulheres que gostam de outras mulheres?”

Eu estava preparado para soltar a palavra “gay”, já na ponta da língua quando ele simplesmente me escancara a verdadeira resposta:

“Amor?”

E então eu chorei.

“Não chora”, ele disse, me abraçando.

Ele me olhou com aqueles olhos, cheios de inocência e de mesmo tons que os meus, e eu senti que pela primeira vez ele me enxergava como eu realmente era. Um irmão que ele amava, um amigo que ele jamais perderia e, mesmo uma pessoa qualquer com uma preferência diferente por quem se apaixonar, ainda assim uma pessoa igual a qualquer outra.

Eu soube disso pela resposta dele. Pela bondade em cada palavra. Uma criança de oito anos de idade soube encarar algo tão natural com mais maturidade que muito adulto. Mais que meus próprios pais, inclusive, que sempre me negaram o direito de confidenciar isso ao meu irmão.

Aproveitem pra aprender da pureza deles, que a maioria esquece ao crescer, pois eu acho que as maiores verdades dessa vida estão no coração dos pequenos.
E a vida continua como se nada tivesse mudado.
E do fundo do coração, eu agradeço por isso.”


As crianças Ana Clara, de 8 anos, e Guilherme, 6, há três anos participaram de um vídeo do Canal das Bees (atualmente estão com 11 e 9 anos) onde responderam perguntas sobre amor, preconceito, diferenças e sexualidade. Foram sinceras, inteligentes e fofolindas nas respostas. Vejam:






O interessante é que eles explicaram conceitos que são tão complexos para a sociedade aceitar. Ana Clara disse em um trecho: 


“Se uma mulher anda de mão dada com outra mulher no shopping, não tem diferença! Você nunca namorou na vida, pra ter preconceito?”



Guilherme falou o que são casais homossexuais e heterossexuais:

"É quando um homem e uma mulher se casam e quando duas mulheres se casam". 






A parte do beijo das lésbicas é a mais polêmica do vídeo, mas vale a pena ver a reação das crianças.



Como explicar a homoafetividade para crianças?



Qual é o momento certo de pais falarem desse assunto com os filhos? Como falar? Essas são as dúvidas principais que surgem. Há especialistas que dizem que quanto mais cedo, melhor, pois ajuda na cognição dos pequenos:


"Quanto mais cedo tu contas para uma criança, mais rápido podes preparar a cognição infantil para conceber que na homossexualidade tem afeto, amor, carinho", diz o professor de psicologia da Fadergs Eduardo Lomando.




É preciso falar do tema com clareza, a partir do universo da criança, sem mostrar insegurança. Instigar perguntas educativas e dialogar com ela são atitudes fundamentais, para abordar o assunto da melhor forma possível, sem causar desconfortos e incompreensões. 

O Tribuna de Minas disse em um texto que não deve haver distinção entre explicar o amor entre heterossexuais e homossexuais para uma criança:


"A explicação deve acontecer de forma natural, da mesma forma como se explica o amor entre os casais heterossexuais ou os laços afetivos. Também devem ser respeitados os limites de cada criança e seu nível de amadurecimento."



O texto Como falar sobre homossexualidade com as crianças disponível no ZH Vida e Estilo dá dicas de como isso pode ser feito:


 "— Procure não antecipar o assunto antes da pergunta. Espere a dúvida chegar para abordar o tema, pois, muitas vezes, a construção do questionamento é parte importante para o amadurecimento do diálogo.

— Não torne a conversa um monólogo. Introduza a criança ao tema, instigue-a a refletir sobre o assunto. Muitas vezes os adultos transmitem muita informação, mas é importante ouvir as crianças também.

— Muitos adultos acreditam que conversar sobre homossexualidade com crianças é um incentivo a práticas homoafetivas. Falar de sexualidade é instrumentalizar crianças para entender o mundo.

— Faça-os entender que homossexualidade é mais uma forma de amor, tal qual a heterossexualidade."




A forma como falar desse assunto é que fará a diferença, ajudará na cognição dos pequeninos e permitirá que eles ajam com amor e compreensão com a comunidade LGBTQ+. Por exemplo, há uma diferença enorme quando pais falam que "homem que gosta de homem é viado" e "homem que gosta de homem é um ser humano que ama". Entende?

Usar elementos lúdicos facilitam e ajudam também. Por isso, volto a usar alguns trechos do depoimento de Lucas Vasconcellos (com grifos):


"[...] Dividi isso de maneira bem pedagógica, tentando criar uma analogia sobre as pessoas e suas cores favoritas. Dizendo que têm pessoas que gostam mais de preto, ou branco, ou azul, ou amarelo, ou vermelho; explicando sobre o quão legal isso fazia do mundo. Que todos podemos gostar de cores diferentes, e ainda assim sermos felizes e respeitados ao colorir nosso mundo com elas. [...]

“Tu sabe o nome que se dá a quem gosta de pessoas iguais, John? Homens que gostam de outros homens, e mulheres que gostam de outras mulheres?”

Eu estava preparado para soltar a palavra “gay”, já na ponta da língua quando ele simplesmente me escancara a verdadeira resposta:

“Amor?” [...]"





Lucas explicou sua homossexualidade ao irmão mais novo usando as cores. A sociedade, por exemplo, espera que ele goste de preto ou azul, mas ele mostra à criança que pode gostar de vermelho sem nenhum problema. Ele deu uma lição que os gostos por cada cor devem ser respeitados, não importa qual seja. Lucas teve sabedoria e delicadeza ao falar do tema e teve uma resposta surpreendente do seu irmão ao final.



Filhos de pais gays







Sobre o tópico anterior, acredito que muitos ainda vejam como forma de propaganda e incentivo a discussão de questões sobre homossexualidade e o mundo LGBTQ+ com crianças. Já outros (assunto desse tópico) acreditam que a convivência com gays influencia no comportamento ou identidade sexual destas. Ainda há aqueles que relutam na adoção de pequeninos por casais gays. 

Uma reportagem da Superinteressante discutiu científica e psicologicamente esse assunto e mostrou que não há diferenças entre crianças criadas por casais héteros e por casais homos. É o que pensa a psiquiatra Charlotte Patterson (com grifos):

“As pesquisas mostram que a orientação sexual dos pais parece ter muito pouco a ver com com o desenvolvimento da criança ou com as habilidades de ser pai. Filhos de mães lésbicas ou pais gays se desenvolvem da mesma maneira que crianças de pais heterossexuais”.



Já para a psicóloga Mariana Farias, autora do livro Adoção por homossexuais - A família homoparental sob o olhar da psicologia jurídica acredita que o vínculo dos pais é mais importante que o tipo de família da criança (com grifos):

“O desenvolvimento da criança não depende do tipo de família, mas do vínculo que esses pais e mães vão estabelecer entre eles e a criança. Afeto, carinho, regras: essas coisas são mais importantes para uma criança crescer saudável do que a orientação sexual dos pais”.


Desse modo, a matéria discutiu e colocou por terra quatro mitos. São eles: "Os filhos serão gays!"; "Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe"; "As crianças terão problemas psicológicos por causa do preconceito!"; e "Essas crianças correm o risco de sofrer abusos sexuais!". Vale a pena ler como a reportagem desconstrói cada um deles. 

E você? É a favor ou contra a adoção de crianças por casais homossexuais?


Crianças conviverem com homossexuais é inevitável, seja na rua ou dentro de casa. A forma como os adultos explicam isso pra elas é que fará toda a diferença na construção de uma personalidade compreensiva, amorosa e respeitadora. J-J




Por: Emerson Garcia

terça-feira, 27 de junho de 2017

Homossexualidade como doença e homossexuais doentes: Mudar nomenclatura ou retirar da lista de doenças significa mudança de cérebro das pessoas sobre a comunidade LGBTQ+?



Há algum tempo a comunidade LGBTQ+ sofria preconceito social porque a homossexualidade era tratada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi em 1990 que ela foi retirada da lista internacional de doenças (dia 17 de maio  desse ano completou 27 anos da conquista). Antigamente a sociedade empregava o termo homossexualismo, com o sufismo ismo que significa patologia. Hoje homossexualidade - que é o mais correto. Há ainda aqueles que preferem homoafetividade, uma vez que homossexualidade pode referir-se apenas à relações sexuais. 

A mudança de nomenclaturas ajudou bastante a não ver a homossexualidade como doença. Contudo, não é regra geral. Ainda hoje, muitos acreditam que a pessoal homossexual precisa ser tratada, que trata-se de um distúrbio e a encaminham para uma cura gay. Isso acarreta uma série de doenças como depressão e propensão ao suicídio, devido à rejeição da sociedade e da família.

De acordo com Marco José de Oliveira Duarte, psicólogo, sanitarista, assistente social e autor do artigo Diversidade sexual, políticas públicas e direitos humanos: saúde e cidadania LGBT em cena quando há discriminação e preconceito com lésbicas, gays, transsexuais, transgêneros e travestis somente se contribuirá com um comprometimento da saúde dessa comunidade (com grifos):

"[...] quando tomamos essas mesmas discriminações e preconceitos por orientação sexual e identidade de gênero, traduzidos, respectivamente, de homofobia/lesbofobia e transfobia, entendemos esse fenômeno como elemento histórico na determinação social do processo saúde-doença-cuidado, que imprime mais sofrimento e adoecimento no conjunto de outras vulnerabilidades que geralmente acometem os LGBT."



Homossexualidade como doença






Até 1990, a homossexualidade era vista como doença e tinha a ver com fatores psicológicos, de saúde pública. Por esse motivo, gays eram internados em clínicas psiquiátricas e submetidos a tratamentos como choques nos órgãos genitais, lobotomia e hipnose. 

A Superintessante listou alguns métodos usados ao longo da história para reverter a homossexualidade. Confira:


Forca
Nas colônias protestantes dos EUA, no século 17, a sociedade era tão puritana que esse era o destino de quem cometesse “atos indecentes”


Prisão
Na Inglaterra, em 1895, Oscar Wilde foi condenado a ficar dois anos preso por seus relacionamentos “antinaturais”


Hipnose
Em 1899, um certo Dr. John D. Quackenbos tratava com hipnose não só a homossexualidade como a ninfomania e a masturbação


Castração
Em 1898, o Instituto Kansas de Doenças Mentais castrou 48 meninos. Certos pacientes buscavam voluntariamente a cirurgia de extração de testículos, acreditando que isso curaria seu desejo sexual


Choques
Em 1937, em Atlanta, médicos prometiam que seus pacientes desistiriam do “vício” depois de dez sessões de eletrochoques


Aversão
Nos anos 50, na Checoslováquia, pacientes tomavam uma droga indutora de vômito e eram obrigados a ver cenas de homens nus. Depois, recebiam um injeção de testosterona e eram expostos a imagens de mulheres nuas


Lobotomia
O tratamento foi usado no começo do século 20, até que, em 1959, um relatório do Hospital Estadual Pilgrim, em Nova York, avaliou 100 casos e concluiu que os pacientes continuavam homossexuais


Em 1886, o sexólogo Richard vou Krafft-Ebins agrupou a homossexualidade com outros 200 estudos de casos de práticas sexuais, em sua obra Psicopatias sexuais (em português), alegando que esta era causada por uma inversão congênita que ocorria durante o nascimento ou era adquirida pela pessoa. Richard disseminou a informação que homossexualidade estaria ligada à uma perversão sexual (psicopatia).

Já em 1952, a Associação Americana de Psiquiatria publicou no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais, que a homossexualidade era uma desordem e um distúrbio mental. Estudos posteriores comprovaram que não é, retirando-a da lista de transtornos mentais em 1973.

Por último, em 1977 a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a homossexualidade (Na época homossexualismo) na classificação internacional de doenças, como transtorno mental. O termo só foi retirado 13 anos depois no dia 17 de maio de 1990! Por esse motivo a data é conhecida como Dia Internacional contra a Homofobia

Cada país tratou e trata a homossexualidade de forma distinta. O Brasil deixou de tratar esta como doença antes da resolução da OMS de 1990, em 1985. A China tomou a atitude há 16 anos, em 2001. Ainda hoje há discussões na psicologia sobre cura gay. Creio que essa será uma luta difícil a ser combatida. 

Todo esse histórico nos leva a refletir como a comunidade LGBTQ+ sofreu e ainda sofre. Eram chamados de doentes, loucos, com distúrbios mentais. Será que ainda hoje são vistos assim? Mudar uma nomenclatura ou retirar da lista de doenças da OMS, não quer dizer que mudamos os cérebros das pessoas. 

A origem da homossexualidade está em um somatório de fatores, mas ninguém sabe a causa. Por que então tratá-la com bloqueios psicológicos? É assim que pensa Carmita Abdo, do Projeto de Sexualidade da USP:

“Mais importante que considerar a homossexualidade um problema psicológico, passível de ser tratado, é educar a população para respeitar as individualidades. Diferenças não são escolhas, e sim tendências que fazem parte da natureza da pessoas".


É um desafio constante compreender a orientação e identidade sexual dos indivíduos. Há rejeição, falta de compreensão e preconceito. Será que lá no fundo a sociedade ainda não trata a homossexualidade como doença?


Doenças mentais na comunidade LGBTQ+





Não ser aceito e compreendido pode gerar nas pessoas LGBTQ+ uma série de doenças psicossomáticas e mentais. Como um gay reagiria ao não ser aceito por seus pais? Como uma lésbica ficaria ao ser vista como uma doente? Como um transgênero se comportaria ao receber o conselho que deve continuar homem ou mulher, mesmo não se vendo assim? Muitos tentariam se moldar à visão e opinião do outro, mas isso não duraria muito tempo e acarretaria em transtornos graves.

Em 2000 estudos do American Medical Association's Archiver of General Psychiatry mostraram uma forte ligação entre homossexualidade e problemas emocionais e mentais, que ocasionam o suicídio. O número de jovens homossexuais que sofrem distúrbios emocionais e psíquicos é maior que os jovens que também sofrem:

"Os jovens que sofrem esses distúrbios foram quatro vezes o número dos da mesma idade que sofrem de maior depressão; quase três vezes o número dos que sofrem de ansiedade generalizada; quase quatro vezes o número dos que experimentam desordem de conduta; cinco vezes os que têm dependência de nicotina; seis vezes os que sofrem de desordens múltiplas; e mais de seis vezes os que têm tendências suicidas."


Nem sempre a depressão e suicídio de homossexuais está ligado à homofobia, mas não se pode afirmar que não há uma parcela inclusa. As doenças mentais e psicossomáticas, contudo, estão mais ligadas à aceitação de si mesmo e dos outros.

De acordo com Íris Ferreira, Juliana de Almeida e Natanael Reis no artigo Consequências biológicas, psicológicas, familiares e sócio-culturais do homossexualismo (Esse é o título mesmo em plena publicação em 2008!) o homossexual tem dificuldade em lidar com sua condição (com grifos e acréscimo):

"Outras [pessoas] lutam em silêncio, mas uma vez exaustos, assumem publicamente a homossexualidade. [..] As primeiras conseqüências do comportamento gay/lésbico são o agravamento dos sentimentos de culpa, solidão e depressão. Apesar do prazer momentâneo de relação sexual, o homossexual não consegue evitar as angústias causadas por seu comportamento."



Durante toda vida os homossexuais são influenciados pelos familiares e sociedade sobre como devem ser e agir. Muitas vezes, a pressão e a fórmula "correta" de se portar comprometem o bem estar psíquico e emocional destes. É assim que pensa Klecius Borges em seu texto intitulado A depressão nos homossexuais: o peso da homofobia (com grifos):

"Expostos a uma sociedade heterocentrada e homofóbica, desde cedo percebemos o estigma social vinculado a nossa orientação sexual e rapidamente desenvolvemos mecanismos internos de repressão e sublimação de nossos sentimentos. Ao mesmo tempo, como forma de evitar a rejeição de quem amamos e a discriminação social, aprendemos a disfarçar nossos impulsos, a controlar comportamentos e atitudes e a evitar quaisquer sinais que possam nos comprometer. Como resultado desse processo interno e externo, acabamos prejudicando seriamente nossa auto-estima e nos tornando defensivos, introspectivos e distantes emocionalmente.

É comum na adolescência, quando esses conflitos normalmente se acirram, o aprofundamento de sentimentos de solidão e desespero e o surgimento de fantasias (e até mesmo tentativas) de suicídio. É nessa fase também que muitos passam a consumir álcool e drogas como forma de aliviar o sofrimento."


Silenciar, reprimir, não se aceitar, ter pensamentos suicidas, depressivos, tentar mudar-se. Essas são as atitudes de muitos homossexuais. Isso pode ser resolvido com compreensão e aceitação.


Aceitação e compreensão: os antídotos



A depressão, tristeza, silêncio, tentativas de suicídio podem ser evitados se a família apoiar, aceitar e compreender o homossexual. A aceitação da orientação sexual é fundamental para o bem-estar psíquico e mental deste. Uma reportagem da CartaCapital mostrou um estudo da Unicamp onde comprovava que o preconceito aumenta o risco de depressão e que a aceitação produz o efeito inverso:

"Por sua vez, quando a homossexualidade do jovem é bem recebida pela família, e a proteção aumenta, diminuem os riscos de transtornos mentais." 



Esses são os antídotos para curar os homossexuais feridos emocionalmente. É preciso que a sociedade deixe de adoentá-los. O que percebo é que mesmo não tratando mais homossexualidade como doença, muitos tem deixado homossexuais doentes com suas discriminações, preconceitos e falta de amor. J-J





Por: Emerson Garcia
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