Quinta de série: Dor

Pode conter spoilers!

Como é viver no silêncio e desespero da dor? Esse é cerne da série documental chamada Dor, lançada pela Globoplay a partir do dia 11 de novembro de 2022. Ela foi uma coprodução entre Vbrand e Cine Group, com apoio da biofarmacêutica GSK. Possui roteiro de Mayra Almeida e Helena Perim e direção pela premiada Emília Silveira (Até que a vida nos separe, Silêncio no estúdio, Setenta, Tá no quadro, Expedição água, 50 anos de Bossa Nova e Especial Tom Jobim). Dor possui autoclassificação etária livre e contou com 4 episódios de em média 30 minutos cada um.

A série mostra histórias inéditas e inspiradoras nos bastidores de batalhas que nem todos podem ver - a dor. Ela conta histórias de 8 personagens que se reiventaram, tiveram resiliência e superação para enfrentar e viver com a dor intensa e crônica. A produção mostra que a dor tem significados e origens variadas, afligindo as pessoas, as limitando, isolando e fazendo com que entrem em depressão. E como fazer para dar à dor outro significado e a superá-la? A produção mostra isso muito bem.

Os depoimentos de homens e mulheres sobre como é a convivência e luta com os obstáculos impostos pelas dores intensas e crônicas que os assolam são os fios condutores. Foram entrevistados: a atriz Arlete Salles; a bacharel em Direito Cheilamar Prates; a professora e pesquisadora Irene Kalil; o técnico de vôlei Marco Ripper; a aposentada Nádia Gaspar; o corretor de imóveis Orlando Trancoso; a jornalista Sandra Mota; e a empresária Sylvia Tourinho. 

Emília Silveira falou um pouco mais do projeto:

"Conheci personagens guerreiros que nos conduzem por caminhos difíceis mas possíveis. A série procura mostrar como enfrentar a dor crônica e o desconforto que ela provoca, na vida e no trabalho. Força de vontade para levantar da cama, tratamento médico adequado, muito exercício, apoio da família e dos amigos são ferramentas essenciais nessa luta. Chegamos perto de histórias de vencedores que, ao longo dos quatro episódios, se transformam em exemplo para todos nós."

O objetivo da produção é trazer uma nova perspetiva do "sentir dor", de uma forma mais humana e empática de quem sobrevive ou sobreviveu à ela. Com a série, compreendemos o que vem a ser a dor, suas consequências, tratamentos e a importância da família e amigos. A produtora executiva e sócia da Cine Group, Luciana Pires, falou mais:

"Nela falamos de um sentimento universal, a dor, para abordar um tema que precisa de destaque para que mais pessoas estejam cientes. O público, em geral, precisa conhecer os sintomas e riscos do herpes zoster para buscar ajuda médica." 

Episódios

São 4 episódios, são eles: A dor e o corpo, A dor e a mente, A dor e o outro e A dor de todos nós. 

Em A dor e o corpo médicos definem cientificamente o que é a dor e as consequências que podem causar nas pessoas. Há relatos de pacientes que falam sobre como é viver com uma dor crônica. O anestesiologista Felipe Castro, o dermatologista Omar Lupi e o neurologista Osvaldo Nascimento classificam os diferentes tipos de dor, destacando as causas e sintomas do herpes zoster, que atingiu 5 dos 8 personagens da série. A partir de relatos pessoais, os depoentes descrevem o sofrimento para lidar com as dores, o desgaste corporal e as dificuldades para fazer tarefas domésticas simples. 

Arlete Salles conta sua experiência com a herpes zoster nesse primeiro episódio:  

"Sei o quanto essa patologia nos faz sofrer. Fiquei alegre em saber que existe a prevenção. Existe a vacina contra herpes zoster e é importante conscientizar a toda população deste mal e que, principalmente existe a prevenção."

A dor e a mente trata sobre como conviver e tratar doenças psíquicas e emocionais. Será que uma dor pode deixar sequelas emocionais na vida do paciente? As dores podem ir acima dos danos físicos e deixam as pessoas mais solitárias, tristes, depressivas e impacientes. Há intervenções do psiquiatra Adriano Maury ao quadro de especialistas que analisam os impactos mentais da dor. 

Relatos de pacientes que tiveram suas vidas pessoais e profissionais afetadas pela dor e a importância da família e amigos é o foco de A dor e os outros. Médicos explicam os benefícios do diagnóstico precoce da dor. Cônjuges, pais, filhos, familiares e amigos possuem papel decisivo com as pessoas que sofrem dores crônicas. Carinho, compreensão, paciência, amor e amizade são fundamentais para lidar com as adversidades físicas. 

A série é finalizada com A dor de todos nós que conta com depoimentos de pessoas que enfrentam sequelas deixadas pela dor. Pacientes e médicos contam as experiências e falam sobre a esperança de melhorar a qualidade de vida. Todos os personagens são reunidos numa conversa intermediada pela psicóloga Marcia Baldisseroto, com a partipação do neurologista Osvaldo Nascimento e do anestesiologista Felipe Castro. O episódio funcionou como uma sessão de terapia em grupo, em que os participantes expressaram o que entendem sobre a dor, relatam os momentos de maior sofrimento físico e emocionam, expuseram as ansiedades para descobrir quando e se ficarão curados, além de compartilhar o que fazem para enfrentar as dores. 

Herpes zoster

Essa doença é reconhecida pela dor e pode ter complicações graves e prolongadas, como a neuralgia pós-herpética - dor aguda nos nervos que pode persistir por anos, afetando até 30% dos pacientes com a doença. A série apresenta essa doença, o que ela é, sintomas, tratamentos e consequências. 

As pessoas só se atentam que há muitas dores que podem ser prevenidas, protegidas e tratadas, quando estão no estágio mais acentuado e doloroso delas. É o caso da Herpes Zoster - doença conhecida como "cobreiro" causada pela reativação do vírus varicela zoster, o mesmo que causa a catapora e que fica adormecido no corpo sendo reativado com o enfraquecimento do sistema imunológico. 

Crítica

A dor é uma temática pouco abordada em produções documentais ou cinematográficas. Essa é a primeira série brasileira a falar dela e, arrisco dizer, que encontra-se entre as 5 séries mundiais mais importantes da temática. A forma como o assunto é tratado é inovador, interessante e com muita humanidade e alteridade. A dor é tratada como sintoma do corpo e levada para o âmbito crônico, mas com muita sensibilidade e seriedade. 

Com conversas francas e depoimentos de 8 personagens sobre suas trajetórias de vida com a dor, a série apresenta quatro dores distintas e comuns em nossa sociedade: herpes zoster, enxaqueca, fibriomialgia e uma dor não especificada. Profissionais do Rio de Janeiro foram entrevistados para facilitar a produção de Dor. 

A parceria entre uma indústria farmacêutica com produtores de séries e documentários deu super certo. Foi uma moeda de troca que trouxe muito aprendizado e informação.

A série é permeada por frases de filósofos famosos sobre a dor. A logo da série, por vezes trincada e destruída, mostra o efeito que a dor tem em nossa vida, mas também que a podemos destruí-la por completo ou em parte, a resignificando. A abertura de cada episódio apresenta detalhes do quadro Guernica de Pablo Picasso, que traz a temática do sofrimento, mas sofrimento de guerra. Ficou algo bonito e glamuroso. 

Experimente assistir Dor para entender as pessoas com dor! A série mapeia as aflições e diagnósticos em busca de dias melhores e cheios de esperança. Por meio de histórias dolorosas e emocionantes, foi mostrado que é possível superar a dor. Trata das feridas, mas também trata de amor, e isso é fundamental. Um dos ensinamentos que a série nos traz que exercitar ossos e músculos e conviver com pessoas queridas é um verdadeiro antítodo para viver sem/com a dor. Mesmo para quem não curte assistir "sofrimento alheio" e não possui um comportamento hipocondríaco, a série é primordial para todos assistirem! Seria interessante ter a segunda temporada, mas não é certeza. J-J

Por: Emerson Garcia